Capítulo Cinco
De novo, o som aumentava, abaixava e de repente subia, deixando tanto Chace quanto eu, malucos. Nós necessitávamos de comida e água, já deveria ser passado de meio dia, a voz daquele esquilo ainda dançava em minha mente, para piorar, parecia que estávamos andando em círculos.
--Chace, acho que já passamos por esse caminho.
Ouço o garoto bufar, esse que olha para mim indignado.
--Nós não passamos por aqui, eu não me lembro desse arbusto,--Ele aponta para um arbusto de frutinhas envenenadas, essas que ao menos sabíamos que não deveríamos comer.--E as árvores parecem com muito mais galhos que as outras!
Olho ao redor, e de fato essas árvores pareciam maiores e com mais galhos, o que mais me causava medo de levar outras nozes na cabeça.
--Tá, okay, não passamos por aqui, mas onde é que estar esse riacho?
Vocês não têm cérebros, têm?
Quase pulo no colo de Chace, vendo o garoto quase cair para trás. Era a mesma voz de antes, porém com uma entonação diferente.
--Quem é?!--Chace grita, sua voz saindo tremida.
Sou um esquilo, mas preferem me chamar de Nozes.
Eu achava que Nozes era um belo nome para um esquilo, porém agora eu não estava certa se achava isso ou não, Nozes agora parecia assustador.
--Olá, Nozes, posso saber o que você quer?--Pergunto com a voz tremida, achando aquela situação imensamente maluca.
Eu não conseguia ver aonde ele estava, isso já era o pacote completo para o meu medo, não saber aonde o dono da voz humana, mas que estranhamente era de um esquilo, vinha.
Eu quero é que vocês saiam da floresta, que nesse caso é a minha casa, mas vocês dois são muito burros para conseguirem tal coisa, ou nem tanto, mas eu irei poupar vocês.
Junto minhas sobrancelhas, indignada, estávamos falando com um esquilo falante, que estava nos jogando patadas. Aquilo era terrível, irreal e maluco. Estávamos completamente fora de foco por culpa da floresta.
--Para você saber, nós não sabemos nada sobre essa floresta e estamos nos sentindo malucos, então faça o favor de ser um esquilo normal e nos deixar continuar!--Chace grita para uma árvore em nossa frente, para logo em seguida receber um risinho em resposta.
Em primeiro lugar, você está gritando para o lado errado, e em segundo, como vocês esperam conseguir sair da floresta sem ajuda? Como disseram, vocês não conhecem a floresta.
Aquele esquilo falante tinha razão, nós não conseguiríamos sair da floresta sem ajuda. Estávamos perdidos e provavelmente ficaríamos presos na floresta para sempre se dependesse de nós. Era loucura, mas, bem, era o jeito.
--Okay, nos diga, como você pode nos ajudar?--Pergunto.
Um suspiro ecoa pela floresta, fazendo eu me grudar mais ao corpo de Chace, nem ligando para as minhas bochechas, que adquiriam uma coloração rosada.
Eu posso mostrar o caminho. Claro, se vocês pararem de pensar que eu sou fruto da sede e da fome de vocês.
Reviro meus olhos, como não pensar que ele era fruto da nossa sede e da fome? Era loucura estar falando com um esquilo falante no meio de uma floresta, sem a gente saber como voltar para a civilização, justamente em um horário desconhecido, com o sol quente pegando diretamente em nossos olhos cansados.
Olho para Chace em busca de apoio, vendo o seu olhar tão perdido quanto o meu.
--O que a gente pode perder?--Ele diz em um sopro de voz.
--Além da nossa sanidade? Nada.
Suspiro e olho para as árvores decidida, mesmo não sabendo onde estava aquele esquilo estranho e falante.
--Okay, nós aceitamos, você não tem como ser fruto da nossa sede e fome, e se por acaso for, bem, pelo menos tentamos.
Uma risada ecoa pela floresta, mas dessa vez, ao invés de eu me grudar mais ao corpo de Chace, eu travo meus pés no chão, ficando parada no lugar, o que causa uma dor mais forte em meu tornozelo.
Okay, eu irei descer até vocês, aguardem alguns minutos.
Concordo com a cabeça e suspiro, me virando com dificuldade para Chace, afinal, meu tornozelo ainda doía, não havia sido uma boa ideia eu ter travado os pés no chão. O garoto se encontrava com a testa toda suada, seus olhos sem foco, seu terno, antes lindo, agora estava feio e rasgado. Eu não queria nem olhar para o meu vestido.
--Ei,--Chamo sua atenção.--Vai ficar tudo bem, nós vamos sair daqui.
--Tudo bem? Estamos falando com um esquilo, nada vai ficar bem!
Suspiro, tinha 99% de chance de a gente está louco, mas tinha aquele 1% que poderia significar a nossa saída da floresta. Nós tínhamos que confiar.
