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▓ CAPÍTULO DOZE ▓




Os dias se arrastavam enquanto Otávio não voltava da fazenda e eu me encontrava cada vez mais imersa em uma rotina vazia de energia. Eu me alimento sem prazer, durmo sem descanso, assisto séries sem atenção e a única emoção que me resta é uma aflição sem fim quando olho para a aliança de noivado em meu dedo. Decido então largar a joia no fundo da gaveta da mesinha de cabeceira como um sinal de que preciso respirar.

Durante os últimos dias, ninguém, além do senador, procurou por mim. Não recebi ligações ou mensagens de colegas de trabalho ou faculdade, e sinto a solidão me envolver. Até que, de repente, a campainha toca. Eu ainda não fiz amizades no prédio, o que me causa estranheza. Embora seja comum interfonar antes de aparecer para uma visita surpresa, acabo imaginando que pode ser alguém da administração do condomínio.

Ao levantar da cama, me assusto com a minha imagem refletida no vidro da janela do quarto. Olheiras fundas, cabelo oleoso e um pijama pavoroso de algodão são refletidos em primeiro plano, mas por trás do meu reflexo assombrado, vejo que lá fora tem mais um dia se despedindo. A luz do sol está desaparecendo no horizonte e dando lugar às sombras da noite.

Grito para quem espera na porta que já vou, enquanto caminho até o closet para me trocar. Rapidamente, escolho um básico vestido longo, de um azul suave, que envolve meu corpo como um abraço macio. Prendo meus cabelos num coque no alto da cabeça e jogo água no rosto, tentando amenizar o semblante abatido.

Já na sala, ao olhar pelo olho mágico, me deparo com a imagem distorcida de Dom do outro lado da porta. Instantaneamente, meu corpo retesa e sinto um misto de emoções confusas com a sua presença, além da tensão com o provável motivo que o trouxe até aqui. É como se o melhor do meu passado tocasse a campainha, trazendo à tona lembranças que eu não sei lidar.

Posso estar errada, mas não tenho dúvidas de que Dom veio por causa da construção do centro. Na nossa última conversa, ele foi enfático sobre não querer o projeto no seu território. Com seus contatos na prefeitura, deve saber que as coisas estão avançando rapidamente agora. Confesso que estou tão distante das minhas responsabilidades que esqueci completamente essa questão.

Giro a chave, seguro o longo puxador dourado e trago a porta de madeira nobre em minha direção. Ela se abre com leveza, revelando a presença de Dom parado no hall de entrada do meu andar. Seus olhos azuis se fixam nos meus com uma expressão indecifrável, enquanto seu cheiro selvagem, com um aroma potente de couro e madeira, invade minhas narinas, me abraçando por dentro. O perfume que usa agora é bem diferente do refrescante que ele usava na adolescência; é mais profundo.

— Oi... — cumprimento com a minha voz quase falhando. A visita surpresa dele me deixou completamente perdida.

— Oi — responde sem dar sinais se está aqui para me impedir de construir o centro ou me fazer uma cortesia.

Dom parece estar esperando algo de mim, mas não faço ideia do que pode ser. Viro o rosto para o lado para quebrar o contato visual, pois seu olhar enfraquece minhas pernas. Quando sinto que tenho alguma força dentro de mim, encaro-o novamente, determinada a descobrir o motivo de sua visita.

— Está passeando por aqui? — brinco tentando manter a minha voz firme, enquanto me questiono de onde veio essa merda de pergunta. Ele não responde de imediato, apenas mantém seu olhar fixo em mim, como se avaliasse cada palavra que saiu da minha boca.

— Não — responde sem elaborar melhor, quando finalmente quebra o silêncio.

— Veio parar aqui por um acaso? — Me envergonho mais ainda de fazer outra pergunta ridícula em um tom tão atrevido e meu estômago se revira em antecipação ao que ele dirá em seguida.

— Tenho uma conhecida aqui — esclarece, e minha cabeça recua instantaneamente.

— Conhecida? — pergunto num tom de curiosidade e meus olhos se estreitam para ele.

— Exatamente isso que você ouviu — responde com um risinho convencido, e vejo que notou a pontada de ciúme que senti.

— Hum — vocalizo, tentando fazer pouco-caso. É claro que ele tem uma conhecida.

Duvido muito que seja somente uma amiga. Quem seria só amiga desse homem, ele acha mesmo que eu caio nessa? Dom exala puro magnetismo, tem uma aura sedutora e uma presença dominante repleta de um charme irresistível. Com tanta intensidade, que mulher olharia para ele e pensaria: "esse é o amigo que eu sempre quis ter."

— Não vai me convidar para entrar? — perguntou me tirando dos meus pensamentos. Ele coloca as mãos no bolso como se fosse um modelo em um comercial de jeans da Calvin Klein posando para uma foto.

— Entrar?! — repito, surpresa. Fecho o punho sobre a boca e limpo a garganta.

— Eu vi que o senador não está no prédio, tomei o cuidado de conferir o estacionamento — avisa, como se isso fosse o suficiente.

— Mas ele pode chegar de surpresa, sabia? — digo um pouco desconcertada. — Otávio não tem horário certo.

