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▓ CAPÍTULO TRINTA E QUATRO ▓



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Seja bem-vindo ao capítulo final desta obra e muito obrigada por acompanhar até aqui. 


É inacreditável a serenidade que preenche minha vida agora Parece que finalmente consegui sair daquele buraco negro em que estava há tanto tempo. Lembro de como tudo parecia tão sombrio e sem esperança, mas agora posso ver a luz no fim do túnel.

Claro, sei que haverá dias desafiadores pela frente, só espero que nada seja tão difícil quanto antes. As inúmeras decepções que vivi, acabaram me tornando alguém mais madura para enfrentar qualquer situação. A vida ainda pode me testar, mas estou pronta para me manter de pé, além de ansiosa para colorir o meu futuro com o sorriso do bebê que estamos esperando, Dom e eu.

Optei por esperar um pouco mais para iniciar o pré-natal. Tenho muito medo da informação vazar e acabar tendo a minha gravidez exposta. Os questionamentos que podem surgir sobre a paternidade, fazem parte do fantasma de Otávio me assombrando. Jamais permitirei que essa criança descubra ter um homem abominável como pai.

Dom tem conseguido conciliar a sua vida louca com a nossa. Ele se esforça tanto por nós três, para não deixar que nada respingue no nosso cotidiano, que às vezes até esqueço que moro com o dono do morro de Tia Ondina, e eu o amo ainda mais por isso. Costumo dizer que ele é criminoso nas horas vagas e um pai de família em tempo integral.

— Vai na frente, assim você não se atrasa. Eu vou encontrar um lugar para estacionar. — Dom fala olhando os canteiros sem nenhuma vaga para estacionar e conclui: — Deveríamos ter vindo de moto.

— Certo, o comprador já deve estar mesmo me aguardando. — Saio do carro, deixando uma chave extra com Dom e vou na direção do meu apartamento, onde o corretor me espera, com um interessado em comprar o meu único bem que ainda veio de Otávio.

Há dias que não apareço no luxuoso prédio. Entrar ali com a expectativa de que seja a última vez me deixa verdadeiramente aliviada. Ter o apartamento ainda ligado a mim, é como se Otávio ainda estivesse presente na minha vida, num canto esquecido e empoeirado, mas presente. O mesmo não permito acontecer com a minha gravidez, essa alegria é somente minha e de Dom.

O imóvel caminhava para uma dívida astronômica de impostos e condomínio. Nada era pago. Com a venda, conseguirei quitar esses débitos e ficar com um bom troco. A minha sorte foi ler muito bem a documentação antes de assinar e ver que estava tudo de acordo, ou Otávio teria se aproveitado da minha ignorância, tanto quanto se aproveitou da minha ingenuidade.

— Olá — digo entrando no apartamento, quando as portas do elevador se abrem.

— Só assim para conversar com a senhora — um homem anuncia. Ele usa um excelente terno cinza, segura uma pasta de documentos, enquanto me olha por trás dos seus óculos quadrados de armação marrom. — Tem se escondido muito do pai do seu filho, vereadora — diz ao passar as mãos pelos poucos cabelos que lhe restam na cabeça.

— Então é o senhor. — Suspiro cansada ao entender que se trata de uma armadilha do tal advogado de Otávio para me forçar a conversar com ele.

— Doutor Ramalho, literalmente à sua disposição. — Ele me estende a mão, mas o ignoro.

— Já que está à minha disposição, ficarei imensamente feliz em te ver sumir da minha frente — digo com simpatia.

— Doutor Otávio sempre disse o quanto a senhora é espirituosa.

— Doutor Otávio morreu.

— Sim, e sabendo que isso era uma possibilidade, ele tomou alguns cuidados para proteger o seu primogênito.

— Primogênito? — pergunto, praticamente esquecendo que ele se refere a criança em minha barriga, mas lembro quando aponta na direção do meu ventre.

— O reconhecimento da paternidade post mortem ficou incumbido a mim — informa em um tom formal. — O doutor Otávio deixou uma verdadeira fortuna em uma holding nominal ao seu futuro filho, com condições que a senhora deve obedecer e que não estão em discussão. Assim, terá acesso ao montante.

