ꕥ Capítulo IX ꕥ
Tʜᴇ Vɪʟʟᴀɪɴ Oғ Pʀɪɴᴄᴇ
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ IX
"Não há pior vilão que o vilão consciente".
— Miguel de Cervantes
ꕥ
Afundei dentro da banheira, todos os meus músculos contraíram e relaxaram perante a água quente e perfumada. Nunca gostei de banhos muito quentes, porém, esse corpo parecia apreciar tal coisa. A água da enorme banheira de porcelana estava praticamente fervente, fazendo o vapor aromático impregnar todo o cômodo. A pele pálida deste corpo não se avermelhava pela temperatura intensificada, era muito pelo contrário, pedia por mais e mais. Já havia percebido que Vanda tinha uma forte resistência a altas temperaturas, era algo muito interessante, já que a mesma parecia uma boneca que poderia se quebrar a qualquer momento.
Ergui a mão e observei cada detalhe do meu punho, de onde surgiu aquela monstruosa força? Como esse corpo fraco conseguiu arremessar aquele homem tão longe? Até entendo um humano ser lançado com um soco, mas Vanda não era o Mike Tyson da vida e muito menos chegava perto de seus pés. Abri a mão e fechei algumas vezes, tentando formular uma explicação plausível para tal acontecimento estranho. Mas nada me vinha à mente, no livro nunca fora citado algo parecido. Vanda não tinha poderes especiais ou magia, era apenas uma pobre alma mal-amada que fez escolhas ruins em seu curto período de vida.
Ou será que tinha?
A dúvida começou a consumir minha cabeça. O Jardim do Príncipe era um livro cheio de aventuras, tramas, romance e magia. Era normal ter vários personagens que conseguiam manipular a matéria mágica, como a heroína da história e até mesmo o príncipe. Mas em lugar nenhum no livro é mencionado que a vilã tinha algum poder mágico ou algo similar. Ou será que por ser uma vilã, as habilidades de Vanda nunca foram exploradas? Certamente aquele livro era um clichêzinho no qual a capacidade da vilã não é colocada à prova e o final feliz é sempre possível para o casal principal.
Fechei os olhos e inspirei fundo, estou começando a me questionar no que eu tinha na cabeça por gostar de algo assim.
— Minha senhorita, a temperatura está ao seu agrado? — a voz da empregada, oferecida pelo príncipe, soou tirando-me dos meus devaneios. A mulher de cabelos negros e olhos escuros curvou-se com as mãos postas sobre o colo. Lowel havia me posto em uns dos milhares de quartos do Palácio Real com algumas criadas à minha disposição. Analise adquiriu um quarto só para si, porém menos pomposo que o meu.
Encostei as costas e os braços nas bordas da banheira e olhei atentamente a empregada. Analise era muito mais bonita em trajes de empregada vitoriana.
— Mais quente — pedi com um olhar indiferente perante a expressão espantada da mulher.
— Certeza, minha senhorita? — Darla, que era seu nome, olhou-me com receio de que eu estivesse exagerando.
Talvez eu estivesse, mas esse corpo almejava por mais. A temperatura atual não estava me satisfazendo, por isso balancei a cabeça e logo Darla curvou-se e se dirigiu-se até a cômoda ao lado, abrindo-a e retirando um pequeno Cristal Vermelho. Aqui nesse mundo existia algo chamado Cristal Mágico, que eram pedras que armazenavam a magia básica. Essas pedras podiam ser usadas em diversas funções. O cristal vermelho, por exemplo, emanava magia quente e no momento estava sendo usado para aquecer a água deste banho. Normalmente, apenas os nobres utilizavam cristais mágicos, já que os mesmos eram bastante caros.
Darla colocou a pequena pedra vermelha dentro da banheira e imediatamente a temperatura da água aumentou. As borbulhas começaram a indicar uma fervura dentro da banheira, a qual eu apreciei. Afundei mais meu corpo dentro da água, apoiei a cabeça na borda e fechei os olhos. Aquilo estava bom. A água quente parecia me abraçar confortavelmente, como um aconchego de um ninho quente como o inferno.
Soltei um suspiro de satisfação.
Batidas são ouvidas no cômodo, imediatamente olho para a porta que dava acesso ao meu quarto. Darla caminhou até a porta e abriu uma fresta, dando possibilidade para só ela olhar o ser inconveniente nesse momento. Ouvi uma voz familiar e logo a associei com minha Dama, Analise estava ali.
