Abro os olhos e me coloco sentada rapidamente no chão cheio de folhas e barro. A conversa que eu havia acabado de presenciar com a Floresta não querendo se declarar real em minha mente, como se fosse uma ilusão qualquer, feita pela garota necessitada de alguma mudança. Mas era real, a Floresta havia levantado a bandeira branca, ela havia notado todo o mal que fizera e nos livrado de tudo. Dessa vez ela não havia blefado... Soava estranho, mas ela realmente não havia dado a graça de seu blefe a nós.

Me coloco em pé, sentindo meu corpo inteiramente duro, como se estivesse naquele chão a mais tempo do que era capaz de imaginar.

--Meredith!

Braços fortes me puxam contra seu peito, me apertando com uma ternura esmagadora.

--Chace, cuidado, está me sufocando.

Ele me solta, fitando meu rosto com um carinho gigantesco.

--Você desmaiou e bem na hora os animais simplesmente desapareceram, foi realmente assustador. Mas o que aconteceu?

Conto tudo para Chace, cada detalhe até chegar ao final, vendo seus olhos arregalados e boca aberta quando eu digo que estávamos livres, que estávamos completamente livres.

--Eu não acredito que conseguimos...--Ele diz, seu rosto expressando diferentes emoções, a maioria não sendo decifrável.

--A Vila dos Perdidos está livre, Chace, tem ideia do que isso significa?

Seu sorriso valia mais do que eu podia contar.

--Significa que nós salvamos a todos, inclusive a Mãe Natureza de si mesma.

Rio, como se eu nunca tivesse rido antes. Aquilo era demais.

Bastiel, eu encontrei o Bastiel!

Me assusto diante da voz da meia raposa, pelo visto ela havia conseguido se salvar, mas mesmo assim quase não tinha pelo sobrando. Estava toda vermelha, o sangue ainda escorrendo.

Corro até ele, a minha preocupação por não ter achado Bastiel antes indo embora rapidamente, como se nunca tivesse estado em meu corpo. Ele estava bem, era um alívio enorme saber que Bastiel estava bem.

--Aonde ele está? --Pergunto, o sorriso gigante em meu rosto se desmanchando com seu silêncio assustador. A sua expressão não era uma das melhores.

Você encontrou Bastiel?!

Salto pelo susto. Clarisse estava parada logo atrás de mim, esperança presente em seus olhos arregalados.

Me sigam, só digo que vocês não irão gostar do que virão.

E com o coração nas mãos, eu olho para o rosto impassível de Clarisse, a ficha caindo diante de meus olhos enquanto eu andava calmamente em direção ao local que supostamente Bastiel estaria. Eu não estava sendo capaz de imaginar aquilo, mas eu havia conseguido! Eu havia conseguido o que queríamos, mas agora Bastiel estava morto, mesmo que seu corpo não tivesse aparecido diante de meus olhos ainda.

Eu sinto muito. Ele diz, se parando no local, saindo da minha frente, deixando que eu visse o corpo caído no chão, inconsciente.

Me jogo de joelhos, encharcando minha pele com mais sangue. Seus olhos estavam abertos, seus braços também. Não havia sinal de suas pernas, como se um animal as tivesse roubado para si. Um tremor se faz em meu corpo, um soluço alto se solta em minha garganta. Não, aquilo não podia ser verdade, Bastiel, o Bastiel que havia se tornado mais que um aliado para mim, mas sim um amigo, estava morto diante de meus olhos.

Eu queria poder lhe dizer que havíamos conseguido, que a Floresta havia nos dado bandeira branca, que agora todos estavam livres para fazerem o que quisessem, que mais mortes como a de Richards não aconteceriam nunca mais; mas ele estava morto, ele estava morto e muito provavelmente não sabia que havíamos vencido.

Sinto alguém se parar ao meu lado, sentindo a mesma se ajoelhar no chão sujo de barro e morte.

A gente conseguiu, Bastiel...

Olho para Clarisse, um tremor se fazendo em meus lábios. Se ela havia conseguido falar, eu conseguiria dar o meu adeus.

--É.--Volto a olhar para o corpo sem pernas, minha respiração falhando devido os soluços proferidos por minha boca. --Nós conseguimos, Bastiel...