--Chace, nós temos que confiar, afinal, eu não me sinto louca, isso tem que significar algo, esse esquilo não pode ser fruto da nossa fome e sede, é real demais.
Eu sabia que aquele "é real demais", não era verdade, já que era totalmente irreal estar esperando um esquilo para nos levar para casa.
Noto que ele não iria me responder, pois agora ele fitava o chão, provavelmente longe, longe demais para alguém conseguir o encontrar, mas eu tinha que mantê-lo por perto.
--Chace...--Ele me olha, seus olhos em desespero.--Estamos na floresta somente a um dia e poucas horas, se estivéssemos a mais tempo, quem sabe estivéssemos loucos, mas agora não tem como ser loucura, ainda não estamos nesse nível.
Eu não sabia se o que eu havia dito era verdade. Para jogar a real, eu não sabia de nada, e com toda a certeza, não sabia como ajudar Chace, afinal, eu não sabia nem como me ajudar, então como saberia ajudar ele?
O garoto suspira e olha ao redor.
--Não tem o que perder, já estamos perdidos desde o dia que nascemos.
Concordo com suas palavras. Estávamos perdidos a mais tempo do que qualquer pessoa. Não havia erro, aquela loucura não seria o nosso fim, nós já estávamos perfeitamente acostumados.
Escuto umas reclamações baixas virem de uma árvore atrás de mim, então me viro devagar, sendo seguida por Chace. Bem aí na minha frente, no chão, em cima de uma raiz, havia um esquilo pequeno e velho, esse que fitava Chace e eu com olhos curiosos e sábios.
Imagino que vocês sejam namorados.
Se eu tivesse uma nós, eu teria jogado naquele animal, primeiramente para ver se ele era real, segundamente, para fazer ele calar a boca.
--Não, não somos.--Chace responde educadamente, me fazendo olhar para ele irritada. Como ele conseguia?
Nossa, vocês parecem tão... juntos?
Reviro os olhos para o esquilo.
--Podemos parecer, mas nós não somos "tão juntos", então faça o favor de...--Chace coloca a mãe na frente de minha boca, me impedindo de falar.
--Perdão, nós não estamos juntos, somos somente dois azarados que caíram na floresta e não sabem como acordaram tão longe da estrada.
Um vento estranha passa por nós, fazendo eu quase cair para trás, mas conseguindo me segurar no chão com meus pés, o que faz eu sentir uma onda de dor horrível em meu tornozelo. Aquele vento havia me causado uma tontura estranha e Chace visivelmente havia sentido o mesmo, porém Nozes não parecia ter ficado mal.
Vocês dizem que não sabem como vieram parar tão longe da estrada?
--Sim, não fazemos a mínima ideia.--Chace responde.
Nozes parecia visivelmente incomodado, como se soubesse de algo que não pudesse contar para nós, mas que precisava.
Olho para Chace, esse que parecia achar o esquilo tão estranho quanto eu.
--Nozes...--Chamo sua atenção.--Você sabe o que aconteceu?
Nozes olha para os lados, como se estivesse com medo de algo, algo muito maior que ele, o que não era difícil ser.
Esta floresta guarda segredos que eu mesmo desconheço. Saibam que eu posso ajudá-los a encontrar o caminho de volta, mas não estarei lá quando a floresta buscar sua vingança.
Não entendo suas palavras. Chace, pelo o que diziam seus olhos, também não havia entendido, mas eu sabia que ele havia ficado tão assustado quanto eu.
--Espera, o que você quer dizer com vingança? A gente não fez nada.
Novamente ele olha para os lados, fazendo com que dessa vez eu também olhe, porém a floresta parecia normal. Não havia nada, eu não via nada.
A Floresta não sabe que vocês não fizeram nada, ela simplesmente age de acordo com as suas próprias vontades.
Aquilo me assusta. A maneira que ele falava me fazia acreditar que a floresta era viva. O que, de uma certa forma, era verdade. A floresta era viva, mas pela sua forma de falar cheia de suspense, fazia eu acreditar que a terra poderia me engolir a qualquer segundo.
--Você está querendo dizer o que, exatamente?--Chace pergunta. Estava irritado, o que era fácil de pensar pelo tom de sua voz, a maneira que suas sobrancelhas estavam juntas e a forma que seus lábios se encontravam tensos.
Nozes suspira.
Vocês provavelmente irão descobrir. Agora me sigam, preciso explicar sobre o riacho.
Eu olho para Chace, em um pedido mudo de socorro. Não estava entendendo nada daquela loucura, mas havia aceitado a ajuda do esquilo, e agora não tínhamos como sair correndo. De acordo com suas palavras, parecia que a floresta podia nós comer vivos a qualquer segundo, nem eu e nem Chace queríamos isso.
Nozes começa a andar pelo chão, como se não temesse as cobras, lagartos, qualquer animal que poderia gostar de um esquilo assado.
--Vamos?--Pergunto para Chace, esse que apenas concorda com a cabeça, começando a seguir o esquilo chamado Nozes.
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