39º Capítulo (Parte 2: Érica tem um novo plano)
Érica Sousa
[18:30]
Júnior: "Tudo certo para hoje? Resolve as coisas por aí logo, tá? Porque saio de casa cedo e vou logo te pegar. Beijos minha linda."
O celular de Érica vibrou em cima da sapateira a despertando do seu cochilo. Ela havia pegado no sono. Acordou, coçou os olhos, suspirou e criou coragem para se levantar aos poucos.
Ela tinha se deitado na cama para pensar um pouco e acabou dormindo sem nem se quer perceber. Pensou que tinha dormido, porque estava meio cansada de tanto pensar.
Pensava em um jeito de fazer as pazes com Natália. A amizade das duas não podia acabar de uma hora para outra. Teve uma noite ruim na quarta, pois teve muitas surpresas.
A discussão dos pais, Júnior a levando para praia, a sua surpresa ao ver o seu ex-namorado tão perto outra vez, as coisas que sentiu ao vê-lo, a vontade de o beijar, o susto ao perceber que o rapaz de cabelo platinado era Paulo, seu ex, a vontade que teve de ajudar o irmão de Paulo para o bebê não ser atropelado, a volta de Suelen, sua ex sogra. Tudo na mesma noite.
E na manhã de quinta-feira ainda teve momentos ruins com a amiga. Ela se desentendeu com Natália, porque a menina ficou a provocando querendo saber do seu encontro com Júnior e a palavra Encontro fez Érica ficar chateada.
Acabou lembrando da conversa com Paulo e depois lembrou das tentativas de Júnior ao tentar ficar com ela.
Por isso ficou chateada com a pergunta da amiga,pois misturou uma coisa com a outra. Não estava pronta para lidar com encontros, paqueras, troca de olhares, namoro.
Havia decidido isso a muitos anos.
Depois de ter o coração partido por seu ex namorado. Pegou o celular enquanto continuava meio sonolenta. Viu que tinha uma mensagem nova e percebeu que era de Júnior.
Rapidamente se despertou, olhou em volta para bagunça no quarto, suspirou e bateu a mão na testa três vezes.
Havia se esquecido de Júnior. Passou tanto tempo pensando em um jeito para fazer as pazes com Natália e esqueceu dele.
Continuou batendo a mão na testa se culpando por ter se distraído tanto. Era só um passo em falso e pronto. Seu plano ia por água abaixo.
Não podia falhar no seu plano. Já tinha enganado os pais tantas vezes. Dizia que ia dormir na casa de uma amiga, mas era mentira.
Ela mentia para sair de casa e ir para festas com os amigos. Ruth, mãe de Daniel, desconfiava dela e dessas saídas.
Um dia Ruth estava de olho nela e a surpreendeu quando começou a falar sobre conselhos e família. Ruth a aconselhou que ela não ficasse se aproveitando da inocência da mãe dela, porque isso era feio.
Ainda a aconselhou para parar com as mentiras e aproveitar mais momentos com os pais. Érica odiava quando Ruth vinha com sua lição de moral.
Os conselhos, a voz doce que ela fazia para começar a aconselhar.
A voz doce de Ruth a irritava as vezes. Para a menina ela queria sempre ser quem não era e se forçava para parecer ser uma boa mãe para Daniel.
Nunca levava para vida os conselhos de Ruth. Achava que o melhor no momento era aproveitar a vida ao lado de seus amigos e deixava os pais sempre em último lugar. Só queria saber de curtição.
Não queria dar atenção aos pais. Preferia aproveitar bastante sua juventude e deixava a vida adulta para depois.
Leu a mensagem de Júnior e revirou os olhos ao ler o final da mensagem. "Beijos minha linda." Ele escreveu e ela sabia que havia sido para provocá-la. Resolveu não mandar outra mensagem e ficou o ignorando.
Escutou risadas vindo da sala e balançou a cabeça. Daniela, sua mãe, e Ruth estavam na sala conversando. Daniela e Ruth eram amigas a muito tempo e também eram vizinhas.
Queriam que os filhos fossem mais próximos,mas não tinham conseguido muito sucesso. As vezes Ruth fazia um almoço especial em casa e chamava a amiga, Daniela, para almoçarem em um domingo.
Os três costumavam ir almoçar na casa da vizinha. Sempre ficava um clima meio estranho entre Daniel e a rockeira. Ela lembrou da festa de Davi.
A festa que movimentou a escola. Os alunos não paravam de falar dessa festa. A maioria dos alunos novos marcaram presença na casa de Davi.
Tinha uns alunos que estavam com raiva do garoto, porque ele não os convidou. Porém, o popular não se importava. Queria receber as pessoas certas na sua casa e os penetras não iam entrar. Ele foi claro quanto a isso.