— Não diga... — Sorrio incrédula.

— Ele também deixou uma carta endereçada à mãe do seu filho. No caso, a senhora — continua, ignorando o meu deboche — E não posso esquecer de dizer que há também uma relação de sugestões para o nome da criança. Todos remetendo ao próprio nome e sobrenome do falecido. Como, por exemplo, Otávio Primmaz Segundo, se for um garoto. — Escuto tudo atônita.

— Pare, por favor, pare — peço aborrecida. — Nada disso irá acontecer, eu não estou grávida, e mesmo se estivesse, ele não seria o pai.

— Senhora Dalena, eu tenho permissão para usar todos os meios necessários para que a última vontade do doutor Otávio seja cumprida, inclusive, a força. Também tenho poder para reclamar a guarda da criança que será da mãe do meu cliente — informa cinicamente, fazendo o meu queixo cair.

— Você está louco? — pergunto abismada.

— Não gostaria de chegar a esse ponto, mas diante da sua resistência, devo alertar também que a morte do senador pode levantar suspeitas que recaiam sobre a senhora.

— Sobre que provas e alegações? — questiono, sentindo o meu chão sumir.

— Existem elementos plausíveis em um dossiê que o doutor Otávio preparou, já que ele via o próprio assassinato como uma possibilidade, e nem preciso dizer que, para um juiz da vara de família, isso é o suficiente na hora de tirar a guarda de uma mãe com problemas criminais — informa com certo atrevimento.

— O que esse sujeitinho disse? — Dom pergunta ao abrir a porta da sala.

— Essa é uma conversa particular, meu amigo. Desejo que se retire — o homem pede, enquanto Dom avança sobre ele a toda velocidade, fazendo o advogado recuar para trás, tropeçando nos próprios pés e praticamente caindo.

— O senhor tem amor à própria vida? — Dom pergunta num tom ameaçador.

— Estou aqui defendendo as últimas vontades do meu cliente — responde se colocando de pé de uma vez.

— Nos dê licença, Dalena, por favor. Parece que eu terei oportunidade de fazer contato com o espírito do senador, e toda a raiva que eu sinto dele, será finalmente aliviada.

— Não mate o homem, Dom — peço calmamente, indo em direção a porta para aguardar no hall.

— Só se ele pedir por isso, meu bem — fala, fulminando o advogado à sua frente com os olhos. Espero que ele realmente não chegue a esse ponto, mas confio que saberá resolver a situação da melhor forma. — O senhor tem certeza que quer insistir nisso em nome de um morto? Por acaso quer se juntar a ele? — Ouço Dom perguntar com a voz fria, enquanto assisto a tudo escondida na soleira da porta.

— Eu sou um advogado de prestígio dessa cidade, não pense que está falando com qualquer um — alerta o advogado tentando soar autoritário.

Rapidamente, a mão direita de Dom se estica no ar, como se fosse a de um lutador de artes marciais prestes a quebrar uma tábua de madeira. Em seguida desce veloz e implacável, além de precisa, e o atrevimento do homem lhe rende um forte golpe na região renal. Automaticamente, o sujeito puxa o ar com a boca como se estivesse se afogando ao soltar os papéis no chão para segurar a parte lateral das costas, enquanto se dobra parecendo sentir uma dor insuportável.

O advogado se contorce ao que Dom apenas assiste. Em nossas conversas, descobri que para ser dono do morro, se transformou numa máquina de matar. Ele gosta de mostrar o que aprendeu e me contou que essa é uma técnica muito usada por policiais para não deixar sinais evidentes de agressão. Coloco a mão em minha própria coluna ao imaginar a dor lacerante que o sujeito está sentindo.

O golpe afeta diretamente órgãos vitais, provoca dores intensas e súbitas pelos danos causados diretamente nos rins. É um tipo de lesão tão séria, que faz com que quem receba tal pancada, chegue a urinar sangue. É bem comum ver em uma ação policial, o cassetete ser direcionado exatamente para essa parte.

O advogado, tosse e finalmente estica o corpo.

— Agora me diga se o seu prestígio tem valor nessa sala? — Dom pergunta num tom destruidor e potente.

