EPÍLOGO
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Dobro o jornal ao meio e me encosto na caixa de correio da entrada da chácara, que fica bem afastada da casa. Passeio os olhos pelo horizonte, com um campo repleto de árvores. Apesar do sol aberto, Trindad não é tão quente quanto Belo Rio, independentemente de ser verão, sem falar no nevoeiro que costuma aparecer pela manhã. O dia aqui dura mais. Às dezenove horas na minha antiga cidade já é noite, enquanto aqui, o sol ainda está se pondo.
A história por trás da notícia ainda me traz pesadelos. A arma mirando a minha cabeça, o som dos tiros explodindo os meus tímpanos, o medo... Muito medo antes de tudo ficar escuro e acordar confusa em uma espécie de bunker, em cima de uma cama, com um soro repleto de medicações sendo empurrado em minhas veias por um acesso. A sensação era de que morri, mas tive outra chance.
— Mamãe! Mamãe! Mamãe! — A voz do pequeno Dominic soa urgente, e acho engraçado ver as suas perninhas correndo até mim. Eu me ajoelho na grama e o recebo em meus braços. — A senhora é minha. Não é? Você é minha mamãe. — Seus olhos cinzas aguardam ávidos por minha resposta.
— Claro que sou... — respondo, sorridente, e beijo sua bochecha fofa.
— Não, ela é minha mamãe! — A voz de Dalena chama a nossa atenção por trás do irmão, quando o afasta para longe, enfiando os cacheados cabelos ruivos em meu peito, ao mesmo tempo em que seguro Dominic para que não caia.
— Eu também sou a sua mamãe, que confusão mais boba — repreendo os dois com carinho.
— Dominic disse que só ele é o seu filho, porque eu não sou como a senhora, só ele parece e eu pareço com o papai — Dalena explica, com os olhos azuis numa mistura de angústia e indignação.
— Sabe porque, mamãe? Ela quem começou dizendo que eu não tenho pai. Então eu disse que ela não tem mãe — Dominic se justifica, num dar de ombros.
— Pensei que os dois tinham mais o que fazer do que ficar brigando por bobagem — reclamo sem conseguir ser severa.
Como eu amo esses dois...
— Desculpa, mamãe. — Dominic me abraça.
— É, mamãe, desculpa. — Dalena abraça o irmão, e ficamos os três agarrados.
— Somos uma família, temos que permanecer unidos. Não façam mais isso, certo? — recomendo ao sentar na grama, e eles fazem o mesmo.
— Certo, mamãe... — Dalena assente. — A senhora, Dominic, o papai e eu.
— Exatamente. Somos quatro mosqueteiros. — Sorrio apertando os dois em meus braços.
— Então eu preciso estar presente, não é? — O dono do meu coração fala animado, se aproximando por trás de mim, abraçando nós três, ao mesmo tempo que nossos filhos gritam empolgados "sim, sim, sim", com suas vozes estridentes.
— Mamãe, não está faltando o tio Tiquinho? — Dominic pergunta, e fico feliz com a correção dele. Tiquinho é fundamental para a nossa família, se não tivesse nos salvado no dia que o pai de Pampa nos atacou, provavelmente não existiríamos.
— Sim, meu amor, tio Tiquinho é precioso para nós e faz parte da nossa família — concordo, enquanto Dante senta ao nosso lado.
Confesso que mesmo já tendo se passado anos da nossa fuga, ainda é estranho não o chamar de Dom publicamente, apesar de que ele já está a bastante tempo habituado a me chamar de Dona, o diminutivo de Donatela. Sem querer nos desligar completamente de quem éramos, acabamos batizando as crianças com nossos nomes. Não é muito inteligente para quem está em fuga, mas assumimos o risco.
Nossa vida tem sido outra desde que fugimos do Brasil para o Paraguai. No início, antes de nos estabelecermos em um lugar, eu vivia tensa, com medo de sermos levados pela polícia a qualquer momento. Dom já estava mais acostumado com uma vida errática. Ele, na verdade, estava mais leve e fazia o possível para me deixar confortável. Nunca fui tão mimada na minha vida.
— Está faltando a Branca, a nossa Arara Nina, as galinhas, nosso gatinho Jujuba, a tia Suzanna, a vovó Lourdes, a vovó Lena — Dalena complementa, afugentando os meus pensamentos.
— Sim, todas essas pessoas são nossa família, você está certa, meu amor. — Aperto as bochechas rechonchudas dela.
— Mamãe, por que nossa família toda só se reúne no nosso aniversário? — Dominic questiona.
— Por que todos moram em outro país — respondo afagando os cabelos deles.
— A gente não pode ir morar perto deles? — Dalena quer saber.
— Quem sabe um dia... — Dante responde por mim.
