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▓ CAPÍTULO DEZESSEIS ▓




Gasto horas deitada na cama diante da tv a cabo passando os canais. Tento encontrar algo que prenda a minha atenção, porque não consigo parar de pensar em quem está morando no apartamento de baixo. Não quero me distrair com Dom no momento diante de tantas preocupações, no entanto, é incontrolável.

Entre canais de animais selvagens, pessoas vendendo objetos valiosos, investigações criminais ou mundo das celebridades, paro no canal de filmes de romances piegas, atraída pela cena em que um soldado se declara para o seu grande amor. Tem o drama da novela mexicana, uma dublagem caricata e a trilha sonora é perfeita para acionar os canais lacrimais, apesar de atores que exageram na atuação. Talvez seja comum pensar: "Eu não caio nessa!", só que basta um pouquinho de atenção para chorar feito um bebê pedindo o colo da mãe.

"Summer, você é um raio de luz da minha vida, mesmo que seja somente uma esperança no meu coração. Na guerra, foi a vontade de voltar para seus braços que me manteve vivo. Está casada com alguém que não te ama como merece ser amada. Entendo que se passaram muitos anos e não sabia se eu estava vivo, mas eu consegui, Summer. Consegui voltar para você!"

A música sobe o volume, o olhar de tristeza e a aflição do amor interrompido ficam mais evidentes. Eles se amam, mas a guerra tirou muito anos dos dois. A vida dela mudou e isso arrebentou o meu coração. Comovida com a cena, em questão de segundos, as lágrimas rolam pelo meu rosto. O amor verdadeiro é inesquecível, mesmo em meio a um pandemônio. Qualquer romance que se preze, sabe disso.

Usando a trama do filme em uma comparação forçada, já que existe a nobreza do personagem de ter ido à guerra defender o seu país, penso que Dom também me manteve no coração em meio à violência. Acabo acreditando em seus sentimentos, ou ele teria me matado depois do que fiz hoje. Mesmo com todos os meus ataques, vejo que respeita o meu espaço, totalmente ao contrário de Otávio.

Acabo me sentindo estúpida. Ele é a única pessoa me oferecendo apoio nesse momento.

Caminho lentamente até o interfone. Encaro o aparelho cinza na enorme parede creme da cozinha, pensando se estou realmente pronta para o deixar ficar ao meu lado. Eu mal me livrei de Otávio, como posso encarar mais um envolvimento que, com certeza, me trará problemas? A questão é que eu sempre o desejei em todos os meus sonhos e fantasias. Não tem como resistir quando estamos tão perto.

Tiro o interfone do gancho, coloco no meu ouvido e faço a chamada.

— Estou indo. — Essa é a única coisa que Dom fala ao atender no primeiro toque, como se estivesse ao lado do aparelho.

Aguardo sua chegada com a porta da sala aberta. Ao vê-lo passar por ela, tenho uma imensa vontade de correr para os seus braços da mesma forma que eu fazia no almoxarifado. Sentada no sofá, acabo controlando as minhas pernas, que ficam agitadas batendo os joelhos freneticamente por estar ansiosa com a sua presença.

Dom fecha a porta.

Minhas mãos ficam inquietas tocando os meus cabelos, coçando o meu nariz ou simplesmente se apertando. Tenho uma imensa necessidade de dizer algo, como também de fazer qualquer coisa que justifique o meu chamado. O traquejo com que encaro qualquer situação de modo geral, entra em pane quando envolve Dom. Já ele é direto, prático e sempre diz o que quer. Me pergunto se a experiência com outras mulheres tenha o tornado assim. Pensar sobre essa possibilidade, logo se torna uma armadilha para o incômodo que é imaginar a infinidade de mulheres com quem provavelmente se relacionou.

Mas que merda! Por que eu fui imaginar ele com outras mulheres?

tudo bem? — Dom pergunta.

Óbvio que não, como também sei que esse é o motivo de ter me feito a pergunta. A expressão de raiva que deve estar estampada no meu rosto, me denunciou.

