▓ CAPÍTULO DEZENOVE ▓
Em pleno sol do meio-dia, eu chego à chácara indicada por Dom nos arredores de Belo Rio, situada entre dois municípios, numa região conhecida por ser perigosa. Enquanto seguia o GPS por uma estrada estreita de barro, completamente acidentada e sem uma alma viva pelo caminho, percebi que somente a minha vontade de o encontrar me faria encarar um trajeto tão estranho. No percurso, não notei nada além de mato, lixo e urubus.
Mesmo o portão de madeira na entrada da chácara sendo vazado, não é possível uma visão clara do que há por trás dele. A trilha que começa na entrada, serpenteia em meio a uma densa vegetação. No único poste de luz da rua deserta, há uma câmera instalada, aparentemente de propriedade do imóvel. As pequenas luzes acesas em torno da lente indicam que está em pleno funcionamento. Essa parece ser a maneira como a chegada de algum visitante é percebida, pois não há campainha ou outro meio evidente de se anunciar.
Enquanto tento ligar para Dom, surge um senhor franzino em uma motoneta, vestido uma camisa folgada sobre uma bermuda caqui. Ele desce da motocicleta e abre os dois portões rapidamente, me fazendo um sinal para entrar. O caminho totalmente na sombra é asfaltado, cortando a mata fechada que dá total privacidade à propriedade. Ao notar as árvores de eucalipto envolta, desliguei o ar condicionado para respirar fundo o perfume mentolado que exalam. Em poucos metros, chego a um campo aberto, sendo seguida pelo velho homem.
O lugar é surpreendentemente lindo. Branca está deitada à sombra de uma pequena árvore próximo ao deck de uma piscina natural, integrada com um espaço onde imagino que o proprietário receba os seus amigos e faça muitas festas. As construções da chácara seguem um estilo americano, com acabamento rústico de alto padrão. Parecem ter sido projetadas para remeter à atmosfera aconchegante de uma refinada cabana na floresta.
Dom surge à porta da casa principal que possui dois andares, e meu coração me mostra que é capaz de se apaixonar ainda mais por ele. Valeu a pena os trinta minutos em uma estrada deserta, assim que sou recompensada pela imagem das pernas dele numa calça jeans justa. O seu peito nu me arranca suspiros, mas logo é coberto pela camiseta branca no seu ombro antes de vir até mim.
— Não quer descer? — pergunta, encostando no carro.
Não há como negar que quero. É óbvio que eu quero! Entretanto, estou ciente de que este é um lugar onde as horas voam sem que se dê conta. Dom também é uma distração perfeita para me fazer esquecer da minha vida. A combinação dos dois parece uma armadilha tentadora e bem capaz de me manter longe da comemoração do aniversário do governador.
— Eu tenho um jantar hoje. Preciso pensar em uma roupa, cuidar dos meus cabelos, das minhas unhas... — Suspiro inebriada pela brisa que acaricia o meu rosto, trazendo o seu cheiro irresistível.
Merda... Eu não vou sair daqui.
— Não vamos demorar, prometo — diz, abrindo a porta.
— Dom... — cantarolo o seu nome em tom de alerta.
— Não confia em mim? — fico em silêncio diante da sua pergunta, assistindo ele ajeitar o próprio corpo entre o meu e a direção para destravar o cinto de segurança. — Não me deu uma resposta, isso dói, sabia? — diz com uma voz quente bem próximo da minha boca segurando o meu rosto.
Enquanto me desmancho com nossa proximidade, me pergunto se ele tem consciência de como deixa tudo em mim explodindo. O meu corpo inteiro reage quando sua boca cobre a minha e todo o resto do mundo desaparece, deixando apenas nós dois ali. Eu só consigo pensar no quanto quero urgentemente ficar nua em frente dele.
No instante em que envolvo o seu pescoço em minhas mãos, ele segura a minha cintura com possessividade, me puxando para si. O toque dos seus lábios possui firmeza e movimento, me presenteando com a sua textura macia e potente. A sua língua se enrosca na minha, e enquanto saboreio o seu gosto, minha mente fica em branco.
Dom é uma delícia!
Estamos há tão pouco tempo separados, mas fica evidente o tanto de saudade que se acumulou.
Ele não vai me deixar sair daqui.
Eu não quero sair daqui.
— Será apenas por algumas horas — aviso com a minha língua presa na sua boca, enquanto sorrio.
— Então vou usar essas horas sabiamente — fala sem soltar meus lábios, e amo ver que tem a mesma necessidade de grudar em mim, como eu tenho de me colar à ele.
Enquanto atravessamos o jardim, cada passo que damos é marcado por beijos ardentes, pausados brevemente para que eu possa respirar. Acabo sem perceber se alguém cruzou o nosso caminho e também não me preocupo onde está o senhor que há pouco me viu chegar. Seguindo para onde imagino ser o seu quarto, confio no bom senso de Dom, embora não haja garantias de que possua um melhor discernimento que o meu no momento. O roçar dos nossos corpos cria uma eletricidade excitante, causando arrepios em antecipação pelo que está por vir, sem deixar espaço para se pensar em mais nada.
Ao chegarmos no quarto, a nossa pressa é palpável. As roupas são arrancadas do corpo e jogadas pelo chão, fazendo uma trilha até a cama. A única peça intacta é a calça apertada que está usando e que com certeza está mais justa desde que cheguei, pois eu consigo sentir perfeitamente o seu volume por cima da calcinha. Entre as minhas pernas, ele rebola o quadril com uma destreza que me tira o fôlego, fazendo uma doce pressão. Sua respiração está pesada e o seu olhar extasiado.
— Dom... — Seu nome escapa da minha boca em forma de gemido, embora eu quisesse protestar pelo fato dele ainda estar vestido. Não dá para o ter em parte, preciso o sentir por completo. Giro o meu corpo e fico por cima, encaro os seus olhos azuis, sem saber como ter esse homem completamente para mim.