— Não — responde, rapidamente, o advogado, com a voz estrangulada. — Não tem, não senhor.

— Fico feliz por termos começado a nos entender. — Dom enfia os dedos na gravata do homem e torce ao girar a mão, deixando o rosto do advogado imediatamente vermelho.

— Por favor, não me mate — pede o advogado, engasgando nas palavras.

— Escute e não me interrompa. Quero que pegue tudo que o seu cliente deixou e enfie bem fundo no seu rabo. Consegue ouvir o que estou falando? — pergunta afrouxando bem pouco a gravata para ele falar.

— Sim... — responde o homem com a voz fraca.

— Se por acaso, eu sonhar que esses papéis existem, irei pessoalmente enfiar um a um nessa sua bunda mole, junto com as suas bolas. Para que fique mais claro, saiba que o seu prestígio vai parar numa vala e quando acharem a sua ossada, só vão te identificar pelos papéis melados de merda no meio do seu rabo. Fui claro? — O tal doutor Ramalho assente freneticamente, e Dom afrouxa de vez o sufocamento.

— Obrigado — agradece o advogado ao voltar a respirar, ao mesmo tempo que a urina desce por sua perna, se misturando a um forte odor de fezes que toma conta do apartamento.

— Isso, meu amigo, agradeça por estar vivo... — Dom pega a mão do homem e gira a aliança dourada que ele tem no dedo, sem tirá-la. — Você deve saber muito bem que não existem limites para proteger a nossa família, até imagino o quanto deve amar a sua. Para deixar mais claro, eu não acredito muito na lei que serve os seus clientes, sou dos primórdios do direito "Olho por olho e dente por dente". A última coisa que vai querer na sua vida é mexer com o meu filho. — O advogado cai em prantos, enquanto recebe alguns tapinhas nas costas. — Está com sorte hoje...

Eu me afasto da porta tentando respirar ar puro sem me esforçar para ouvir o resto da conversa nada amigável. Dom aparece em seguida, deixando o homem para trás, e me arranca dali. Ele está possuído, e provavelmente não fez coisa pior para me poupar da cena.

— Problema resolvido, Tigresa. Agora, esse merda está enterrado de vez. — Ele faz que vai me abraçar, mas para no meio do caminho. Dom não está sujo, mas a sensação é que todos estamos contaminados pelo odor dos excrementos do advogado.

Saí do lugar onde morei com Otávio tentando ter a certeza de que ele não iria nos assombrar mais. Se esse advogado tem amor a própria vida ou a da sua família, vai cumprir com o que prometeu. Não tenho dúvidas que se Dom realmente sonhar que o sujeito cogitou dar continuidade com a palhaçada do senador e suas manobras jurídicas, o fim dele é certo, e está na cara que na próxima não vou conseguir interceder.

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Os dias passam mais devagar, apesar de estarem leves e atarefados. Dom e eu estamos ansiosos para iniciar o acompanhamento gestacional, mas ainda não queremos arriscar. Nem mesmo com a equipe médica que ele tem disponível para suas urgências, nos sentimos seguros de fazer um atendimento.

Outra questão, é que venho tendo pesadelos diante do temor irracional de ver algo de Otávio no bebê. O medo de parir uma criança com a cara do senador no corpo de um recém nascido me atormenta. De qualquer forma, não acho que ainda tenho muito para ver, minha barriga não ganhou tanto volume como eu esperava.

A gravidez é o assunto mais recorrente entre Dom e eu, especulamos em tom de humor as coisas mais absurdas de como o bebê estaria se desenvolvendo dentro de mim, além de pensar nos nomes mais vergonhosos que alguém poderia ter. Apesar da minha barriga não estar tão grande, passo horas ao lado dele tentando ver sinais de vida, mas sem nenhum sucesso. Ainda me sinto muito mais inchada, do que propriamente grávida, apesar de estar mais saudável.

Chegou a hora de arrumar a mudança para a chácara. Juntamente com Dom, cheguei a conclusão que não fazia mais sentido disfarçar que estávamos juntos, pois, ao que tudo indica, de alguma forma, a polícia tem conhecimento disso, e não faz mais sentido continuar morando em um lugar tão apertado para três. Certamente, os dias que vivi nessa casa foram decisivos para a minha vida, mas quero seguir sem apegos a coisas materiais.