— Claro.

— Você está engraçada.

Engraçada? Minha autoestima acabou de cometer suicídio, apesar de ser justificável a observação, já que o convidei e ainda fico toda esquisitona. O que se faz em uma situação dessas? O que se faz quando recebe um homem para uma visita? Enceno um striptease, no filme de mesmo nome, como o da Demi Moore, ou quem sabe como a J.Lo em "As Golpistas''. Ah, não sei... não tenho capacidade para isso.

Eu nunca paquerei ninguém, só o meu professor, e fui tão fracassada que acho que ele nunca percebeu, o que é bom, pois deveríamos ter uns vinte anos de diferença. Hoje vejo o quanto estava fora da realidade.

Dom me olha de um jeito curioso. Além de não preparar um jantar, nem nada do tipo para reger o encontro, continuo parecendo uma pateta ou coisa do tipo.

Mil vezes merda.

— É sério, está tudo bem? — ele quer saber por estranhar o meu comportamento esquisito.

— Quer comer alguma coisa? — ofereço, ignorando a pergunta. Acho que isso é um bom começo.

— Que tal beber alguma coisa? — sugere.

— Eu vou de Dry Martine, você quer um Chivas Salute? — pergunto. Lá se vai o uísque de Otávio com um preço exorbitante, mas quem se importa?

— Pode ser, e não precisa gelo — diz, mantendo os olhos fixos em mim.

Hm. Sem gelo.

Eu não esperava menos. Tá na cara que faz o tipo de quem vive fortes emoções sem medo.

— Senta, eu volto já — digo ao sair.

Na sala de jantar, em um sofisticado espaço integrado, entro no bar com armários e prateleira feita em madeira nobre, além de uma mini adega embutida. Sirvo as bebidas, mas antes de retornar, confiro na parede espelhada o meu macacão casual de algodão por cima de um cropped de nuvem, concluindo que não é uma roupa para usar no que estou tratando como encontro, mesmo devendo tratar como uma visita do meu novo vizinho.

Aproveito o momento de autopiedade para tentar melhorar os meus cabelos, deixando pior que antes, assim mantenho o coque. É melhor fingir que estou desconstruída, com um ar de desapego, do que mostrar que o meu cabelo não me atende na hora que eu quero, revelando a minha juba natural.

Vou para a sala, ao chegar, surpreendo Dom no celular com cara de poucos amigos, ouvindo atentamente o que é dito para ele. Deixo o uísque na mesinha de centro e sigo para o sofá da frente de orelha em pé, querendo saber o teor da conversa. Depois que me sento, noto que talvez eu esteja muito distante, ele também parece ter pensado o mesmo, porque me olha confuso.

— Só resolve isso, Roman — diz em um tom autoritário e encerra a chamada telefônica, parecendo aborrecido por ter sido interrompido no seu dia de folga com questões do trabalho por irresponsabilidade dos funcionários.

Ele respira fundo por um instante, parecendo tentar se afastar da dor de cabeça que a ligação provocou. Mil possibilidades passam pela minha mente, mas todas terminam com alguém sendo morto. Então lembro Dom falando que não mata um por expediente, embora me pergunte se neste momento não tem ninguém morrendo a mando dele, enquanto está aqui jogando conversa fora.

— Problemas no morro? — pergunto antes do meu terceiro gole no gin.

Dom levanta e senta ao meu lado.

— Sequestrei a filha do prefeito para ele resolver a questão do centro.

— Dom! — exclamo horrorizada, com o quarto gole de gin espirrando da minha boca com o susto que tive.

— É brincadeira. — Sorri do meu ataque. — Tem uma carga atrasada. Toda vez que tento usar o porto essas merdas acontecem.

— Quer me matar? — pergunto, enxugando o meu rosto molhado pela bebida.

— Vem, deixa que eu limpo — oferece depois de um gole no uísque que deixou na mesinha de centro.