É como se estivesse experimentando tudo pela primeira vez, mesmo sabendo que não é assim. A insegurança me domina, mas ao mesmo tempo não consigo conter o desejo de sentir cada pedaço dele. Quero ser inesquecível para Dom, enquanto tenho medo de ser decepcionante.
Ele ergue a sua coluna, parecendo entender o meu temor e me beija com tanta paixão que minha hesitação começa a desaparecer. Voltamos lentamente para o colchão, até que fico inclinada em seu torso, com minhas pernas abraçando o seu quadril.
O calor emanado de cada poro de sua pele, mistura-se ao meu. Ofegante, meu peito sobe e desce em ritmo acelerado. A pressão dos seus dedos em minha bunda causa uma sensação eletrizante, e quando ele espalma as mãos sobre ela, fazendo o forte impacto ressoar pelo quarto, um fogo arde dentro de mim, me provocando querer mais.
Percebo que tenta me deixar por baixo novamente, mas não permito, sendo consumida por mais uma onda de receio. Ele é tão envolvente que é fácil me deixar levar, perder os pensamentos e me entregar. Mas resisto, apertando a pele em seu peito como se amassasse um tecido entre os meus dedos, sentindo o ritmo acelerado de seu coração.
Apoiando-se em seus braços, ainda nos beijando, desço a minha mão até o meio das minhas pernas e seguro com firmeza a sua ereção por baixo da minha intimidade. O olhar de Dom fica suplicante em expectativa, me enchendo de confiança. Saboreio o toque, sentido o jeans quente sob a minha palma. Habilidosamente, eu abro o botão da sua calça o deixando preocupado.
— Tem certeza? — Ergue sua coluna e acaricia as minhas costas por baixo dos meus cabelos.
— Eu preciso... — Deslizo o zíper, abrindo as travas. — Preciso te sentir em mim.
Sinto um arrepio percorrer o meu corpo quando ele levanta ligeiramente o quadril e puxo o jeans pelas suas pernas, revelando a cueca box preta que esconde o volume por baixo do tecido. Meus olhos percorrem o contorno do seu físico, absorvendo cada detalhe, parando em seu abdômen. Tenho vontade de tocar em cada gomo, mas meu foco está em outra coisa agora. Volto até ele, engatinhando por cima do seu corpo, concentrada no seu olhar, até que me sento no mesmo lugar novamente, fazendo a densidade do ar aumentar. Está muito quente entre nós, ofegamos em sintonia com o balanço dos nossos corpos.
Dom também senta, me apertando contra o seu peito com força enquanto me beija com fome. As suas mãos agarram os meus longos cabelos castanhos, puxando-os levemente para trás e eu gemo em resposta, para o provocar ainda mais. Ele admira o movimento do meu quadril rebolando sobre a sua ereção, aumentando a minha necessidade de entrega. A sua respiração quente no meu pescoço arrepia a minha pele e cada vez que me movo em cima dele faço com intensidade. Meus dedos se cravam em suas costas musculosas, enquanto sou completamente consumida pelo prazer.
O desejo que sinto é deliciosamente sufocante.
Minhas mãos se juntam em seu peito e o empurro de volta para o colchão. Eu me afasto indo para as suas coxas. Dom se ajeita sobre os braços para acompanhar melhor a minha aventura em tirar a sua cueca. Meus dedos escorregam por baixo do elástico e deslizo a borda da cueca um pouco para baixo, revelando uma parte mais íntima sua. Engulo em seco, desviando o olhar para o dele.
— Dalena..., podemos ir mais devagar — alerta com a voz carregada de desejo, mas se mostrando disposto a ir somente até onde eu permitir.
As imagens de Sandoval e Coalhada surgem embaçadas na minha cabeça. Eu não quero pensar neles, eu não quero lembrar deles. Eu quero enxergar Dom, quero vê-lo por inteiro.
Eu não vou chorar.
Eu não vou chorar.
Eu não vou chorar.
— Dalena... — Dom chama segurando as minhas mãos, agora preocupado diante das marcas do meu passado, expostas no meu semblante.
Fecho os meus olhos, mas não solto a sua cueca.
— Está tudo bem... — eu o tranquilizo, mordendo firmemente o meu lábio inferior. — Acho que só preciso entender que é você aqui.
Ah, Dom... Eu quero tanto você.
Trago a cueca mais para baixo, sentindo o contorno do seu membro rijo pulsando. Ele segura o meu rosto e nossos olhares se encontram, carregados de desejo. Sua imagem reflete tantos sentimentos diferentes, formando algo incapaz de ser silenciado. Se há um homem capaz de me proporcionar outro olhar sobre uma ereção, esse homem é ele.
— Eu quero novas memórias, quero viver isso com você, quero descobrir como é quando existe muito mais. — Puxo mais o tecido para baixo. — Podemos ser alguém especial um para o outro ou notas musicais diferentes que se combinam? — ele aperta as mãos no meu rosto.
— Seremos o que você quiser... — Dom deixa um beijo em meus lábios. — Sem ninguém entre nós.
— Então, somos só eu e você. Únicos. Incomparáveis. — Trago a sua cueca mais para baixo, enquanto um ardor sobe em meu pescoço.
— Sim. Só eu e você... — Recebo outro beijo, retribuído com um toque mais firme dos meus dedos no centro do seu prazer.
Dom grunhe.
Lateja.
Me morde.
Meu corpo treme de excitação e nervosismo, mas eu me sinto mais confiante do que nunca. Eu quero isso, quero sentir cada parte dele, quero ser inesquecível. Arrasto completamente a última peça de roupa que faltava ser tirada até suas coxas. Observo a sua nudez, saciando a vontade de o conhecer por completo. Apenas o homem à minha frente ocupa a minha mente, ninguém se equipara a ele, ninguém tem o que nós dois temos. Desço o pequeno pedaço de tecido aos seus pés, despindo-o completamente, depois volto para onde comecei.