Dom disse que se o departamento de homicídios só contratasse pessoas que colocassem a lei acima de tudo, as mortes de Pampa e Coalhada já teriam sido solucionadas. Com a pressão que o delegado estava sofrendo, dificilmente arriscaria o cargo para solucionar o que ninguém está interessado, além de um promotor do outro lado do país. Talvez seja essa a razão de tantas mortes sem solução, tudo depende do interesse envolvido.

O trabalho de retirar todas as roupas do armário e colocar em caixas está me deixando bem cansada, com vontade até de desistir da mudança, só para não ter toda essa trabalheira. Dom, ao contrário, leva as minhas tralhas para empilhar na sala todo entusiasmado. Nem posso dizer que imaginei isso, ou ele irá falar que podemos ir embora e depois compraremos tudo novo.

— Donatela? — Dom questiona, avaliando o meu documento falso.

— Achava mesmo que eu iria desperdiçar esse "D" aí?

— E você não parou para pensar que eu sou capaz de tatuar o alfabeto inteiro se for preciso? — pergunta, apertando o meu corpo na parede.

— Não — respondo sorridente, mordiscando a minha boca. — Donatela não é bonitinho?

— Só se estiver se referindo a você, se não é horrível — diz risonho, em tom de brincadeira.

— Boa resposta! Eu amo saber que você é um cara esperto. — Dou um beijo rápido em sua boca. — Tem uma garota na minha faculdade que se chama Aurora, como a princesa, eu acho lindo. O que você acha?

— Horroroso, prefiro Dalena. — Começo a rir desenfreada.

— E Clara? — Ele balança a cabeça. — Nicole, Valentina, Ema? — Ele rejeita todos os nomes. — Você é muito chato, são nomes lindos.

— Dalena é muito mais...

Eu encaro o meu céu particular nos olhos de Dom e sinto meu coração bater mais forte. Ele se aproxima lentamente e coloca suas mãos em meu rosto, segurando-o gentilmente. Nossos lábios se encontram em um beijo cheio de paixão e felicidade. Sua língua brinca com a minha, e nossos corpos se aproximam cada vez mais. Flutuo completamente perdida em seus braços. Somos como um só, e eu sei que essa é a sensação mais incrível do mundo. O momento mais feliz da minha vida é agora, nunca vou esquecê-lo.

— Se por acaso um dia precisar mudar de nome, saiba que você é muito mais que Dalena ou Donatela, é a dona do meu coração, minha mente e minha alma. Esse "D" nunca vai perder o sentido, não importa o seu nome.

Respondo a tudo, somente fechando os olhos e me entregando a um novo beijo. É como se todos os meus sentidos estivessem concentrados somente nesse momento. Sinto a sua força crescente se misturando com a minha, nossos lábios se encaixam parecendo serem feitos um para o outro.

Cada movimento da nossa boca é uma promessa de amor eterno. A sensação de ser completamente amada, pulsa cheia de vida em mim. Dom me envolve com seus braços, me fazendo sentir segura. Aspiro cada gota de paixão que ele me entrega, enquanto esse beijo se prolonga. É um momento intenso, mágico e inesquecível.

— Estamos cheios de poeira, e bem atarefados. Vamos focar no que importa? — alerto Dom, tentando voltar a me concentrar na mudança, ou sei muito bem onde esse beijo vai parar.

— Como assim? Estou focado no que mais importa nesse mundo — argumenta, franzindo o cenho.

— Palhaço! — brinco sem resistir a dar mais um beijo rápido em Dom. — Hora de trabalhar, estou ansiosa para encontrar Branca — lembro, voltando ao trabalho.

— Eu não sei não, acho que essa casa merece uma despedida à altura — diz ao pegar uma pilha de roupas dele em uma gaveta. — Exploramos bem todos os espaços minúsculos dela.

— Dom! — repreendo, sorridente.

— O que foi? Estamos até conhecidos no bairro. — Ele se faz de desentendido. — Acho que poderíamos ficar ricos se rolasse alguns vídeos. O que acha?

