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▓ CAPÍTULO ONZE ▓




No estacionamento do prédio onde moro, o Solar Elegance, vejo o Mercedes preto de Otávio ocupando a sua vaga. Estranho a presença dele, eu tinha certeza que, com o clima entre nós dois, daria um tempo até retomar nossa relação como se nada tivesse acontecido. Cruzo o saguão do prédio, adornado por suas ferragens douradas nas soleiras e um piso brilhante de mármore.

O beijo de Dom me tirou um pouco da realidade, mas a presença de Otávio me lembrou do que acabei de descobrir sobre ele em um lindo jantar no farol. A energia do senador anda tão indigesta para mim, que conseguiu estragar algo impossível de ser arruinado, mesmo estando à distância. Gostaria de ser alguém fria para ter aproveitado ao máximo cada segundo da noite.

Agora, não posso me distrair com Dom para não perder o meu foco, que é um só no momento: acabar com esse circo entre Otávio e eu de uma vez por todas. Ouvi muitas verdades dolorosas há pouco e não cheguei até aqui para ser enganada pelo senador como uma criança ingênua. Preciso manter o pulso firme mais do que nunca.

Aciono o botão do elevador privativo e começo a subir. Ainda estou me acostumando com essa ideia de que ele abre direto no meu apartamento. Parece coisa de filme de Hollywood. Acho tudo tão chique e inacessível, como se eu fosse uma celebridade ou algo do tipo, o que não é bem assim.

Depois de deslizar até a cobertura do prédio, o elevador abre suas elegantes portas revelando o interior do meu apartamento. De imediato eu me deparo com Otávio sentado sobre o suntuoso sofá da sala de estar. Tenho a impressão de que ele me aguarda com um humor claramente péssimo.

O senador dá um gole no copo de uísque que tem em sua mão e afaga a barba com um olhar frio. Em um súbito pensamento, ao lembrar do beijo em Dom, me coloco na defensiva. Não é possível que ele saiba sobre isso, a não ser que esteja me seguindo, o que não é algo completamente improvável de acontecer.

— Resolveu sair um pouco? — pergunta de um jeito sonso, querendo mascarar o seu provável descontentamento por não me encontrar esperando por ele quando chegou.

— Sim — respondo sem entrar em detalhes, parada na entrada da sala.

— Onde estava? — indaga, fazendo parecer que não se importa muito.

— Visitando o morro. — Opto por me aproximar da verdade.

— Encontrando?... — ele deixa a pergunta no ar para que eu complemente.

— Velhos amigos — respondo de forma desinteressada, como se não fosse grande coisa.

— Parece ter sido uma boa noite. — Reconheço um sarcasmo sutil na voz do senador.

— Esclarecedora, com certeza — rebato sem me afetar com o seu incômodo dissimulado.

— Sobre o quê? — Otávio dá outro gole no uísque, mantendo o jogo de morde e assopra camuflado por uma conversa cordial.

— O quanto realmente quero o centro — esclareço com um sentimento de liberdade se apossando de mim.

— E o quanto você quer realmente o centro? — Mesmo sem mover um músculo, percebo que Otávio está muito interessado em saber.

— Na mesma medida que não desejo mais ficar com você — respondo apática, mantendo o meu olhar fixo no seu. — A diferença é que o centro é inalcançável, já o fim entre nós dois é uma realidade.

É, senador, a hora da verdade chegou.

— Continua delirando. — Sacode a cabeça em negativa, parece que esse é o máximo em que vou conseguir atingi-lo. Otávio está inabalável.

— Quando abri meu coração para você, achei realmente que era capaz de me tratar de uma forma igual, o que claramente não aconteceu. Vejo que você me respeitou muito mais quando eu fui sua puta do que agora — desabafo, sentindo a mágoa crescer dentro de mim.

— Que loucura é essa? — ele se espanta de forma teatral, largando o copo de uísque na mesa de canto, ao lado do sofá.

— Já chega, Otávio! — digo entre os dentes, prevendo sua intenção. Não vou aceitar que ele distorça tudo novamente bem debaixo do meu nariz. — Para de me tratar como louca.