Toda excitada, observo as suas feições mudarem de expectativa para ansiedade. Quando minhas mãos passeiam por sua coxa, sou consumida pela perfeição que é o físico nu de Dom. Seu corpo se contrai sob o meu toque, implorando por mais.
Ele me dá água na boca!
Erguido para mim, inquieto, vermelho, liso e brilhante.
Ele me quer muito.
Minha respiração se agita.
— Que idiota eu fui em não te olhar antes, você é lindo. — Dom sorri mordiscando o lábio inferior.
Meus olhos não saem dos dele, mostrando que estou aqui como quer, que não tenho nojo ou pavor da sua nudez, que gosto do que vejo, que anseio em o ter dentro de mim. Sinto nossos corpos febris quando me inclino em seu peito, minha boca saboreia sua língua quente e úmida, Dom solta um gemido rouco no instante em que meu quadril repousa sobre o dele. Um sorriso brota em meu lábios.
Suas mãos prendem a minha cintura enquanto nossas bocas não se soltam e sou levada para baixo dele. Seguro de que eu estava confortável, Dom começa a abrir espaço dentro de mim para que se acomode melhor. Ele me consome por completo através dos seus toques quentes, deixando minha respiração acelerada e barulhenta.
Seus polegares exploram a rigidez dos meus mamilos, irradiando um forte ardor entre as minhas pernas. Quando deita sobre mim, movo o meu quadril buscando roçar no seu sexo, sentindo o quanto é largo, grande e duro. Dom arfa com minha inquietação e fico mais lubrificada quando sua língua percorre lentamente por minhas aréolas.
Ele não tem pressa, age como se tivesse esperado por muito tempo me ter em seu braços e degusta com atenção cada parte minha, parecendo se apresentar ao meu corpo. Eu atendo a cada estímulo, queimo a cada movimento, gemo a cada pressão que faz em meu monte de vênus. Dom me tortura, comandando todos os meus sentidos.
— Gosta quando eu faço assim? — ele pergunta com a voz rouca, ao mesmo tempo em que seu dedo acaricia suavemente a minha intimidade, parecendo tocar em uma pétala.
— Uma deliciosa tortura. — Mordisco o interior da minha boca abrindo um pequeno sorriso.
— E assim? — Seu dedo brinca ao massagear meus pequenos lábios, todo o meu corpo arde ainda mais.
— Eu ficaria aqui o dia inteiro só te sentido, desse jeitinho — confesso com as palavras pulando da minha boca a cada pergunta.
— E eu poderia fazer isso o dia inteiro — diz descendo o seu dedo médio e me penetrando
Solto um pequeno grito de prazer, Dom me beija rapidamente para abafar a minha voz com um sorriso satisfeito, mas logo fica sério enquanto suga a minha boca fazendo movimentos mais firmes de vai e vem dentro de mim. Minha mão se junta à dele. Eu quero sentir o que ele sente, quero estar onde estiver, quero acompanhar o seu ritmo. Somos só nós dois. Ele e eu.
— Isso é muito bom — murmuro entre gemidos acelerados.
— Tão bom que não consigo tirar a boca do seu corpo, Dalena. — Ouço ele falar com meu seio acomodado em seus lábios, provocando uma ebulição em mim, praticamente se encaminhando para um orgasmo.
Dom para um pouco e afaga a minha intimidade.
— Calma — sussurra no meu ouvido. — Quero te deixar cansada.
Solto uma risada e Dom faz o mesmo, vibrando sua alegria em meu ouvido.
— Do jeito que estou, sou capaz de ter um orgasmo só de te ouvir chamar meu nome — brinco.
— Dalena... — sussurra novamente no meu ouvido para me provocar.
— Safado... Você quer acabar comigo — afirmo, sorridente.
— Vamos ver — ele lança o desafio e vai até o meio das minhas coxas deixando uma trilha de beijos em minha pele.
— Abra bem as pernas — sua voz soa como uma ordem, eu gosto.
Meus joelhos se afastam automaticamente, mas dom não cai de boca com a mesma rapidez, ele explora o interior das minhas coxas, beijando, cheirando, apertando, enquanto meu sexo implora por sua língua. Eu me contorço quando sinto ele lambiscar a minha fenda e depois sugar o meu clitóris produzindo em seguida uma vibração.
Sua boca macia.
Sua língua molhada.
Uma mordida.
Uma lambida.
Uma chupada.
Minha respiração acelera, meus gemidos ficam mais cheios.
Me contorço.
Amasso os lençóis.
Amasso os meus seios.
Puxo os seus cabelos.
Eu me entrego.
Eu não resisto.
Eu vou...
— Eu vou go... — Dom para e me sorri. Seus olhos azuis parecem ter fogo.
Minha respiração desacelera, meus gemidos se acalmam. Mas o meu corpo está em expectativa.
A minha intimidade está sensível, pulsando. Sou invadida por sua língua, me sinto mais úmida, mais inebriada, mais amada. Eu me sinto amada. Novamente meus gemidos ficam profundos e rápidos. Ele me suga e me lambe com mais intensidade, ergo o meu quadril, segurando a sua cabeça. Quando começo a me contrair, Dom interrompe, como se me castigasse.
— Dom... — reclamo num lamento frágil. — Você está brincando comigo. — Meu rosto arde, minha intimidade parece um vulcão pronto para explodir. — Eu estou muito excitada — arfo com urgência.
— Calma... — pede com a voz pesada de desejo, deixando um rastro de beijos em minha fenda, acariciando as minhas coxas.
Meu desejo obedece ao receber os seus carinhos. Relaxo o meu corpo no colchão, saboreando o momento.
— Não está achando que acabou, não é? — Dom surge no meu campo de visão, e abro um sorriso cansado, jogando o meu braço em minha testa.
— Sabia que está me deixando doida?
— Sabia que você é muito gostosa? — Sorrio de um jeito encabulado. — Não acredita? — Suspiro fundo e lanço a minha cabeça de um lado para o outro em negativa, amassando o travesseiro.