Ao se debruçar sobre o meu rosto, invés de limpar normalmente, Dom beija no canto dos meus lábios, onde tem algumas gotas de gin que são levadas por sua boca. Dou um sorriso tímido, envergonhada em receber seus carinhos que ardem a minha pele, como se me queimassem de dentro para fora. Ele continua por todo o meu rosto, finalizando ao retocar a limpeza com a própria mão.

— Dalena com sabor de gim e vermute — brinca, mencionando os ingredientes do meu drink, provocando em mim uma risada com o ruído de porco. Nada pode ser mais constrangedor do que soltar um barulho tão ridículo em um momento assim, fico aliviada por ele ter achado engraçado e não ter me olhado com reprovação.

Dom permanece sobre mim, e me atrevo a tocar em seu rosto como fui tocada a pouco. Meu polegar acaricia abaixo dos seus olhos. Exploro com brandura a sua pele pintada pelas atrativas sardas, sentindo uma camada muito fina de pelos invisíveis a olho nu. Ele é quente, macio e colorido pela mais linda combinação do laranja com azul.

Meus dedos sobem por seus cabelos. Dom fecha os olhos com o atrito da minha mão em seus fios curtos. Desço com o dorso da minha palma até a sua barba bem feita, massageando em volta do seu maxilar desenhado em um quadrado gracioso, parecendo ser feito sob medida para complementar a harmonia do seu rosto.

Seus olhos se abrem para mim, me fazendo ser tomada como que num encanto por um céu azul num dia sem nuvens. Seguro em sua nuca e repouso a lateral do meu rosto no seu, afundando o meu nariz em seu ombro. Parecendo ter voltado à presença daquele garoto adolescente que me socorreu por alguns dias, descanso do peso das correntes que arrasto pela minha vida da mesma forma que fiz anos atrás, me escondendo dos meus problemas.

O silêncio é perfeito, a paz em seus braços é serena. Enquanto estamos ali, fica visível que também sou sossego para Dom. É como se ele adormecesse ao meu lado a violência que vive, como se fôssemos um para o outro um terreno distante do mundo real, um espaço onde podemos encontrar o sol em meio a tempestade.

— Senti tanto a falta disso, fugir do mundo — Dom sussurra.

— Eu também...

— Quando estou com você, é como se estivesse em uma ilha, descansando em uma rede embaixo da sombra de um coqueiro, me refrescando com uma água de coco, longe de tudo.

— Não sei se sou isso tudo, com tanta desordem me acompanhando — desconfio.

— Claro que é. O único mistério é o porquê de só conseguirmos sintonizar essa harmonia juntos.

— Hm. Estou sabendo que procurou bastante para chegar a essa conclusão. — Minha voz vibra afrontosa em seu ombro.

— Eu era jovem demais para entender que não se escolhe algo assim. Perdi muito tempo pensando que você seria somente uma lembrança inesquecível.

— E o que eu sou? — Eu me afasto do seu ombro, fitando os seus olhos. Dom segura a lateral do seu pescoço em cima do "D" tatuado.

Eu sou o seu ponto fraco... penso, sentindo-me especial.

— E o que nós somos? — Devolve a pergunta.

— Precisamos de um nome?

Dom apoia o braço no encosto do sofá para alisar o queixo com o indicador enquanto me estuda.

— Não.

Fico feliz com a sua resposta. Definir o que acontece entre nós dois parece algo precipitado, apesar do enorme sentimento que Dom representa para mim, preciso dar tempo ao tempo. Eu me apressei com Otávio e me vi enrolada em uma teia de aranha, não quero cometer o mesmo erro.

— Ontem, quando dormimos juntos, como fui parar na cama? — pergunto, pois só me recordo de ter adormecido no chão.

— Não lembra? — pergunta, confuso. Neguei ao balançar a cabeça estranhando o seu questionamento. — Você teve um pesadelo. Uma vez no almoxarifado acordei com você choramingando muito baixo. Suas mãos pareciam segurar um lençol invisível, imaginei que estava tendo um sonho ruim, te abracei e você parou. Acabei esquecendo de conversar com você sobre isso. Ontem, ficou do mesmo jeito... só que mais aflita. Quando avisei que eu estava ao seu lado, se acalmou aos poucos, depois que te abracei. Perguntei se queria ir para cama, respondeu que sim, te peguei no colo e coloquei você sobre o colchão. Achei que lembrasse.