Perco completamente a paciência. O senador levanta do sofá, de um jeito ressentido com minhas palavras, e começa a andar de um lado para o outro, como se eu tivesse falado o maior dos absurdos. Ajeita a sua expressão contraída e se empertiga para falar com a voz mansa.

— Eu te dou tudo, rastejo aos teus pés para você casar comigo e vem me falar que não te respeito, Dalena? Como vou achar que não está criando fantasias se você me vê como um inimigo apenas porque eu quero construir uma família ao seu lado? — pontua, mantendo uma calma assustadora.

— Não faz isso, não distorce as minhas palavras para caber numa narrativa onde estou perdendo a grande oportunidade da minha vida — imploro, praticamente.

— Sabe o que passei o dia fazendo? — Inclino a minha cabeça e o encaro, realmente estava curiosa com sua pergunta. — Correndo atrás de realizar o seu sonho. Quem sabe se esse bendito centro sair, eu não esteja à altura de Vossa Majestade — ironiza em meia voz e fico surpresa.

É angustiante ver Otávio usar o meu sonho para me amaciar. Muito mais que isso, é até difícil acreditar que ele seja capaz de jogar tão baixo só para me prender em uma relação. Respiro fundo e cruzo os meus braços me mantendo próxima ao elevador. Parece que uma força me impede de entrar no apartamento, dando a sensação de que perto da saída, estou mais protegida.

— Ontem voltei cansado querendo dormir ao seu lado, mas você preferiu dormir jogada na varanda do que me dar a honra da sua companhia na nossa cama — explica com calma, e estreito os meus olhos. — E olha que eu estava desgastado ao máximo, mesmo assim passei em casa antes para tomar um banho e não chegar suado aqui.

— Sério? — Faço pouco caso. Otávio faz cara de ofendido.

A sala fica em silêncio enquanto ele anda novamente de um lado para o outro, como se estivesse tentando se acalmar. Ao perceber que não me comoveu, senta no sofá, que produz um leve rangido no tecido cedendo ao seu peso, apoia os braços nos joelhos e me encara com o olhar pesado.

— Nada que eu faço é suficiente. Temos uma casa com toda a nossa história dentro e você não quer voltar porque é opiniosa demais, enquanto preciso me manter de um lado para outro da cidade para sustentar a nossa relação — Otávio diz queixoso.

— Isso não será mais um problema, então — comunico, enquanto me esforço para não soar atrevida.

— Certo. Antes de me escorraçar da sua vida, só saiba que, vendo o seu desespero com relação ao centro, usei toda a minha influência para acelerar o processo de construção. Seria uma surpresa, mas como está acabando comigo, não poderia deixar de te dar essa notícia antes de ir embora — esclarece demonstrando um certo desgosto. As palavras de Otávio não me convencem.

— Sabe que uma mentira dessas não tem como se sustentar, não é? — Faço uma última tentativa dele ser sincero comigo.

— Espero realmente que não se arrependa quando ligar para o prefeito Valmir Mar na segunda. Depois da nossa reunião, ele disse que iria tirar uma folga ou eu mesmo ligaria na sua frente — diz inconformado com as minhas suspeitas. — Desejo que, quando tudo se confirmar, não lamente que eu não esteja mais aqui, pois não irei mais voltar quando passar por aquela porta — garante, apontando para entrada do apartamento. — Aliás, é visível que não tem mais nada para mim aqui, e sinceramente, eu não preciso me humilhar tanto para ter o seu amor.

Otávio está com um semblante sério. Enquanto estudo as suas palavras, ele se mantém firme. Visivelmente magoado, levanta do sofá e começa a caminhar na direção do elevador, enquanto algo se perturba em mim. Quando passa ao meu lado, seguro em seu braço o impedindo de continuar. Recebo um olhar rendido, em seguida, o senador me abraça apertado.

Uma infinidade de afirmações correm pela minha cabeça, umas atropelando as outras. Estou confusa e não sei se consigo acreditar em Otávio. Entre tudo o que foi dito, inclusive, depois do que Dom me alertou, se ele estiver falando a verdade será uma prova do quanto me valoriza.

O senador sempre me apoiou na política. Tornou possível a minha candidatura e a aprovação do meu projeto de Lei Orçamentária, sem contar que sempre se mostrou ao meu lado diante do prefeito. Não posso pensar o contrário, ele está mostrando o quanto está disposto a ser meu parceiro na transformação de Tia Ondina.

A ideia de que seja capaz de me abrir esses caminhos, fazem o meu coração derreter, eu me sinto grata por tudo o que tem feito por mim. Seguro o seu rosto e beijo carinhosamente sua boca, com um sorriso alegre em meus lábios. Otávio me aperta mais, passando a girar o meu corpo sem me soltar por um único instante. A felicidade toma conta de todos os cantos dentro de mim, pois o centro finalmente parece real.

— Quanto tempo para o centro ser concluído? — pergunto empolgada. Sinto os meus olhos brilharem, enquanto sustento um sorriso largo no rosto. Mal posso esperar para ver o resultado.

— Um ano e meio no máximo — garante com uma expressão séria e segura do que está dizendo. — Eu tenho pressa para ter você só para mim — Otávio reforça sua intenção de formalizar a nossa relação.

— Ai, Otávio... — Suspiro me divertindo com certa incredulidade.

— É sério. Já não me importa se o sorriso que está me dando agora é uma troca ou se estou pagando, aceito qualquer coisa, só exijo que comece os preparativos do casamento. Sabe que não quero casar apenas pela propaganda, não é possível que acredite nisso. Eu te amo, Dalena Rosa, e...

— Eu aceito! — anuncio de súbito parecendo um pouco fora de mim, interrompendo o seu discurso um pouco desesperado e pegando o senador de surpresa.

— Aceita? — desconfiado, ele pede uma confirmação.

— É. Aceito — confirmo minha decisão me sentindo um pouco atordoada com tudo, avaliando que os planos do senador têm um certo apelo, mas começo a pensar: Por que não? Se ele é capaz de abrir os caminhos certos para mim, por que não? Se estou envolvida há nove anos com ele por um prato de comida, por que não posso levar isso adiante para alcançar uma carreira política com um valor real?

Otávio parece receoso por um momento, no entanto, me coloca em seus braços e me gira novamente pela sala. Eu sinto um certo vácuo no meu ser, foi uma atitude calculista, mas continuo me perguntando: Por que não? Acabo de tomar uma decisão súbita ao aceitar o pedido de casamento de Otávio, embora eu não consiga negar que pode me trazer benefícios importantes na minha vida, coisas que eu não conseguiria tão facilmente sem a influência dele.

— Ah, Dalena, eu te amo! — declara em meu ouvido. — Espera — pede me colocando no chão rapidamente.

Saindo apressado da sala, ouço o bater dos seus tênis no piso até o quarto, onde surge o barulho de uma gaveta se abrindo. Imaginar o que estaria pegando, me faz fechar os olhos por um instante, enquanto tento me convencer de que estou tomando a decisão certa. Otávio volta com a mão fechada e um sorriso ainda maior no rosto.

— Me dê a sua mão — fala empolgado. — Não vou perguntar outra vez para não correr o risco de receber uma resposta diferente — diz ao se ajoelhar na minha frente.

O charme de Otávio é algo que muitas vezes me tira o fôlego. Ele possui traços marcantes com sobrancelhas grossas e lábios finos, responsáveis por dar um ar misterioso ao seu rosto. Seu cabelo um pouco grisalho e bem cuidado harmoniza com a palidez de sua pele, e sua barba cerrada completa o visual despojado de agora, mas sempre elegante.

O senador abre um pequeno porta-joias com um movimento suave e preciso, retirando o anel de compromisso com delicadeza. Sinto sua mão quente envolvendo a minha enquanto ele coloca o anel em meu dedo, um gesto que me faz sentir importante para ele.

O anel de noivado é uma verdadeira obra de arte, com uma pedra central impecável e um aro de ouro branco cravejado de brilhantes. Cada detalhe é meticulosamente trabalhado, desde as pequenas ranhuras que adornam o aro até a forma delicada da pedra que reflete a luz em um brilho hipnotizante. Ao sentir o peso do anel em meu dedo, sinto como se um pedaço do céu tivesse caído em minhas mãos.

— É lindo... — elogio o delicado brilhante, reluzindo numa lapidação completa.

— Você é linda! — Cola o corpo no meu ao levantar. Agarrado a minha cintura, Otávio me beija satisfeito.

— Ainda não consigo acreditar — confesso com certo incômodo, embora pensar no centro mantenha firme a minha decisão.

— Eu sou capaz de te dar qualquer coisa, basta desejar. Só quero que também realize os meus sonhos. — Ele me aperta em seus braços e sinto sua ereção por baixo da calça. — E no momento, meu maior sonho é um filho com o seu olhar, o seu sorriso e a sua teimosia.

Otávio engole a minha boca e permito que se afunde entre os meus lábios. Suas mãos quentes retiram a minha blusa e o meu top, deixando o meu busto nu. Em um ritmo afobado, ele beija os meus mamilos sugando cada um e reviro os meus olhos de desejo com a minha cabeça pendendo para as minhas costas.

Ao se afastar um pouco, desabotoa a minha calça apertada e desce ela até o chão, depois roça o seu rosto em minha intimidade por cima da calcinha, segurando a minha bunda. Gira o meu corpo para beijar cada um dos meus glúteos, tirando a minha calcinha com urgência.

Do chão, Otávio levanta ao me deixar devidamente despida. Recebo um abraço seu por trás, pressionando o seu membro em minha bunda. Suas mãos passeiam pelo meu corpo, fazendo carinhos na minha pele ou me apertando com vigor. Os toques dele me deixam instantaneamente arrepiada.

— Você agora é totalmente minha — sussurra com a voz rouca em meu ouvido, segurando um dos meus seios e o meu sexo.

Suas palavras me causam um estalo, aos poucos vou me distanciando daquele momento, voando em meus pensamentos para Dom. Cada toque de Otávio passa a ser comparado com o dele, da mesma forma acontece com o perfume, a textura dos lábios, o olhar e até mesmo a presença.

O conflito que se instala em mim se transforma em secura, minha pele esfria e passo a agir de forma mecânica. Otávio arruma o meu corpo no sofá, depois me fita por um instante, como se desse por si que estou alheia a ele. Fecho os meus olhos ao puxá-lo na minha direção. Tento disfarçar, interagindo com suas carícias, mesmo que não ache minha atuação conveniente, eu me esforço ao máximo.

Abro bem as minhas pernas, desejando que me penetre e acabe rapidamente. Apoio um pé no chão e o outro no encosto do sofá. Otávio abre um sorriso faceiro com o convite, encaixa o seu membro entre as minhas pernas, ajeitando-se sobre o meu corpo, no entanto tem dificuldade de continuar, percebendo que estou completamente seca.

— Vem... — convido num gemido e a estranheza que toma conta do rosto de Otávio se desfaz.

Observo indiretamente quando ele mela a ponta do seu sexo com a própria saliva e me penetra estimulando o meu clitóris. Completamente envergonhada com o meu fingimento, meu rosto fica tão vermelho quanto um tomate, mas continuo com a minha atuação fazendo caras e bocas para Otávio, que parece acreditar.

— Isso, meu amor... — Eu o estimulo. Percebo o senador querendo ir mais devagar e torno a provocar. — Não para, Otávio. Não para! — peço com a voz dengosa.

Sem querer dar chances para que o momento se prolongue, solto os gemidos mais altos que minhas cordas vocais são capazes de emitir.

— Mais forte, mais forte. Assim. — Vou regendo o sexo ao ver que quanto mais tesão provoco, mais perto estamos do fim. — Ai que gostoso... — sensualizo.

— Você deixando o meu pau louco, se acalma um pouco ou vou gozar muito rápido — avisa.

— Então vem, que quero sentir você pulsando dentro de mim — digo numa meia voz.

Otávio obedece e se deixa levar pela minha suposta necessidade urgente. Investe mais a sua rigidez contra o meu sexo de maneira fervorosa, numa expressão alucinada pelo provável prazer que meu fingimento o proporciona.

— Eu vou gozar... — anuncio completamente sem paciência de ficar ali, mas numa entonação de quem estava em êxtase.

— Vai, sua safada — pede com um sorriso fácil, enquanto se esforça fisicamente para manter o ritmo e me levar ao céu.

— Não para, seu gostoso — brinco voltando aos meus falsos gemidos, e Otávio se perde no próprio prazer.

— Porra, Dalena! Que boceta gostosa! — arfa chegando aos finalmentes.

Após soltar alguns urros enquanto ejacula diante do meu orgasmo fingido, Otávio desaba suado sobre mim. Agradeço em silêncio por ter acabado. Ele levanta o rosto um pouco para me olhar cheio de orgulho do seu desempenho. Eu forço uma expressão de satisfação e logo recebo um beijo empolgado na boca, que deixa uma sensação estranha e desconfortável percorrendo o meu ser.

— Preciso de um banho urgente, parece que você caprichou — digo para justificar sair debaixo dele.

— Já podia ser o nosso filho se você não tomasse anticoncepcional.

— Ah, por favor, não me lembre que uma criança vai sair dos seus testículos — imploro, tentando ignorar o comentário sobre filhos.

— Qual é o problema? Também vai passar pela sua vagina.

— Chega, Otávio! Sai de cima de mim. Que conversa estranha. Eu, hein.

— É a biologia, Dalena — brinca e levanta.

A irritação não é pelo assunto em si, mas a ideia de ser mãe de um filho dele, é algo que eu realmente rejeito. Por mais que uma relação com Dom seja uma ideia problemática, consigo imaginar nós dois juntos uma vida inteira, ao contrário do senador. Ele representa uma companhia, um caminho, um parceiro sexual e nada mais que isso.

Olho para a aliança em meu dedo me perguntando o que deu na minha cabeça.

Saio do sofá e caminho para o banheiro sendo seguida por Otávio, que se mantém grudado em mim. No banho, ele tenta fazer sexo novamente, mas me esquivo de todas as formas, como se estivéssemos em uma brincadeira. Por fim, falo que estou cansada, saindo antes dele.

Aproveitando o momento sozinha, enquanto ouço o chuveiro ser desligado, pego o smartphone que recebi de Dom, desligo e escondo rapidamente entre as minhas roupas. Percebo o senador vir na direção do closet e entrar bem a tempo de ser finalizada a minha operação. Agradeço ao universo por ele não ter notado que o aparelho era diferente do que me deu quando tirou a minha roupa.

— Que tal pedirmos algo para comer? Ou podemos sair para jantar e comemorar o nosso noivado. — oferece, vindo em minha direção, enrolado na toalha. — Está com fome?

— Eu comi uma fruta antes de sair, não estou com fome — minto, já que na verdade não quero que a noite se prolongue.

— Precisa se alimentar melhor, uma fruta não é suficiente para a última refeição do dia. Quando estiver grávida, não pode agir assim — diz ao afastar os meus cabelos para deixar beijos em meu pescoço. Isso me faz ter calafrios, embora devesse causar arrepios, e me vejo em sérios problemas.

— Otávio, acabamos de noivar. Pega leve — falo tentando não soar ríspida, enquanto a voz de Dom martela na minha mente: "Não tem que fazer nada para ser agradável."

— Tem razão. Ando te pressionando muito. — reconhece, e dou um longo suspiro ao pegar um pijama no closet, cansada da presença dele, sentindo cada vez mais o peso da minha atitude impensada.

Como Otávio consegue arrancar coisas de mim que no fundo eu não quero ou a única pessoa que devo culpar é a mim mesmo por ser tão idiota?

— Preciso me vestir. Estou realmente cansada, quero me deitar — aviso, para que ele se afaste, já que continua próximo a mim.

— Você está muito gostosa hoje, quero te comer de novo — fala me virando e apalpando os meus seios. — É só ficar deitadinha que faço tudo, o que acha? — Deixa a toalha cair no chão e me encosta na parede.

— Quero dormir, Otávio — murmuro com ele sugando o meu peito.

— Pode ser com você dormindo, não tem problema — sugere com a voz abafada sem largar o meu peito. A imagem dele fazendo algo comigo enquanto durmo, me deixou com uma cena perturbadora na cabeça.

— Que isso? — estranho com um sorriso incrédulo. — Que horror!

— Depois que aprendeu a dizer não, você está muito chata, sabia? — Continua com suas carícias indesejadas, ignorando a minha negativa.

— Para, dá um tempo... — peço em tom de reclamação. Ele se ajoelha, levanta a minha perna e chupa o meu clitóris. — Para, Otávio. Eu não quero — digo de maneira aborrecida.

Empurro com cuidado a sua cabeça e ele segura a minha mão com força enquanto insiste em me ignorar, fazendo um calor nervoso subir pelo meu corpo. O ato começa a se prolongar de forma insistente ao que tento desviar meu quadril, me deixando com as imagens do meu padrasto e de Coalhada em uma memória apavorante, intercalando em flashes com a visão do senador agarrado às minhas pernas.

— Para, porra! — grito, empurrando de vez a sua cabeça para longe de mim com a mão livre.

louca?! — Otávio berra ao cair de bunda quando se desequilibra e me encara furioso.

— Não force se eu disser que não quero, está entendendo? — pergunto com a voz dura e a sobrancelha arqueada.

Eu não quero.

Eu não quero.

Como se estivesse me desconhecendo, Otávio me avalia do mesmo jeito que ficou no dia que fui embora de vez da sua casa. Mantenho a minha postura, esperando ele confirmar que me compreende. Ao assentir com uma certa relutância, me retiro do closet levando as minhas roupas.

No quarto, enquanto me visto, olho para a espaçosa cama de casal me sentindo desconfortável por dormir ao lado dele nessa noite. Nossa relação parece um carro desgovernado descendo ladeira abaixo sem freio e a toda velocidade. Tento me animar novamente com as coisas que me disse sobre o centro, mas a verdade é que só desejo que Otávio vá embora, pelo menos por hoje.

Estendo a mão diante do meu rosto observando o anel reluzindo no meu dedo, amargando o arrependimento de ter dito "sim" tão prematuramente. Otávio parece ter o poder de me ludibriar, e quando dou por mim, já estou envolvida em alguma situação sem ter tido tempo de raciocinar da melhor maneira.

Ele sai do closet em silêncio, visivelmente aborrecido comigo. Com os pés descalços sobre o carpete macio, caminha até a cama. Ao deitar no lado esquerdo do colchão, vira-se de costas para mim, olhando para a janela francesa com uma vidraça em um tom bronze que dá acesso à varanda do quarto.

Repito os mesmos movimentos do meu agora noivo. Logo que estou debaixo das cobertas, tenho a impressão que às minhas costas está deitado alguém por quem estou nutrindo uma verdadeira repulsa. Com muita dificuldade, adormeço.

O dia amanhece e desperto com o meu corpo pesado, como se meus ossos fossem de chumbo. Otávio desperta ao mesmo tempo. Para evitar ter que olhar na cara dele, finjo que ainda estou dormindo. Sinto desgosto quando a sua mão toca em meu ombros, fazendo leves movimentos para me despertar.

— Acorda, dorminhoca — pede com a voz cheia da rouquidão da manhã. Novamente, ele finge que está tudo bem.

— Vou dormir um pouco mais — aviso com os olhos fechados, sou incapaz de encarar o senador nesse momento.

— Ainda está chateada por ontem? — pergunta de um jeito risonho, como se eu estivesse exagerando. Tenho certeza que ele sabe ser esse o motivo de me fazer querer ficar na cama, mas prefere se fazer de desentendido, como sempre.

Diante da minha falta de resposta Otávio toca em meu braço para chamar a minha atenção. Gostaria que não tivesse feito isso, pois concluo que não quero mais sentir suas mãos sobre mim.

— Acho que vou ficar doente, então preciso descansar. Só me deixa quietinha, por favor — peço sem conseguir esconder os meus reais sentimentos, pois meu tom transparece minha contrariedade. Ele percebe que estou o evitando, mas não insiste em ter uma conversa. Em vez disso, oferece ajuda como se acreditasse em mim.

— Quer ir ao médico? Quer um remédio? — Sua voz se mantém linear ao se mostrar solícito.

— Tenho tudo o que preciso, Otávio, mas obrigada por se preocupar — agradeço, tentando não soar irônica para não alimentar o nosso diálogo, só desejo encerrá-lo.

— Queria te levar para a fazenda hoje e chamar a minha família, que agora será sua também. Precisamos anunciar o noivado, só que estou vendo que não vai rolar — diz, mostrando que está desapontado, embora a sua intenção pareça querer me induzir a pensar que estou perdendo algo de muita importância. Eu só continuo sem olhar para ele.

— Vá passar o final de semana lá, tirar um tempo para você, assim que me sentir melhor, irei te encontrar — sugiro aproveitando a questão, torcendo que ele acate a ideia. — Também pode aproveitar para mandar os funcionários prepararem o lugar. Organizando com tempo, com certeza isso deixará a reunião mais sofisticada. Sua família é exigente.

— Tem razão, e talvez eu até aproveite para receber uns amigos — diz conformado. Eu pularia de alegria se não tivesse que fingir indisposição. — Vou te deixar descansando. Se precisar de mim, sabe que é só chamar que apareço.

— É, eu sei.

— Agora, preciso ir me arrumar para sair. Tudo bem?

— Claro, vai lá.

Otávio finalmente levanta da cama, se arruma, toma o café da manhã sem a minha companhia, volta ao quarto para se despedir e vai embora. Depois que me deixa sozinha, percebo que eu realmente não quero sair da cama. Não é apenas para evitar o senador ou me recusar a despertar para agir como se estivesse em um dia normal, é porque me sinto sem ânimo para a vida. Fiz sexo sem a menor vontade, fui ignorada quando não queria ser tocada, além de ter no meu dedo um anel que simboliza um compromisso ao qual rejeito.

A cena de Dom puxando o prato de risoto quando eu queria comer apenas para o agradar surge na memória, me trazendo uma pergunta: será que estou mentindo para mim mesma e o noivado foi acima de tudo para agradar Otávio? A pergunta me arrasta direto para uma crise existencial, parecendo um fantasma que arranha o chão com suas correntes apavorantes.

Obviamente, já fiz sexo com o senador sem a menor vontade, porém me esforçava para cumprir o meu trabalho, o que acabava não tendo um resultado tão negativo para mim. Eu não sei onde estava com a cabeça quando o deixei colocar esse anel no meu dedo e abri minhas pernas para satisfazê-lo. O que sei é que, no momento, me comparo com uma lata de lixo humano, que serve apenas para descarte orgânico.

Passo horas encarando o teto, buscando respostas para o motivo da minha existência. Eu não tenho origem, fui abandonada pela própria família e acabei me vendendo com o sonho de ser dona de si, mas só consegui uma sobrevida. Otávio me dá tudo, inclusive coisas que não pedi. Ele foi o único responsável por eu não ir parar na rua ou no crime, porque não existia outra saída para mim.

Será que não estou sendo ingrata com ele? Toda vez que nossas vontades se chocam, eu retorno para essa pergunta.

Fico o dia inteiro pelo apartamento remoendo os meus pensamentos. A ideia de subir em um altar consome a minha sanidade, mas, em contrapartida, a expectativa de ver o centro no morro funcionando é o maior significado que posso dar à minha existência. Eu sinto que é tudo o que eu quero.

︻╦╤─

A semana se inicia e estou uma morta-viva. Inclusive, faço uma alteração mental da observação de Lourdes sobre o apartamento, eu não moro em uma gaiola dourada, moro numa tumba dourada. Pensar nisso ressoa novamente em mim o alerta de que sou ingrata. É como se eu estivesse num looping de culpa e despertar, mas realmente, reclamar de uma boa vida, não parece algo justo.

Infelizmente, um apartamento luxuoso com móveis confortáveis, não consegue aliviar o vazio que toma conta de mim, principalmente sendo tomada pela sensação de que o lugar não me pertence. O meu quarto parece muito mais ter sido construído para uma princesa gigante, do que para um ser-humano como eu.

A cama é tão enorme que eu poderia rolar umas sete vezes por ela até chegar a borda, por isso os lençóis de algodão egípcio são feitos sob medida. Aqui deveria ser o único lugar em que me sinto segura o suficiente para me esconder do mundo, mas é onde me sinto mais perdida.

É bem cedo e mesmo em plena luz da manhã, os vidros de bronze que complementam as janelas, não trazem a claridade das onze horas, deixando a iluminação do quarto com uma aparência de fim de tarde.

O meu celular vibra mais uma vez sobre a madeira da mesa de cabeceira. Olho para a tela e vejo o nome de Íris piscando em vermelho. Ela provavelmente está me ligando para tratar de algum assunto importante da câmara. Mas hoje, eu só gostaria de ficar embaixo das cobertas, ignorando o mundo lá fora.

Levanto da cama e caminho até a janela, observando as ruas movimentadas lá embaixo, tentando me contagiar com a necessidade de correr com a vida, o que não acontece. O meu apartamento fica no centro da cidade, cercado por prédios espelhados e gente apressada, buscando resolver as próprias demandas.

A consciência fica mais pesada com a minha negligência, suspiro e resolvo atender a ligação de Íris. É hora de encarar pelo menos um pouco a minha responsabilidade.

— Bom dia, Íris — atendo a chamada, na décima tentativa da minha secretária de falar comigo nessa manhã, com a voz de quem está em seus últimos suspiros.

— Nossa... tudo bem? — pergunta preocupada com meu visível desânimo ao telefone, enquanto os meus olhos vagam pela cama bagunçada.

— Claro! — Tento passar a impressão que estou bem de uma forma mais enérgica, ao mesmo tempo que mantenho o celular contra a minha orelha. — Tem alguma notícia do centro? — Procuro saber para tentar confirmar o que Otávio me disse.

— As notícias que chegaram da prefeitura é que o projeto está a todo vapor — fala com a voz empolgada. — Isso não é incrível?

— Sim, isso é incrível — digo, tentando ser o mais positiva que consigo. Íris tem trabalhado duro ao meu lado, merece um pouco de animação, mas o máximo que sinto é o meu olho triste brilhar.

— Você ainda vem hoje? É que está praticamente no horário do almoço — pergunta, aflita.

— Então, eu sei que acabei atrasando tudo por não ter comparecido ao expediente, mas preciso urgente de um momento para resolver coisas pessoais. Suspenda a minha agenda pelos próximos dias e eu vou te atualizando — comunico, sabendo que ficarei em falta com a minha função, pois não tenho estrutura para trabalhar em nada. Tenho sorte por não precisar comparecer à faculdade, já que os horários de aula estão livres para a conclusão do TCC, e estou bem perto de concluí-lo.

— Espero que não seja nada grave. — Faz um momento de silêncio na linha. — Olha, sei que não somos amigas, mas admiro profundamente sua força de vontade em fazer um mandato de qualidade para a população, isso é raro e acaba sendo uma inspiração para mim. Então..., se precisar de alguma coisa, pode contar comigo, será uma honra poder ajudar. Não se preocupe em me incomodar, sei que não gosta de me delegar tarefas de cunho pessoal, só que não será problema algum.

— Obrigada, Íris. Se eu precisar, lembrarei — agradeço o carinho.

— É o mínimo que posso fazer por sua confiança em aceitar o pedido da Josy e me dar a vaga de assessora. Lembro bem quando a minha prima deu a notícia, quase nem acreditei. Meu curso de secretariado estava mofando numa caixa, agora está fazendo valer as aulas que tive que assistir e o dinheirinho dos meus pais — conta, animada.

— Você é uma excelente assistente, e saiba que estou muito satisfeita com o trabalho que tem feito — elogio com sinceridade.

— Muito obrigada, isso é muito importante para mim. Ah, mas na hora que precisar, não hesite em me chamar — reforça, risonha.

— Agradeço, Íris, tenha um bom dia. — Desligo e volto para a minha fossa.


|NOTA DA AUTORA|

Como diria Sócrates: "Eu só sei que nada sei."

Dalena desmiolou de vez ou está certa em buscar meios mais acessíveis para escalar na política e alcançar os seus projetos, por mais bem intencionados que seja?

A melhor pergunta: Otávio merece confiança?

O que acharam do capítulo de hoje, flores do meu jardim?

Até breve, melhor, até sexta com a continuação dos capítulos finais de Te Espero Nos Meus Sonhos. Xerooooo!!! ✿◕‿◕✿

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