Seus olhos azuis brilham levemente sob a luz suave que vem da janela, ele se ajoelha entre as minhas pernas abertas e aprecio o seu peitoral esculpido e adornado por finos pelos ruivos, que descem suavemente pelo abdômen tonificado. A mão de Dom alcança a minha intimidade. Seus dedos colhem um pouco da viscosidade que produzi com seus estímulos, depois ele passa na sua boca os arrastando de uma ponta a outra, melando os próprios lábios.
— Prova — convida, e vou sabendo que eu nunca mais esquecerei desse convite. E nem quero.
Encontro a sua boca me apossando do meu próprio sabor delicadamente doce. Nosso beijo é intenso, enquanto nos deitamos novamente. O quadril de Dom roça sobre o meu, enlouquecendo os meus sentidos mais e mais, a cada segundo. Começo a gemer entre seus lábios, ele passa a me morder com carinho.
— Você quer que eu comece a gritar aqui, não é? — Dom sorri com malícia, vai até o meu pescoço, onde morde mais um pouco, arrepiando a minha pele.
— O que você quer, Dalena? — Minha mente abraça uma única resposta para a sua pergunta.
— Quero você dentro de mim. — Dom parece se render as minhas palavras, mas rola o corpo para o lado, me levando junto.
— Então senta.
É incrível a forma como ele torna o sexo algo nosso, como me deixa confortavel para assisti-lo desfrutar cada pedaço de mim ou eu explorar cada pedaço dele. Deito ao seu lado para acariciar o seu peito, me perco admirando o seu corpo musculoso e bem cuidado, coberto de tatuagens e cicatrizes, sinais de anos de sua vida no crime, mas, particularmente, vejo além desses detalhes, vejo um paraíso.
Me ajoelho perto da sua cintura e passeio os meus dedos pelo seu abdômen, descendo até acariciar a extremidade inchada. Firmo em minha palma num toque seguro. Ele suspira de satisfação com minha mão explorando cada centímetro do seu membro, fazendo meu coração bater mais forte.
Sensualmente, meus dedos se movem com habilidade sobre a pele aveludada, suave como uma pluma. Dom não para de gemer baixinho. Eu posso sentir o nosso prazer aumentar ainda mais. Pouco a pouco um calor forte nos consome, trazendo uma onda de prazer intenso. É excitante manejar em ritmo constante o apetite dele por mim, posso ver que se entrega com todo o seu ser.
Ele puxa uma camisinha ao lado do abajur e me entrega.
— Já estava te esperando — justifica rapidamente, e percebo que é para que eu não pense bobagem.
Abro a embalagem e faço as honras, sendo assistida por seus olhos, que parecem amar cada minuto.
— Você é bem grande, Dom, eu não sei se vai caber — admito a minha preocupação, embora a curiosidade me corroa.
— Você que vai sentir até onde quer ir.
Monto em seu quadril, desço minha mão até o meio das minhas coxas e seguro com firmeza sua ereção por baixo da minha intimidade. A nossa expectativa está à flor da pele, talvez exista uma ideia de que consumaríamos finalmente os sentimentos que nos envolvem. A partir de agora, vamos firmar o desejo, tornar em algo real.
Peso o meu corpo sobre o dele, seu olhar fica suplicante em espera por mais enquanto me abre por dentro. A dificuldade de engolir a sua ereção por completo me deixa ainda mais excitada. Dom se inclina para frente abraçando a minha cintura, me dando sustentação para continuar. Na sua expressão noto que o seu desejo dói como em mim.
Seus braços me apertam, comprimindo os meus seios no seu peito. Ele está aqui comigo o tempo todo. Meu quadril desce mais, meus olhos se fecham. Gememos em uníssono como uma dupla romântica cantarolando, em dueto, uma música numa língua com sotaque de sopros, suspiros e agudos.
Ao chegar até o fim, me sinto tendo encarado uma doce aventura. Sorrimos em sincronia. Dom me beija com uma paixão avassaladora e me aperta mais. Meu corpo não quer descansar, quer ação, e me movo da cintura para baixo em círculos lentos.
Estamos completos.
Encaixados.
Quentes. Muito quentes.
Meus braços se erguem sobre minha cabeça e se cruzam por trás dela, enquanto me perco livremente em sensações e barulhos selvagens. Dom guia a minha cintura, com as mãos firmes me apertando. Ele está imerso em mim, fundido a mim, como se essa fosse a nossa razão de existir.
Por um momento, subo e desço com rápidos movimentos sem sair de cima. A sua rigidez está completamente acomodada entre as minhas coxas. Ele me arranca os gemidos mais sinceros, o prazer mais real, a necessidade mais urgente. Minha respiração fica mais ofegante, enquanto o vejo acompanhando o meu ritmo. Suas mãos se espalmam nas minhas nádegas, aumentando a pressão em nosso ponto de intersecção.
Intercalo meus movimentos com momentos de pausa para prolongar ao máximo nossa troca, quando então, não paro de rebolar o meu quadril sem conseguir mais atrasar o ápice. Nossos corpos colidem com intensidade e freneticamente. Ao me aproximar de ter um orgasmo, meu corpo se arrepia, meus gemidos fluem na minha garganta, toda a minha energia se concentra na nossa intimidade se consumindo.
— Goza pra mim — ele manda, e meu corpo acelera ainda mais para atendê-lo.
Sabia que Dom me queria presente, então não fui ao céu ou ao inferno, não me transportei para outro lugar, não só porque nenhum seria tão bom quanto ele, mas para que soubesse que estou aqui. Minhas mãos seguram o seu rosto, apoio minha testa na dele, mantendo os meus olhos abertos fitando os seus.
— Ah, Dalena... — sussurra franzindo o cenho, numa expressão dolorida.
Todo o desejo dentro de mim cresce, formiga, esquenta, contrai. Fico mais úmida, meu coração bate forte e rápido. Dom me aperta, me olha atento, assistindo como a minha boca se abre e se comprime, como os meus gemidos alternam entre curtos e longos, como o meu olhar fica vulnerável e selvagem.