— A vovó Lena é legal, eu queria que ela morasse aqui — Dominic fala tristonho. — Eu acho que a vovó gosta muito do tio Tiquinho e ele gosta dela. Sempre que ele fica escondido na garagem é porque estão conversando. Eles ficam rindo feito bobos, igual como a senhora e o papai — observa.
— Nós rimos feito bobos? — Dante questiona, franzindo o cenho.
— O tempo todo — nosso pequeno filho confirma.
— É sim — Dalena reforça. — Eu também quero que a vovó more com a gente, o senhor pode pedir papai? É que todo mundo te obedece.
— É, mas ele só obedece a mamãe, sua burra — Dominic corrige grosseiramente a irmã.
— Não me chame de burra! — Dalena grita.
— Parem os dois — Dante manda e eles ficam em silêncio. — Peça desculpa, Dominic.
— Desculpa, Dalena.
— Eu não quero desculpar ele, papai. — Dalena olha zangada para Dom.
— Dalena... — chamo em tom de advertência, e ela me atende desculpando o irmão, com a voz praticamente inaudível.
— Vocês vão pedir para a vovó vir morar aqui? — pergunta, esperançosa.
— Um dia, quem sabe..., a vovó de vocês está melhorando de alguns problemas e precisa fazer um exame de consciência. Quando estiver bem, é uma possibilidade — explica Dante.
— O que é exame de consciência, papai? — Dominic questiona.
— Dalena, Dominic, os ovos estão chocando, venham ver! — Tiquinho chama de longe, em frente a casa da chácara, e as crianças correm em sua direção.
— Nossa, quantas perguntas! — Deixo o meu corpo cair na grama.
— Eles têm a quem puxar — Dom observa ao deitar ao meu lado. — Mais uma matéria da Henriqueta? — questiona ao ver o jornal ao meu lado.
— Ela nunca esquece de mim...
— Antônio Carlos também não, já que ele sempre te manda as reportagens.
— Acho que sente orgulho de como ela se tornou uma voz mais ativa no jornalismo de Belo Rio e gosta de dividir comigo. Como eles estão de casa nova, tem conversado com ele? — pergunto com carinho.
— Ele está bem psicologicamente para quem é casado com duas mulheres ao mesmo tempo.
— Não faça essas piadas horríveis. Ele teve muita sorte, as duas são incríveis.
— Verdade... Ele sempre me fala o quanto estão curtindo a gravidez de Henriqueta e a loucura que está sendo o primeiro mandato de vereadora da Potira. O marinheiro está com a vida agitada — conta com saudades do amigo.
— Está mesmo — concordo. — Potira soube usar o meu capital político e está arrebentando como vereadora, e graças às reportagens de Henriqueta sobre os conselhos tutelares, existe um olhar presente das secretarias sociais em cima das crianças que eles pegam das famílias problemáticas.
— É, mas é graças a você que os centros estão funcionando — fala orgulhoso.
— Digamos que Caveirinha e Suzanna são líderes de facções mais acessíveis — provoco. Ainda deitada na grama, viro o meu corpo para ele e apoio a cabeça em minha mão, a deixando elevada.
— Isso me magoa. Sabe que Suzanna pegou as coisas com outro andamento. Tudo preparado por mim — ele se defende. — Eu te pedi paciência.
— Eu sei, mas estava cansada de ter paciência. — Aproximo o meu rosto do dele.
— Vamos desviar o caminho da faculdade hoje?
— Eu sou uma mãe de família, Dom, não ando em motel.
— E eu sou um pai de família cheio de tesão numa mãe de família — rebate.
— Precisamos estudar. Que tipo de médicos seremos?
— Do tipo que nunca vai precisar trabalhar, porque temos alguns milhões à nossa disposição?
— Sabia que pessoas formadas têm direito a cela especial?
— Isso nunca vai acontecer. Suzanna tem a polícia na palma da mão. Ela vai ser a dona de Belo Rio e não só de Tia Ondina.
— Sabe que eu prefiro que se afaste disso de vez, não é?
Dom respira fundo. Ele evita me mostrar que ainda influencia o tráfico de Belo Rio através de Suzanna, mas entendo que é o conselheiro secreto da sua sucessora. Não foi fácil quando sumimos inesperadamente, muitas articulações foram feitas para disputar o comando com a Aeromoça. Mesmo assim, já se passaram longos anos, já podia ter se afastado de vez, até porque, ela sempre foi capaz de dar conta de tudo sozinha e também têm Antônio Carlos para montar estratégias.
— Como vou garantir que eu não seja preso? Sabe que crime de tráfico não prescreve, não é? Preciso aconselhar minha pupila.
— Há muito tempo ela não é sua pupila — retruco, emburrada.
— Voltando ao que importa — foge do assunto. — Luzia e Alessia logo vão começar em medicina. Pra quê tanto médico? — pergunta e reviro os meus olhos.
