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▓ CAPÍTULO OITO ▓




No visor do celular, vejo a hora marcar meia noite: já é o meu aniversário. Enquanto um frenesi percorre o meu corpo, observo as sombras dos móveis se movendo lentamente nas paredes do quarto. As luzes dos faróis dos veículos que transitam pela rua lá fora, projeta essas formas em movimento ao meu redor.

O ambiente está silencioso, aconchegante e confortável. A luz baixa da luminária traz um clima intimista para o espaço, e o cheiro suave do óleo essencial de lavanda que vem do difusor de aroma ao lado da cama tenta me acalmar. Apesar dos dilemas que tenho enfrentado ultimamente com meus sentimentos confusos, estou feliz por ter em minhas mãos o melhor presente que eu ganho todos os anos.

Sei que esse momento da minha vida é um novo começo, independentemente do que decidir em relação ao senador, apesar de desconhecer o que o futuro reserva para mim. A questão é que existe um pedaço no meu passado que amo visitar, e estou prestes a fazer isso.

Por agora, quero apenas saborear esse momento e reviver o gosto que tem um sentimento realmente bom, deixando todo o resto de lado. Da minha janela, posso ver a cidade com suas luzes e os sons solitários da vida noturna. Não há pressão, apenas melancolia que a madrugada é capaz de proporcionar.

Depois de tirar Otávio dos meus pensamentos, sento sobre a cama. Confortável, eu me preparo para abrir a revista que lia na adolescência e que fiz Dom aprender a gostar. A primeira vez que vi a mensagem dele na sessão do correio do leitor foi a sensação mais feliz da minha vida. Desde então, o meu aniversário tem um significado diferente, e sempre espero ansiosamente por essa data.

No almoxarifado, eu e Dom, tínhamos o costume de ler essa sessão para rir das mensagens hilárias que os leitores mandavam sobre as matérias da revista. Era um costume dos fãs da Supercurioso zombar do que quisessem nas cartas enviadas ou e-mails. Hoje, as pessoas riem dos comentários de publicações na internet como se tivesse descoberto o Brasil, mas é só uma evolução de um comportamento que sempre acompanhou o basileiro.

Encosto a capa da revista no meu nariz, passeando a ponta pelo título que diz "Os mistérios mais intrigantes do universo: o que ainda não sabemos sobre o cosmos?". Aspiro a fragrância da folha sedosa que me leva automaticamente para as lembranças que tenho com Dom no almoxarifado, antes de tudo acabar com tanta violência.

Uma lágrima escorre pelo meu rosto. Reviver um momento tão mágico para mim, ainda me traz os traumas que carrego até hoje. Busco me concentrar apenas nas boas recordações, o que não evita os calafrios na minha espinha, além de apertos em meu peito.

Forçando a minha memória, consigo sentir o cheiro da sala fechada do almoxarifado abarrotado de armários. Lembro de quando eu abraçava Dom sempre que ele chegava para me encontrar. Na sua presença, o ar era tomado pelo frescor que tinha em sua pele, como o de quem tinha acabado de sair do banho. Em um segundo eu era envolvida por um aroma cheio de energia com notas de sálvia, me fazendo ver cores vibrantes.

Abro a edição de junho da Supercurioso e folheio as páginas até o correio do leitor, notando que novamente a mensagem de Dom é destaque. Acaricio o papel e mordo o meu sorriso ao ler o seu nome em negrito e a piada dos "quase vinte e quatro anos", amo o humor atravessado dele.

Solto o meu corpo sobre o colchão caindo sobre ele, erguendo a revista diante dos meus olhos para apreciar melhor. Depois, eu rolo para o lado, ficando apoiada sobre os cotovelos, e me preparando para ler com um sorriso bobo no rosto e os olhos úmidos.  


Ao terminar de ler, eu sinto que ele é a minha única certeza. Não importa quantos anos se passem, nem as mudanças que acontecem na minha vida, a mensagem de Dom na revista sempre me traz a mesma sensação de que meu coração o pertence. É como se nada pudesse abalar a nossa conexão, o nosso segredo guardado há tantos anos.

Mesmo que a distância física ainda nos separe, ele está presente nos meus desejos mais sinceros, nos meus sonhos mais lindos. O seu gesto é muito mais do que um feliz aniversário, é a confirmação de que nossa parceria é eterna.

É o melhor presente que recebo todos os anos, porque nada se compara a saber que ele me carrega da mesma forma que eu o carrego. Não faço ideia de como Dom consegue ter a sua mensagem publicada na revista. Sempre acho que foi a última, mas há oito anos ela se repete para manter viva a nossa história.