Suados, agarrados e arfantes. Dom e eu poderíamos nos partir ao meio de tanta força que fazíamos para nos fundir, até que aconteceu. Estremecemos com a pele arrepiada, sinto uma onda intensamente quente percorrer meu corpo. Tudo tenciona e se acumula de forma fugaz, até que relaxamos juntos. Viramos um só. Tivemos o nosso final feliz carnal. Depois de tanto tempo sabemos o sabor que temos.
Preciso ter um pouco mais de Dom e o beijo como se mordesse uma fruta suculenta, ainda sentindo os espasmos em meu sexo, saboreando a viciante sensação que é retrair e expandir. Meu corpo febril, não se vê satisfeito, descubro que o que vivi agora é como uma gota no oceano, quero que seja interminável, quero dias sem fim.
Enquanto nossas bocas se colam em beijos incessantes e sonoros, obedecendo o nosso íntimo, a realidade puxa a minha mente de volta para o mundo, me fazendo lembrar do meu compromisso. Passo a diminuir o ritmo das nossas línguas. As mãos carinhosas de Dom afagam as minhas costas, trocamos sorrisos, entre algumas beijocas, encerrando a incrível viagem que fizemos.
Meu corpo desmorona e cai para o lado, enquanto a minha respiração volta devagar para o normal. Dom some com sua camisinha e me abraça num aconchego perfeito. Ele não estava brincando quando disse que ia me cansar, na verdade, me esgotou por completo.
Em seus braços, percebo como estamos suados e pegajosos.
— Acho que minhas pernas não vão mais me levar a lugar nenhum — brinco.
— Então respeita a vontade delas e fica aqui. Não vai encontrar o senador nesse jantar. — Ele me pede, arrumando os meus cabelos para o lado.
— Preciso terminar o que comecei, é só isso. Não fica com ciúme, agora eu sou toda sua — esclareço.
— Sabia que se ele fosse um cara bacana, eu jamais teria te procurado... por mais vontade que eu tivesse. Querer que você esteja segura é maior que qualquer coisa para mim, Dalena.
— Por que não me conta o que está escondendo sobre ele? — Eu me viro para Dom, esperando a resposta.
— Para não te colocar em risco.
— Esse tempo todo eu não estava?
— Não sem saber de tudo, já falei que é melhor continuar assim.
Fico chateada por Dom ainda fazer segredo, mas não deixo isso transparecer. Levanto da cama enrolada no lençol e vou até a janela em forma de arco, pisando descalça sobre o chão de carvalho. Olho através dos pequenos retângulos de vidro o extenso terreno ao fundo da chácara, todo gramado e repleto de árvores frutíferas. Apesar do ar campestre, tudo no imóvel é visivelmente caro. Essa propriedade deve custar uma pequena fortuna.
— Comprou esse lugar só com o tráfico? — questiono, passeando o olhar por onde minha vista alcançava
— Como não sabe nada do senador sendo tão curiosa?
— Você pergunta aos seus clientes de onde vem o dinheiro deles?
— Não.
O quarto fica silencioso por um instante, parecendo dissolver a atmosfera romântica que pairava no ar. Nós dois temos contrapontos muito bem definidos. Opiniões tão fortes costumam ser um problema, mas sempre fomos assim, no pouco tempo em que estivemos juntos.
Dez segundos olhando em silêncio para Dom, é o suficiente para esquecer qualquer pequena rusga que tenha surgido. Os seus cabelos ruivos colorindo a fronha e seu corpo exuberante sobre a cama em meio aos lençóis, fazem parecer uma cena de um filme de amor. Seu peito subindo e descendo num ritmo suave, me leva a sentir que a vida está completa e perfeita apenas por estar ali, ao lado dele.
— Invisto em muitas coisas, como por exemplo, no mercado musical. Tenho alguns artistas de sucesso, o pai da Suzanna é um deles. — Dom quebra o silêncio. — O meu patrimônio não vem só do crime, apesar de financiar estouro de caixas eletrônicos e outras coisas. Hoje eu nem preciso do tráfico, mas estou preso a ele. — Sinto a amargura na voz de Dom.
— Faz muitas festas aqui para os seus amigos? — Tento mudar de assunto para disfarçar, mas desconfio que essa não é a melhor opção.
— Não faço festas nas minhas propriedades, atrai muita atenção, geralmente fecho alguma boate — diz com certa impaciência, talvez prevendo a minha próxima pergunta.
— E mulheres? — Dom apenas move a cabeça em negativa. — E Suzanna? — Aperto mais o lençol em volta do meu corpo.
— Pega leve, Dalena... — Ele me sorri, divertindo-se com a minha insegurança disfarçada de curiosidade.
— Então trouxe? — insisto, levemente irritada.
Dom levanta da cama, deixando o lençol que cobria parte da sua nudez de lado. Nada nesse quarto ou nessa propriedade poderia ser mais interessante do que olhar para ele. É viciante me perder o observando, buscando descobrir mais um traço escondido do seu físico.
Se durante as vezes que tentou ficar nu para mim, eu evitei olhar, agora gostaria que ele não precisasse usar roupa quando estiver comigo. Quero guardar cada pedaço seu na memória com a maior nitidez que conseguir.
— Que tal a gente almoçar agora? — Ele me abraça, ignorando a minha cara emburrada.
— Tiquinho está aqui?
— Está cuidando de algumas coisas, ou eu não teria esse tempo com você.
— Problemas?
— Sempre.
Dom me olha esperando que isso não me traga mais perguntas, mas surge a necessidade de confirmar sobre meus episódios de sonambulismo ou o que quer que seja isso. Apesar da falta de tempo em pensar sobre o assunto, virou uma pulguinha atrás da minha orelha.
— Ontem quando dormimos juntos, eu fiz alguma coisa estranha de novo? — questiono preocupada.
— Fez.
— Sério? — fico assustada.