— Já entendi que você prefere ir para um motel do que estudar, Dom.
— Ah, não é isso... Sabe que preciso ver bem de perto como está a cicatriz do tiro em suas costas. — Ele coloca a mão por baixo da minha blusa em minhas costas, onde o disparo feito pelo pai de Pampa me atingiu.
— Não brinca com isso, nem gosto de lembrar — peço, olhando a cicatriz acima do seu peito e sentindo um arrepio.
— Jamais vou esquecer que você virou uma Tigresa. — Dom me beija rapidamente. — Meu coração parou de medo na mesma hora, mas eu sabia que você não iria morrer defendendo todos nós. — Uma lágrima rola em meu rosto.
— Por pouco seu coração não parou foi com uma bala — digo, preocupada. — Ah, Dom, tive tanto medo de te perder, de perder nossos filhos que eu ainda nem sabia que eram dois anjos. Só sabia que ele iria nos matar e eu precisava tentar qualquer coisa — relembro, emocionada.
— Foi muito arriscado.
— Eu sabia que você não daria o primeiro tiro, com medo dele me matar, mas ia garantir que ele não desse um segundo. O seu disparo acertou bem na cabeça daquele infeliz. A polícia só sabe que Silveira foi morto, porque tinha pedaços do cérebro misturados na poça de sangue, mesmo assim, não divulgam a informação — comento.
— Tudo aponta que ele nos atacou, a polícia quer enterrar o assunto. Um policial matando uma vereadora grávida? E a esposa dele já faz barulho o suficiente. Não pega bem para a corporação um oficial que vingou um filho como o Pampa e que violentava a esposa — avalia.
— Tem razão. É só um verme a menos no mundo.
— Por falar nisso, soube que o advogado de Otávio morreu.
— Teve alguma coisa a ver com isso?
— Não. Só queria esfregar os nossos filhos na cara dele para mostrar que o plano de Otavio foi perfeito para nós dois — conta sorrindo. — O idiota achava que você estava gravida dele, quando na verdade era só os efeitos por ter interrompido o anticoncepcional depois de tantos anos.
— Aí, nem me fala... Eu fiquei com amenorréia, e achei que realmente estava grávida dele, quando na verdade nunca estive — lembro, aliviada. — Nossos filhos foram feitos em cima de uma bancada, regado a chantilly e prosecco — digo, me divertindo.
— Nunca vou esquecer quando Dominic saiu de dentro de você, mas quando Dalena nasceu parecendo comigo, com os cabelos ruivinhos, eu... eu... — perde a fala, emocionado
— Você desmaiou — digo, sorridente.
— E você gritou assustando os médicos. — Caímos na gargalhada.
— Claro, eu não consegui fazer um ultrassom desde que ficamos de um lado para o outro fugindo. Como adivinharia que eram dois?
— Eu falei várias vezes que aquela barriga enorme deveria ter dois.
— Foi uma loucura ter saído pelo mundo grávida. Pulando de hotel em hotel, até chegar aqui. Mas eu faria tudo de novo — afirmo, convicta.
— Quando você enxergou que aquela era a nossa oportunidade de começar de novo, de deixar todos achando que estávamos mortos, eu me senti tão culpado por te tirar a sua vida como vereadora e futura advogada. Você tinha tudo — lamenta.
— Sabe muito bem que eu pagaria com a minha vida se fosse preciso para te tirar do tráfico e que nunca mais me veria se não deixasse tudo para trás — recordo a minha ameaça.
— Eu só aceitei por isso... Eles são inocentes, você é inocente... Criar nossos filhos fugindo por minha culpa — lamenta.
— Não é sua culpa. Prometemos que era um recomeço, lembra? — questiono, e ele assente. — Sabe que eu cheguei a conclusão que Otávio devia ser estéril? — mudo o assunto.
— Bom, graças a ele, eu tenho uma família perfeita.
— Seu bobo... — Dom me beija, ele ergue o olhar um pouco em direção a casa e congela os lábios sobre os meus.
— Eles estão vendo? — pergunto, preocupada.
— Eles sempre estão vendo — diz, angustiado e se afasta. — Como vamos dar irmãos a essas duas pimentinhas assim?
— Não delira! — digo entre risos.
— Somos muito bons fazendo filhos para ter só dois, precisamos de pelo menos dez.
— Está louco? — pergunto, engasgando.
— É, realmente vou precisar estudar medicina para descobrir como você pode me engravidar. Assim você aceitaria ter mais filhos?
— É uma possibilidade... Mas não sei se vou querer destruir os seus gominhos.
— Eu sou só um corpinho para você, não é? Sua safada.
— Não, não... Você é um pedaço de paraíso. Como se o sol e o céu tivessem te pintado... — digo, e Dom me aperta contra o seu corpo.