— Deixe-a entrar! — ordenei, e assim se fez. Darla deu passagem a Analise, que entrou timidamente no banheiro cheio de vapor adocicado de ervas. — O que aconteceu? — para a jovem ter interrompido meu momento, algo realmente deve ter acontecido. E pela sua cara, era algo que a morena não sabia lidar direito.
— Vossa alteza, o príncipe, deseja compartilhar a refeição desta noite com a senhorita.
Minha cara se distorceu em uma careta indignada.
— Ele insiste... — ela continuou. — Que no caso da senhorita não comparecer, ele mesmo irá trazer o jantar até você.
— Esse príncipe enlouqueceu? — bravejei alto, assustando Darla que se encolheu. — Quem ele pensa que é para me dar um ultimato desses?
— O príncipe deste reino — respondendo minha pergunta, Analise deu/ um sorriso de lado.
Revirei os olhos não me importando com aquilo.
— Não desejo passar mais um minuto sequer na frente daquele príncipe — afundei os braços nas águas, deixando apenas a cabeça do lado de fora. — Diga que toda a agitação deste dia fatídico me deixou indisposta.
— Mas senhorita, uma Flor não deve rejeitar o Príncipe Herdeiro — a empregada do Palácio exclamou com preocupação.
Meus olhos focaram-se friamente na empregada rechonchuda, no mesmo momento, Analise cutucou Darla e a fez sair do banheiro com um pedido de desculpas e fazendo-a ser encarregada de dar a triste notícia a Lowel.
— Tens certeza, senhorita? O príncipe pode vir a ter ressentimentos por rejeitá-lo — Analise pegou o robe cor de carmim que estava pendurado em um gancho na parede. Levantei-me na banheira fervente e aconchegante, deixando os resquícios de água quente percorrendo meu corpo. Senti a quentura deixar meu corpo e a minha pele almejar por mais calor.
Olhei para um espelho grande posto na parede à frente, refletindo todo o meu novo corpo. A pele, ainda pálida, parecia uma porcelana banhada pelas luzes fracas. Os olhos vermelhos pareciam que ardiam em chamas, Vanda sempre tivera os olhos mais bonitos de toda RedKinolt e o rosto mais marcante. Era um pouco difícil de não notar quando uma jovem como Vanda olhava para si, a jovem se sobressaia de todas as jovens do reino. Sua beleza pura e natural era fatal e esmagadora. Não sei como o príncipe não se sentira atraído por ela, pois em aparência, a vilã era mais peculiar do que a mocinha.
Sai da banheira, derramando um pouco de água pelos lados. Analise aproximou-se e ajudou-me a vestir o robe, dando um laço na frente. Limpei meus pés molhados em um tapete felpudo e sentei-me em um banquinho na frente do espelho. Com uma toalha branca, Analise secou meus cabelos e os penteou delicadamente. Após o termino, minha barriga já roncava com fome. Não comia ou bebia algo desde cedo, tenho que forrar o estômago ou passarei mal nesse Palácio.
Abri a porta que dava acesso ao quarto e imediatamente o aroma de comida inundou minhas narinas, fazendo meu estômago se contorcer um pouco. Apressei-me para entrar no quarto, seguindo o agradável aroma de frango assado até chegar em uma mesa completamente posta com um agradável jantar a dois. Parei de andar no mesmo momento que notei Lowel ali sentado em umas das cadeiras, sorrindo estranhamente para mim.
Meu corpo congelou e um arrepio desceu pelas minhas costas. Esse cara entrou aqui sem ser anunciado e me esperou sair do banho? Que bastardo indelicado, deve estar achando que só porque é o príncipe herdeiro pode fazer o que quiser. Meu dia já não foi bom, tudo que queria agora era comer e ter uma noite agradável. Mas ao que parece, este jovem quer testar minha paciência.
Fechei os olhos e respirei fundo, o que devo fazer com esse projeto de adolescente?
— Estou preocupada com a educação que as proles do rei recebem. — dei um sorrisinho cínico, me dirigindo a cadeira do lado oposto do príncipe. Sentei-me cruzando as pernas e encarando Lowel com uma carranca nada agradável.
— Não se preocupe, temos a melhor educação deste reino — o príncipe fez um sinal para Analise servir o jantar e assim ela o fez.
