Capítulo Onze
Não, nenhum de nós fazia ideia de como sair da nossa cela. Eu pensava se Will viria me salvar com seus amigos pássaros, lutando contra as Coisas, arrancando olhos das criaturas e tirando eu e Chace de uma forma heroica de dentro do nosso calabouço particular. Estávamos aí a um tempo que não havia conseguido contar. Mesmo parecendo que não havia sido mais que duas horas, para mim haviam sido anos. Eu não era capaz de ver o tempo passando, assim como Chace, que balançava a perna de forma ansiosa ao meu lado no chão molhado.
Eu escutava uma goteira pingando sem parar. Eu queria dormir, aquele som era acolhedor, mas temia acordar e não ver Chace mais ao meu lado, ou acordar com uma das Coisas cortando um de meus membros. Ambas as opções não eram boas.
Respiro fundo, me sentando direito e tentando esquecer do barulho da goteira que não parava nem por um segundo.
--Você achou alguma coisa para comer?
Olho para Chace, inalando a sua voz e me sentindo um monstro. Eu havia comido enquanto Chace estava preso nesse lugar terrível. Eu havia ganhado água fresca, frutas frescas, haviam remendado o meu vestido enquanto Chace estava preso.
--Chace, me perdoe, mas eu comi, desculpa, mas eu estava famin...
--Ainda bem. E fica calma, eu também comi. Acredite, eles não querem que a gente morra de fome antes do jantar de amanhã.
Eu solto o ar que nem sabia que estava segurando, me sentando mais perto de Chace e colocando a cabeça em seu ombro. Então suspiro.
--Significa que eles irão voltar trazendo mais comida?
--Eu acho. Não sei se será logo, ou não, o tempo é complicado aqui.
Olho para ele com o rosto iluminado.
--Poderíamos criar um plano para fugir, daí quando o guarda chegar para dar a comida para nós, podemos colocar em prática.
Vejo Chace me olhar de forma doce antes de suspirar. Parecia que suspirar era a única coisa que conseguíamos fazer naquele local.
--Não temos nenhuma arma, a maioria deles é muito forte e eles não deixam guardas fracos, então seria idiotice tentar passar por eles. Mesmo se conseguíssemos sair daqui de dentro, não conseguiríamos sair da caverna.
Concordo com a cabeça, sentindo meus olhos ficarem cheio de lágrimas. Eu me sentia uma inútil, o que andava acontecendo muito ultimamente. Fecho os meus olhos, deixando lágrimas silenciosas descerem por minhas bochechas.
--Ei, não chora.
Sinto Chace limpar uma de minhas lágrimas e abro os olhos, fitando o rosto cansando em minha frente. Chace era tão bom, um anjo na realidade, um anjo que eu nunca havia pensado em conhecer de verdade.
--Chace...--Ele levanta uma sobrancelha.--Quando nós sairmos da floresta, nós podemos tentar arrumar um jeito de sair da Vila juntos, ir para a cidade grande, arrumar um emprego, podemos estudar juntos...
--Parece um pedido de namoro.
Solto uma risada baixa, me prendendo em seus olhos escuros.
--Seus olhos não são pretos, é um castanho, um castanho confundido por preto.
--O quê?
Eu rio baixinho, tocando em seu cabelo negro como a noite antes de olhar novamente para os olhos estranhamente brilhantes de Chace Franklin.
--Os seus olhos, eles não são pretos, são castanhos.
Chace revira os olhos.
--Nossa, você estragou tudo o que a minha mãe fez eu acreditar em todos os anos de minha curta vida, que meus olhos são pretos--Ele fala de forma irônica, me fazendo revirar os olhos também.
--Trágico, totalmente trágico.
Olho para ele com um sorriso gigante em meu rosto, a pergunta era:
Por que eu nunca havia tentando conhecer Chace Franklin de verdade? Ele conseguia ser fantástico. Todo ódio que eu tinha sobre ele havia sido drenado em tão pouco tempo, que tudo aquilo poderia ser facilmente confundido com um pesadelo, um pesadelo com somente uma coisa boa, a minha descoberta sobre Chace. Eu sabia que no fundo ele pensava o mesmo sobre mim. Os seus olhos eram capazes de explicar muitas coisas, essas que algumas vezes não eram capazes de entrar em suas palavras.
Eu nem havia notado que estava presa nos olhos de Chace, mas balanço a cabeça assustada, saindo de meus devaneios ao pensar ter escutado um grito alto vindo de longe.
Me levanto rapidamente e ando até a porta, ouvindo um outro grito mais alto que confirma a minha dúvida. Sinto Chace se parar atrás de mim e passar a também tentar escutar, nossos ouvidos totalmente atentos, o que não se tornou algo muito bom.
Pulo para trás, sentindo a minha cabeça doer devido ao eco de metal que havia soado pela nossa prisão particular. Noto que Chace também havia pulado, fechando os ouvidos no processo, coisa que eu imito após o eco soar novamente, dessa vez muito mais alto.