— Acho que você não tem o que conversar — respondo, balançando a cabeça. — Até porque, você é bem mais que rico.

— Tudo bem, então. Mas para se despedir dessa lata de sardinha, posso fazer uma serenata para você. Já dou a dica, conheço todas de Caetano Veloso.

— Eita, que ele tá muito bobo e cheio de gás — brinco.

— Sabe que eu estou olhando para esse armário e pensando que se eu sentar aqui, você pode...

— Dom! — Tampo a boca dele entre risos. — Se concentra.

— Vamos tentar... — Ele pede, examinando o armário atrás de mim, quando solto a sua boca.

— Não, seu louco — nego, cansada de tanto sorrir. — Isso vai desabar em cima da gente. Você só pode estar brincando, ?

— Você tem razão, vamos trabalhar. É melhor — diz, se mantendo concentrado.

Dom está muito bobo desde que o resultado do teste deu positivo. Ele está mais brincalhão, mais sorridente, mais solto. Inevitavelmente, fico contagiada com toda essa alegria à minha volta, parece que estamos constantemente festejando o começo da nossa família, encontrando uma linda forma de ser feliz e nos policiando para não medirmos forças um com o outro, como fazíamos antes.

Quando olho em direção ao corredor, vejo que provavelmente sou uma acumuladora de livros, principalmente de direito, já que a maior parte das caixas é com as obras que guardo desde sempre. Dom namora com um livro e outro que vai pegando pelo caminho, percebo que ele gostaria de ter estudado mais, o meu coração se aperta quando penso nisso.

Olho ao redor sentindo a emoção de uma vida nova chegando. Não é só a pequena mudança com que vamos nos ocupar, mas tudo o que envolve a chegada de um bebê. Há tantas coisas a serem feitas. Continuo fechando minhas coisas, separando o que vou levar comigo e que vou deixar para trás.

Encaro o armário praticamente vazio, depois de guardar minhas roupas dobradas cuidadosamente nas caixas, passo a empacotar os meus sapatos. Entre um objeto e outro, encontro fotos da minha época na escola. As medalhas são uma lembrança do quanto eu era uma boa atleta. A escola foi onde eu mais cresci e evoluí.

Com tanto trabalho, me sinto um pouco cansada. Na última mudança, fiz tudo sozinha em várias etapas. Agora, queremos que aconteça num piscar de olhos. Paro um pouco de encaixotar as roupas para ir até a cozinha me refrescar com um copo d' água, deixando Dom trabalhando por mim. Antes de descer as escadas, ouço batidas na porta.

— Pediu a um dos seguranças para trazer a janta?

— Não, eles precisaram resolver algo para eu ter esse tempo livre com você, mas Tiquinho está nos esperando, ele preparou nossa janta.

— Certo. Eu vou atender — aviso a Dom, para que ele não interrompa as suas tarefas e nos atrase. — Deve ser Alessia — cogito. Depois que soube da mudança, a garota vem aqui a todo instante. Ela é uma graça.

Ao abrir a porta, me deparo com a figura de um homem careca, com ombros largos e braços musculosos. Ele não é jovem, deve ter por volta dos cinquenta anos. Antes que eu possa dizer qualquer coisa, o desconhecido coloca uma mão sobre minha boca e aponta uma arma para minha cabeça.

Agora não, por favor, não. Me deixa ser feliz...

Fico completamente paralisada, sem saber o que está acontecendo ou o que esse estranho quer de mim. Seria um assalto ou desafeto de Dom? Sou levada para dentro de casa sem a menor delicadeza. Ele tranca a porta atrás de si, empurrando com o pé.

Agora não, por favor, não. Me deixa ser feliz...

O homem em nenhum momento se apresenta, muito menos esclarece o que pretende. Ele me mantém em silêncio, aparentemente esperando que Dom apareça e seja surpreendido com a sua presença na casa. Permaneço aflita, na mira da sua arma, torcendo para que nada de mal nos aconteça.

— Dalena — Dom chama. Gostaria de avisar que não viesse, que fosse para longe dali, mas sou impedida pela mão do homem, que me mantém entre as caixas de mudança, presa a ele. — Dalena, tudo bem aí? — pergunta, enquanto ouço os seus passos vindo na direção da sala.

