Capítulo Vinte- Chace
Eu realmente não soube o que sentir ao escutar aquelas palavras. Meu mundo havia travado depois do beijo que ela me dera e principalmente com aquelas palavras que ela havia me dito rodeando a minha mente cansada.
Quando você ama alguém, você vai até o inferno por ela.
Meredith, eu amava Meredith... Meredith me amava...
A garota que eu sabia amar desde a mais tenra idade corria entre as árvores, tornando meu mundo nublado enquanto eu gritava seu nome, correndo atrás de seus passos de uma forma automática, tentando a alcançar. Mas quanto mais eu corria, mais certeza de que ela não voltaria, eu tinha.
O que ela estava fazendo? O que aquela garota pensava que estava fazendo, fugindo depois de ter dito que me ama? As coisas não funcionam assim, se ela disse que me ama eu tinha que dizer o mesmo, não tinha?
Infelizmente não dera tempo, Bastiel fizera questão de me parar depois de eu correr por tempo demais, me fazendo travar no caminho, fitando aquele chão molhado onde as pegadas de Meredith não estavam marcadas... Como? Como suas pegadas não estavam marcadas na lama? As coisas não funcionam assim...
O que foi que ela acabou de fazer?
Não formulo bem a pergunta de Bastiel em minha mente. Sentia tudo doer em meu peito... Estava ansioso... Meredith, a minha Meredith, aquela garota de ouro havia simplesmente fugido, me deixando desesperado naquele espaço com as Coisas.
Eu não conseguiria voltar para a Vila agora. Era certo que eu não seria capaz, não sem a Meredith, não sem aquela garota fabulosa... Mas o que ela havia tentado me dizer com aquilo? O que poderia significar? Eu não era capaz de fazer alguma ideia, Meredith muitas vezes poderia ser estranha.
O que ela fez?!
Escuto a voz de Bastiel novamente, então levanto e viro um pouco a minha cabeça para ver o seu rosto. Bastiel não estava nada feliz, seu rosto estava em uma fúria que conseguia me causar a tão formosa Doença da Perna Bamba.
Saio de seus braços, tentando controlar a minha respiração. Aquilo era um pesadelo totalmente cruel.
--Meredith deve ter um bom motivo, ela não sairia correndo dessa forma sem motivo!
Que eu continuasse dizendo tal coisa até me convencer.
Ouço um bufo pela parte de Bastiel, esse que joga as mãos para o alto, soltando um som alto pelos seus lábios taurinos, fazendo todos os pelos de meu corpo se arrepiarem. Bastiel conseguia ser assustador. Eu realmente não queria ter que lutar contra ele, eu morreria apenas com um bater de um de seus cascos em minha cabeça oca.
Estava tudo certo para nós conseguirmos sair daqui, mas não! Meredith decidiu correr para longe de nós, nos abandonando para fazer algo que eu desconheço!
Bastiel era bem assustador irritado, isso não fazia muito bem para a minha tentativa de permanecer vivo.
--Meredith tem um bom motivo, só precisamos ir atrás dela!
Não restou nem pegadas, como você quer que a gente vá atrás dela?!
Bufo, batendo meus pés no chão para não provocar a minha morte. As outras Coisas permaneciam em silêncio, inclusive Clarisse que estava impaciente, afinal, daqui a pouco a chuva começaria novamente. Não tínhamos muito tempo, morreríamos se aquela chuva forte voltasse a cair.
--A gente vai ter que dar um jeito, nós não podemos sair daqui sem a Me!
Vejo todos os olhos se focarem em mim, me deixando levemente agoniado com aquela atenção assustadora. As Coisas ainda me deixariam aterrorizado por um bom tempo. Era óbvio que eu demoraria muito para ganhar confiança nelas.
E como você sugere que façamos isso?
Respiro fundo, focando meus olhos em Bastiel antes de falar:
--Daremos um jeito, de uma forma ou de outra, daremos um jeito.
Vejo Clarisse dar um passo à frente, me fitando com uma certa ira estranha em seu olhar.
Garoto, a gente não pode ir atrás dela, a chuva vai começar e nós vamos morrer, tem ideia do quão perigoso é tentarmos achá-la?