--Argh! O que é isso?!--Escuto Chace perguntar, no exato momento que a porta se abre bruscamente, se batendo contra a parede e causando um eco muito mais terrível que os anteriores, me deixando por um curto segundo surda.
Fico um tempo encolhida com os olhos fechados, abrindo-os aos poucos ao notar o silêncio que pairava sobre o local. Levanto a cabeça, olhando para a porta com os olhos arregalados e a boca em um perfeito O. Ainda bem que eu não havia desconfiado em Will e sua palavra.
Em minha frente se encontram mais de 50 pássaros. Okay, eu não havia contado, foi um chute. Eles eram de raças diferentes, com cores escuras, outras coloridas, que me deixavam maravilhada pelo Arco-Íris um pouco estranho, porém era a coisa mais encantadora que eu já havia visto em toda a minha vida.
--Will!!!
Vejo o pássaro aparecer em minha frente e pousar em meu ombro, coisa que eu acho um pouco desconfortável, pois suas unhas fincam em minha pele descoberta do tecido do vestido.
O pássaro parecia envergonhado em meu ombro, talvez levemente assustado, o que eu acho estranho.
--O que foi?
Olho pelo canto do olho Chace, que fitava os pássaros maravilhado, como se não acreditasse que todos aqueles pássaros haviam arrombado uma porta de metal.
--Meredith, fala que eu não estou vendo coisas.
Solto um risinho baixo. Como ele poderia achar que aquilo era mentira quando já havíamos conversado com um esquilo falante e persuadido uma ursa a não nos matar?
Olho para Will novamente, sentindo as suas unhas fincarem bem mais em minha pele.
--Ei, o que aconteceu?
Ouço ele suspirar.
--Eu sinto muito por ter a abandonado antes. Eu entrei em pânico e então fugir, mas eu voltei com os meus colegas, isso é bom, não é?--Concordo com a cabeça.-- Agora vocês precisam sair daqui. Eu acho que eu e meus colegas conseguimos levar vocês de volta à Vila voando.
Arregalo os olhos diante do que Will disse, era fantástico, aí tinha mais de 50 pássaros. Sim, eu ainda não havia contado. Eles poderiam nos levar por cima das árvores até a Vila. A Floresta não tinha como alcançá-los no céu... Pelo menos eu achava.
--Will.--Pego ele na mão, meus olhos deveriam estar brilhando de animação.--Essa ideia é fantástica!
Olho em direção a Chace, esse que tinha um olhar um pouco assustado na face. Me pergunto se ele tinha medo de altura, porque se tivesse eu não poderia força-lo a nada.
--Chace, está tudo bem?
Vejo ele balançar a cabeça e sorri de forma fraca antes de andar até mim.
--Sim, estou bem. Agora, como vamos sair daqui?
Olho para Will, esse que finalmente sai do meu ombro e voa em direção aos seus colegas, onde passa a conversar de forma baixa e séria com os mesmos. Olho para Chace, esse que tinha uma expressão pensativa na face enquanto olhava para um ponto fixo na parede em nossa frente.
--Está tudo bem?
Vejo ele suspirar, logo levando uma mão até o cabelo, somente para o amassar antes de olhar para mim e sorri de forma fraca, me fazendo automaticamente devolver o sorriso.
--Será que vai dar certo mesmo? Eu não quero ter que colocá-los em risco...
Meu sorriso desaparece na face, assim como o de Chace. Eu sabia que se não desse certo, os pássaros correriam riscos, mesmo com Will tendo dito que a floresta os amava e que eles não eram necessariamente criaturas dela. Eles podiam sair quando quisessem, mas eu não acho que ela os deixaria passar impunes caso eles nos ajudassem a sair dela.
Suspiro, olhando no fundo dos olhos de Chace antes de com a voz cheia de esperança, falar:
--Nós precisamos confiar que nada acontecerá com eles, essa é, talvez, a nossa única chance de sairmos daqui.
Vejo Chace olhar em direção aos pássaros. Will estava atento nos seus colegas enquanto parecia falar com coragem, organizando o plano de como nós levar até a Vila. Eu queria saber como estava mamãe, queria ver Rosa e seu dente faltando, queria saber se papai havia ganho o prêmio do dia da colheita, queria ver senhora Franklin, queria ver May, queria até ver a senhora Mayer e a sua filha deplorável. Eu queria até ver Philips fugindo da minha irmã... Eu queria tudo isso de volta. Se eu já estava com saudade agora, como seria quando eu saísse da Vila para sempre?
--Eu só espero que tudo ocorra certo.
Concordo com a cabeça, vendo Will voar em nossa direção.
--Vamos sair daqui. A maioria dos meus colegas estão mantendo as Coisas sobre sigilo, só temos que ser rápidos.
--Espera,--Olho para Chace, esse que tinha a expressão impressionada na face.--Tem mais de vocês aqui?