— Não transou comigo, isso é muito estranho.
— Idiota. — Bato no ombro de Dom.
— Isso foi um convite? Se me bater assim de novo, não posso deixar barato. — Dou um pequeno sorriso no canto dos lábios e mais um pequeno tapa em Dom, que passa a me guiar para a cama. — Então desconhece a palavra limites, não é? Acho que vou precisar te ensinar.
Dom puxa o meu lençol, e encolho o meu corpo me escondendo por trás dos meus braços, numa gargalhada que abre toda a minha boca. Nem me lembro quando eu tinha sorrido assim, na verdade, nem sei se eu sorri desse jeito alguma vez na vida por uma bobagem qualquer.
— Está tentando se esconder? — Ele puxa os meus braços e me agarra. — Nunca se esconda de mim, você é muito linda, posso cometer uma insanidade — fala, causando um frisson dentro de mim e me beija.
Meu corpo, prontamente, fica volátil. A pele de Dom tocando a minha é como fogo encostando na gasolina. É frustrante saber que não posso alimentar a vontade que me consome, pois preciso ir. Nem sei há quanto tempo estou aqui nesse quarto, e está estampado no rosto dele que me prenderia nessa cama duplamente feliz, se isso me impedir de ir ao jantar.
— Dom..., Dom... — chamo, tentando soltar a minha boca da dele. — Eu não tenho tempo.
— Podemos ser rápidos, tipo dois coelhos. — Aperta a minha bunda contra ele, e puta que pariu, eu queria me estrepar em cima dele de novo, como se o tempo que acabamos de passar na cama não tivesse sido nada.
— Não. — Minha boca é mais firme do que o resto de mim.
— Está bem — aceita e me solta aos poucos dos seus braços.
— Banho?
— Banho.
Ele me leva ao banheiro, que é um verdadeiro encanto. Repleto de plantas num espaço tomado por tons de madeira com uma decoração rústica refinada, apesar dos móveis robustos. Recuada numa espécie de jardim de inverno, uma banheira para dois feita em pedra de ardósia, tipo ofurô, é muito convidativa. Apesar de tentadora, não quero arriscar entrar lá com Dom ou não sairei para o meu compromisso.
O espaço da ducha é ainda mais recuado e possui uma claraboia, onde foi instalado um enorme chuveiro. Dom abre a válvula, a vazão de água somada a luz do dia que entra pelo quadrado protegido por uma janela de vidro no teto, forma uma junção perfeita, proporcionando uma maravilhosa sensação de liberdade, me fazendo fantasiar com uma forte chuva num dia ensolarado.
O banho é uma delícia!
Deve ser incrível morar nessa casa, deve ser um sonho morar com Dom...
Instantes depois, fecho a válvula da ducha encerrando o banho. Sou envolvida por trás em uma toalha felpuda que ele me trouxe. Voltamos para o quarto e nos vestimos trocando olhares, sorrisos, toques e beijos, como foi embaixo da água morna do chuveiro.
Almoçamos na cozinha em uma mesa rústica para prováveis dezesseis pessoas, no entanto só havíamos nós dois. A casa estava completamente vazia, parecia que seres mágicos tinham arrumado o lugar, feito a comida e desaparecido, desconfio que por exigência dele. Até que eu entendo a necessidade dessa privacidade, só achei que não estávamos sozinhos quando ele tentou abafar um grito meu. Fico curiosa para saber quem são as pessoas envolta do lugar.
— Tão silenciosa... — Dom observa. De fato, sou alguém bem tagarela
— Não costumo falar enquanto como — brinco.
— Então esse é o segredo? Cuidarei de manter sua boca ocupada o tempo todo.
— Isso é sobre eu falar muito, ou perguntar muito?
— Os dois.
— Por que a preocupação, tem tanta coisa assim a esconder? — provoco.
— Você não deixa passar nada? Está pensando em promotoria, delegada ou algo do tipo? Sei que logo estará formada.
— Não sei... Às vezes tenho a sensação que o meu futuro é agora, que não tem muito para mim nos anos seguintes. Eu caminhei até aqui, alcancei o que mais queria, independência. Agora, tudo se transformou no centro, como se a construção dessa ideia seja o que preciso para traçar novas rotas.
— Achei que fosse eu o que mais queria — brinca, e coloco a mão no seu rosto admirando-o.
— Você é um bônus da vida, mas ainda não tenho ideia do quanto vai me custar.
— Eu não vou deixar nada te acontecer, e seria até mais fácil se aceitasse a minha oferta do centro.
— Eu não quero o caminho fácil, quero um caminho sólido — esclareço. — Agora está na minha hora, a aula de tiros fica para outro dia.
— Vem dormir em casa?
— Não quero chegar tarde lá — admito a minha preocupação. — Vocês vão estar dormindo, vou acabar incomodando.
— Não vai. Pegue — Dom me entrega uma cópia da chave de sua casa em um chaveiro de salsicha que tira do bolso. — Não é de comer — alerta ao me ver encarar a salsicha sorridente.
— Piadista — digo um pouco emocionada e nostálgica.
— É bom avisar, vai que você não sabe, come e passa mal de novo — diz como se falasse sério, e reviro os meus olhos. — É só apresentar a identidade na portaria, e se quiser, pode cadastrar a sua digital, porque já te inclui como moradora. Tudo bem assim?
— Claro, faz sentido.
— Eu poderia te buscar, mas acho melhor não inflamar as coisas. Caso concorde, mando alguém — oferece.
— Não se preocupa, sobrevivi sem um pai até agora — ironizo ao levantar da mesa e dou um beijo em Dom.
— Você é muito bruta, sabia? Eu tenho sentimentos. — Finge uma cara de menor abandonado e puxa a minha cintura, fazendo com que me sente em seu colo. — Exijo uma compensação.
— Obrigada pelo almoço, amei conhecer a chácara e amei... você sabe. — Beijo rapidamente a sua boca para compensá-lo e me levanto num sobressalto.
