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Passos

Sinto falta de dançar. Eu acredito que as pessoas nascem com dons, talentos que desenvolvem com o tempo, mas dançar não é o meu talento. É a minha paz, meu refúgio. 

Eu me lembro da primeira música que dancei. Eu tinha seis anos, basicamente eu era apenas parte do cenário (como veio a acontecer muitas outras vezes pela vida), mas de todas as minhas lembranças daquela época, essa é uma das poucas que não está manchada de tristeza ou decepção. As pessoas às vezes se esquecem que garotas de seis anos já podem conhecer o sabor da infelicidade e isso torna pior, o mundo ignorando a sua própria degradação. Mas, daquela primeira vez que dancei, eu aprendi um caminho, um meio de lidar com tudo isso.

E é assim que eu lidava com a vida: dançando. Eu tenho hoje calos permanentes nos pés, não é nada bonito, mas isso nunca importou. Eu dancei doente, com pés e pernas doloridos. Eu dancei e dancei. Os aplausos, toda a arte envolvida nisso, nunca importou realmente. O fato é que sempre que eu inventava cada passo eu expressava o que se passava no meu coração. Eu já dancei com a raiva, com a tristeza, com a alegria, mas, principalmente, dancei com o amor, e isso é imprescindível.

Sempre foi um compromisso que eu nunca negligenciei, mas faz algum tempo que os dias engoliram minhas prioridades. E isso é o ruim na arte, fique um tempo sem praticar que, mesmo a pessoa que tenha milhões de coisas para expressar, notará uma regressão na base na qual deveria trabalhar. Acredito que a arte tem sim um lado emocional, mas a falta de disciplina pode levá-la ao esquecimento. Eu não quero esquecer dos meus propósitos, mas, em alguns momentos, é o caminho mais fácil, mais simples. 

Eu não sou uma bailarina, uma dançarina, uma artista. Eu sou os passos que me levam a cada caminho. Eu sou o movimento das mãos quando elas transmitem um carinho. Eu sou o rodopio desta nossa terra nos levando lentamente a extinção. Eu sou a dança que vivo, mas morro lentamente a cada passo que negligencio. 

Sinto falta das minhas sapatilhas.


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