— Não — digo pensativa. — Dificilmente lembro o que sonho. É como se eu nunca sonhasse, na verdade. Desde... — eu me calo, não quero materializar em palavras o que me atormenta em silêncio. E não preciso dizer, Dom sabe.

As memórias do que aconteceu com Sandoval e Coalhada me perseguem, mas sempre faço o possível para abafar. Será que eles encontraram os meus sonhos para se esconderem, enquanto eu pensava que cada vez mais me livrava disso? Vou ter que carregar esses episódios malditos até o fim da minha vida?

Dom beija afetuosamente a minha testa, depois me aperta em seus braços. Sinto uma sensação de paz ao seu lado por me afastar desses lugares sombrios, como se tudo estivesse voltando para o seu devido lugar. Mas, ao mesmo tempo que ele tem esse poder, uma parte de mim coloca em dúvida se eu não estaria o inventando para ser o homem que tanto fantasio. É difícil enxergar a realidade quando minha razão está tão contaminada pelos meus desejos.

São tantas perguntas à nossa volta que acabo sem saber quando me sentirei segura para não deixar o medo de me machucar entre nós. É um conflito interno que me deixa inquieta, mesmo que eu saiba que Dom já me protegeu antes. Talvez eu tenha medo de perder o pouco que já temos em nome de uma paixão cega.

— Dom, eu não sei se Otávio vai querer te peitar, agora que rompemos completamente, porque ele te mencionou algumas vezes na nossa discussão — aviso, interrompendo os meus pensamentos.

— Como ele reagiu? — pergunta, intrigado.

— Não dá para dizer, ele meio que tentou tornar isso uma justificativa para ter dormido com a Íris.

— O que você disse sobre nós? — questiona com a voz suave, brincando com os meus dedos.

— Não devo satisfações a ele depois do que me fez, então, não falei nada. — Eu me irrito ao lembrar de Otávio.

— Quanto menos o senador souber de nós, melhor, bem?

— Está com medo dele te prejudicar?

— Ele precisa se esforçar bastante para tocar em mim. Otávio não tem como passar por cima do comandante da PM e criar uma tensão no morro porque perdeu a mulher. Ele teria que me comprometer de outras formas para que eu perca meus aliados — explica, parecendo seguro do que está falando. — Também estou preparado para uma emboscada, o senador sabe que isso não é fácil, além de correr o risco de ser exposto. Meu medo é que ele acabe sendo mais agressivo com você quando souber que ainda estamos nos encontrando.

— Confesso que estou assustada, mas espero que as ameaças que fez tenham sido no calor do momento — reflito, preocupada.

— Não baixe a sua guarda com o senador...

O alerta de Dom me soa um tanto quanto vago. Ele já vem me dando avisos em relação a Otávio, mas não é claro sobre o que sabe dele. Só consigo supor que o senador está envolvido em bem mais do que somente crimes do colarinho branco. Até que ponto isso não representa um risco para mim por causa do nosso envolvimento?

— Eu baixei minha guarda com você.

— Bom, o senador e eu não temos muita diferença no modo que escolhemos levar a vida, apesar de que a violência que ele pratica se esconde por várias camadas de prestígio social e as pessoas escolhem fechar os olhos. Não feche os seus olhos também, ele é um cara traiçoeiro, diferente de mim. Todos os meus inimigos, sabem que são meus inimigos.

Ajeito meu corpo no sofá, nunca vi Dom em ação, mas estremeço quando penso no que é capaz de fazer a alguém. Não que essa violência seja algo absurdo dentro do universo em que cresci, até cogitei entrar no tráfico para ser capaz de sobreviver sozinha. Apenas penso como isso será cobrado dele pela justiça divina, como também penso nos meus pecados.