A festa prometia e os alunos se empolgavam ainda mais. Érica não podia perder essa oportunidade. Começou a arrumar logo seu quarto enquanto pensava em um jeito para convencer sua mãe a deixá-la ir para casa da tal amiga.
Érica precisava ir para essa festa de qualquer jeito então teve a ideia de não contar a verdade para seus pais.
Teve a ideia de mentir para eles e inventou que uma amiga a chamou para ir a um aniversário e depois ficar na casa dela, porque iam voltar tarde do aniversário e era perigoso ela ir para casa sozinha.
Ela também mentiu ainda mais e disse que o nome da amiga era Natália. Só para tentar convencer sua mãe a deixá-la ir.
Daniela e Henrique não confiavam muito na filha. Por ela ter aprontado muito desde a adolescência e estava um pouco calma nos últimos dias, mas sua calma era porque não tinha mais amizade com seus antigos amigos da escola integral e estava sem companhia para sair.
A jovem não gostava de ser caseira e aproveitava os convites dos amigos para sair de casa.
Nos últimos dias teve que se contentar com a companhia dela mesma. Até que Natália apareceu em sua vida e se identificou com a menina.
Se sentia pronta para nova fase da sua vida e a nova fase incluía diversão. A jovem sabia o que os pais pensavam dela. Eles nunca iam deixar ela ir para baladas ou shows. Por isso precisou ter uma ideia para um novo plano.
Precisou mentir e inventar o convite da tal amiga para ir dormir na casa dela. Porém, não tinha convite nenhum.
Era só para escapar e ir para festa. E com esse plano ela ainda precisou pedir ajuda para Júnior Fernandes.
Engoliu as provocações do garoto, o seu jeito convencido, sua insistência chata de ir até o fim para conseguir o que quer, engoliu as várias vezes que ele tentou a conquistar.
Passou a borracha em cima dessas coisas dele e o pediu ajuda.
Eles estavam tentando manter um clima agradável, porque tinham feito uma trégua no dia que ele a ajudou a se livrar de Ícaro e Otávio. E nesse momento precisava de ajuda novamente.
Ela não sabia como chegar a casa de Davi então mandou mensagem para seu colega e o pedir para a levar até o destino desejado. O garoto concordou de a ajudar.
Ele prometeu levá-la até a festa e ia a pegar de noite na moto. Haviam trocado mensagens na manhã.
Ela arrumou seu cabelo com mechas azuis e roxas e saiu do quarto. Ruth a encarou séria quando ela chegou na sala. Não entendeu bem o jeito da vizinha por ter a encarado assim. Ficou desconfiada, mas não mostrou sua desconfiança.
Continuou com a sua pose de sempre. A pose de "não estou nem aí" e com a cara de pronta para se defender.
Limpou a garganta, cruzou os braços e começou a assobiar olhando para o lado.
Como quem não quer nada. Daniela olhou para trás, pois estava sentada no sofá ao lado da amiga e as duas foram interrompidas pela jovem.
- Ah filha. Chegou na hora certa. Ruth já estava indo embora- sua mãe disse sorrindo e chamou a jovem para perto delas- Ela queria dizer tchau para você.
- Rutinha, não precisava se preocupar em se despedir de mim. Nem dar tempo de sentir sua falta, né? Mora vizinho a gente e parece que não tem nada para fazer em casa, porque vive aqui.
Continuou sorrindo de braços cruzados.
- O que é isso filha? Que modos são esses?- sua mãe a interrompeu e se levantou rapidamente- Que falta de educação. Peça desculpas para Ruth.
- Não precisa se preocupar, Daniela- a mulher de cabelo preto continuou encarando a jovem. Ela não mostrava nenhuma reação no rosto- A gente quer tão bem a você, mas só levamos patadas no final, Érica.
- Mãe, a senhora vai me deixar ir para o aniversário da minha amiga? O aniversário vai terminar meio tarde. Posso ir, né?-ela perguntou ignorando Ruth.
- Queria tanto confiar em você filha, mas suas atitudes não ajudam- Daniela suspirou e olhou para a amiga se sentindo envergonhada- Deve desculpas a ela. Estou esperando.
- Desculpas por falar a verdade? Não posso mais ser sincera?- perguntou rindo e continuou longe das duas- Só quero saber se estou liberada para ir dormir fora.
- Se continuar com esse tipo de comportamento então nunca mais vai sair. Vai ficar é de castigo- falou bem irritada e com voz autoritária.
- Que saco. É cada uma- resmungou e revirou os olhos- Desculpa por ter falado a verdade. Eu fui sincera, mas falei de um jeito agressivo, Rutinha. Espero que a senhora me perdoe.
- Você é uma jovem tão bonita, cheia de vida, inteligente. Eu tenho pena de você sabia? Tem tanta atitude e não sabe como usá-la do jeito certo- se aproximou da garota e tocou no seu rosto- Espero que um dia reconheça os meus esforços, porque me esforço para te ajudar.
- Pode nos deixar sozinhas, Ruth? Eu preciso ter uma conversa com minha filha- sua mãe pediu e quando ela a olhou viu umas lágrimas nos seus olhos.
- Só um momento, amiga- disse se virando para ela e falou baixo para garota- Olha eu sei que você está mentindo de novo. Tem alguma coisa errada nessa história de ir dormir fora. Sinto que você está aprontando... Só espero que não esteja planejando fazer coisa errada. Hoje é sábado e eu acho que seria bom aproveitar esses momentos livres com seus pais. O que acha?
Ruth sorriu amigável para ela, abraçou Daniela e se despediu das duas. Érica balançou a cabeça como se tivesse concordando, sorriu com vontade e descruzou os braços.
Achou que a vizinha estava pensando que tinha conseguido fazê-la se arrepender e que ela ia voltar atrás, mas não estava certa quanto a isso.
A jovem não sentiu arrependimento.
Não sentia que estava pecando ou que fazia algo totalmente proibido. Para ela era só uma pequena mentira. Sua mãe voltou para perto dela e enxugou uma lágrima que estava caindo por sua bochecha.
Pegou no braço da filha, a puxou para o sofá e continuou em silêncio.
A jovem resolveu não se deixar levar pela tristeza e raiva da mãe. Agiu por impulso. Como sempre.
- Qual é? Vai chorar agora? Eu já pedi desculpa- se ajeitou no sofá e tentou pegar na mão dela, mas a mãe se afastou- Ah não. Eu não mereço ficar de castigo em plena noite de sábado. É injusto.
- Se o seu pai tivesse aqui... Ele ia ficar com muita raiva. Ia querer te deixar de castigo mesmo- falou sussurrando com a cabeça baixa- Eu tenho pena de você. E foi aí que eu errei... Errei por ter sentido pena e por ter passado a mão na sua cabeça. Você aprontava... Eu ia lá e passava a mão na sua cabeça. Te perdoava. Henrique tem razão mesmo- olhou para a garota e deixou as lágrimas descerem- Eu sou uma péssima mãe. Sou a culpada por você ser desse jeito.
- Ah não. A senhora vai ficar se colocando para baixo agora? Meu pai não tem nada a ver com essa história- se levantou irritada e olhou para cima- Meu pai nem está aqui. E se a senhora quer falar que eu sou o desgosto da família... Então fala logo, mas não envolve o meu pai no meio disso.
- Você não é o desgosto da família. Para de falar besteira- gritou em meio ao choro e assustou ela- Eu e seu pai te amamos. É tanto amor que sinto por você e é por isso que eu te perdôo, te aconselho, te protejo.
- Eu não estou no clima para esse tipo de conversa sobre família. Desculpa- se sentou novamente e decidiu voltar ao assunto inicial- Vamos voltar a falar do aniversário? A senhora não vai deixar eu fazer essa desfeita com a Natália, né?
- Você apronta e depois vem falar como se não tivesse feito nada- enxugou suas lágrimas e respirou fundo- Não tem como te defender assim filha. E eu nem sei quem é essa Natália. Como vou saber que essa Natália é de confiança?
- Natália é um amor de pessoa mãe. Ela não gosta de baladas, é estudiosa- respondeu rapidamente e sentiu vontade de rir, porque lembrou que Naty era bem mais doida que ela- Eu posso te dizer a ficha completa dela. Só que a senhora precisa me liberar primeiro.
- Pode ir para o aniversário- a jovem sorriu e se levantou comemorando- Mas é só para o aniversário. Não vai dormir na casa dessa Natália. Quero a senhorita em casa as 21:00 horas e não pode passar desse horário. Eu vou me deitar- se levantou cansada e foi andando desanimada.
Érica percebeu que a mãe ainda não tinha esquecido seu comportamento ruim.
- Desculpa, mas não posso. 21:00 horas é muito cedo e o aniversário vai demorar.Vou precisar ficar na casa da Natália- falou alto chamando atenção da mulher e ela parou de andar- Amanhã de manhã eu vou estar aqui. Eu chego aqui 07:00.
- Então amanhã manda o endereço dessa sua amiga e eu vou te pegar- se virou para menina e sorriu sem vontade- É perigoso te deixar sozinha por aí. Pegando ônibus em lugares desconhecidos.
- A senhora não precisa se preocupar com isso. Eu sei o caminho de casa e volto amanhã de manhã cedinho- se apressou em explicar e continuou implorando. Não podia deixar seu plano ir por água abaixo.
- Você venceu filha. Não consigo te ver triste- falou desanimada e se deixou levar pelo cansaço- Espero não me arrepender mais tarde, mas... Pode dormir fora hoje. E é para estar aqui amanhã as 07:00 horas. E se você mudar de ideia e quiser que eu vá te pegar...