— Isso não é uma compensação — reclama, enquanto me afasto sorrindo. — Não vai ficar assim, heim?!
Dom levanta, me alcança em alguns passos e joga o meu corpo em seu ombro direito, dando alguns tapas na minha bunda. Ele me leva até a porta do carro sob os meus protestos e pedidos para que me coloque no chão. Dá rápido sinal ao senhor que abriu o portão, fazendo-o largar o ciscador imediatamente e sumir atrás da casa.
— Aprenda, nada de resposta malcriada ou sair sem me dar um bom beijo — diz ao me soltar e me prensar na porta do meu carro.
Umas das suas mãos seguram firme a minha cintura, a outra a minha nuca. Dom me beija, friccionando a sua pélvis na minha. Sinto o seu desejo crescer, combinando perfeitamente com a sua boca ávida, deixando tudo em mim por um triz. Um triz de abandonar a minha vida para morar na cama dele.
Quando me solta estou completamente mole. Dom abre a porta, me senta no banco do motorista e engata o cinto de segurança, enquanto recupero as minhas forças. Recebo mais alguns beijos, é preciso uma energia sobrenatural para o empurrar. Quando o senhor passa na motoneta, fecho a porta do carro, depois deixo o dono do meu coração para trás, refletido no espelho do retrovisor.
Dirijo até a porteira como se estivesse indo embora de um sonho. Paro o carro na porteira para me apresentar ao senhor que já me aguardava passar, já que não tivemos muita oportunidade.
— Como é o seu nome?
— Washington — responde sorridente.
— Prazer, seu Washington. Sou Dalena.
— Ele já me disse quem é a senhora. — Ri encabulado.
— O que ele disse? — pergunto muito interessada em saber.
— Que a senhora é a minha patroa. — Agora sou eu que abro um sorriso ao abaixar a cabeça por um instante.
— Cuida daqui sozinho? — surge a curiosidade em mim.
— Não senhora... Minha esposa cuida da casa e meu menino corre por aí. A senhora não deve ter visto ele, mas é provável que ele tenha lhe visto. Só tem cinco anos, mas é danado e se esconde por todo canto. — Dou um pigarro ao imaginar que foi esse o motivo de Dom controlar os meus barulhos.
— Deve ser incrível morar aqui com uma família — comento afastando os meus pensamentos.
— Graças ao patrão que nos deu uma segunda chance — revela emocionado.
— Segunda chance, por quê? — Ele parece refletir por um tempo com certa hesitação. — Não precisa responder, eu pergunto muito mesmo. Preciso controlar a minha boca.
— Tudo bem, patroa, Não é segredo, o morro todo sabe...
Olho o jeito humilde do homem e imagino como deve ser difícil lidar com problemas que são de conhecimento de todos. Sem contar o fato de que as pessoas amam condenar com base em disse me disse. O ser humano sozinho, já pode ser cruel de várias formas, mas quando ele se une para semear o mal, fica insuperável.
— Mesmo assim, o senhor não é obrigado a reviver suas dores. Eu fui invasiva — reforço.
— De certa forma, é bom falar. Lembrar de onde vim e o que passamos, me faz valorizar o que temos. Cada dia é uma batalha, entende? — pergunta, e concordo. — Eu e minha esposa fomos usuários. Tínhamos tudo na vida e nós acabamos na droga. Quando o dinheiro faltava, a gente se prostituía para o dono da boca e ele liberava. Decidimos sair, mas o cara era um doente e foi atrás da minha mulher aproveitando que eu não estava por perto. Ela ficou dilacerada de tão violento que foi. O patrão tinha acabado de virar o dono do morro, eu fiz a queixa e ele matou o infeliz pessoalmente. Mas matou bem matado — conta ainda emocionado, demonstrando o quanto sentia que a justiça foi feita. — Foi assim que virei pai, e pedi que ele cuidasse da gente. Tenho mais dignidade aqui, do que tive em qualquer lugar.
Respiro fundo. Isso nunca acaba...
— Cada dia uma batalha, cada dia uma vitória? — perguntei, com um sorriso conformado no rosto.
— Isso mesmo — ele sorri, e vejo que não é tão velho quanto tinha pensado. É só alguém desgastado pelo abuso nas drogas.
— Obrigada por dividir sua história comigo, viu. — Estendo a minha mão da janela do carro e ele aperta.
— A senhora é gente boa mesmo.
— Às vezes... — reconheço, enquanto soltamos as mãos. Ele ri.
— Eu já tinha votado na senhora satisfeito, agora estou mais ainda — comenta.
— Quer dizer que você é meu eleitor? — pergunto surpresa.
— Só eu não, né?! Acho que se você não tivesse ganhado o patrão tinha morrido — revela, me deixando chocada. — Ele moveu céus e terras, quis garantir sua vitória, mas todo mundo já sabia que a senhora já tava eleita.
— Eu não sabia que ele fez isso... — digo a mim mesma, embora o caseiro pense que estou conversando com ele.
— Ué, teve até festa lá no descampado e nas boates. Apesar que ele comemorou sozinho com os seus santinhos espalhados pela casa. E o homem não bebeu pouco, viu. Eu vi a hora dele ir parar no hospital — fala, impressionado com sua lembrança.
— Nossa...
— Nossa mesmo — brinca ao ver que estou em choque. — Até agora eu pensava que a senhora estava combinada de aparecer aqui no dia para comemorar, mas tinha dado um bolo nele e por isso que bebeu daquele jeito — pondera, confuso. — A senhora nem sabia?
— Washington! — a voz de Dom pega nos dois de surpresa, nos assustando com a forma que soou dura. O caseiro me fita com os olhos esbugalhados e eu desço do carro.
— Obrigada por me ensinar o caminho de volta — despisto o assunto que conversamos, deixando o homem mais aliviado — Até outro dia, seu Washington!
— Não tem de quê. Até, patroa!