— Eu me preocupo com você — confesso. — Às vezes acho que não tem noção do peso das suas atitudes.

— Nunca matei um inocente ou um policial que fosse de bem. Meu negócio é com gente da minha laia, Dalena. — Dom comprime os lábios, franzindo o cenho. — A gente vive uma guerra civil há muito tempo. Não fui eu que comecei, não serei eu que vou terminar. Só não aceitei ser uma vítima ou me acabar no álcool como a minha mãe, porque a realidade de viver na miséria é muito dura. Deus me perdoe, mas não vou choramingar pelas vidas que tirei, achei que entendesse isso.

— Desculpa. Eu não sei muito sobre a sua história antes de te conhecer e não te julgo por ter escolhido esse caminho, só não quero que sua alma seja consumida por tudo isso, exatamente por saber que o seu coração é lindo.

Aproximo o meu rosto de Dom e o seguro em minhas mãos. Apoio a minha testa na dele, deixando os meus braços envolverem os seus ombros. A vida oferece tantas dores e tantas quedas, tornando o ato de sobreviver tão sufocante, que fica difícil entender o sentido de tudo. Eu me afasto dele, olhando para as suas íris azuis esperando que realmente exista um céu que acolha pessoas como nós.

— Eu não vou mastigar o meu passado difícil ou me martirizar pelas minhas escolhas, farei isso se for condenado ao inferno e não me restar outra opção. Por enquanto, vou usufruir da autonomia que tenho para viver o que eu quero, buscando me manter acima de toda essa merda e, se me permitir, com a sua companhia. — Dom segura o meu queixo, roça os lábios nos meus e deixa um beijo amoroso.

Seu rosto avança pela lateral do meu e sinto a sua respiração em meu pescoço, enquanto ele me puxa mais para perto. A necessidade que temos de estar juntos fica evidente quando nossos corpos se unem. Eu me aconchego em seu corpo e nossas mãos se entrelaçam, está tudo tão calmo dentro de mim. Lá fora, o som da chuva que começa a cair vira uma trilha sonora. Ele afaga os meus cabelos, enquanto sua cabeça pesa sobre a minha. Como senti falta disso! Assim é namorar alguém... silêncio, carinho e companhia.

Tínhamos um sentimento adormecido desde que nos separamos, esperando por um momento só nosso. Seus dedos dançam em um ritmo suave por toda a extensão da minha coluna vertebral, causando arrepios deliciosos em minha pele. Eu me sinto um gato que acaba de acordar de uma soneca, esticando preguiçosamente cada músculo do meu corpo. Fecho os olhos e me permito ficar perdida nos seus carinhos. Dom sabe exatamente como tocar em mim, como me fazer sentir amada.

Por mais que eu me questione ou tente disfarçar, a gente se completa entre todo esse caos. Sinto o calor do seu corpo e suas mãos firmes acariciando suavemente minha nuca. O perfume de sua pele se mistura com o aroma suave de suas roupas. É como se ele exalasse tranquilidade, e desfruto da aura de segurança em que sou envolvida.

Levanto o rosto em sua direção, tentando decifrar o sorriso discreto que se desenha em seus lábios. Suponho tantas coisas, mas quando seus lábios tocam minha pele em mais um de seus beijos furtivos, eu me sinto como se estivesse flutuando. Parece que nada mais importa, exceto o momento presente e o sentimento que compartilhamos.

— Estou cansada. Quer dormir hoje aqui? — Sinto o meu rosto arder de vergonha com o convite. Na adolescência eu era mais descarada, acho. Não lembro de ter ficado tímida com ele.

— Você ainda pergunta? — Dom me sorri. Fico feliz por ele ter tanta certeza.

— Quer ir trocar de roupa ou alguma coisa do tipo?

— Não preciso, estou confortável — diz, passando a mão em sua coxa por cima da calça moletom que está usando.