Observei a comida sendo servida, frango assado com batatas e alguns acompanhamentos. O cheiro estava divino, certamente os chefes do Palácio devem ser os melhores de todo o reino.
— O que devo a esta visita grosseira? — minha voz suave fez Lowel erguer a sobrancelha esquerda. O príncipe trocara de roupa e vestia-se com roupas mais simples e confortáveis. Os cabelos negros encontravam-se um pouco bagunçados e úmidos, deixando seus olhos azuis mais destacados.
— Pensei ter dito que queria jantar com você.
— Pensei ter dito que não.
Nos encaramos por longos segundos, tentando claramente saber o que outro pensava. Lowel pegou os talheres e deu um sorriso de lado, cortou seu pedaço de frango e o levou à boca. Este garoto anda muito sorridente, isso era realmente muito perigoso. Ele nunca foi de ficar de conversas com Vanda, sua vontade de ficar ao lado dela era mínima.
O que ele tramava?
Aquele jantar não passou de conversas simples e estranhas. O príncipe fazia-me algumas perguntas e esperava a minha resposta, a qual eu estava tentada a não dar. Foram simples perguntas, como comida favorita ou o que eu gostava de fazer no meu tempo livre. Parecia que ele estava simplesmente me paquerando ou rondando-me para saber algo mais. Algum podre. Sempre que eu citava o Jardim, Lowel dava um jeito de mudar de assunto rapidamente. Além de fazer perguntas sobre mim, ele também falou um pouco sobre si. Contou-me de algumas coisas que gosta e que admira, nada que eu não soubesse ao ler o livro. Mas também não se aprofundou no quesito de sua posição como herdeiro deste reino.
Ao término da sobremesa, a qual foi um bolo de limão, Lowel levantou-se para despedir-se. Levantei-me também para o acompanhá-lo até a porta, feliz por finalmente me livrar deste pentelho.
Assim que abriu a porta, a qual eu iria imediatamente trancar, o jovem moreno virou-se novamente em minha direção. Ele ergueu sua mão, que agora estavam nuas, em busca da minha, incomodada ergui minha mão e a pousei na sua. Segurando sua mão, pude sentir que era grossa e dispunha de alguns calos. Provavelmente era o resultado de seus treinamentos pesados que sempre fazia todas as manhãs, Lowel gostava de estar em forma e preparado para qualquer ocasião. O príncipe de cabelos negros inclinou-se para frente e levou seus lábios até minha mão, depositando em meu dorso um beijo singelo. Observei aquele ato, nunca havia feito tal coisa com a verdadeira Vanda. Tenho plena certeza que não está interessado em mim, mas sim com curiosidade. Uma enorme curiosidade para saber o que aconteceu com a Vanda que conheceu e que lhe irritou.
Ainda segurando minha mão, ele ergueu-se e sorriu. Acho que o entendi um pouco, Lowel acha que agora eu posso ser uma forte aliada que lhe ajudaria ter a coroa e o controle deste reino.
Minhas feições endureceram e uma súbita vontade de arrancar minha mão da sua me percorreu.
— Se já estiver satisfeito, por favor, retire-se — com a voz fria, encarei seu rosto traiçoeiro. Sabia que Lowel não se apegava facilmente a alguém, principalmente a guria que lhe atormentava. Eu não sou aquela trouxa da Vanda, não irei cair no encanto dessa serpente de olhos azuis.
— Estás sendo dura comigo, Vanda. Creio que ainda não se esqueceu das regras do Jardim — com um sorriso de lado prepotente, o príncipe deu um passo de costas para fora do quarto. Soltei sua mão em um puxão e cruzei os braços acima dos seios, que garoto implicante.
— E você esqueceu-se que eu não sou qualquer uma. Portanto, não me provoque. Não irá gostar de saber o que eu posso fazer em relação a você e a sua posição, principezinho — dando um sorrisinho maléfico no final, me diverti ao ver o rosto de Lowel se petrificar. Ergui a mão mais uma vez até o jovem e o empurrei no peito. Fazendo ele dar mais alguns passos para trás e sair totalmente do portal da porta, dando a oportunidade perfeita para fechar a porta facilmente na cara do príncipe herdeiro.