Dom está extremamente sério, o caseiro cruza o seu caminho desconfiado, sobe na motoneta e desaparece pelo caminho da chácara numa velocidade impressionante. Eu me encosto na lataria do carro, e ele me cerca com seus braços. Apesar de parecer aborrecido, o dono do morro não me bota medo, viro o rosto por um momento e beijo o seu pulso com carinho.
— Achei que estivesse com pressa...
— Estou, mas...
— Não resistiu.
— Não.
— Sabe que não ganhou por minha causa ou por causa do senador Otário, não é? Você foi a mais votada na cidade inteira — fala como se fizesse um pedido de desculpas ao mesmo tempo que tenta me consolar.
— Senador Otário? — Estreito os olhos para ele.
— Que foi, não gostou?
— É, eu não gostei — digo séria, e a mandíbula de Dom fica cerrada, desviando o olhar de mim. — Eu amei — anúncio por fim, me divertindo.
— Não brinca assim comigo. — Ele bufa um sorriso, enquanto sua testa encosta na minha.
— Precisa relaxar um pouco... — aviso, e Dom dá um longo suspiro. — Não fala nada com Washington, okay? — peço, apesar de soar mais como uma ordem.
— Pode deixar, eu não vou arrancar a cabeça desse X9, ou espremer as bolas dele — diz com naturalidade.
— Nem as outras coisas — tento garantir, achando a sua promessa estranha.
— Sim, senhora — brinca, parecendo insatisfeito. Ele se afasta e volta a me prender em seus braços — Não vai, Dalena — pede, me abraçando.
— Depois de descobrir que um eleitor fez de tudo para que eu ganhasse, quero me empenhar ainda mais — eu satirizo, com um olhar malicioso.
— Isso é jogo sujo — adverte, carinhosamente.
— Tudo nessa cidade é — afirmo, sem nenhuma dúvida do que estou falando. — Agora, eu preciso ir mesmo — aviso, abraçando a sua cintura.
— Então é bom que saia antes que eu decida não ser tão compreensivo e te prenda no meu quarto. Sabe que minha ficha criminal é extensa — diz com a voz calorosa em meu ouvido, deixando um rastro de beijos no meu pescoço.
— Garanto que quando eu chegar hoje, se estiver devidamente armado, eu me rendo fácil — brinco, e não sai tão sensual quanto eu gostaria, porque começamos a sorrir. Até que nos beijamos por um momento.
É tudo tão diferente e sincero com Dom. Parece que estou descobrindo um lado da vida que eu só via nos filmes. Como algo que é tão mostrado por todos os lados ainda pode ser tão único e individual? Nossa conexão é tão singular e, no momento, amo o fato de que estamos com o mesmo cheiro na pele do seu sabonete, ele não passou perfume depois do banho, como eu também não passei o meu.
— Sabe qual foi o maior motivo que me fez querer que você ganhasse? — pergunta, acariciando as maçãs do meu rosto.
— Qual? — Minhas sobrancelhas se franzem.
— Você não precisaria mais do dinheiro dele. Imagina o quanto eu fiquei confuso quando vi que não se separou e era aliada política do cara. Ele não era mais o seu cliente, Dalena. Há muito tempo não é — fala, deixando as palavras pesarem entre nós.
— Já conversamos isso — pontuo, incomodada.
— É, já conversamos. — Dom me encara sério.
— Acho que não confia em mim — avalio, desgostosa.
— Não sou eu que faço tantas perguntas... — desconversa.
— Hm — vocalizo com ironia. — Diz como se não houvesse tanto para saber,
— E do senador Otário não havia? — Volta a mesma questão.
— Eu já disse que ele era a merda de um cliente, além de Lourdes me mandar ficar longe dos negócios dele e sinceramente eu não me importava, como eu me importo com você — explico, enquanto os meus olhos se enchem d'água. A desconfiança dele me magoa.
— Porra, Dalena. — Dom parece emocionado também.
— Eu não sou uma sombra nos seus negócios, não seja uma sombra nos meus. Quem de nós dois corre mais riscos? Estou tão segura assim ao seu lado, vamos mesmo ser hipócritas a esse ponto? Não é justo que eu saiba do que se trata a sua vida, quando não tem como separar a nossa relação de tudo o que te envolve? — Elevo um pouco o tom.
— Shhhhh — vocaliza, enquanto me abraça, tentando me acalmar. — Não quero discutir desse jeito. Hum? Tá certo? — respiro fundo e tento me acalmar. Dom me beija, e facilmente consegue deixar o meu semblante tenso, relaxado.
— Certo. Não vamos discutir — concordo com a voz um pouco mansa.
— Me dá o celular que eu te dei. — Faço o que me pede, apesar de estranhar. Dom conecta o dispositivo no sistema de som do carro e escolhe uma música, que imediatamente começa a tocar. Reviro os meus olhos, e ele sorri sem se importar. — Vai logo, e não deixa nada te acontecer, ou fuzilo essa festa de merda.
— Não brinca com isso — advirto séria.
— Certo. Só vou brincar com o senador Otário. — Sacudo a cabeça em negativa e saio, depois de me despedir de Dom mais uma vez.
Acelero o Captur de volta para cidade, com os pensamentos completamente tomados por Dom, acompanhando a voz de Caetano Veloso cantarolando sozinho no sistema de som do carro e um sorriso apaixonado fica fixo no rosto, enquanto a letra da música conversa comigo.
Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho...
Ah, Dom... isso sim é jogo sujo.
|NOTA DA AUTORA|
Espero do fundo do meu coração que esteja curtindo cada capítulo. Hoje, completo mais um aninho de vida e mesmo o dia sendo corrido, consegui um tempinho para postar. Dia de aniversário parece que sempre é assim, um sopro, quando vimos, já passou.
Estou curtindo muito publicar essa obra para vocês, e nada mais especial que o meu aniversário cair justamente no dia que faço isso. Desejo ter essa experiência muitas outras vezes!!
Agora, já sabe, comente aqui suas impressões! Um Xero e até a próxima quarta! ✿◕‿◕✿
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