Deixamos o copo de uísque e a taça de gin, vazios, na mesinha de centro antes de sair da sala. Caminhamos em silêncio pelo corredor, com nossos passos ecoando ao se chocar no piso. Próximos um do outro, a minha mão roça algumas vezes suavemente na sua, enquanto seguimos em direção ao quarto.

As luzes do corredor já estavam apagadas, mas uma iluminação suave vindo de uma arandela, posicionada no final, criava um clima intimista. Chegando na porta do quarto, Dom se aproximou de mim e me abraçou suavemente. Seus braços envolveram a minha cintura e ficamos assim por alguns segundos, como se fizéssemos um trato de confiança para passar a noite juntos.

Ao entrar no meu novo quarto, perplexo, Dom passa os olhos pelo estofado dourado recobrindo a cabeceira da cama que vai até o teto, flanqueada por dois espelhos. À frente deles, mesinhas laterais neoclássicas fechavam o espaço. Eu até acho que essa combinação dá uma impressão de amplitude e conforto, mas concordo que tem um ar de exagero. A iluminação, somada a parede no mesmo tom creme de todo o apartamento, até tenta amenizar o excesso dos detalhes em ouro falso.

— É, eu sei, parece um hospício de luxo — digo diante da visível estranheza de Dom.

— Por todos os lados tem tanto dourado, que não dá para ignorar. Parece que prenderam o Rei Midas aqui e só soltaram quando ele usou todo o seu poder de transformar as coisas em ouro — observa, e rimos um pouco.

— Para não destruir minha reputação, digo em minha defesa que já estava assim quando cheguei — comento, num tom divertido.

— Agora vou dormir tranquilo, estava com medo de você me sacrificar para o deus do sol ou algo do tipo — brinca, enquanto vou até o outro lado do quarto, em direção a janela.

Aos pés da cama um refinado baú branco assume a função de guardar qualquer objeto que se queira, como também serve para sentar. Dom escolhe o móvel para colocar algumas almofadas que decoram a cama, enquanto eu vou fechar a cortina de linho da panorâmica janela com vista para o maior shopping da cidade.

A cidade ainda é molhada devagar pela chuva, com um barulho ritmado e reconfortante. Lá fora, ofuscando as estrelas, as luzes das avenidas brilham sob a escuridão do céu, evidenciando a paisagem citadina. O colorido das placas e o cinza do concreto, não dissolvem a magia dessa noite, pois parece que estamos em um mundo à parte. Aqui, é apenas nós dois, fazendo dessa gaiola dourada o nosso pequeno refúgio.

Do seu lado da cama, ele acende o abajur de porcelana com uma cúpula revestida de um suave cetim perolado, banhando o ambiente com uma luz relaxante. Do meu lado apago as luzes do quarto. A pouca iluminação parece o suficiente para me deixar mais à vontade com a presença dele. Afastamos o edredom e deitamos com o corpo virado para cima. Ainda que a cidade lá fora esteja em constante movimento, aqui dentro parece que o tempo parou.

A presença de Branca fez falta entre nós. Eu não consigo entender o motivo de me sentir tão travada ao lado de Dom. Ficamos afastados, como se guardássemos o espaço da leoa, mas logo sinto os seus dedos tocarem sutilmente os meus. Quando a mão dele alcança a minha, me lembrando que somos apenas nós dois, faz uma eletricidade percorrer o meu corpo com seu toque.

Ele olha para mim do seu travesseiro, percebo que espera um beijo de boa noite. Eu não consigo ir até o dono do morro, pois sinto como se o meu corpo estivesse congelado. Talvez a situação de me prender diante de Dom seja a mesma sensação que antecede um salto em águas profundas, é preciso um fôlego de coragem para encarar os riscos da queda e aceitar se contagiar com tanta adrenalina. É provável que essa seja a diferença da minha versão adulta para a de nove anos atrás. Hoje, entendo melhor os perigos que o envolve, ao contrário da adolescente que fugiu de casa sem a menor noção das consequências de se apaixonar por "a villain by the devil's law"¹. Mas assim como o eu lírico interpretado pela Britney em "Criminal", vejo que estou disposta a arriscar.