Sim, eu tinha ideia do perigo que iríamos correr, mas eu não podia deixar Meredith sozinha aqui, eu não poderia simplesmente imaginar um mundo onde soubesse que Meredith poderia ter sido devorada por algum animal, ou deixada para apodrecer em uma parte qualquer da floresta.
Eu realmente queria saber o motivo pelo qual ela havia corrido, corrido para longe de mim...
--Se fosse um de vocês... Deixariam para trás?
Me surpreendo com o tom que eu havia usado ao dizer tais palavras. Parecia de uma certa maneira tão profundo saindo de meus lábios, que engulo em seco assustado com a possibilidade de eles se irritarem comigo, me matando e saindo da Vila sem mim.
Como mamãe, papai, Philips e os outros residentes da Vila reagiriam ao vê-los? Me assustava a ideia de que as Coisas poderiam aniquilar todo mundo e tomarem conta do lugar.
Vejo Bastiel me fitar com raiva, para em seguida suspirar de uma forma que poderia ser definida como triste.
Querendo ou não, ele tem razão. Nós procuraríamos por um dos nossos caso esse fugisse dessa forma repentina...
Suspiro, realmente contente por Bastiel ter me entendido ao invés de tentado me matar. Minha respiração finalmente se soltando depois de eu nem ter notado que havia a prendido.
Espera. Foco meus olhos em uma das várias Coisas, suspirando de forma nervosa. Nós vamos morrer se a procurarmos!
Tranco minha respiração, olhando para Bastiel em busca de algum sinal de mudança, porém o meio touro permanece com a mesma expressão, agora fitando a terra molhada abaixo de seus cascos.
Estamos perdendo tempo aqui parados. Vamos começar a procurá-la agora, e se morrermos na chuva, ele olha a todos com o olhar severo, somente para focá-los em mim de uma forma que minhas pernas fraquejam, pelo menos tentamos.
Concordo levemente com a cabeça, sorrindo fraquinho apenas para transmitir a minha real gratidão. Eu estava devendo uma para Bastiel.
Desde o começo eu tive muito medo daquele lugar. Havia inúmeros segredos naquela floresta, e a qualquer segundo, eu sentia que iria cair em um poço sem fundo se não cuidasse com os lugares que eu colocava meus pés. Bastiel andava na frente de todos, uma expressão indecifrável estava presente em sua face taurina, o que me fazia engolir em seco, já que eu sabia que ele poderia muito bem mudar de ideia. As Coisas pareciam muito imprevisíveis.
Bastiel, você sabe que a chuva começará a cair daqui a alguns poucos minutos, não sabe?
Olho para Clarisse, engolindo em seco. Estávamos andando sem rumo a um bom tempo. Olhávamos para todos os lados esperando que Meredith aparecesse, uma espera sem resposta alguma. Eu estava desesperado, chegava a gritar por seu nome, e cada vez que ele saia de meus lábios, mais meu coração se partia... A ideia de perdê-la para sempre era ameaçadora, mas não era como se meu sempre fosse durar por muito tempo.
A chuva começaria daqui a poucos minutinhos, isso era algo que todos sabíamos.... E não havia nenhuma caverna por perto para nos abrigar...
Estávamos mortos...
É... estávamos mortos era algo perfeito para definir o nosso estado atual.
Vejo Bastiel olhar para todos os lados. Eu podia jurar que embaixo daqueles olhos medonhos, havia uma mescla de desespero por todos nós, mas não havia lugar aonde ele pudesse nos abrigar da chuva forte que voltaria a cair.
Ele solta um suspiro, olhando para mim como se pedisse real perdão, o que eu por um curto segundo não entendo.
Peço perdão, mas creio que não será possível que a achemos. Mas se serve de consolo, ela muito provavelmente irá morrer com a chuva, assim vocês não ficarão separados...
Arregalo meus olhos, um mutirão de pensamentos passando por minha cabeça. Eu não sabia se as Coisas realmente tinham uma crença, mas eu não me importava, meus olhos agora estavam presos em Clarisse, que me fitava confusa, esperando que eu falasse algo..., eu não sabia o que dizer.
--Faça algo para evitar que a chuva caia... Jogue o feitiço novamente, mas faça algo, por favor...
Vejo seus olhos me avaliarem diante do meu pedido urgente, do fato de eu estar tão assustado que era plausível que minha aparência estivesse realmente lamentável.