Não venha, fuja!

O estranho engatilha a arma, mostrando que não está para brincadeira. Dom surge no alto da escada, e assim que me vê sobre a mira do revolver, toda a autoridade que sempre carregou some por completo.

Eu sou o seu ponto fraco.

As lágrimas rolam pelo meu rosto. Ele ergue as mãos para cima e desce devagar degrau por degrau, até o último. Parecendo saber de quem se trata o homem, me lança um olhar triste e preocupado, ao mesmo tempo em que mil teorias se passam pela minha cabeça.

— Boa noite, oficial! O senhor está colocando em sua mira uma mulher grávida e inocente — Dom fala com pesar, tentando ser pacifico, mantendo as mãos à vista. — Porque não deixa ela ir, e resolvemos isso só nós dois? — sugere como se pedisse o maior favor da sua vida.

— O meu filho também era inocente e eu enterrei o corpo dele todo desmontado em um caixão. Pensou que eu esqueceria? Pensou que a conta não iria chegar? — Dom respira fundo, sua expressão é de dor, ele sabe do que o homem está falando, mas a minha mente continua muito confusa. — O meu filho era um jovem cheio de energia... — diz entre lágrimas tomado pelo mais puro ódio. — E você acabou com a vida dele! — o homem grita descontrolado.

— O que o senhor quer? — Dom pergunta, buscando manter a calma. — Quer me levar para um lugar onde a gente possa conversar? Eu vou numa boa, você faz o que quiser comigo.

— Acha que eu sou idiota, seu filho da puta? Eu esperei todos esses anos para te fazer sentir exatamente o que me fez sentir. entendendo, moleque de merda? Ele não fez aquele roubo. Você armou para o meu filho e tirou de mim o meu bem mais precioso. Agora, eu vou fazer o mesmo com você — o homem fala alterado, salivando e apertando a arma na minha cabeça.

— Senhor... — chamo a atenção do homem sem saber muito bem como me colocar na situação. — Eu não sou uma pessoa inocente, como nenhum de nós nesta sala e como imagino que o seu filho não era, mas o meu que ainda não nasceu é... Por favor, tente resolver isso de outra forma.

— O filho de um marginal nunca será um inocente, ainda mais com uma mulher que era da vida e desde moça faz programa. Conheço bem a sua história — retruca, tomado pela raiva.

O meu pescoço queima pela rigidez que precisa manter, qualquer movimento pode desencadear uma reação imediata, e o dedo do homem apertar o gatilho. Dom se ajoelha, abrindo os braços o máximo que pode, oferecendo a própria vida em troca da minha e do bebê.

Passo a chorar mais, num misto de desespero e agonia. Não posso aceitar que esses sejam os últimos minutos da minha família, o destino não pode ser tão cruel. Sem aceitar que esse seja o nosso fim, minha mente tenta encontrar uma saída diante das suposições que consigo fazer.

Ainda sem ter certeza de absolutamente nada, eu me preparo para a única jogada que tenho, determinada a nos manter vivos e confiando que Dom tenha pego a sua arma antes de descer. Enquanto me pergunto o que estou fazendo, também deixo lentamente o meu joelho encontrar o chão de madeira.

A voz do homem berra em meu ouvido ordenando que eu me mantenha em pé, mas eu já não ligo. Meus olhos estão fixos em Dom, abrindo os meus braços, sussurro em sua direção "somos três...". O rosto dele se contorce em desespero, ao mesmo tempo que o meu se mantém em paz, mesmo tendo os meus cabelos puxados para cima, na tentativa desesperada do oficial em me levantar.

— Não, Dalenaaaaa... — A voz de Dom se debate em câmera lenta, enquanto o homem repete: "levante, levante!"

Tudo está tão devagar...

Eu me mantenho ajoelhada no chão, forçando a minha cabeça para baixo com toda força que tenho contra a mão impiedosa do homem insistindo em me puxar para cima. A arma apontada contra a minha cabeça faz uma pressão maior com o cano de metal frio em minha pele, machucando a minha têmpora. Ele continua me ameaçando, eu sei que vai nos matar, mas eu já passei por isso e entendo o que ele tem no coração, entendo a necessidade de dizer os motivos até a hora chegar.