— Não diz isso, que eu não posso te agarrar aqui na frente das crianças — sussurra com a voz quente. — Eu te amo tanto que não sei como cabe tudo dentro de mim sem eu me partir ao meio...
— Para de falar essas coisas ou não vou conseguir esperar até a noite — peço, sentindo o desejo me sufocar.
— Por que esperar até a noite? Podemos ir tomar banho no rio.
— Eles vão querer ir.
— A gente diz que vai estudar anatomia e que é coisa de adulto. — Eu caio na gargalhada.
— Eu não faço mais essas coisas. Se ainda fizéssemos, é provável que seríamos presos e não por tráfico, mas por andar nos locais públicos transando feito dois loucos.
— Eu nem sabia que isso era crime, mas eu já sou um fora da lei mesmo.
— Ah, seu palhaço.
— Essa cidade é um deserto, ninguém vai ver. Você ficou muito responsável depois que virou mãe.
— Ainda bem, né?
— Eu já te disse que amo te beijar enquanto você geme o meu nome?
— Está jogando baixo... Mas só por curiosidade, prefere Dante ou Dom — brinco.
— Acabou de descobrir o conceito de "tanto faz". Eu só preciso muito sentir o seu corpo se contorcendo enquanto te beijo bem no meio das suas pernas, minha Dona — sussurra no meu ouvido.
— Não faz isso... — peço com a voz pesada.
— Estou ansioso para deslizar as mãos na sua pele macia, contornando as suas curvas perfeitas, enquanto te assisto rebolar no meu...
— Para — interrompo Dom, tampando a boca dele. — Eu já entendi... — Ele sorri se divertindo.
Ficamos sorrindo feito bobos por um momento, enquanto trocamos olhares apaixonados. O nosso amor é tudo o que os poetas descrevem em seus versos, tudo o que as músicas entoam nas canções. Nossos corações dançam em perfeita sintonia, como se fossem feitos um para o outro.
Os raios do sol penetravam as nuvens cheias, aquecendo nossa pele e pintando o céu de tons dourados, criando um cenário mágico para nós. Uma brisa suave carregava o aroma doce das flores silvestres à nossa volta. O som dos pássaros cantando e das folhas das árvores sussurrando ao vento criava uma trilha sonora natural para o nosso amor, testemunhado pelos campos verdes que se estendiam no horizonte.
— Sabe, você diz que o sol e o céu me pintaram. Eu diria que o próprio amor te pintou. A minha vida era uma caixa cinza antes de te encontrar naquele banheiro.
— Aí, Dom... — sussurro.
— Tentei tanto me controlar para não te corromper quando nos conhecemos, você era tão pura. Mas, no momento em que botei meus olhos em você, eu sabia que o destino tinha planejado nossa história desde sempre.
Eu ouço suas palavras com o coração acelerado, sinto cada uma delas como se fossem minhas. Não consigo conter a emoção quando Dom se aproxima de mim trazendo o calor do seu corpo. No instante em que me beija, é como se toda a minha vida tivesse mesmo me trazido para esse momento. Seus lábios sempre macios e ardentes, fazem com que me sinta completa e amada. Eu me entrego completamente a esse beijo, porque ele é o reflexo de tudo o que sentimos um pelo outro.
— Mamãe, papai, o que vocês estão fazendo? — Dalena pergunta curiosa, e nos afastamos desconcertados ao sermos surpreendidos por ela.
— Não tá vendo que estão namorando? Eca — Dominic responde, fingindo sentir nojo.
— Shhh... — ela pede com o dedo em riste sobre a boca. — Não seja bobo. — Revira os olhos e ficamos rindo do jeito dela. — Isso se chama amor, e o amor não é nojento, é lindo — suspira encantada, deitando entre nós, enquanto rimos.
Branca se aproxima e também enfia-se no meio, fazendo com que nos afastemos para abrir espaço. Dalena abraça a leoa. Dominic fica olhando por um instante, até que resolve se juntar, vendo que estava perdendo a festa. Todos passamos a olhar para o céu azul celeste, deitados na grama, formando um amontoado de pernas e braços.
Li em algum lugar que o sofrimento serve para sabermos o que é a felicidade. Isso é algo que não consigo entender, porque acredito que nascemos puros para a felicidade. Bem sei que o parto pode ser uma situação estressante, mas chegamos ao mundo cobertos de pureza e permanecemos assim até que a dor vai nos roubando essa graça, na medida em que ela vai surgindo ao longo da vida. Quanto às minhas tragédias, a única certeza que carrego é que se eu precisasse encará-las novamente para chegar até aqui, não pensaria duas vezes em reviver tudo.
Eu só gostaria de ter o poder de voltar no tempo e dizer para a garota que não conseguia imaginar um futuro, a Dalena do passado: "Aguenta firme, o seu coração vai virar três e a sua história terá um final feliz."
︻╦╤─ Fim.
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