— Não recebe visita de outras pessoas?

— Não é isso...

— Por que tanto medo dele, então? — Inclina a cabeça para o lado me dando toda a sua atenção.

— Não é medo! — Eu constesto rapidamente, tentando explicar minha preocupação. — Só acho que não vai ser um encontro agradável para você, tanto quanto não será para ele ou para mim — justifico, pois não quero me envolver em uma confusão desnecessária.

— Eu me escondo se ele chegar, estou acostumado a ocultar a minha presença quando necessário — diz com tranquilidade, como se não fosse um problema para ele.

Cruzo os meus braços, desconfiada, ao que Dom tira as mãos dos bolsos e enfia os polegares nos passantes da calça. Lembro a mim mesma que ele é um homem perigoso, mas que tem bom senso, não me comprometeria com Otávio. Mesmo assim, sinto um frio na barriga.

— Por que está aqui, afinal? — questiono, indo direto ao ponto.

— Muitos motivos... — Ele fala como se fosse algo banal, enruga o queixo e comprime a boca, balançando a cabeça em negativa.

— Então me dá um. — Suspiro sacudindo a cabeça com um meio sorriso.

Com suas mãos soltas ao lado corpo, Dom se aproxima de mim, seus movimentos são precisos e confiantes enquanto ele toma conta de todo o meu campo de visão. Seu rosto é pontilhado por sardas alvinhas, como constelações em uma noite estrelada. O meu ouvido parece estar conectado ao meu coração pois consigo ouvir perfeitamente as batidas fortes, acelerando cada vez mais como se fosse um carro de corrida querendo atingir a velocidade de mil por hora.

— Você — diz por fim, depois de me deixar em transe.

A voz dele se espalha por toda a minha estrutura e minhas pernas fraquejam por completo, a ponto de eu não conseguir senti-las, deixando a sensação de que meu corpo é apenas um holograma, tão maneiro quanto uma brisa. Só volto a ter percepção de mim quando seus dedos tocam as pontas dos meus e sobem pela minha mão até segurá-la por completo.

— Entra — sussurro hipnotizada, como se autorizasse a entrada de um vampiro. Dom avança mais em minha direção enquanto eu ando para trás. Quando vejo que ele pretende me encurralar em algum espaço atrás de mim, dou um passo para o lado, e ele segue em frente.

Ainda um pouco zonza, volto a olhar em sua direção e noto que ele parece se divertir com minha reação. A sala está numa penumbra silenciosa, há somente uma claridade ao fundo, vindo das arandelas de cristal, iluminando seu rosto. A luz suave parece ressaltar ainda mais os traços marcantes do rosto de Dom, destacando suas sobrancelhas espessas, bem definidas, seus lábios firmes, simétricos, dando uma aparência tentadora ao seu sorriso. Seus olhos azuis brilham intensamente, seu maxilar é inclinado um pouco para o lado, como se estivesse se contendo para não rir.

Tranco a porta e me encosto sobre ela, buscando algum tipo de sustentação física para me ancorar na realidade, que é exatamente o que preciso agora. Ao encontrar Dom alguns dias atrás, pude me preparar psicologicamente, mas ainda assim foi como viver um sonho. Agora, embora meu coração festeje sua presença, a visita surpresa dele na minha vida real me tira do eixo.

— Vai ficar aí como se estivesse em um barco rodeado por jacarés? — pergunta, me avaliando.

— Só estou surpresa — digo, percebendo o quanto devo estar ridícula. — Senta — convido.

Dom se acomoda no sofá, como se não tivesse a menor preocupação com a possibilidade de Otávio aparecer. Eu me sento ao seu lado, tentando fingir a mesma confiança que ele parece ter, mas meus ouvidos ficaram atentos, prevendo que a qualquer momento eu pudesse ouvir o som do elevador da sala se abrindo.

O tempo parece parado ao mesmo tempo que sinto ele voar. Estamos frente a frente, com nossos braços apoiados no encosto do sofá. Começo a relaxar, um sorriso bobo escapa dos meus lábios quando meus olhos se desviam dos dele, fugindo para as cortinas da varanda que dançam embaladas pelo vento. Dom, por outro lado, permanece sério, como se contemplasse em mim a beleza de um quadro pintado por Van Gogh.

— Que foi?... — Minha voz sai fina e envergonhada ao me voltar para ele.

— Estou admirando como é te ver na sua casa. — As palavras dele roubam o meu fôlego. — Eu sempre tentei imaginar o lugar onde estava, quem te visitava, se nos seus lábios tinha um sorriso ou se sua testa tinha rugas de preocupação. É como na música do Caetano Veloso que pergunta "Onde está você agora?"

— Eu também já me peguei muitas vezes imaginando onde você estaria — confesso, um pouco sem jeito.

— E o que você imaginava? — Dom ajeita o braço no sofá e se apruma. Meus olhos se perdem em seu rosto, admirando o conjunto de cores que o envolvem, desde a barba e os cabelos, ambos ruivos e aparados, até em suas profundas íris azuis.

Solto uma lufada de ar pelas narinas, passando a me concentrar na pergunta.