Talvez, esse seja mesmo o nosso fim.

— Acho que a vida no morro também termina cedo, Dom — reflito com serenidade, e o policial sacode a minha cabeça mais uma vez, me puxando pelos cabelos. Eu me mantenho firme, sem ceder.

— Não, Dalena, não, não, não, não... — Dom implora. Ele sente o que estou prestes a fazer.

— Levanta, sua puta! — O homem berra com toda a sua força. Viro o meu rosto em sua direção para encarar os seus olhos com toda a coragem que me resta.

— Seu filho se chama Pampa, não é? — O homem me olha com o sangue sumindo. Eu sei que só pode ser o pai daquele verme. — Ele era um estuprador, e tenho certeza que você sabe muito bem tudo o que seu garotinho fazia pelo morro. estampado na sua cara a merda de pai que você era — digo calmamente.

— Você não sabe o que está falando, vadia de bandido — cospe as palavras com nojo.

— Ah, sei sim e tomei as providências para ele pagar pelo que fez. — O policial franze o cenho.

— O que você tá dizendo, sua puta?

— Para, Dalena, para. Para.

Não agora, meu amor. Eu preciso tentar.

— Cala boca! — grita o homem na direção de Dom, forçando a arma contra a minha cabeça.

— Sei bem que vive em negação, sem aceitar o monstro que criou. Passou a mão na cabeça daquele pedaço de merda, sem se importar com todo mal que ele causou. Não é? — questiono tomada de ódio, tanto quanto ele.

— Dalena... — Dom implora.

— Fui eu quem mandou matar ele, seu imbecil filho da puta! Eeeeeeu! — grito.

— Dalena! — Dom berra com raiva.

— Eu! Eu! Eu! Eu! — grito repetidas vezes como se estivesse possuída.

O homem berra mandando eu me calar, ele quer saborear o momento, mas não permito e mal consigo ouvir suas palavras, meu coração está batendo forte demais. Paro de provocar o homem subitamente. Enquanto meu dentes cravam em sua perna, eu me agarro nelas rapidamente, tentando desequilibra-lo. A minha cabeça se enfia entre as suas coxas na hora que o primeiro tiro é disparado e logo sinto um comichão sobre a pele.

Tudo acontece rápido

Ainda agarrada nas pernas do homem, noto que tenta se apoia em mim, quando começa a ir ao chão. Apesar de tonta, consigo ver a mão de Dom voar veloz até as suas costas sacando uma arma, mas o segundo tiro o atinge, embora ele tenha tempo de disparar o terceiro. Com o resto de força que tenho, eu empurro o sujeito para longe como um peso morto.

Tudo volta a ficar lento.

Assistindo Dom tombar, um zunido se apossa dos meus ouvidos, uma forte dor se espelha em meu corpo. Tento me levantar, mas caio devagar sobre as pernas do homem. Minha mente luta para processar o que aconteceu. Sinto o calor do sangue escorrendo pela minha pele. Minha visão fica turva. A dor é intensa.

Preciso me levantar.

Preciso lutar.

Tento me apoiar em meus braços e não consigo, eles estão moles, não se mexem, não respondem a mim, eles parecem mortos, apenas as pontas dos meus dedos reagem. Minha respiração está muito fraca. Ouço a porta se abrir bem devagar num rangido lento. Alessia surge cautelosa, como se pisasse em ovos.

— No celular de Dom, ligue para Tiquinho e mais ninguém — balbucio e, como um computador sendo desligado, apago totalmente. 


|NOTA DA AUTORA|

Respira... e por  favor, não queira matar a autora.

Eu não sei se alguém aí vai querer dizer alguma coisa, mas fique à vontade para externar suas opiniões e considerações.

Lembrando que ainda teremos um último encontro nesta obra no domingo. Será um Epílogo de esperança, mas aconselho a se prepararem, porque terá reviravoltas.

Confesso que escrevo essa nota com receio do que possam estar sentindo no momento. De qualquer maneira, lembrem-se do enorme carinho que tenho por todos e até breve. ✿◕‿◕✿


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