ꕥ
Mordi o lábio inferior, prendendo um suspiro de felicidade, havíamos acabado de sair do Palácio em uma manhã muito agradável. Antes de ir, consegui fazer uma visita a Sir. Cliver na Ala Hospitalar e verificar se estava tudo bem com meu primeiro paciente nesse mundo. Troquei algumas palavras com a enfermeira encarregada e fingi que aquele médico, que comanda o hospital, era um musgo. Felizmente o príncipe herdeiro tinha algo melhor para fazer e deixou-me partir em paz.
Um novo guarda real foi-me designado, alguém mais experiente em batalha e preparado para qualquer possível emboscada. A carruagem partiu às dez horas em ponto do portão lateral, sem nenhum empecilho para atrasos. Analise mantinha-se calma ao meu lado, provavelmente remoendo o que lhe ordenei fazer assim que chegássemos ao castelo. Era claro que minha adorável madrasta e o gentil mordomo tentaram me assassinar. E não desejo deixar isso passar a limpo. Tenho que fazer algo para ensiná-los que quem brinca com fogo queimado estará.
O caminho de volta para o Castelo Vllamir fora pacifico, deu-me o tempo preciso para pensar no que fazer quando chegar. Olhei para as imagens fora da janela, era engraçado ver a paisagem de um mundo o qual eu imaginei por anos. Isso faz-me lembrar de minha tia, a qual me presenteou com este livro, será que ainda vive? Incomodou-se com minha morte? Ou não se lembra mais de mim?
Assim que a carruagem passou pela entrada principal do Castelo Vllamir, pude perceber que quase não voltava mais para este lugar. Houve uma tentativa de assassinato a mando de pessoas que querem me eliminar. Minhas ações estão tomando proporções muito grandes, devo ser mais cautelosa a partir de agora. Chalort e Claude formaram uma aliança perigosa e para sobreviver, devo fazer de tudo para colocá-los em seu devido lugar.
A carruagem parou e logo ouvi uns murmúrios do lado de fora, soltei um longo suspiro e olhei para Analise. A morena me ofereceu um sorriso e logo se voltou para a portinhola que se abria. Sir. Reinald ajudou Analise descer e logo estendeu a mão para ajudar-me. Sir. Marco Reinald era um homem alto e de pele bronzeada, tinha os cabelos castanhos e os olhos da mesma cor. E a fisionomia de seu rosto me lembrava muito Jean Cliver, eles devem ser parentes.
Ao pisar no chão, um sentimento ruim me percorreu. Algo estava errado, imediatamente percorri meus olhos por toda a extensão da frente do Castelo Vllamir. O leão que deixei para trás não veio me receber. Algumas empregadas estavam de prontidão, recebendo-me em casa.
— Bem-vinda de volta, minha senhorita — disseram em coro e curvaram-se.
Olhei-as de cima para baixo e logo voltei meus olhos para Sir. Reinald.
— Obrigada pela escolta — agradeci curvando-me levemente. — Tenha uma boa viagem de volta ao Palácio.
— Eu que devo agradecê-la, minha senhorita — curvando-se também, Sir. Reinald deu um sorriso. — Salvaste a vida do meu sobrinho. Devo-lhe minha gratidão como tio e como superior daquele menino.
Abri um sorriso, eles realmente são parentes.
— Se não for incomodo, posso escoltá-la daqui a diante? — seus olhos castanhos focaram-se nos meus. Ele parecia ser um homem honrado e uma boa escolta.
— Claro, estarei aos seus cuidados.
Sorrindo um para o outro, nos despedimos. Então virei-me para as empregadas que me evitavam o olhar, estão escondendo algo. A passos firmes, caminhei até elas com uma expressão ameaçadora.
— O que está acontecendo? — joguei a pergunta no ar para qualquer umas das quatros meninas de uniforme. A terceira tremeu com a minha voz e abaixou ainda mais a cabeça. A primeira e a quarta engoliram em seco e a segunda comprimiu os lábios. — Se não me responderem, considerem-se demitidas e expulsas do condado.
Todas tremeram. O condado era o território pertencente a um conde, que no caso era meu pai. A família Vllamir tem vários condados espalhados pelo reino, os mesmos que habitavam algumas cidades e vilas. Sendo expulsas do condado, elas teriam que vagar à procura de outra casa.
— Por favor, minha senhorita, tenha misericórdia! — jogando-se no chão de joelhos, a terceira empregada cobriu o rosto com as mãos trêmulas.
As outras se encolheram assim que dei um passo em direção a que estava no chão.
— Fale.
— Ma-madame Vllamir puniu o feral e o trancafiou nos calabouços — gaguejando com medo, a jovem contou-me.