— Se a polícia está prestes a te pegar, se você está conseguindo se proteger. Também penso se está dirigindo algum dos seus carros possantes, que música ouve neles e se sua mão acaricia a coxa de quem está no banco do passageiro. — Dom solta uma breve risada e me olha interessado, com os olhos brilhando depois de ouvir sobre a coxa, substituindo a expressão de culpa que tinha quando comecei a falar.

— Por favor, não pare — pede, voltando a ficar sério e eu continuo.

— Às vezes, me pego pensando se você prefere as loiras, negras como eu, jovens tolas ou as com mais experiência como Coalhada disse antes de morrer — confesso com insegurança. — Me preocupo se está com uma arma na mão, se tem uma bala na sua direção, se sua camisa está suja de sangue... — Meus olhos começam a ficar úmidos. — São muitos anos, então, tive muito tempo para pensar.

Com o olhar perdido, Dom parece imerso em seus próprios pensamentos. Sua cabeça faz movimentos mínimos para frente e para trás, como se estivesse tentando processar as minhas palavras.

— Aconteceram algumas dessas coisas — fala encarando o chão —, mas em todas eu estava pensando em você ou tentando esquecer os seus olhos cinzas, a sua boca doce, a sua presença gentil e a sua graciosa forma de me receber sempre que eu chegava. Acho que nunca vi ninguém tão feliz só por me ver — confessa ao me olhar apreensivo. — Eu nunca quis que aqueles dias acabassem, só sabia que não seria para sempre e precisava evitar o pior, apesar de saborear cada mísero segundo.

— Aqueles dias foram tão felizes, que se não me mandasse mensagens pela revista, eu não teria provas de que realmente existiram. Acharia que foi tudo fruto da minha imaginação. Uma fuga do terror que vivi na minha casa e do horror que me tirou do almoxarifado — relembro com carinho e dor.

— Sei que eu não demonstrava, mas não saberia te dizer qual de nós dois foi mais feliz ali — revela, fazendo o meu queixo cair.

— Não demonstrava mesmo — brinco, mas eu conseguia sentir que ele estava na mesma sintonia que eu naquele almoxarifado.

— Sempre me culpo por ter sido tão burro. Eu não devia ter te deixado ficar em Lourdes. Infelizmente, tive medo de te colocar no meio das pessoas com quem ando, sem contar que foram anos atribulados. Ainda te chamei para vir comigo, e entendo que você não quis. Mesmo assim, não me perdoo por não ter insistido, aceitei muito fácil. Isso consome a minha paz...

— Não sou responsabilidade sua, Dom. Não se culpe. Ainda foi o único que me estendeu a mão sem querer nada de mim, e se colocou em risco por isso. — Respiro fundo e lanço um sorriso triste. — Às vezes as coisas acontecem como tem que acontecer.

— Só não acontece se deixar de lado, se aceitar sem resistir. Agora, nada vai ficar para trás na minha vida, principalmente o que é importante para mim. — Dom continua se mantendo calmo, apesar da força que sai das suas palavras.

— E o que é tão importante para você?

— A nossa história. — Sou pega de surpresa com a sua fala e fico um pouco emocionada. — Vou tentar fazer ela acontecer até se esgotarem todas as minhas chances. — O seu pomo de Adão desce e sobe pelo longo pescoço forte, que parece esculpido como um altar para o seu rosto, rodeado por um trapézio bem definido saltando dos ombros.

— Quer dizer que vamos nos ver com mais frequência? — brinco sem saber o que dizer.

Dom me lança um sorriso refreado e morde o lábio inferior, parecendo animado com a ideia de me encontrar mais vezes. Depois, pigarreia com o olhar perdido, lembrando de algo, até que me fita semicerrando os olhos, como se estivesse diante de um grande mistério.

— Por que desligou o telefone que eu te dei, por que está sumida? — questiona, com um tom mais sério.

Eu hesito por um instante antes de responder, não me sinto confortável em dizer o que nem eu quero aceitar.

— Eu vou me casar com Otávio, estou noiva — falo com o olhar pesado, mas imaginando que isso responda às suas perguntas. Ele vai saber uma hora ou outra.

Dom fica em silêncio por um tempo, parecendo derrotado com a informação. Quando finalmente fala, se mostra controlado, sem deixar seus sentimentos abalarem a sua voz, mas há uma tensão evidente em seus olhos.

— Por que quer casar com ele? — pergunta, visivelmente incomodado.

Faço um dar de ombros e suspiro com pesar. São tantos motivos rondando a minha estupidez, que eu não saberia pontuar um para dar uma resposta satisfatória. Dom leva as mãos na lateral do seu rosto e desliza as palmas até os dedos se entrelaçam em frente ao nariz com os indicadores para cima. Belisco o tecido do sofá, fazendo ele reclamar com alguns curtos estalos.

— Eu entendo... — diz por fim ao tirar a mão do rosto. — Ele está ao seu lado há muito tempo, enquanto eu sou uma lembrança e uma nota de revista. Tanta coisa mudou para nós, imagino que devo ter sumido do seu coração durante esses anos.

