Capítulo Um
Minha mãe falava pelos cotovelos com senhora Franklin, isso insistia em me dar nos nervos. Era dia 18 de Outubro, meu aniversário de 17 anos, e com isso parecia que toda a Vila havia decidido aparecer em minha casa. Eu não iria reclamar, mas vontade de ficar com um monte de pessoas não era algo que eu tinha, para falar a verdade, eu preferia mil vezes ficar trancada em meu quarto com um livro, esses que a Vila quase não tinha, apenas os antigos que ficavam na biblioteca precária da escola.
Estava sentada no meu sofá, esse que com o tempo estava ficando desgastado e duro, porém ainda era melhor ficar sentada aí, do que ter que andar entre as muitas pessoas que se encontravam pela pequena casa.
--Ora, Ora, feliz aniversário, Me.
Reviro os olhos ao olhar para o meu lado esquerdo e ver Chace sentado aí, deplorável como sempre, mas naquele dia havia passado as expectativas, quem usava terno em um almoço simples como aquele? Nem festa era.
--Nossa, um terno?
Chace revira os olhos, típico dele, algo chato que insistia em fazer desde os nossos cinco anos, ou desde que nascemos, não sabia, mas eu odiava.
--Gata, eu amo usar terno, um dia cursarei direito e serei advogado.
Eu levanto uma sobrancelha, sabia que Chace queria muito sair da Vila para crescer na vida, mas advogado era pedir muito para quem teve uma educação de tão pouca qualidade e poucos livros acessíveis, além de ninguém ter internet.
--Nossa, boa sorte, será difícil com a educação péssima que esse lugar nos oferece.
Eu penso ouvir um suspiro triste vindo do meu lado, mas não tenho tempo para perguntar nada ao ver senhora Franklin aparecer em minha frente com um sorriso caloroso, finalmente havia parado de conversar com minha mãe, que agora preparava o almoço.
--Você está ficando tão linda conforme os anos passam, pena que não tem namorado.
Ela lança uma piscadela para Chace, o que provoca um revirar de olhos do garoto, que se levanta e anda em direção à cozinha, me deixando sozinha com sua mãe, que me fitava como se esperasse que eu revelasse algo. Às vezes me irritava o fato de as pessoas insistirem em nós dois... nós apenas nós odiávamos, não podiam aceitar?
--Senhora Franklin, sinto muito, mas eu não busco um namorado nesse momento.
Na Vila as pessoas insistiam que garotas tinham que se casar cedo, a maioria nem terminava a escola e já casava, logo engravidando e tendo filhos, mas a maioria das vezes elas engravidavam antes de casar, era por esse motivo que havia mais pessoas que casas naquele lugar.
Senhora Franklin parecia ter ficado triste, mas eu nem havia sido grossa, então por que aquilo?
--Sinto muito se a ofendi.
Ela sai e me deixa sozinha, pensando no motivo pelo qual ela havia ficado magoada. O que eu tinha dito de mais? Só falara que não buscava namorado daquele momento. Por que as pessoas insistiam em me interpretarem como uma pessoa grossa?
Me levanto e suspiro, andando até uma parede e me encostando nela. Vejo o sofá de dois lugares ser ocupado por Philips, que logo recebe a graça de ter a minha irmã sentada ao seu lado. Às vezes eu não sabia como Philips ainda era capaz de aguentar a Rosa, mas isso era claro que eu nunca entenderia.
Olho em direção à cozinha, minha mãe agora fazia purê. Eu não sabia como eram capazes de gostar de purê, eu simplesmente não suportava esse alimento, mas parecia que no meu próprio aniversário, eu teria que comê-lo.
Olho em direção ao meu pai, ele parecia feliz enquanto conversava com senhor Franklin, provavelmente conversavam sobre a colheita que seria realizada em quatro dias. Levo minhas unhas à boca, eu sempre odiei a Festa da Colheita e não havia dúvida, iriam me empurrar para um garoto, mais precisamente para Chace.
Eu sempre odiei o fato de as garotas da Vila serem taxadas como... Como eu digo isso? Apenas um porco para a procriação. Aqui todas temos que nos casar cedo, antes dos 18 se for possível e ainda a maioria acaba grávida antes do casamento, o que reforça o que eu disse... Nós servimos para abastecer a Vila de pessoas, só isso.
--Querida, venha me ajudar!
Sigo a voz de minha mãe até a cozinha, parando ao sentir o cheiro horrível de purê... Por que insistiam em fazer purê?
--Sim, mãe?
Ela começa a colocar pratos em minhas mãos, não tomando cuidado com a quantidade, o que faz com que um caia no chão e todos olhem para a cozinha. Minhas bochechas ficam totalmente vermelhas, se tinha algo que eu odiava, era chamar atenção.
--Precisam de ajuda?
Olho para trás e levo um susto ao ver senhora Mayer, quase que derrubando mais um prato, mas no último segundo conseguo os segurar, não queria chamar mais atenção ainda para mim.
--Opa, toma cuidado Me.