Meus olhos arregalaram-se com o relato.
Aquela vaca fez o quê?
Sem me importar com as empregadas, eu parti para dentro do castelo em alta velocidade. Com passos apressados, a minha mente sabia que algo estava errado assim que não vi Aryeh na recepção. Como fui ingênua em pensar que ele estaria seguro com a minha proteção e a aprovação do conde. Pensei que ele não seria tratado como escravo, mas sim como um ser vivo.
Droga!
Me dirigi para a entrada interna dos calabouços. Umas das primeiras coisas que fiz quando confrontei o conde, foi decorar cada sentimento desse castelo e estudar bem suas plantas. Agora eu sei onde tudo se localiza e assim, como eu posso montar várias rotas de fuga. Avistei a porta que descia para o subterrâneo, mas antes de tocá-la, um corpo alto e impertinente entrou em meu caminho.
— Bem-vinda de volta, senhorita Vanda. — dando um sorriso falso, Claud Hunt curvou-se.
Esse cara quer mesmo me ver irritada. Devo matá-lo?
Não, ainda não é o momento. Respiro fundo e encaro o mordomo à minha frente.
— Saia! — ordenei com a voz firme, infelizmente não fez efeito nele. Já que o mesmo abriu ainda mais seu sorriso serpentinoso.
— A senhorita acabou de chegar, não quer comer algo ou descansar um pouco?
— Quero que você me obedeça, ser insignificante. Ou a idade lhe deixou caduco e sonso? — retruquei friamente, minha raiva já estava quase transbordando. Não sei mais quanto tempo conseguirei aguentar segurar a minha mão, sinto minha mente querer socar a cara desse ser até ficar irreconhecível.
Ele não se moveu.
Já que minhas ordens não são obedecidas, não há nada de errado em usar a violência, não é?
Agarrei na saia de meu vestido e a levantei, dando acesso a minha perna de se levantar e atingir fortemente sua cintura. O empurrando para trás e fazendo-o bater contra a porta. Enquanto ele torcia e colocava a mão no local atingido, eu joguei uma mecha de meus cabelos para trás.
— Não seja teimoso, Claud. Saia ou se arrependerá amargamente por me irritar.
— A minha senhorita está fazendo uma cena, se o conde souber isso... — Levantando-se, aquele inseto olhou-me com arrogância. — Tudo por causa de um feral imundo.
O fio que sustentava minha paciência se rompeu. E eu apenas vi o que tinha feito quando Analise gritou atrás de mim. Meu punho pingava encharcado de sangue e o rosto do mordomo com grandes hematomas de não só um, mas de vários socos sanguinários. Meu corpo encontrava-se em cima do de Claude, o segurando-o com uma mão e com as pernas, assim como no treinamento militar. Meu peito arfava ainda com o surto de fúria e um desejo de vê-lo morto me percorria vivamente.
Ele havia desmaiado.
O rosto de Claud começara a inchar e ficar irreconhecível, vê aquilo fez com que um sorriso sádico brotasse em meus lábios. Eu precisava de mais, mais alívio da minha raiva.
— Mas o que está acontecendo? — ouvir uma voz grossa, porém não dei importância.
— Minha senhorita?!
— Alguém a segura! — outro gritou. — A senhorita enlouqueceu!
Quando uma mão grossa agarrou meu braço, meus instintos de auto defesa se ativaram. Soltei Claud e agarrei a mão do homem, o puxando para o chão e lhe acertando a garganta. Era uns guardas do castelo, vestia o uniforme negro com o emblema dos Vllamir's no peito esquerdo. Me ergui rapidamente e encarei os outros dois guardas que me olhavam de prontidão. Vendo que eles observavam cada movimento meu, ergui meu pé e o apoiei no peito do guarda no chão.
— Não ousem me tocar — com a voz fria, encarei todos que me rodeavam. Sinto que poderia espancar todos eles e ainda não estaria satisfeita.
Tentei estabilizar minha respiração, parecia que meu sangue fervia com a emoção de arrebentar a cara do insolente Claud. Olhei para Analise que se mantinha em choque, lhe dei as costas e fui em direção a porta. Ao abrir, o breu de uma escadaria se iluminou e eu adentrei no mesmo. Ignorei todos que me olhavam como um monstro.
Talvez eu seja o pior dos monstros, aquele que tem consciência que é um.
