The Best Life
Dominik Novák era um homem fino, inteligente e bem de vida, querido pela sociedade e seus amigos; mesmo assim, havia algo errado, algo não encaixava. Recentemente sua namorada, Valéria Kostrová, começou a fumar, o que era incomum em sua vida perfeita.
Ao retornar para a sua casa após um longo e cansativo dia no trabalho, viu sua porta entreaberta. Era estranho, mas não podia se impedir de pensar que alguém invadiu. Pegou a primeira coisa que podia usar como arma e entrou devagar, ouvindo um gemido suave, uma respiração ofegante.
— Mais, mais! — Ouviu a voz de sua namorada lá dentro.
Pensou em avançar com tudo, descobrir o que era aquilo, mas o peso em seu coração era maior do que qualquer curiosidade. Não precisava pensar muito mais, era claro que Valéria estava o traindo bem ali, em seu quarto. Sua visão se enturveceu. Decidiu voltar para a fachada do prédio devagar, andando lentamente, sentindo o suor escorrer em seu rosto que brotava mesmo no frio europeu.
Mandando uma singela mensagem, ele a avisou que estava para chegar. Buscou flores, uma caixa de bombons e até mesmo um vinho. Comprou tudo com pesar, seu ódio ruminava em sua mente, derretendo seus neurônios lentamente. Operou como uma máquina naquela noite, tendo uma bela noite romântica com ela.
Moravam juntos há alguns meses, havia planos de casamento.
Ele a amava. Acreditava que fosse reciproco.
— Comprou a esguichadeira?
— A o quê? — Dominik piscou os olhos, saindo do mundo de ódio que estava e olhando de volta à tela de computador na sua frente, repleta de tabelas e planilhas.
— Depois do trabalho a gente vai se reunir na casa do Stefan, esqueceu?
— Não! Não, ela tá aqui. — Abri minha mochila e mostrei.
Uma pistola de água da NERF e um chicote de couro. Quem visse de fora poderia associá-lo a um praticante de BDSM, mas não era este o caso. Não era um chicote de verdade, apenas um galho com laços em sua ponta, típico da tradição de Páscoa. O que importava mesmo era a brincadeira de molhar; era o que movimentava mais a juventude na Eslováquia, fazendo-os interagirem e aproveitar um feliz último dia de Páscoa.
Essa era apenas uma brincadeira que ele fazia desde seus dias de universidade com seus amigos. Toda segunda-feira de Páscoa, Dominik, Robert e Stefan puxavam o trem da tradição e saíam molhando as garotas em seus vestidos. Comemorando com uma brincadeira boba e muita Vodka.
Foi assim que ele havia conhecido Valéria.
Essa foi a primeira Veľkonočný pondelok que passaram trabalhando, mas isto não iria impedi-los de se divertir.
— Alô, amor! — Dominik pegou o telefone e ligou, após o expediente. Demorou um longo minuto de toque até que ela atendesse.
— Oi meu bem, já está vindo? — Ela perguntou com uma voz atrapalhada.
— Devo chegar em uma hora, o trabalho foi um pouco pesado. — E estava, de fato. Dominik gastava muito tempo de sua vida pensando em como subir a hierarquia corporativa.
Dar orgulho à sua família.
— Não se apresse, odeio me molhar — Ela brincou.
— É mentira, isso deixa ela excitadíssima — Dominik pôde ouvir uma voz masculina do outro lado, e mais um coro de várias outras vozes. Ele conhecia bem seu grupo de amigos, eram muito próximos e brincavam bastante.
Mas aquela voz em específico, ele não esquecera.
— Não comecem sem mim! — Ele exclamou, desligando a chamada logo após.
Não começariam, tinha certeza. As pessoas sempre esperavam por Dominik Novák para dar inicio a eventos. Enquanto isto, aproveitou o tempo para preparar uma segunda pistola de água bem cara; aquela seria importante. Gastou uma boa parte de seu salário para compra-la.
Foi até sua casa e lavou o rosto. Tomou um banho, colocou sua melhor roupa esporte social, hoje era um grande dia. Iria se divertir.
Iria mudar sua vida.
A casa de Stefan era grande, mesmo todos eles sendo bem de vida, seu amigo estava mais para um pequeno milionário. Fortuna geracional.
— Se não é o trabalhador! — Stefan veio e o abraçou, trazendo-o para dentro de seu casarão.
— Não posso ficar para trás, huh. — Dominik disse sorrindo, deixando sua mochila encostada em algum canto.
— E aí, quando a gente começa? — Robert chegou.