Reviro os olhos ao ouvir a risada de senhora Mayer, ela era tão péssima quanto a filha, dois seres deploráveis que não mereciam o senhor Mayer, que havia sido assassinado no ano passado com veneno para rato, mas ninguém além de mim e Chace havia notado que não fora de causa natural, isso porque as pessoas eram muito burras para desconfiarem disso. Senhora Mayer que havia o matado, junto com sua filha, que pegara o veneno na escola. O plano delas era conseguir a fazenda dos Mayers toda para elas, bem... Elas haviam conseguido com uma mentira.
--Anne!
Minha mãe a abraça com força fazendo todo o meu sangue ferver. Eu odiava aquela mulher mais do que tudo, não havia pessoa que eu mais desprezava, ela e a filha.
--Pensei que não viesse!--A felicidade da minha mãe era tão falsa.
--Ah, eu preciso me divertir um pouco,--Ela me olha falso.--e não faltaria por nada o aniversário de 17 anos da Me.
Me seguro para não revirar os olhos. Aquela mulher não estava aí por mim, muito menos pela a minha mãe. Ela queria roubar a fazenda de Gado da minha família, e sabia muito bem como a roubar, seu plano tinha a ver com veneno.
Eu dou um sorriso tão falso quanto o dela e ajeito os pratos em minhas mãos.
--Não precisa, eu consigo.
Deixo ela sozinha com minha mãe antes que eu fizesse uma loucura. Tinha total certeza que seria muito capaz de lançar um prato na cara da mulher, e se não fosse ela seria em sua filha, Megam Meyer, que "conversava" com Chace, esse que tentava de diferentes formas fugir dos braços da garota, mas aquilo estava longe de acontecer, Megam sempre conseguia o que queria.
Ando em direção à mesa no centro da sala e coloco os pratos em cima da mesma, tendo certeza que pelo menos 18 das 30 pessoas comeriam em pé. A maioria nem estava dentro da casa, já que a casa era muito pequena para todos. Havia apenas 16 pessoas dentro de casa, o resto estava no quintal desfrutando do ar fresco da Vila e falando da Colheita, já que todo mundo só era capaz de falar da festa.
Uma mãozinha se pousa em minhas costas e eu sorrio ao me virar e vê Elizabeth com seus cabelos escuros espalhados pelo pequeno rosto.
--Olá Elizabeth.--Falo com a voz suave e me abaixo para ficar na sua altura, colocando minhas mãos em seus ombros.--Como vai a escola?
Elizabeth sorri tímida e não diz nada. Bem, ela nunca foi muito de falar e eu já estava acostumada com suas bochechas coradas e sorrisos tímidos.
May, minha amiga e vizinha, gravida, se aproxima de mim e de Elizabeth com um sorriso, sua barriga de 7 meses aparecendo, já que a camiseta não era capaz de cobri-la totalmente. Me levanto para ficar na sua altura e sorrio, nós erámos amigas desde que nascemos, porém quando ela engravidara e se casara com o namorado, ela ficou distante, saiu da escola e começou a passar pouco tempo em sua casa, o que me passava uma certa angústia. Nunca imaginara a minha melhor amiga engravidando tão cedo, nós sempre falávamos sobre como os garotos eram idiotas, então quando eu soube que ela engravidara, meu mundo simplesmente caiu. Eu pensei que sempre passaríamos por tudo juntas, mas me enganei.
--Olá May, boa noite.
--Oi Meredith, senti saudade.
Eu a abraço com um pouco de dificuldade devido à barriga, ela teria gêmeos em pouco tempo e no fundo eu torcia para ser a madrinha, mesmo não tendo aprovado o que acontecera. No começo eu nem sabia que ela estava namorando, só descobri quando sua mãe me contara.
--Você está linda.--Minto, na realidade não achava nenhuma garota que engravidava cedo linda, achava linda apenas pessoas como a minha tia Lys, que só se casara aos 30 anos e nunca engravidara, vivendo apenas com o marido que sempre amou a forma da mesma pensar.
May sorri enquanto coloca as mãos em meus ombros.
--Um dia chegará a sua vez, tenho certeza.
Finjo um sorriso, mesmo sentindo uma vontade imensa de dizer que nunca chegaria. Meus planos não continham a palavra "filho".
Minha mãe a chama e May acena antes de andar até a mesma, assim me deixando sozinha com Elizabeth, que parecia alheia ao que tinha acontecido. Olho para ela e me ajoelho, colocando minha mão em seu ombro direito.
--Nunca acredite que você precisa ser mãe e dona de casa para ser feliz, nós mulheres podemos fazer coisas maiores e melhores do que os homens, e se quisermos os dois, tudo bem, mas precisamos saber que podemos ser isso e muito mais.
Elizabeth concorda com a cabeça e me abraça, assim me deixando livre para pegá-la no colo, o que eu faço de forma feliz. Sempre amei aquela garotinha, e embora eu não quisesse ser mãe um dia, com toda certeza eu ainda gostava de crianças. Uma coisa não anula a outra.
Todos me olham com minis sorrisos e cochicham, era óbvio que eles achavam que minha vez logo chegaria, e como Chace também olhava para mim com um sorriso, já tendo fugindo de Megam, eles provavelmente achavam que logo haveria um casamento... Bando de idiotas, penso.
Coloco Elizabeth no chão, essa que corre em direção a Chace. Mais uma coisa para fazer eles criarem fantasias em cima de nós. Bufo ao ver mamãe cochichando com Senhora Franklin... É, meus 17 anos já começaram de forma errada.
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