Adormeço com a revista em cima do travesseiro ao lado do meu e acabo sonhando que estou andando de mãos dadas com Dom pelas ruas de Tia Ondina. Assim que acordo, releio a mensagem. Ao terminar, guardo carinhosamente junto das outras oito edições de junho.

Voltando para a vida real, me preparo para o meu dia com Otávio, enquanto respondo algumas mensagens de felicitações que recebo e atendo uma ligação animada de Lourdes para me parabenizar. Depois que ela desliga, passo a imaginar o passeio de balão.

Eu nunca tive a oportunidade de fazer um passeio de balão, mesmo assim, minha mente se enche de expectativa. Consigo visualizar com clareza as cenas de filmes e desenhos animados em que os personagens flutuam nas nuvens, observando as paisagens lá embaixo.

Deve ser uma sensação de liberdade incrível a de deixar para trás as preocupações e mergulhar no céu. Mal posso esperar por sentir a brisa fresca no meu rosto enquanto pairo suavemente acima do solo, apreciando a vista de um ângulo que poucos têm o privilégio de experimentar.

Íris, a minha assistente, que é prima de Josy, me telefona para organizar a minha agenda dos próximos dias. Numa coincidência incrível, assim que encerramos a ligação, a campainha do flat toca. Imediatamente, eu sei que é o Otávio, ele é o único que consegue acesso ao meu apartamento sem ser notificado. Novamente, sinto estranheza por ter a sua presença como algo bom.

— Bom dia! — digo empolgada ao encontrar o senador na porta, encostando a minha bagagem ao lado.

— Bom dia! — responde satisfeito por me encontrar de bom humor. — Que bom que a aniversariante está em clima de festa. Dormiu bem?

— Muito bem — respondo suspirando, ocultando a presença de Dom na minha cama e nos meus sonhos.

— Vem cá me dá um abraço. — Otávio puxa a minha mão, me aperta calorosamente em seus braços e damos um giro rápido, enquanto me parabeniza de um jeito carinhoso. — Ah, Dalena, estou muito feliz por ter aceitado ficar comigo no seu aniversário. Eu poderia te dar o céu, se me pedisse só por estarmos juntos hoje, sabia?

— Você não vai me dar o céu, mas vamos passear por ele. Isso já está de bom tamanho — brinco, e ele concorda satisfeito, até que finaliza o abraço deixando um beijo no meu rosto.

— Vamos? — Pega a minha mala no cantinho da soleira e traz para o corredor.

— Vamos! — Tranco a porta e saímos.

Ainda dentro do carro, ele fala com alguém em seu telefone e confirma que tudo está pronto para a nossa partida. Ao chegarmos ao local do aeroporto para voos exclusivos, Marlon, o motorista de Otávio, estaciona ao lado do jatinho em que vamos embarcar. Parece que o senador não economizou nesse passeio e me sinto lisonjeada, é a primeira vez que saímos com tanto luxo por minha vontade.

Assim que deixamos o carro, somos recebidos por um funcionário que nos leva até o jato alugado por Otávio. Ele abre a porta para nós e nos cumprimenta, desejando uma boa viagem. Ao entrar no avião, apesar de não ser a primeira vez que estive em uma aeronave como esta, ainda me surpreendo com a elegância do interior: poltronas de couro macio, luzes suaves com um design moderno e refinado.

Otávio me mostra meu assento ao lado da janela e, enquanto nos acomodamos, uma comissária de bordo oferece bebidas e petiscos. Durante o voo, aproveitamos para conversar, e o senador começa a fazer planos para os próximos dias. Ele fala empolgado de um itinerário completo com passeios em locais turísticos exclusivos e até uma visita a uma vinícola premiada, além do voo de balão.

— Eu não esperava ficar mais que dois dias, você fez planos para a semana inteira — observo quando o senador termina de me contar as suas ideias.

— Andei pesquisando. — Ele me lança um olhar mal intencionado.

— Sabe que não posso ficar tanto tempo, tenho os meus compromissos com a câmara. Era só um passeio de balão e duas noites, no máximo — alerto, preocupada.

— Eu me precipitei, desculpa — reconhece sem soar convincente. — Vamos ficar quantos dias puder.

— Otávio... — vocalizo o nome dele num certo tom de repreensão.

— É um momento para a gente se reencontrar, Dalena. Estamos há muitos dias morando longe. Você só trabalha, e quando nos encontramos, é naquele ovo que está morando...