— Não é isso... — Tento reconfortá-lo, entretanto, não me sinto à vontade de falar sobre o maior motivo desse noivado. O centro é muito mais que um projeto para mim, mas eu sei que ninguém entende e nem poderia, porque ele é a cura de uma ferida só minha.

— Não precisa se justificar, Dalena — avisa compreensivo, e não me esforço em dizer mais nada. — Quando é o casamento?

— Ele tem pressa — disfarço a minha insatisfação, enquanto uma angústia crescente toma conta de mim.

— Eu não estou pronto para te deixar ir outra vez — a sua voz irrompe o ar, como se apelasse para que algo dentro de mim despertasse.

— Dom... — arfo um pouco aflita, me sentindo em um beco sem saída.

— Só deixa o celular ligado para conversar melhor comigo, enquanto pensa um pouco sobre nós dois — pede juntando sua mão na minha sobre o encosto do sofá.

— O que está me pedindo... — começo e sou interrompida por ele.

— É uma chance de sermos felizes. — Complementa a minha fala.

Há coisas tão fáceis de se falar, mas entre palavras e fatos existe um universo de possibilidades. Eu poderia me debruçar sobre Dom e dizer que uma chance de sermos felizes é o que mais desejo. Embora o meu coração diga mil vezes sim para nós dois, arrastamos bagagens pesadas que não podem ser deixadas de lado.

Eu inspiro profundamente pelo nariz, sentindo o ar fresco encher meus pulmões antes de soltá-lo lentamente pelas narinas, como se estivesse liberando toda a apreensão que a presença de Dom trouxe. Mais relaxada, tomo outro fôlego, dessa vez pela boca, preparando-me para falar.

— Certo — enuncio a sugestão que vou fazer enquanto me acomodo um pouco mais sobre o sofá. Dobro minhas pernas sob mim, sentindo meus músculos se adequarem conforme eu fico ainda mais à vontade no assento. Dom se anima um pouco com a minha provável abertura. — Que tal a gente se conhecer primeiro? Afinal, não somos os mesmos de nove anos atrás — proponho, e o seu olhar se ilumina com a ideia.

— Ai é que se engana. Eu posso ter alguns anos a mais, mas ainda sou o mesmo cara disposto a correr riscos por você — diz com uma voz mansa. Um sorriso expansivo toma conta dos meus lábios.

Dom acompanha a minha súbita felicidade de um jeito modesto, talvez pensando que aquilo faz parte de quem sou e não que me resgatou da fossa com a sua presença. Aliás, vejo que não imagina o quanto faz parte de mim, tampouco que me faltam forças para negar qualquer coisa a ele, mesmo que não seja a minha prioridade.

Prioridade...

O centro de acolhimento à mulher retoma os meus pensamentos, na verdade, desde que Otávio deu a notícia não tenho pensado em outra coisa. Talvez, estar com Dom também faça o centro latejar na minha mente por me trazer a lembrança amarga do que é não ter para onde ir. Nossa história está tão entranhada nos traumas que carrego, que acabo por ficar com o fantasma do abandono pairando sobre mim quando estamos juntos.

O olhar de Dom percorreu a sala antes de se fixar no meu.

— O que estava fazendo antes da minha visita? — A pergunta pinta a imagem da minha autopiedade que infernizava o meu juízo a pouco.

— Vendo séries — resumo o meu mal-estar ao que foi a boia de salvação dos últimos dias.

— Não sou muito de séries, estou sempre envolvido em alguma coisa — diz, e imagino o quanto o seu tempo não deve ser conturbado.

— Sempre pensei que a sua vida é uma grande festa. — Ajeito o corpo no sofá.

— Sim, sempre estou metido em uma festa, com um tumulto de pessoas à minha volta, e mesmo assim me sinto sozinho. — Consigo entender o que Dom está dizendo, é como me sinto entre a vida social de Otávio e a minha vida política. Acho que nós dois vivemos entre solidão e escolhas difíceis desde muito cedo. — Entrei no tráfico pelo dinheiro, o resto veio no pacote.

— Se a sua vida não fosse no crime, o que gostaria de ter sido? — Me surge a curiosidade.

— Marinheiro.

— Eu consigo te imaginar na marinha, Dom — digo com um sorriso no rosto. — Por isso o farol? — Ele confirma num aceno de cabeça.

— E você, onde estaria? — pergunta, interessado na minha resposta.

— Continuaria no atletismo até chegar nas olimpíadas, mas isso foi ficando pelo caminho — respondo um pouco triste. — Além de tudo, alguém viu nascer uma advogada em mim — brinco, sabendo que ele teve total influência.

— Não?... Sério? Escolheu advocacia por causa daquilo que eu te falei? — impressiona-se, e eu confirmo.— Mas por que desistiu do atletismo? — a sua pergunta deixa os meus olhos pensativos. Revivo as competições que participei, lembrando como se tornava mais difícil ser alguém só no mundo.

Nunca havia olhos pousando sobre mim nas competições, e nenhuma voz ecoava da arquibancada, me encorajando a ir mais longe. A cada corrida, a solidão me acompanhava como uma sombra, se tornando mais escura e mais pesada conforme eu me esforçava para melhorar.