— Ainda somos os mesmos, Dom? — perguntei encarando o teto.

— Sabe que não... — respondeu com a voz baixa. Ele suspirou e ajeitou o corpo, ficando de lado, com o seu olhar perdido no meu no instante em que o fitei.

— Não me olha assim — pedi com um leve sorriso.

— Impossível te olhar de outra forma. — Abro mais o meu sorriso, revirando os meus olhos. — Não acredita?

— Não é isso.

— Fala uma coisa que tem certeza sobre nós, Dalena.

— O que eu sinto por você não mudou.

— Lembre-se disso quando eu te olhar, porque sinto o mesmo, ou me diga como podemos lidar com isso.

Ele não fez o pedido para me pressionar, acredito que realmente espera que eu tenha uma solução. Acontece que não tenho. Tentei inúmeras vezes, durante todos esses anos, mas nada vinha à mente, há não ser as lembranças do sonho que vivemos dentro de um pesadelo.

Embora todos esses anos Dom tenha me dado provas de que me manteve em suas lembranças também, sei que a nossa "paixonite" de adolescente não é o único motivo da sua aproximação. Depois do jantar no farol, que foi cheio de mensagens subliminares, me pergunto se haveria algo mais e a questão passa a martelar na minha cabeça.

Finalmente, suspiro e pergunto:

— De verdade, Dom, por que está me cercando?

— Sabia que quando você saiu, Lourdes apareceu para uma conversa comigo? Até desconfio que estava nos ouvindo escondida.

— Sério? — Fico surpresa.

— Acho que ela tem um carinho de mãe por você.

— Lourdes foi uma das poucas pessoas que se incomodou em me preparar para o mundo, sem os conselhos dela teria sido mais difícil. — reflito. — O que conversaram? — pergunto ao me virar para Dom.

— Ela só me pediu para ficar de olho em você, mas claro que nem precisava.

— Não achei que ela estivesse tão preocupada.

— Talvez você seja a única que não está tão preocupada como deveria com o senador, por isso estou te cercando. Ela me contou que, quando conversaram, não quis te deixar mais abalada do que já estava, mas que não dá para ignorar as ameaças feitas por ele — conta.

— Otávio seria muito burro se partisse para cima de mim com tudo logo agora — reflito. — Esse não é o estilo dele. Eu já ouvi algumas conversas em momentos de crise política e ele sempre se comporta como se nada demais estivesse acontecendo enquanto age para derrubar o adversário.

— Realmente, o mais provável é que agora tente minimizar. Duvido muito que ele não consiga reverter o escândalo que você criou com a cara de pau que tem. Mas eu sei quem é aquele cara por baixo dos panos, e tenho certeza que não engoliu tão bem a sua jogada — pondera.

— Você conhece ele tão bem assim? — Dom assente. — Por que nunca me fala os podres de Otávio, eu não sei muita coisa dele.

— Porque é melhor você não saber mesmo. Inclusive, achei arriscado falar sobre ele enquanto vocês moravam juntos, eu não tinha ideia de como iria reagir... se ficasse nervosa ou algo do tipo, poderia acabar criando um conflito entre vocês e isso te colocaria em risco. Na verdade, eu nem sabia se você seria capaz de acreditar em mim. Talvez até se afastasse. — Eu consigo entender o seu receio, embora sinta que eu precise saber do que se trata, mas isso não será agora.

— Não vamos mais falar de Otávio, hoje ele já estragou o meu dia o suficiente — digo com um suspiro cansado

— Estou aqui para mudar isso.

— Já está mudando. — Eu me alegro um pouco. — O que pretende fazer com o terreno? Espero que não esteja pensando em sequestro ou algo assim.

— Preciso esperar, já dei o primeiro passo quando comprei. Se eu fizer uma ofensiva agora, terão aliados muito importantes se unindo contra mim, porque tudo é uma oportunidade para me derrubar. Tenho que ficar estável para manter os meus acordos, o tempo todo eu preciso mostrar confiança.