— Otávio! — repreendo com um sorriso irônico e reviro os meus olhos. Ele expele o ar pelas narinas de uma vez.

— Está bem, vou parar por aqui. É que estou empolgado com a ideia de que vamos ficar juntos e confesso que minhas expectativas... — Ele corta a própria fala e continua: — Espero que duas noites sejam suficientes, então.

— Suficientes para quê? — Fico curiosa.

— Para você parar de me maltratar e voltar para casa — diz ao segurar a minha mão e apertá-la delicadamente.

— Não quero voltar para aquela casa — afirmo sem a menor dúvida.

— Eu compro outra — sentencia, me arrancando uma risada da sua ideia. — É sério. Não quero você morando naquele flat, o lugar é minúsculo. Devem ter construído pensando ser para um hamster.

— Parece que estou lidando com um magnata — brinco com a ostentação dele.

— Bem, eu sou um senador — ele dá de ombros e prefiro não comentar, lembrando dos alertas de Lourdes para não me meter na vida financeira de Otávio.

— Gosto de lugares pequenos — digo assistindo o jeito que se assombra com minhas palavras.

— Por que, se pode ter o que quiser? — pergunta, confuso.

— Você pode ter o que quiser, já eu gosto de gastar pouco. Lugares maiores, gastos maiores. — Talvez a coisa de lugares pequenos tenha a ver com o almoxarifado. Quando estou cansada do mundo, me tranco em algum lugar, procurando a mesma sensação de me afastar de tudo, mas nunca é igual.

— Discutiremos isso depois, até porque não será um gasto seu. — Balanço a cabeça em negativa e me recosto confortavelmente na poltrona ao recliná-la. — É estranho... — fala após um tempo.

— O quê?

Otávio também reclina a poltrona e deixa o olhar perdido no meu. Tenho uma ligeira ideia do que está pensando, melhor, do que está lembrando. Ele nunca perdeu a oportunidade de fazer sexo nas alturas, pelo menos não comigo. Confesso que foram bons momentos, mas acredito que isso foi somente uma provocação. O senador lembra bem que eu gosto, então finjo que não imagino sobre o que está falando para não dar o prazer dele saber que conseguiu o que queria.

O voo é suave e confortável, com uma vista panorâmica para as nuvens e o céu, através da pequena janela. Após umas quatro horas, pousamos em uma pista particular próxima ao nosso destino. Uma Land Rover já nos aguardava, Otávio havia organizado o aluguel deste veículo para nos levar ao hotel, onde passaríamos o final de semana. Como sempre, ele prefere carros mais altos a esportivos, um ponto em que sempre combinamos.

Saindo da capital Vista Grande, seguimos para o interior guiados pelo GPS em uma velocidade segura, o senador é um motorista prudente. Apesar da euforia tomar conta de mim por estar prestes a voar em um balão, eu fico incrivelmente relaxada quando as caixas de som do carro tocam a música La vie en rose da Édith Piaf. 

"Des yeux qui font baisser les miens,

un rire qui se perd sur sa bouche,

voilà le portrait sans retouche, 

de l'homme auquel j'appartiens."

Me perco na voz vintage da cantora que vibra romance, apesar de não compreender o que é dito na canção, enquanto admiro a paisagem na estrada que alterna entre fábricas, casas bucólicas e serras, com uma vasta vegetação. Ao final da canção, Otávio segura em minha mão e volto a olhar para ele, que fica radiante quando se torna a minha atenção.

Nunca foi algo desagradavel deixar os meus olhos explorarem Otávio; ele sempre tem muito charme a entregar, além de possuir uma presença que passa segurança. Cogitar aceitar ter um relacionamento real com ele, não era o plano, mas não é algo que sou mais completamente avessa. A grande questão entre nós dois, é que tenho sérias dúvidas que ele consiga me colocar ao seu lado como sua parceira e não alguém que depende dele.

— No que está pensando? — pergunta com o queixo apoiado no indicador e no polegar, enquanto o cotovelo descansa na porta.

— Em nós dois — confesso sem meias palavras.

— Eu gosto muito disso, porque tenho feito o mesmo o tempo todo. Só estou me segurando para não te bombardear com as minhas expectativas. Sei que já falei muito no avião, mas saiba que vou respeitar o seu espaço como prometi. Não é fácil, pois a minha vontade nesse exato momento é... — interrompe as palavras tentando controlar a própria língua ao que parece, ele tem feito isso bastante nas últimas horas.

— Sua vontade é... — confesso que estou curiosa em saber os desejos que estão consumindo Otávio.

— Encontrar um lugar na estrada para matar a saudade que eu de você, passear o meu nariz na sua pele todinha até sentir que seu perfume nunca mais vai sair de mim. Mas, como eu disse, vou esperar a magia acontecer no seu coração, pois te quero inteira — diz as últimas palavras num tom mais firme. — Chegamos na parada do almoço — avisa, encostando o carro no estacionamento de uma churrascaria.

O restaurante é um charme, com uma construção tipicamente holandesa e um ambiente mais aquecido do que o clima frio da região. Sentamos em uma mesa para dois ao lado de uma janela, fomos rapidamente atendidos e escolhemos a sugestão do chef. Não demorou para o nosso pedido chegar. O garçom nos serviu uma suculenta seleção de carnes nobres na churrascaria, acompanhada por um delicioso molho ao pesto de ervas finas e algumas guarnições.

— A vida aqui parece tão diferente, às vezes até penso que estou em outro país — digo, olhando a janela. — Os costumes, a paisagem, a comida, o clima.

— Melhor? — Otávio pergunta.

— Não, só diferente — respondo. — É bom poder conhecer um lugar diferente, mas também é bom voltar para a minha terra.

— Mesmo que não tenha contato com a sua família? — A voz dele soa cautelosa, embora seus olhos estejam bem atentos a mim, ansiando por minha resposta.

— Sabe que eu não tenho família. É só que a minha cidade tem gosto de casa, especialmente o morro — explico.

— Moraria no morro? — questionou surpreso. — Porque não alugou uma casa lá quando me deixou — diz em tom de curiosidade.

— Minha situação com a minha mãe nunca ficou resolvida.

— Poderia resolver, isso nem é tão difícil. Tenho certeza que ela ficará feliz em te ter de volta.

— Nunca partirá de mim a iniciativa. Parece que cada dia que vivi sem que ela me procurasse para dizer que deveria ter acreditado em mim, aumenta o meu ressentimento, então prefiro evitar a gente se esbarrar pelo morro — confesso. — Sem contar... — penso em Dom, no fundo eu sei que também preciso ficar distante dele para não cair em tentação.

— Sem contar o quê?

— Esquece, quero cuidar do morro, mas a uma distância segura para mim. — Encerro o assunto.

Terminamos o almoço e voltamos para a estrada, em duas horas chegamos a um charmoso complexo de chalés de luxo. O local é um verdadeiro oásis no meio da natureza, cercado por árvores majestosas que parecem tocar o céu. O ar fresco da floresta é uma delícia para respirar, e o som dos pássaros cantando é uma trilha sonora perfeita para a tranquilidade do lugar. Deixando o carro, nós dirigimos a recepção.

— Deseja incluir um pacote de beleza, senhora? — O recepcionista pergunta depois de encontrar a nossa reserva. — Temos os melhores hair styles e também excelentes profissionais para o cuidados de unhas e pés.

— Ah, seria uma boa... O esmalte nunca dura muito na minha unha. — Gosto da ideia de ter essa opção, caso eu precise.

— Não se atreva a aceitar. Você só quer ficar duas noites e ainda vou ter que dividir o seu tempo com uma equipe de beleza? Nem pensar... — Otávio interfere ao cochichar no meu ouvido antes que eu contrate o serviço e, por fim, me sorri de uma forma esquisita. — Você está perfeita, não precisa de nada disso — continua, quando olho confusa para ele, me incentivando a rejeitar a oferta.

— Não será necessário — dispenso o pacote.

— Que tal incluir uma tarifa de acesso para os serviços do nosso spa, então? — O recepcionista oferece outra opção e Otávio parece um pouco nervoso, mesmo sorridente.

— Escolhi aqui por conta do isolamento, e ele quer me empurrar serviços onde não vou ter oportunidade de ficarmos sozinhos? — cochicha novamente em meu ouvido com um jeito rude, disfarçado por uma voz aveludada, deixando o rapaz um pouco constrangido com a cena.

— Poderão usufruir de um momento relaxante a dois com a melhor equipe de massagem da região. — O rapaz complementa, parecendo tê-lo ouvido, e me sinto em meio a um bombardeio, pois os dois me olham esperando respostas.

— Diga que não quer — Otávio me orienta num sussurro e obedeço.

— Gostaríamos de uma estadia com mais privacidade — falo por fim, educadamente.

— Perdão, senhora. Irei avisar a nossa equipe que não desejam ser incomodados — diz o recepcionista, tentando se redimir.

— Agora estamos nos entendendo. — Otávio me dá um sorriso satisfeito e retribuo sem entender bem o que aconteceu, muito menos se estava se referindo a mim ou ao recepcionista.

Após concluirmos o check-in, fomos à nossa unidade. Fiquei maravilhada com a arquitetura acolhedora do chalé. O telhado possui uma inclinação acentuada em forma de "v", que se estendia majestosamente do chão até o teto, criando uma aparência impressionante. À frente, uma enorme parede de vidro fornecia uma vista espetacular e infinita da exuberante serra, me deixando sem palavras. No mezanino, encontro uma varanda que convida a apreciar a paisagem magnífica em um ambiente tranquilo e privado. Era um lugar que nos fazia sentir imediatamente em paz e inspirados pela beleza da natureza ao nosso redor.

A região é bastante fria e vim preparada, pois trouxe roupas quentes. No entanto, ao entrarmos no chalé, imediatamente fomos recepcionados com um ambiente aquecido por uma lareira na sala, acompanhado pela visão da madeira trepidando em uma bela chama. A sensação é de sair de um ar condicionado bem gelado e se deparar com um lugar aconchegante. Dando uma rápida olhada em volta, observo que os espaços ostentam um charme romântico e refinado.

— Gostou? — Otávio me pergunta, preocupado com a minha opinião, me deixando surpresa. Ele nunca perguntava o que eu achava de nada.

— É perfeito, obrigada por escolher algo tão a minha cara, sei que não é muito o seu perfil — respondo maravilhada com o lugar e recebo um sorriso largo dele.

— Não agradeça, sua felicidade é o único pagamento que eu quero. Afinal, pretendo tornar esses dias inesquecíveis para você — ele sorri, acariciando minha mão. — Quem sabe não repensa e ficamos algumas noites a mais. — Dou um longo suspiro em resposta.

Como um bom cavalheiro, Otávio me ajuda com a minha bagagem até o piso superior, onde deixa tudo em um quarto unicamente meu. Fico surpresa ao assistí-lo sair em seguida para a sua acomodação ao lado. Não sei exatamente o que eu esperava, mas confesso que me sinto decepcionada com a ideia de quartos separados. Esse autocontrole dele, está tirando a minha paz.

Procuro não pensar nessa questão e imediatamente foco na irresistível banheira isolada em uma espécie de sala de banho. Mesmo com uma vidraça no lugar da parede, ouso em ficar nua no ambiente, despreocupada em ser surpreendida por alguém, já que o chalé é bem isolado. Preparo a água morna com sais de lavanda, aproveitando a vista, deixando para desfazer as malas depois.

Assim que a banheira está cheia, toco a água com o meu pé na superfície coberta de espumas, notando que a temperatura está perfeita. Mergulho o meu corpo por um tempo, recuperando as energias para o passeio de balão. Apesar de ter viajado em um aeronave privada, trafegar de avião é exaustivo, sem contar as duas horas dentro de um carro que também me deixaram moída.

Tomar banho praticamente abraçada pela floresta é extremamente prazeroso. A sensação de proteção contra qualquer animal silvestre que a vidraça oferece é reconfortante, mesmo que haja o receio de ver alguém passar do outro lado. Depois de alguns minutos, percebo que contemplar aquela imensidão verde sozinha logo perde a graça e me deixa entediada. Fico imaginando o que Otávio estaria fazendo e por que ele ainda não me procurou.

Após terminar o banho, saio da banheira e me enrolo em um roupão. Estava prestes a pegar uma roupa para me vestir, mas decido desfilar pelo chalé sem usar nada por baixo. Quero dificultar as coisas para Otávio. Ao atravessar a soleira do meu quarto, já o encontro no corredor, pronto para descer as escadas.

— Está precisando de alguma coisa? Posso pegar para você — oferece, enquanto os seus olhos parecem tentar ver por baixo do roupão.

— Água, por gentileza — peço. Ele assente e desce as escadas até a cozinha.

Vendo que o deixei curioso, dou um sorriso confiante e vou para o quarto continuar o meu jogo. Visto a minha lingerie sem pressa, deixando tempo o suficiente para que ele entre e ainda me encontre praticamente sem roupa. Testar os limites de Otávio vai contra os meus interesses de uma separação definitiva, porém é algo que está me divertindo como nunca antes.

— Entre! — digo ao ouvi-lo na porta.

O senador abre e tenta agir com normalidade, enquanto escolho um suéter na mala. Ele me entrega o copo com água, mantendo seus olhos fixos nos meus. Disfarço minha intenção numa expressão de desentendida para não me entregar, embora esteja óbvio que Otávio saiba se tratar de uma armadilha.

Dou três pequenos goles na água e coloco o copo em cima do aparador ao meu lado. Ficamos nos encarando, tentando provar um para o outro o próprio ponto de vista. Em contrapartida, nossos corpos pareciam implorar para uma trégua. Falando por mim, posso dizer que já não suporto tanta abstinência. Eu me enganei ao supor que Otávio seria descartado com mais facilidade. Ele armar esse cenário que transpira romance, torna tudo infinitamente difícil.

— Vou esperar lá embaixo — avisa, deslizando o polegar propositalmente em meu braço, deixando a minha pele arrepiada.

— Se não quiser ficar sozinho, pode sentar na cama. Eu não vou demorar a me vestir — falo, dando às costas e sentido a minha bunda torturando Otávio conforme me distancio.

— Seu convite é perfeito, mas, por hora, digamos que sou obrigado a ficar na companhia de um bom vinho. — Um sorriso vitorioso se abre em sua boca e ele sai, enquanto o assisto ir embora tentando não perder o controle e implorar para que fique.

Apesar de querer tirar a roupa para Otávio e o deixar esgotar o meu desejo, a exigência que ele fez ainda é mais do que estou disposta a dar. É como se nosso envolvimento tivesse dado uma guinada e agora sou eu quem tem que arcar com algo mais valioso do que dinheiro para ter acesso ao corpo dele.

Visto um jeans, uma bota caramelo bem macia e um suéter vermelho, e depois enrolo um cachecol xadrez em meu pescoço. Desço as escadas e encontro o senador encarando o fogo com uma taça com vinho tinto nas mãos, só percebendo a minha presença quando me aproximo mais. Recebo um olhar deslumbrado, apesar de que estou usando uma roupa comum.

— Me acompanha? — Otávio estende a mão, oferecendo o vinho. Eu pego a taça e dou um pequeno gole.

O sabor do vinho se espalha na minha boca, enquanto o álcool parece revestir as paredes do meu estômago depois de escorregar pela minha garganta. Devolvo a taça e Otávio a coloca em uma mesinha de madeira rústica de canto. Ele levanta do sofá e vem em minha direção, parecendo tão vulnerável ao mesmo tempo em que se mostra firme em sua missão de me conquistar.

Gradualmente, venho me sentindo em uma posição de igualdade, o que ameniza as minhas suspeitas e receio sobre nossa possível relação. Antes, eu estava definitivamente à mercê de atendê-lo como uma prestadora de serviço e um cliente, do qual eu dependia completamente. Agora, Otávio se esforça para mudar isso.

— Você está linda — elogia, segurando em minha mão.

— Obrigada — agradeço envaidecida. Gosto da roupa que estou usando, apesar de ser básica.

— Eu só desci porque estava muito difícil não te agarrar — confessa, e eu seguro um sorriso ao prender meus lábios na boca.

Otávio se aproxima um pouco mais, o suficiente para me deixar prendendo a respiração. Seus olhos me encaram intensamente, como se tentassem ler meus pensamentos. Meu corpo reage instintivamente à sua presença, mesmo que minha mente tente resistir. É uma luta interna entre os desejos do meu corpo e da minha alma, uma batalha que se torna cada vez mais difícil de vencer a cada segundo que passo na sua presença.

— Sempre soube que não seria fácil manter minhas calças fechadas perto de você quando propus o novo acordo, só não contava que fosse jogar tão sujo. — Minha cara de culpada é impagável. Ele sorri e aproxima a boca na lateral do meu rosto, sabendo que falar em minha orelha é um dos pontos fracos que tenho. — Está ciente que isso abre precedentes para que eu faça o mesmo, não é? — Sua voz quente ecoa no meu ouvido e se espalha em minha pele deixando um arrepio delicioso.

"Justo" é a palavra que me ocorre. A cada toque, a cada olhar, em cada palavra que acabou de ser sussurrada ao meu ouvido, minha resistência diminui e o desejo cresce. Meus sentimentos estão confusos e misturados, enquanto meu ser tenta prevalecer sobre as vontades da minha carne. É um dilema que me consome e me faz questionar as minhas escolhas de uma vida e decisões que tomei há muito tempo. O que Otávio tem a me oferecer, o que pode me ajudar a alcançar, o homem com quem tenho contado há nove anos e a sua companhia. Tudo isso pesa sobre mim.

Otávio se afasta, deixando a sensação de que talvez não serei capaz de resistir até o final do dia. Se ele demorasse mais alguns instantes, eu pularia em seus braços para saciar o desejo agonizante entre as minhas pernas. Engulo em seco lembrando o que está em jogo. Começo a ficar realmente preocupada com o risco de jogar para o alto o meu plano de ser independente por uma vida a dois.

Saímos para o local onde aconteceria o passeio de balão e nosso foco agora estava completamente na expectativa de viver essa experiência. Durante o trajeto, o senador se mostrava apreensivo de voar em um cesto de vime. Eu tentei tranquilizá-lo, mostrando que os riscos são mínimos, até ele ficar mais confortável. Quando chegamos ao campo aberto, nos deparamos com alguns balões flutuando pelo céu, em uma cena apaixonante.

Otávio optou por um voo privado. Depois de entrarmos no cesto de vime e do fechamento da pequena porta, o balão começa a ganhar altura. Aos poucos, sinto o chão se distanciando e olhar para baixo vai se tornando mais emocionante. O senador volta a não ter muita confiança no que estamos fazendo, apesar de ter azucrinado o balonista sobre as probabilidades de algo dar errado, mesmo assim vejo seus olhos brilharem.

O balão desliza suavemente pela paisagem, acompanhando a velocidade do vento, e a sensação de flutuar no ar é indescritível. O sol dourado ilumina o céu e transforma a paisagem em uma pintura aquarelada. O balonista simpático nos serve uma taça de prosecco e brindamos pelo meu aniversário, enquanto saboreamos a bebida e apreciamos a vista. Apesar do furor inicial e do frio na barriga, me pego vivendo uma experiência serena.

O campo abaixo de nós é um tapete verde salpicado de árvores e um lago azul claro no meio. Otávio está ao meu lado, sendo uma companhia agradável e divertida, procurando se comportar como um amigo apaixonado, ao invés de amante. Com a magia do momento, fica difícil não enxergar ele por um ângulo que jamais considerei.

Fascinados com paisagem e o momento, até esquecemos da presença do balonista. Em meio a paisagem, meu olhar repousa no sorriso do senador, e percebo que estou lhe proporcionando uma experiência, quando ele quem sempre me proporciona.

Estranhamente, minha barriga se aperta no instante em que ele devolve o olhar. A minha respiração parece sumir por um momento, meu cenho se franze ao ver que nos aproximamos mutuamente e estamos a um pequeno espaço de nos beijar. A decisão está em minhas mãos. Contrariando a minha ideia de que eu resistiria fácil, deslizo a minha língua para dentro da boca de Otávio assim que nossos lábios se encontram. De imediato, eu só pude pensar no quanto isso é bom.

Logo algo começa a martelar na minha cabeça, me condenando por ceder a ele, me acusando de ser fácil. Justificativas tentam abafar esse pensamento, apontando o quanto confio nele. Eu me seguro no quanto sei que Otávio me respeita apesar daquele tapa, além de ser encantador ver a sua vontade de conquistar meu coração.

— Do que mais eu preciso? — pergunto em voz alta a mim mesma quando o beijo é interrompido.

— Basta me dizer que te dou o que quiser — Otávio responde. — Quer voar em um foguete, quer flores, quer minha fidelidade, meu coração, minha alma? Eu te dou tudo, Dalena Rosa — diz ao agarrar a minha nuca e por fim, me beija novamente.

Saímos do balão enfeitiçados um no outro. No carro, nossas mãos não paravam de se procurar e, ao chegarmos no chalé, batemos a porta devagar atrás dos nossos corpos grudados. Andamos abraçados pela sala, controlando o tempo para fazer aquele momento durar. Lá fora, o céu ainda se mantinha um pouco claro, já que a noite demorava a chegar na região.

Otávio senta no sofá e me puxa para o seu colo. Eu me sento sobre suas pernas, de frente para ele e repouso a minha testa na sua. Deixo a minha mão se embrenhar nos seus cabelos, massageando a sua nuca. Sua boca procura a minha e nos beijamos, sufocando a nossa respiração com a intensidade com que nossos lábios se consomem.

— Por que, Dalena? É outra troca ou é mais que isso? — pergunta ofegante, procurando os meus olhos, ao soltar meus lábios por um instante. — Eu estou te comprando outra vez?

— Não... — arfo com minha pele em chamas. — Águas passadas não movem moinhos. — Minha voz soa reflexiva, apesar de ser um sussurro. — Estamos recomeçando. Pronto para ter um relacionamento comigo, senador?

A boca de Otávio fica entreaberta, como se apenas o seu nariz não fosse o suficiente para ele respirar.

— Sempre estou pronto para você. — Engole em seco e me lança um olhar desafiador.

Ele solta o meu cachecol sem pressa, tira o meu suéter e agarra os meus seios enchendo a sua mão. Depois, beija a borda do sutiã bem devagar, deixando os seus dedos explorarem por baixo da renda. Sinto como se essa fosse a nossa segunda primeira vez

Eu me levanto e aos poucos vamos jogando as nossas roupas pelo tapete felpudo, até ficarmos completamente nus. Não sabia o que esperar com essa nova fase para nós dois, mas instantaneamente, evito encarar o seu corpo da cintura para baixo, ainda não consigo enxergar ele completamente, como se meus olhos travassem ao tentar olhar para baixo.

O fogo dança dentro da chaminé envolvendo a madeira e sugando toda a sua umidade, até deixar ela virar cinzas. Em pé, assisto alguns pássaros procurarem por abrigo envolvida pelo corpo de Otávio, apoiando as minhas costas em seu peito, enquanto os seus dedos me penetram e seus dentes mordem suavemente a carne do meu pescoço.

Ao tirar os dedos de dentro de mim, os chupa e me beija com os lábios em brasa ao puxar firme o meu maxilar para alcançar a minha boca. Quando me viro para ele, sou encostada na vidraça da sala. Minha perna é levantada para Otávio se encaixar entre as minhas coxas. Ele me penetra, aumentando o ardor quente em minha intimidade. Apoiada em seus ombros, assisto a sua ânsia saciar a minha repetidas vezes, deslizando em um movimento de vai e vem.

O meu corpo contra o vidro, experimenta o toque da sua superfície estática e fria, enquanto me agarro à inquietude de Otávio sobre mim. A penetração vai se tornando mais úmida e ardente, deixando o cansaço desta posição ser algo irrelevante diante da urgência do nosso prazer.

Quando já não suporto mais me manter em uma perna, apesar de me apoiar em Otávio, desço-a de volta ao chão e guio o senador até o tapete, onde ele deita. Monto em seu membro ouvindo ele sussurrar em agonia "você é minha cadelinha". Não é a primeira vez que o senador me diz algo assim. Apesar de não gostar, eu simplesmente ignoro.

Rebolo o meu quadril inclinando a minha cabeça para trás, sentindo suas mãos apertarem as minhas coxas. O senador levanta o seu tronco abraçando as minhas costas, acompanhando os meus gemidos que vibram as minhas cordas vocais. Tudo em mim se desliga, como se o prazer fosse um espírito que se apossasse de mim.

Geralmente, Otávio que guia o nosso sexo, mas naquela ocasião eu também controlava a direção do nosso prazer. Pensando sobre a minha ousadia, observo que é a primeira vez que não tem apenas a mecânica, tem algo a mais entre nós. Ele conseguiu, ele me conquistou e sentia isso através de cada onda de prazer pulsando em minha intimidade ou gemendo na minha voz.

— Eu te amo, Dalena Rosa. — Se declara e beija o meu queixo. Procuro a sua boca e engulo as palavras que se repetem sobre os meus lábios, e as guardo em algum lugar do meu peito. Eu estou me permitindo sentir a felicidade de ser amada, até então, eu não sabia o que era isso.

Acompanhando o meu orgasmo, Otávio goza dentro de mim ao mesmo tempo que movimento o meu corpo suado e arfante sobre o dele. Esperando acalmar os espasmos dos nossos órgãos, nos beijamos apaixonados sem pressa de acabar, como o fogo da lareira fazendo a madeira lentamente virar cinzas.

|NOTA DA AUTORA|

É, eu sei que agora tem gente querendo me matar e outros suspirando...

É a vida. Dalena decidiu se aventurar pelo que é real para ela, felizmente ou infelizmente. Dom será sempre isso, um passado presente e Otávio algo certo e consistente? Leia os próximos capítulos e descubra se a vida de nosso protagonista é um caminho de pedras ou de flores.

Antes de ir, me conta o que pensei.

Até sexta com mais de Te Espero Nos Meus Sonhos, o negócio por lá está uma vida cor de rosa como diz a bela canção da Édith, mas será que vai continuar assim? Um xero, flores do meu jardim  ✿◕‿◕✿

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