--É claro, existem inúmeros pássaros na floresta, você não pode ter pensado que eu vim até aqui despreparado, pensou?
Sorrio para Will, ouvindo Chace soltar um risinho baixo antes de fazer uma referência de brincadeira para Will.
--Okay, Majestade, vamos lá!
Will voa em direção aos seus colegas pássaros enquanto eu e Chace andamos em passos calmos para fora da nossa prisão particular, o que faz eu suspirar em alivio. Nem havia notado que a nossa cela tinha um cheiro péssimo.
--Como você conheceu esse pássaro?
Olho para Chace, esse que olhava ao redor da caverba, onde havia inúmeros pássaros que mantinham as Coisas paradas, sem poderem fazer nada para nos impedir de sair daí.
--Eu estava escondida, pensando em uma forma de a tirar daqui, quando ele apareceu e me deu um susto. Nós começamos a conversar sobre ideias de como te salvar, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, eu fui pega. Will havia fugido, mas no fundo eu sabia que ele iria aparecer e nós salvar. Ele é um pássaro gentil.
Chace concorda com a cabeça, somente antes de dar um pulo para trás. Bastiel havia tentado avançar em nós, porém já estava sendo detido pelos pássaros, que sem querer haviam o soltado.
Vocês não vão fugir, você e esse garoto não irão fugir!, vejo ele olhar ameaçadoramente para os pássaros que os seguravam com uma dificuldade gigantesca. Seus pássaros imundos, a Floresta não deixará barato, se preparem!!!
Tento passar o mais rápido possível por Bastiel, tentando não pensar em seus gritos assustadores. Era verdade, a Floresta não deixaria barato, assim como os meus pensamentos medonhos do que poderia acontecer em um futuro próspero.
Seguro a mão de Chace, quase que inconscientemente enquanto andava em direção a entrada, mas também a saída da caverna, essa que parecia mais longe que o normal. Pensava se Bastiel havia pego um atalho enquanto me levava até a nossa antiga prisão particular. Sinto Chace apertar a minha mão e automaticamente coro. Eu estava de mãos dadas com Chace Franklin... Certas coisas não acontecem todo dia.
Ofego feliz ao ver a saída e com isso corro com Chace até lá, puxando-o forte demais, de uma forma que ele quase caia. Respiro fundo ao sentir o vento fresco batendo contra o meu rosto, era tão bom ver o sol novamente... Espera, o sol não estava mais no céu, era de noite, uma noite fresca, com grilos cantando e barulhos de animais noturnos, como de corujas. Nós não havíamos ficado tanto tempo quando eu pensei. Ainda não era o jantar do dia seguinte, isso era óbvio.
Olho para Chace, esse que olhava em direção à lua, maravilhado. Ela estava linda e completamente redonda no céu noturno. Ao redor dela, várias estrelas brilhavam de forma encantadora, o que me faz suspirar e respirar fundo, fechando os olhos enquanto escutava os vários sons.
Isso não é bom...
Abro os olhos, olhando em direção a Will com uma sobrancelha erguida. Por que não era bom?
--O que foi, Will?
O pássaro estava assustado, fitava a lua de forma atenta enquanto aos poucos pousava no ombro de Chace, que olha de forma incomodada para o pássaro.
Ficou noite muito depressa. Quando nós entramos o sol não estava alto, mas de qualquer maneira ainda não parecia que ficaria escuro... Mas não seria um problema se não fosse Lua Cheia.
Olho para ele em busca de uma resposta mais detalhada, ouvindo em seguida um uivo alto, vindo em uma direção não especifica da floresta. Porém acontece um outro ruivo, esse muito mais fácil de identificar. Estava perto, e vinha da nossa direita.
--O que é isso?--Chace pergunta de forma assustada, olhando em seguida para Will.
Lobisomens, a Floresta abriga Lobisomens. E, pelo visto, hoje é Lua Cheia, o que é maravilhoso.
Eu arregalo os meus olhos. Senhor Franklin já havia contado algumas histórias sobre Lobisomens, todas eram assustadoras. Lobisomens, pessoas que durante a noite de Lua Cheia se transformavam em criaturas sanguinária, que matariam seu melhor amigo se cruzassem com ele. Eram lobos, só que maiores, mais raivosos e mais rápidos... Eu não queria ter que cruzar com uma dessas criaturas.
--Chace, se lembra das histórias do seu pai?
O garoto me olha.
--Como não lembrar? Eu passava noites sem conseguir dormir depois das histórias dele, principalmente depois das histórias sobre Lobisomens. Agora me responda, como é possível que essas histórias sejam reais?
Eu não respondo, apenas olho em direção a Will, querendo plenamente que ele tivesse alguma ideia de como nos ajudar a fugir das criaturas sanguinárias.
--Will...
Eu tenho uma ideia, mas acho que os meus colegas não irão gostar.
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