— Inteligente... — reconheço. — Quem são esses aliados? Tem contato direto com essas pessoas?

— Onde você puder imaginar, eu estou — diz sem soar convencido, embora imprima o peso que isso tem. — Tenho contato com políticos, artistas, celebridades... Meu rosto não é conhecido na mídia, então se sentem confortáveis em ter uma amizade com um cara como eu. É como se isso trouxesse status, network. Todos os dias sou convidado de alguém para um show, um jantar, uma social... Nem dá para contar quantos afilhados eu tenho.

— Sério?

— Boa parte desse pessoal artista é doidinho das ideias. Suzanna é filha de um cantor brega, ele ganha muito dinheiro com royalties, mas cheira tudo. Um dia o cara nos apresentou e pediu para dar uma oportunidade a ela no tráfico ou iria falir — conta com um ar de banalidade, apesar de parecer ainda se surpreender com a história.

— Nossa... — Fico surpresa e com pena dela. — Imagino que deve enfrentar uma barra com ele.

— Por trás da maioria que está nesse meio do tráfico existe uma história triste, mas ninguém é inofensivo. Tenha isso em mente — alerta.

— Quem é a pessoa mais famosa que você conhece? — Fico animada em saber.

— Difícil dizer, são muitos.

Dom pega o celular na mesa de cabeceira, abre o álbum de fotos e me entrega.

— Caramba! Esse é aquele cantor gospel? — pergunto olhando a galeria de fotos, e ele confirma. — Nossa, aquela atriz super famosa, Dom! — Fico chocada a cada imagem que surge ao deslizar o meu dedo pelo touchscreen. Cantores, Padre famoso, políticos, atletas, influencers... todos em momentos íntimos de amizade, com o detalhe de apenas ele parecer sóbrio, pois as pessoas em sua companhia estão sempre visivelmente chapadas. — Pera, e essa modelo aqui? Eu já vi fotos dela em muitos lugares, ela é super conhecida. Por que ela está no seu colo?

bom de fotos, já viu muito. — Dom tenta pegar o celular.

nada. Você ficou com ela? — pergunto, enquanto afasto o celular dele.

— Vai se chatear à toa, Dalena — avisa, buscando evitar um clima desconfortável entre nós.

— É claro que vocês se pegaram... — concluo aborrecida e entrego o aparelho a Dom. — Por que tem essa foto se diz que gosta de mim?

— No seu celular só tem fotos suas? — rebate, e fecho a minha cara.

— Não.

— Então...

— É que... Rrrrrr! — rosno aborrecida. — São tantas... tão lindas! Tão legais! — desabafo movendo os braços no ar com irritação.

— Nenhuma é você. — Paro ao ouvir isso com o impacto que me causou. — Não acha que já viveu emoções demais por hoje? Que tal a gente dormir? — sugere e concordo num movimento de cabeça.

Dom vem mais para perto de mim, abraça a minha cintura enfiando a cabeça no meu travesseiro. O jeito que se aconchega no meu corpo acaba me lembrando do quanto estou cansada. O cheiro dele me acalma e por mais que eu esperasse que nossas roupas estariam sendo jogadas no chão aquela altura, ele parece entender que nesse dia, eu preciso muito mais de um abraço do que de sexo.

Tanto sentimento guardado durante esses anos e conseguimos dar um passo de cada vez, mesmo em meio a turbulência à nossa volta. Isso me faz sentir-se segura ao seu lado, como antes. O dia começou bem e está terminando bem. Embora não deseje que a noite acabe, meus olhos não resistem ao cansaço e adormeço.

_________________________________________________

¹ " um vilão pela lei do diabo" -  " um vilão pela lei do diabo "


|NOTA DA AUTORA|

Eita que ela não resistiu e ligou para o bem de todos e felicidade geral da nação! Só digo uma coisa, aguardem com muita ansiedade o próximo capítulo, porque está... É melhor eu não dizer mais nada. Agora é com vocês...

Xeroooooo, e até a próxima quarta  ✿◕‿◕✿

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