As pessoas que se aproximavam de mim na época, sempre estavam interessadas no senador e em se beneficiar de alguma forma. Eu parecia um alvo fácil para quem queria as vantagens de conhecer um político. Conforme descobriam que eu não tinha poder para atender às suas expectativas, a amizade era desfeita enquanto me chamavam de egoísta pelas costas, mesmo que não dependesse de mim.

— O pódio é um lugar muito solitário para quem não tem o apoio da família. Minha mãe ficou no esquecimento, mas ver os outros competidores recebendo a torcida dos pais, me deixava com um gosto amargo de derrota, esse era o momento que eu lamentava por ter nascido filha dela. Eu desejava que qualquer uma daquelas mães tivesse sido a minha, e isso era demais para mim — relembro tentando não me emocionar.

— Se eu te falar uma coisa, promete que não me acha um esquisitão. — Apoia a mão no queixo e avalia se serei sincera.

— Prometo — garanto, esperando ansiosa o que ele vai me contar.

— Eu estava lá sempre que podia, escondido por trás das arquibancadas — revela, mostrando uma pequena fração de vulnerabilidade que quase nunca eu vejo nele.

— Você não precisa apelar tanto para tentar me conquistar — digo desconfiada.

— Não acredite se não quiser... — assegura. — Quando Comecei a ter condições melhores, eu fui conversar com Lourdes sobre você, saber o seu preço. Nos dois conversamos muito e ela me convenceu a te deixar vivendo a sua vida, me disse que meu dinheiro só ia te trazer desgraça, como um dia iria acontecer comigo.

— Dom... — emito o seu nome com um leve choque.

— Ela não disse para me ofender. Parecia até que tinha medo de que eu me aborrecesse e a machucasse por me dizer, em outras palavras: "cai fora e se coloca no teu lugar". Dava para ver que Lourdes fez um grande esforço para me manter afastado de você, como se estivesse protegendo uma filha, apelando para a minha consciência — contou.

— Ela nunca me contou. Eu não imaginava que você..., não sei como dizer — admito, pois realmente me sinto perdida nas palavras.

— Sei que nunca deixei muito claro, porque eu sabia que não tinha o que te dar. Lourdes tinha razão, sabe. Mas eu te falei no nosso encontro... — Respira fundo. — Você é o meu ponto fraco. — Leva os seus dedos até a tatuagem.

Surpresa com a confirmação, coloco as duas mãos, uma sobre a outra, em cima da minha boca e fico muda. Meus olhos ardem, enquanto tento segurar a emoção de saber que tinha alguém entre os que assistiam às competições torcendo por mim, ao contrário das falsas amizades da escola, que nem se davam o trabalho de fingir. Como eu queria saber disso na época.

— Se eu soubesse que era tão importante para você, teria conseguido um jeito de te falar. É que eu não podia deixar que te vissem comigo, depois do Pampa fiz muitos inimigos. — Dom se justifica.

— Desculpa, matar Pampa foi uma péssima ideia — lamento.

— Pampa é o único motivo de estarmos vivos. Lembra que o Caldeira era o dono do morro na época?

— Lembro.

— Então, para o Caldeira não iria importar se o teu padrasto queria te fazer mal ou se eu estava apenas te ajudando e nada havia sumido. Quando fôssemos descobertos, ele com certeza jogaria bola com as nossas cabeças. — Um calafrio percorre o meu corpo quando escuto qual seria o meu destino.

— Eu lembro que ele era bem violento.

— Era sim, mas aconteceu tudo exatamente como falou. Caldeira achou o motivo que queria para eliminar um problema sem se dar ao trabalho de investigar, ficou feliz quando eu confirmei quem tinha sido. Também não lamentou nem um pouco a morte de Coalhada. Para ele, era só mais um soldado morto. Desapareceu com o corpo encerrando o assunto. Sem corpo, sem crime. Nenhum familiar veio atrás dele ou coisa do tipo, com certeza por medo de represália.

— Mas com a morte de Pampa não aconteceu o mesmo. Eu sempre soube tudo por alto, a retaliação da polícia foi forte.

— Sim, depois disso, o Caldeira não teve um minuto de sossego até ser morto e eu carrego essa mesma herança — relata de um jeito banal.

— Não se arrepende de ter me deixado ficar? — pergunto preocupada.

— Em nenhum momento. Você é a única coisa boa na minha história, tem como eu me arrepender disso? — questiona com um olhar afetuoso.

— E você, se arrepende de ter fugido de casa? — Eu nego com a cabeça a pergunta de Dom.

— Nem um pouco... — admito sem dificuldades.

— Acho que somos dois lados da mesma moeda — reflete Dom. — Eu vivo um personagem como um ator muito foda. Poucas pessoas me conhecem realmente. Venho conseguindo me manter no meio dessa loucura e não penso muito sobre minhas escolhas ou arrependimentos.

— Às vezes, as opções são o pior e o menos pior, mas as escolhas que fazemos na necessidade, não moldam quem nos tornamos — reflito. — Só sei que o morro é mais seguro com você, todo mundo fala que sua lei funciona, então não diz que sou a única coisa boa na sua história — afirmo. — De um jeito muito torto e bem questionável, é certo que aquelas pessoas podem contar com você, como há muito tempo não podiam. Hoje o tráfico de modo geral, só destrói as comunidades, embora no início tivesse ideais — aponto. Dom é muito querido pela comunidade de Tia Ondina em relação ao anterior dono.

— Essa é só a única coisa que me mantém vivo, não tenho mérito nenhum. Os oficiais do alto comando da polícia seguram os seus homens, porque sabem que pode vir um pior depois de mim. Isso não é vantajoso para eles, então vamos unindo o útil ao agradável — rejeita a ideia de receber os créditos sem falsa modéstia.

— Não acha que já esqueceram essa história do Pampa? — cogito.

— O jeito que ele foi morto é inesquecível. O crime de roubar do tráfico tem uma forma específica de execução que faz de Jogos Mortais brincadeira de criança. Com certeza o pai dele não sorri como antes e isso desperta o desejo de vingança na corporação inteira. Praticamente todos são pais, sem contar que já nos odeiam por natureza — aponta, sabendo que eles só esperam uma oportunidade.

— Por que tanto sadismo? — Faço a reflexão ao pensar alto.

— Ninguém que tá nesse meio, em nenhum dos lados, tem medo de morrer, mas a forma com que se é morto pode não só mandar uma mensagem clara, como é algo que causa dor só de imaginar. O método é para fazer qualquer um pensar melhor antes de desejar repetir o mesmo erro — explica.

— Matar se tornou algo trivial para você? — A dúvida me surge.

Dom não parece ter dificuldade em responder, mas parece buscar palavras com o cuidado para não soar brutal aos meus ouvidos.

— O morro é uma selva, quem mata fica vivo, apesar de ninguém ter medo da morte. Como eu disse antes, todos dificultam ou não valeria a pena entrar no mundo do crime se não houvesse tempo para aproveitar suas conquistas — diz de forma tão didática, que me espanta o seu pragmatismo.

— Você fala de um jeito tão prático que me deixa assustada. — Faço uma breve careta.

— Não vou romantizar o crime, não sou um personagem de HQ que vive em uma luta do bem contra o mal. Eu entrei no lado reverso do sistema, onde essa é a lei, a minha lei — esclarece sem meias palavras numa expressão limpa e calculista. Por um breve momento, vejo o personagem que falou surgir, o dono do morro.

— Você já me falou isso de dar trabalho para morrer, lembra? — recordo das nossas conversas no ginásio.

— Não muito... — admite com um pequeno sorriso.

— Do que lembra? — Fico curiosa.

— De te encontrar nua e você ficar desesperada por estar sem roupas. — Ele sorri de um jeito travesso.

— Não, não... não lembra disso, por favor — imploro envergonhada.

— Você quem perguntou — Dom se defende.

— Nem parece ter dado muita importância na época — avalio sem jeito, me abraçando.

— Você estava super assustada, até desmaiou, sem contar que provavelmente nunca tinha se envolvido com ninguém. Eu não ia pagar de tarado, mas era inegável que mesmo para uma garota acanhada e mal-criada, te achei muito linda — diz, me deixando completamente abobalhada.

— Só de lembrar, fico super envergonhada. Deve ter sido o maior mico da minha vida. — Sorrimos com a lembrança. — Vamos mudar de assunto que é melhor. Como ficou a investigação da morte do Pampa? — Quebrando a alegria que nos contagiava, volto ao assassinato do qual fui mentora. Na época as pessoas evitavam falar das circunstâncias da sua morte, era um assunto proibido, apesar das notícias sobre o conflito.

— Silenciosamente, a comunidade festejou a morte dele. Muitas pessoas sofreram na mão do cara, então ninguém queria falar nada à polícia. Tenho muitos créditos no morro por ter matado ele. Você me ensinou que não é sobre matar, é sobre matar a pessoa certa. — Observo que Dom não tem medo dos seus inimigos ou sobre a conta um dia chegar, mas como disse, vai dar trabalho para morrer. — A investigação atribuiu tudo ao Caldeira, a polícia não conseguiu me ligar a morte de Pampa, mas estou ligado a dos policiais do grupo de extermínio nos confrontos que participei. Eles só não conseguem me prender, porque os que foram presos antes de mim, assumiram a autoria para me proteger.

O dono do morro ainda é alguém desconhecido para mim. Apesar da disposição que demonstrava ter diante do perigo ainda garoto, parece bem diferente daquele que conheci há nove anos pelas coisas que vem vivendo, mesmo que o meu coração salte quando me perco no colorido dos seus olhos. Antes ele falava em possibilidades, agora é puro conhecimento de causa.

— Você tem a consciência pesada sobre Coalhada e Pampa? — pergunta, talvez tentando entender porque estamos falando tanto sobre isso, mas a verdade é que essa conversa me ajuda a entender melhor o próprio Dom.

— É algo que tem sim um peso muito grande, só que eu não hesitaria em fazer novamente — confesso. — Coalhada disse que já me seguia há um tempo, eu só pensei que tinha me livrado de Sandoval, mas que não ia me livrar tão fácil dele nas ruas do morro. Tudo se somou com o pavor que eu estava sentindo, a fúria que ele tinha me provocado, e a sua voz me dizendo que eu não podia facilitar. Eu me transformei em um animal, pulei em cima dele pensando "Morra! Morra! Morra!". Com Pampa se tratava de nós dois, ele era a distração perfeita, eu precisava garantir a nossa sobrevivência. Você definiu bem, é uma selva. Não me perdoaria se algo te acontecesse.

— E não aconteceu. Estamos bem, não pense mais sobre isso — finaliza. — Quais são seus planos para hoje a noite? — Fecha o punho do braço que está no encosto do sofá e apoia o rosto.

— Nos últimos dias estou tentando me fundir ao colchão para ser bem sincera, essa é a minha programação — digo com sinceridade.

— O que pegando com você, Dalena? — Se preocupa.

— Estou em um momento que me sinto perdida... — Isso resume bem. — Eu sei o que eu quero, mas os caminhos para chegar aos meus objetivos estão tempestuosos — falo a última palavra com uma voz assombrada.

— Quer conversar sobre isso? — oferece.

— Quando eu souber o que dizer, com certeza. — Não consigo externar o meu drama.

— Que tal me acompanhar à noite em um racha de moto? é um dos eventos que promovo. Você não tira o capacete e pode ver de perto um pouco do que ando fazendo — convida.

— Não quero ver ninguém sendo morto — resmungo.

— Geralmente só acontece depois, em lugares bem diferentes e com situações que não me envolvo. Essas mortes que os jornais gostam de noticiar são mais com quem fez parada errada com os donos das bocas, eles precisam mostrar força. Em relação a mim, já são outras demandas, dificilmente você verá ser noticiado ou saberá que aconteceu. Entende?

— Não muito... — confesso.

— O dono da boca protege a sua área e os seus negócios. Já eu, preciso tirar do caminho quem ameaça o meu domínio e o fluxo no morro inteiro, além das outras questões. Eles agem para garantir o deles, enquanto cuido de garantir o meu e o de todo mundo. Claro que, de qualquer forma, o conjunto se fortalece — explica Dom.

— Bom, eu tinha outra ideia — admito. — Talvez seja porque a lei não faça essa distinção, todos são julgados pelo mesmo crime, independente da hierarquia, apesar da pena ser dosada conforme a gravidade.

— Só para constar, o tráfico daqui não mata um por expediente, isso é mais quando estamos em conflito. Em tempos de paz, verá que o feminicídio e as brigas de bar saem na frente nas estatísticas da nossa pacata Belo Rio, aqui não se compara a cidades grandes. E, como te falei, quanto mais deixo tudo quieto, mais consigo me manter. Sem contar, que é algo que na maioria das vezes delego. Não sou mais soldado.

— Então os responsáveis pela boca não matam mais o usuário que devendo? — Eu bem que já ouvi algo assim.

— Não mais como antes, agora é só em último caso. Eles têm liberdade para gerenciar a boca dentro das minhas regras: ver se a família tem interesse em pagar, recolher cartão salário, mandar fazer um serviço, essas coisas. Acaba que dificilmente alguém não paga — explica.

— O que você faz especificamente? — Fico curiosa.

— Movimento a droga e distribuo, enquanto administro o morro. Eu faço a lei, ninguém está acima de mim em Tia Ondina. Controlo o comércio, promovo ações que beneficiam a comunidade, expando minhas relações com gente da política, Guarda Nacional ou com quem quer que seja do meu interesse. Também ocupo o lugar que o poder público negligencia na comunidade — explica.

— Você andou estudando? — Eu me impressiono com a desenvoltura de Dom, apesar de acompanhar pelas bocas dos moradores o movimento do tráfico de Tia Ondina. Vejo que ele é um sujeito realmente perigoso, porém, muito mais político e estrategista do que imaginava.

— A prática acaba me familiarizando com muitas coisas — responde de um jeito professoral.

— Já fez acordos com Otávio? — Eu sei que o senador está envolvido até o pescoço na corrupção, mas ele sempre escondeu de mim, e eu também evitei ficar a par de tudo.

— A ligação dele é com o Caveirinha de Morro Grande — conta para a minha surpresa.

— Sempre desconfiei que ele era envolvido no tráfico, como está sempre por Tia Ondina, pensei que fosse lá — converso mais comigo mesma. — Esse cara não tá preso? Lembro de ter visto algo no jornal e faz bastante tempo.

— Da cadeia ele comanda o tráfico de Morro Grande e a facção rival. — Dom me deixa confusa.

— Caramba é mesmo! — Tenho um estalo. — Já ouvi falar que tem dono do morro preso comandando tudo da cadeia. — Lembro dos boatos sobre algumas comunidades da cidade.

— Dificilmente eu apareço em Tia Ondina, meu gerente-geral é a minha mão no morro, só ando por lá quando tem desenrolos de violência contra mulheres, crianças, idoso. Há muito tempo a polícia não é mais chamada para essas ocorrências, as pessoas ficam mais satisfeitas com a agilidade com que resolvo.

— Quando eu saí de lá você ainda não era o dono do morro, a polícia ainda tinha voz. Eles não devem ficar muito satisfeitos com isso, suponho.

— Isso os isola e torna o lugar meu, mas... — Faz uma pausa.