— Tá doido para arrumar uma namorada hoje? Respira, acabei de chegar — Dominik riu.
— Que namorada, não sou um cara romântico.
— Desespero assim não vai te levar a lugar nenhum — Stefan bateu na cabeça dele de leve com um copinho de vidro. — Vamos lá pra fora, estamos tomando uns drinks por lá.
Ele deu também um desses copos para Dominik e saiu. Já estava um pouco embriagado, mas eram todos muito resistentes à bebida.
Dominik olhou em volta, procurando sua namorada. Ela não havia vindo recebe-lo, arfou, xingando-a mentalmente.
Chegando ao grande quintal, algumas mesas com grandes guarda-sóis armados estavam cheias de guloseimas, uma quantidade grande de doces, alguns que haviam sobrado do domingo e vários novos, dos quais os empregados de Stefan trabalharam para armar para hoje. Em nosso grupo, a segunda-feira era muito mais importante que o domingo.
Em outra mesa, uma coleção de armas de água: algumas parecendo metralhadoras, outras apenas pistolinhas. Dominik pegou as que trouxera em sua mochila e colocou-as em destaque. Deixaria ali para que Stefan as pegasse uma bem bonita.
Quando Valéria finalmente veio ao seu encontro, Dominik pôde sentir o cheiro do cigarro recém fumado. Completamente enojado, apenas a abraçou.
— Oi, pequena.
— Oi. — Ela sorriu, beijando o rosto dele.
Segurou em seu colarinho e beijou seu pescoço. Dominik a afastou, não queria que o cheiro ficasse impregnado.
— Vamos beber primeiro! — Disse, tentando parecer animado.
O dia passou rápido, beberam, comeram um belo churrasco e sobremesas gostosas. Dominik se estirou, bocejando, estava na hora da brincadeira. Stefan pegou uma das metralhadoras de água que havia deixado guardado.
— Adivinhem que horas são agora! — Alguns dos garotos preparou o galho com fitilhos e outros seguraram as pistolas d'água.
As garotas começaram a correr segurando seus vestidos, Valéria mostrou a língua e correu pelo grande quintal, escondendo-se atrás de suas amigas. A água bateu na testa delas e espirrou, enquanto corriam através da mansão, iluminadas por um lindo pôr-do-sol. Dominik riu enquanto molhava suas amigas e usava um grande rifle de água para encharcar Valéria, como nos velhos tempos.
Mesmo sendo uma tradição boba, talvez até para crianças, era inevitável se divertir enquanto corria por aí com várias pistolas d'água. Dominik viveria a melhor vida do mundo. Sozinho.
— Cadê o Stefan? Você viu? — Robert perguntou após a brincadeira.
— Não sei, deve estar fumando. — Dominik espreguiçou.
Um grito se sucedeu, tão gutural que invadiu o lugar e prendeu todos do grupo no lugar. Uma voz feminina chorando e gritando tanto, como se sua garganta estivesse prestes a ser rasgada.
De repente, Valéria passou correndo pela sala de estar e jardim. Seu corpo em chamas, sua carne carbonizando enquanto ela rolava de um lado ao outro, tentando apagar o fogo. Ela estava nua, e com o cabelo ainda encharcado pela brincadeira de Páscoa.
Dominik ficou parado por uns segundos até piscar o olho e voltar à realidade. Stefan veio correndo atrás de Valéria, vestindo apenas uma cueca claramente colocada às pressas. Atrás dele, todas as garotas pegaram copos e bacias e enchiam de água desesperados. Os homens gritavam, batiam suas camisas no corpo de Valéria e choravam, colocando a mão no nariz sentindo a fumaça irritar seus olhos.
Os gritos de Valéria eram ensurdecedores. Música para os seus ouvidos. Ela grunhia, vomitava enquanto sua carne e gordura eram cozinhados na frente de todos.
Sentiu o olhar desesperado da garota encontrar o seu, e não conseguiu deixar de sorrir.
Olhou de volta para a mesa com as pistolas d'agua — vários modelos, pistolas pequenas e grandes, e duas delas bastantes adornadas e coloridas.
Apenas uma delas carregava uma simples solução de álcool e ácido acético. Pouquíssimo corrosivo, altamente inflamável. Pegou a que continha apenas água e pôs de volta na mochila durante a confusão. Limpou suas mãos com um lenço e arrumou suas roupas. Levaria aquela pistola para um lugar seguro.
Odiava fumantes, odiava ainda mais traidores. Principalmente na Páscoa.
Nada poderia ficar no caminho de sua vida perfeita.
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