Desci degrau por degrau com o queixo erguido e uma raiva imensa no meu corpo. Como eles podem ir contra mim? Fiquei ausente por apenas um dia e uma noite e eles foram atrás de Aryeh. Além de tentarem me matar, tocaram em uns dos meus.
Ao fim da escadaria, o caminho mal iluminado dava acesso à várias celas. O calabouço era frio, húmido e a pouca luz que o tinha, vinha de tochas. Haviam alguns guardas que se assustaram ao me ver, dois deles estavam postos em frente a uma cela ao fundo. Me apressei e fui naquela direção, mas fui impedida pelos guardas de ver o ser na cela que se mantinha suspenso pelos dois braços acorrentados.
— Saiam da minha frente — rosnei com ira, Aryeh estava com as vestes rasgadas e com uma mordaça de cavalo em sua boca. Meu peito doeu, eu o resgatei para isso?
— Minha senhorita, são ordens da Condessa.
Meus olhos foram em direção ao guarda da esquerda, que engoliu em seco ao olhar-me. Sei muito bem que cara estou fazendo agora, quero assustá-lo. Quero que saiba que sou perigosa. Quero que não mexa mais no que é meu.
— Dei-me as chaves e saiam daqui — ergui a mão para receber as chaves da cela e das correntes. — Podem relatar ao Conde se quiserem, mas se ficarem, não me responsabilizo com o que irá acontecer.
Eles se entreolharam e logo balançaram a cabeça afirmando, entregaram as chaves e se retiraram. Não perdi tempo e abri a cela com grades de ferro e adentrei para onde Aryeh estava.
Seu corpo encontrava-se no meio da cela, suspenso pelos braços acorrentados. Eles se atreveram até colocar uma mordaça de cavalo em meu guarda, seu rosto estava inchado com manchas de sangue e o nariz quebrado. As roupas estavam rasgadas, mostrando alguns cortes em sua pele. À medida que eu me aproximava percebi que suas costas estavam expostas, dei alguns passos dando a volta no corpo desfalecido do pequeno Scar. Meu corpo congelou ao ver sangue seco e várias feridas expostas nas costas de Aryeh. Ele foi açoitado. Açoitado como um escravo. Escravo, coisa que ele não é.
Levei meus dedos a suas costas, até as feridas que eu sou responsável. Não acredito que aquela megera fez isso!
Aryeh contraiu as costas e gemeu com o meu toque. Imediatamente dei a volta em seu corpo até seu rosto, retirando rapidamente a mordaça de sua boca. Joguei aquela mordaça no chão com força, Aryeh contraiu a mandíbula e lentamente abriu os olhos. Os olhos verdes encontravam-se opacos, mas mesmo assim, ele me ofereceu um sorriso.
— Mestra, eu esperei pacientemente sua volta — dizendo com esforço, o homem feral estava literalmente acabado.
Mordi o lábio com tanta força que senti o gosto metálico do sangue. Assim que abrir os fechos das correntes de seus braços, o corpo de Aryeh caiu sobre mim. O segurei pelo seu pescoço e cintura até chegarmos ao chão, fazendo-o com que seu corpo finalmente descansasse. Eu segurava sua cabeça em meus braços, para que suas costas não encostassem no chão imundo dos calabouços.
— Por que não revidou? Você é um feral, tem força suficiente para ter revidado contra eles — passei a mão livre em seu rosto, limpando o sangue seco e tirando seus cabelos dos cortes.
— Mestre me disse para não morder todo mundo — sorriu, um sorriso extremamente irritante.
— Tolo. — resmunguei apertando-o contra mim.
Aquela megera irá pagar por isso. Ela e aquela cobra metida a mordomo, os dois pagarão por ter tocado em algo que é meu. Minha raiva imensa pulsava dentro de minhas veias, fazendo meu sangue ferver. Quero matá-los. Quebra-los até não terem mais razões para viver. Vou fazê-los pagar por isso. Vou fazê-los sofrer!
ꕥ
〖 Contém 4069 palavras 〗
Capítulo betado 10/11/2021 por Isnandss
do Fuck Designs, obrigada ^..^
Então meus vilãozinhos, estou um pouco atrasada por que me bateu uma crise depressiva e um bloqueio criativo acabou comigo. Não conseguir dar continuidade a nenhuma obra minha. Mas tamo ai na luta!
Essas são as aparência de Jean e Marco. O sobrinho e o tio <3
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro