8° Capítulo
Natália Alves
A palavra mudança significava coisas ruins para ela e se acordar cedo em um lugar diferente não era costume de Natália.
Ela se espreguiçou ainda deitada e tirou o lençol da cabeça.Natália olhou ao redor do quarto procurando por Carla, mas não havia sinal dela. Olhou para sua cama que estava um pouco bagunçada indicando que ela havia dormido lá.
O quarto de Carla era grande.Tinha duas camas, um guarda roupa, banheiro grande, uma penteadeira e as paredes eram lilás.Tudo parecia estar em seu devido lugar.Aquele quarto não se parecia com Natália e por isso ela teve vontade de mudá-lo um pouco.
A cama que Natália estava tinha um colchão menos confortável e isso fez as costas dela ficarem doloridas. Natália se perguntava mentalmente o porque daquele quarto ter duas camas se só havia uma pessoa,mas decidiu não perguntar nada para Victor.Ela havia pegado no sono rapidamente na noite anterior.
Suas duas malas estavam intactas perto de sua cama, uma dúvida que a incomodava era se teria mesmo que dividir o guarda roupa com Carla e elas não haviam trocado nenhuma palavra desde que sua mãe concordou delas dividirem o quarto.Ela não tinha dúvidas de que sua mãe ficaria do lado de seu novo namorado.
Ela se levantou se sentindo um pouco livre por estar sozinha.Abriu a mala pequena, pegou uma blusa e um short e se vestiu.Saiu do quarto e encontrou a casa vazia.Foi até a cozinha observando cada detalhe daquela casa e escutou a voz de sua mãe.Eliane vinha andando com Victor e eles se sentaram no sofá.
- Ah está aqui parece um sonho-ela disse e Natália quase podia ver seus olhos brilharem.
Ela balançou a cabeça ao ouvir isso e continuou calada somente escutando a conversa deles.
- Chamei vocês para virem morar aqui pensando no melhor para todos nós- sorriu- Estamos juntos e conseguimos nos conhecer.
- Sim, mas teve vezes que eu pensei que nosso namoro seria a distância e isso me fazia desacreditar...
- Desacreditar?-perguntou surpreso- Eu nunca duvidei de que um dia nos conheceríamos.
- Que pena que nossas filhas não se deram bem-disse com voz triste.
- Mas elas vão se entender meu amor e...
Natália suspirou e resolveu ir até eles.
- Nunca-gritou e assustou o casal. Ela sorriu com a reação deles- Podem ir desistindo de esperar que eu e aquela patricinha sejamos amigas um dia.
- Filha-sua mãe gritou-Isso é jeito de chegar? Você estava escutando nossa conversa?
- Nem vem com esse negócio de filha, Eliane-levantou a mão- Então eu não vou ficar aqui olhando para cara de vocês.
Natália pegou o celular com os fones e abriu a porta. Colocou uma música para tocar e os dois fones no ouvido.
- Mas para onde você vai?- ela se levantou.
- Não venha bancar a mãe preocupada ok?-sorriu forçado- Isso não combina com você não, Eliane.
- Você nem conhece nada aqui e me preocupo com você-ela cruzou os braços parecendo chateada.
- Vou fingir que acredito-acenou para eles- Me deixa em paz, Eliane, e vai cuidar da sua vidinha perfeita beleza?-aumentou o volume da música.
Saiu e deixou a porta se fechar sozinha. Respirou fundo olhando ao redor. Percebeu que havia um casal se beijando vizinho a casa deles, deu de ombros e começou a andar. Ela não conhecia mesmo nada ali, mas estava querendo se divertir um pouco sem ter que ver sua mãe, o namorado dela e muito menos sua nova irmã.
Atravessou a rua distraída com os pensamentos de procurar algo para fazer que ocupasse seu dia. Qualquer coisa seria melhor que estar naquela casa. Ela gostava de quebrar regras e não se importava se agora estava morando em outro lugar. Esse era o seu jeito de se sentir livre e de escapar da realidade na qual ela vivia, mas muitas coisas que fazia também eram para chamar atenção.
Natália sabia que sua mãe era falsa com esse jeito de querer a proteger. Era tudo fingimento dela. Atravessava a rua tranquilamente, pois não havia visto nenhum carro ou qualquer outro veículo. Pensou em seu pai enquanto escutava uma música que lhe era especial e enquanto as lembranças vinham como uma enxurrada ela sentiu algo forte a atingindo em cheio. Natália caiu no chão sentindo uma dor no braço e o celular caiu um pouco longe dela.
A jovem só percebeu o que tinha acontecido quando já estava no chão. Havia sido atropelada. Seu pé começou a doer um pouco, mas seu braço doía por ela ter relado o cotovelo e por ter caído por cima dele. De repente percebeu várias pessoas vindo para a socorrer e sentiu dor de cabeça.
Olhou para as pessoas e alguns perguntavam onde doía, diziam para ela ficar quieta, perguntavam onde morava e diziam que iriam chamar a ambulância. Ela ficou meio tonta com tantas vozes.Tentou se levantar,mas não conseguiu. Depois ouviu uma voz diferente que parecia estar por perto e era de um garoto. Um garoto alto apareceu e afastou a multidão de pessoas.
- Saiam de cima dela-ele gritou parecendo preocupado- Ela precisa respirar um pouco.
Ele se abaixou perto dela, colocou seu braço por trás de seu pescoço e a ajudou. Conseguiu se levantar um pouco. Seus olhares se cruzaram, eles ficaram se olhando por um tempo e uma covinha surgiu em sua bochecha direita quando ele sorriu para ela. O garoto era branco, cabelo preto e olhos pretos.
- Você está bem?-perguntou a olhando -Fica assim e não se mexe.
- Eu...-engoliu em seco e piscou os olhos- Acho que relei meu cotovelo.
- Você mora por aqui?-indagou, mas antes dela responder Eliane e Victor apareceram correndo indo até onde eles estavam.
Victor levantou Natália do chão e a segurou por trás.
- Vamos agora pro pronto socorro- ele disse decidido.
- Não é preciso ok?-ela apertou os olhos- Apenas relei meu cotovelo e não foi nada grave-fitou o garoto.
- Como não foi grave?-Eliane pegou na cabeça- Você foi atropelada- gritou com voz de drama.
Ele levou-a até a sua casa e Eliane foi atrás. A deitou no sofá com cuidado e foi procurar remédios na cozinha. Natália então sentiu falta de algo.
- Meu celular- disse se dando conta de que não estava com ela- Deve ter caído no chão. Que droga.
- Deixa eu ver essas reladuras- Victor apareceu com uma caixa de remédios.
Ele viu que o cotovelo também estava bastante vermelho e cuidou dela. Natália se surpreendeu com o jeito habilidoso dele e acabou pensando em seu pai novamente. O jeito de Victor a ajudar parecia um pouco com ele. Balançou a cabeça para afastar tais pensamentos.
Victor não tinha nada a ver com seu pai e ela nunca o veria como o substituto dele. A jovem permaneceu séria apenas o observando. Ouviram umas batidas na porta, Eliane correu e abriu.
- Parece que esse celular é da sua filha- ela ouviu a voz do garoto.
- É sim-disse sua mãe-Eu vou entregar para ela.
- Então eu peço desculpas pelo que aconteceu. Não vi ela atravessando a rua...
Pareceu que ele ficou sem ter o que falar. Ela não conseguiu escutar direito a conversa deles, mas antes de Eliane fechar a porta escutou seu nome.
- Natália-sua mãe sussurrou e ela sabia que havia sido para o garoto.
Entrou segurando o celular e colocou em cima de uma mesinha de vidro.Ela se levantou com cuidado e o pegou rapidamente.
- Eu estou bem agora graças aos cuidados desse médico-disse irônica se referindo a Victor- Vou para o quarto.
Saiu andando devagar por causa da perna que ainda doía um pouco por ela ter caído de mal jeito. Eliane fez jeito de ir atrás dela, mas Victor segurou sua mão e a impediu.
Natália deitou em sua cama e olhou para o teto lembrando do acidente. Sabia que tinha sido atropelada por uma bicicleta que parecia vim em alta velocidade. O irresponsável da bicicleta se mostrou ser um garoto preocupado, educado e tinha um jeito típico de garotos que faziam sucesso em qualquer lugar que chegassem. Ela não gostava de pessooas assim.
Bufou irritada chegando a conclusão de que não deveria ter pisado os pés na rua naquele dia. Sua manhã tinha começado mal e era somente quarta feira. Preferiu culpar sua mãe por ter a obrigado a fazer essa viagem para o Rio de Janeiro. Já estava sentindo falta de seus amigos de Fortaleza.Nada poderia ser mais como antes e lá no fundo a jovem sabia disso.
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