— Mas? — pergunto com um risinho ao ver a expressão adorável que o dono do meu coração está fazendo.

— Eu sei que precisa saber melhor quem me tornei, como também no que estou envolvido, e te garanto que vamos ter tempo para isso, mas quero falar sobre nós.

— Hum — vocalizo, mostrando interesse. Os lábios vermelhos de Dom se curvam em um sorriso para mim. Automaticamente o meu rosto se ilumina e fico completamente sem chão. — De onde veio isso? Quer dizer...

— O que me fez te procurar? — Ele lê os meus pensamentos e confirmo sem graça, pois parece o tipo de pergunta que um pai faria para saber as intenções de um pretenso genro. — Quando vi que precisava falar com você sobre o centro, algo me disse que esse era um sinal do universo, uma oportunidade de viver o que eu quero com você.

— O que você quer viver comigo? — pergunto num instante de serenidade.

— No momento, te colocar na minha moto e te levar para dar uma volta hoje a noite. Como vou te conquistar se quando te encontro só rola assunto de morte, negócios e todas essas coisas pesadas? — Sua cabeça pende um pouco para o lado e ele me fita deixando sua mão abraçar a lateral do meu rosto. Fecho os olhos por alguns míseros segundos e abro novamente, voltando a mim.

— Dom... não tem como isso acontecer — revelo o grande fato.

— Você não pode sair? — quer saber um pouco decepcionado tirando a mão do meu rosto. — Tem compromisso?

— Falo sobre você me conquistar, porque isso já aconteceu há muito tempo.

Os seus olhos se acendem, enquanto me concentro um pouco em encarar as minhas mãos. Dom apoia o indicador no meu queixo, erguendo o meu rosto, depois se aproxima trazendo a combinação perfeita entre os tons laranja e azul no seu semblante. Quando está prestes a me beijar, minha razão entra em alerta vermelho, pois sei que isso pode virar um grande problema nesse momento, Otávio ocupa um espaço na minha vida e não posso agir como se ele não existisse, mesmo que tenha esquecido que ele poderia chegar a qualquer momento.

— Espera, Dom — peço, quando está sobre os meus lábios. Ele para imediatamente, fazendo o meu coração chutar o meu peito como se tivesse pés, e dedos invisíveis apertarem a minha garganta. Meu próprio organismo quer me matar por não aceitar um beijo dele. — Eu sei que falei que sim... — Sacudo a minha cabeça e levanto do sofá. Dom também levanta e segura a minha mão, provavelmente para tentar me acalmar, já que devo parecer nervosa. — Mas, não podemos fazer isso. Eu estou noiva, querendo ou não.

— Desculpa não ter respeitado isso, mas vou, prometo — diz e beija a minha mão, aquietando o meu alvoroço. — Cadê o seu anel de noivado?

— Eu precisei tirar, estava incomodando — desconverso, no entanto, bem sei que não deixa de ser verdade. — Olha, Dom... — faço menção de que vou tornar a recusar o convite, mas ele me interrompe.

— Eu falei que prometo me comportar, Dalena, filha de Marilena e Dayvyson — brinca.

— Ah, não me lembre disso, por favor — imploro, sorridente.

— Então, que horas passo para te pegar, ou prefere me encontrar em algum lugar? — pergunta e balanço a minha cabeça em negativa. — Vai, não me deixe triste, eu vou tomar cuidado para não ser vista — garante e me arranca um sorriso. — Na hora que quiser voltar, a gente volta.

— Eu te encontro na Ponta do Golfinho — combino, quando ele me lança o seu irresistível olhar felino.

— Então nos encontramos lá. Agora preciso ir — fala e me dá um beijo no rosto sem que eu esperasse.

— Você prometeu — reclamo, ainda surpresa.

— Foi um beijo no rosto! — protesta brincalhão ao se afastar. Esse é o Dom por baixo do dono do morro.

Chamo o elevador na sala. Ficamos aguardando enquanto nós observamos como se nossos olhos fossem incapazes de enxergar qualquer coisa que não fosse um ao outro. Suponho que todo esse tempo distante, deixou essa necessidade em completo abandono e agora, não conseguimos controlar essa fome de nos ver.

Ao entrar no elevador e pressionar o botão do térreo, Dom desaparece à medida que as portas douradas se fecham, sem que tenham pena dos meus sentimentos ou me deixar consumí-lo mais tempo. Apesar dele ter sumido da minha frente, sua imagem permanece viva na minha memória. Eu rodopio pela sala sem controlar a felicidade que a sua presença me trouxe. Mesmo diante de tudo o que ele viveu, não foi difícil conectar esse homem com o garoto que conheci há alguns anos.


|NOTA DA AUTORA|

Dom tentando levar Dalena para sair e ela fazendo uma entrevista kkkkkkkk. O que acharam do capítulo de hoje. Ele tem chances de dar um chega pra lá em Otávio e acalmar os nossos corações, ou isso não vai acontecer?

Contem tudooooo!!

Até sexta com capítulos finais de TE ESPERO NOS MEUS SONHOS. Nem acredito que vai acabar... Já estou com saudades...

Xero!!

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