Novidade... Eu pouco me importava, eu precisava de Meredith, eu precisava de Meredith mais do que o ar que eu respiro.
Eu gostaria, mas eu não posso jogar o mesmo feitiço duas vezes em tão pouco tempo, ainda mais quando esse é tão intenso. Eu preciso de duas horas no máximo, e ele era o único que funcionava para isso... E eu sinto muito querido, mas infelizmente isso não será possível.
Não, eles não poderiam morrer por minha causa, nenhum deles poderia morrer por minha culpa, apenas pelo fato de eu querer salvar a garota que eu amo, sendo um completo egoísta... Eu era uma pessoa péssima, eu era uma pessoa completamente péssima desde o dia que eu nasci.
--Eu sou um completo babaca por ter feito com que vocês aceitassem essa loucura...
Não vejo eles negarem minhas palavras, mas seus olhos estavam pregados em mim... Pena, estavam com pena de mim, mesmo que estivessem prestes a morrer, eles não estavam com raiva, apenas com pena... Pena de um fracote como eu...
Eu sabia que estava chorando, que minhas lágrimas agora desciam por minhas bochechas. E eu também sabia que estava ficando todo vermelho, mas eu era incapaz de sentir qualquer vergonha por aquela demonstração terrível de meus sentimentos.
Bastiel solta um suspiro, muito provavelmente com nojo da criatura deplorável em sua frente.
Nós não o culpamos, no final das contas sabíamos que isso aconteceria...
Começo a chorar mais, meus sentimentos saindo de mim como cachoeiras, vulnerável diante de todos... Vulnerável diante da Floresta.
Melhor você parar de chorar...
Não paro, continuando o meu showzinho por mais algum tempo antes de sentir uma mão humana se desposava em meu ombro direito, fazendo eu olhar para trás, tentando saber quem era a pessoa com meus olhos nublados voltados para ela.
Você não quer morrer parecendo um bebê chorão, quer?
Reconheço Clarisse, então tento parar as minhas lágrimas, somente para chorar mais, chorar muito mais... Eu era um bebê chorão, um bebê chorão que não sabia se estava chorando por ter perdido a garota que amava, ou se estava chorando por estar prestes a morrer... Eu só sentia uma sensação terrível. Meu peito doía demais e eu precisava libertar isso de uma forma ou de outra... Chorar parecia a melhor maneira.
--Só me deixem chorar, por favor...--Consigo dizer entre meus soluços, avaliando o pouco tempo que deveríamos ter até a chuva nos matar. Então me jogo sobre as folhas secas, aguardando que aqueles minutos torturantes passassem.
Aqueles minutos torturantes não passavam. Fazia quanto tempo que eu estava jogado naquele chão barrento e cheio de folhas secas? Meus olhos já haviam secado devido à demora. Clarisse era uma que fitava o céu em busca de qualquer informação para aquela coisa estranha que acontecia.
Me levanto do chão, ficando levemente envergonhado por tudo que havia feito antes, olhando para todas as Coisas que antes estavam sentadas no chão com os rostos completamente tristes, mas que agora estavam confusas, porque já fazia tempo que estávamos nesse estado lamentável. O céu estava azul, não parecia que iria chover.
Fito Clarisse, tendo certeza que meu rosto vermelho e inchado era uma máscara maravilhosa.
--O que aconteceu? --Pergunto com a voz rouca, minha garganta vacilando. Agora estava com uma dor de cabeça maravilhosa.
Tenho a leve expressão de que isso está relacionado com a fuga de Meredith...
Levanto a minha sobrancelha direita, esperando que ela explicasse tal coisa, agora completamente curioso enquanto o meu coração batucava minhas costelas.
--Me explica, por favor.
Clarisse suspira, fazendo com que algumas rugas aparecessem em sua face por um curto segundo.
Ela não teria saído correndo sem ter um bom motivo, acho que a Floresta a fez aceitar algo que a Mãe Natureza não irá cumprir.
Ela olha para todos, me deixando completamente apreensivo antes de proferir suas próximas palavras como Bastiel gostava de proferir as suas:
Estamos perdendo tempo, vamos voltar a procurá-la.
E assim foi feito.
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