- Ai mãe. Que saco. Eu já disse que não precisa. Vou ligar para Natália e marcar dela vim aqui em frente para irmos para o aniversário.
- Tudo bem, tudo bem. Eu já disse que vou tentar confiar de novo, né? Vou me acordar cedo só para te ver chegar amanhã. Então por favor não me faça se arrepender. Chegue no horário combinado.
Érica abraçou a mulher e beijou sua bochecha. Estava animada para a noite e queria saber os segredos que a noite escondia.
O que a esperava. Voltou para o quarto com um sorriso vitorioso, pegou logo o seu celular, colocou na conversa com Júnior e mandou mensagem para ele.
Ela confirmou que estava tudo certo para essa noite.
[18:55]
Érica: "Não se atrase. Vou ficar te esperando na rua que tem aqui perto. Vou te mandar o endereço daqui a pouco."
Enviou a mensagem e abriu o guarda-roupa para procurar uma roupa para festa. Porém, ela ia sair com outra roupa.
Não ia vestir logo a roupa para festa, pois não podia sair arrumada.
Ela precisava disfarçar. Pegou uma mochila grande e colocou a roupa dentro. Escutou a porta da sala abrindo, a voz de seu pai em seguida, risadas dele, depois percebeu que seu pai vinha conversando pelo celular com alguém.
Era uma ligação, mas ele falava baixo e ela não conseguiu escutar bem. Só escutou um nome que a chamou atenção.
"A gente se fala depois, amor. Te amo." Henrique, seu pai, disse na ligação. Ela escutou, porque tinha aberto um pouco a porta do quarto e conseguiu escutar isso.
"Susu, não me provoca,meu amor. Agora eu preciso desligar ok? Cuida bem do nosso grande dinossauro. Diz que eu mandei um beijo para ele."
Henrique encerrou a ligação e ela se apressou em fechar a porta do quarto. Não podia deixá-lo vê-la escutando suas conversas. A jovem franziu as sobrancelhas.
A voz de Henrique na ligação era uma voz doce, fofa, de afeto, carinho. Uma voz que mostrava que ele estava falando com uma pessoa importante. Ela começou a pensar.
Quem era Susu? Por que ele a chamou de amor? Susu podia ser apelido de algum nome, mas de qual? E quem era esse outro que ele chamou de grande dinossauro?
Ele também parecia ter carinho por essa outra pessoa. Estava cheia de perguntas. Seu pai estava estranho a muitos anos.
Desde o tempo que ela namorava com Paulo, seu ex namorado. Henrique começou a mudar nesse tempo. Ela balançou a cabeça.
Parecia que tudo a ligava a Paulo e isso era bem chato. Lembrar sempre do seu ex namorado.
Daniel Silva
Uma música baixa tocava no rádio da sala. Dona Isaura, avó de Daniel, estava assistindo tv na sala e com o volume meio alta.
A avó do garoto havia perdido o marido e morava no apartamento com a filha, Ruth, e o neto, Daniel.
Dona Isaura estava concentrada na novela que assistia e não tinha percebido a tristeza nos olhos do neto. Não sabia que o neto sofria em silêncio.
Daniel estava deitado no sofá. Do seu lado tinha a mesinha com o rádio em cima.
Ele estava triste por conta dos sinais que estava tendo nos últimos dias. Os sinais claros demais para serem ignorados. Tinha decidido colocar um ponto final nessa história.
Decidiu contar a verdade para Carla.
Contar sobre seus sentimentos pela amiga, contar que gostava dela a muitos anos, dizer o que incomodava, ser sincero com si mesma e com a amiga.
A música que tocava no rádio era a música Love do Finding Hope. Essa música triste o fazia lembrar de Carla e da relação deles como amigos.
I know I can't keep chasing after you if you don't feel some way
( Eu sei que eu não posso ficar atrás de você
Se você não sente nada)
Or feel the same about me
(Ou se não sentir o mesmo por mim)
I know I'cant keep chasing after you
( Eu sei que eu não posso ficar correndo atrás de você)
And babe if that's the case, just know that
( E gata, se for esse o caso, saiba que)
I love you, ooh
( Eu te amo, ooh)
I love you, ooh
(Eu te amo, ooh)
I love you, ooh
( Eu te amo, ooh)
I love you, ooh
( Eu te amo, ooh)
O cantor cantava a música com a voz calma. Uma voz tão calma e serena, mas deixava Daniel mais ansioso. Nem a música que ele mais gostava estava conseguindo o acalmar.
Ele suspirou, bateu a mão no rádio e fez a música parar de tocar. Sua avó olhou para trás e percebeu a tristeza do neto e também a sua ansiedade. Gostar da amiga o deixava confuso as vezes.
Eram anos escondendo esse segredo e nunca contou para ninguém. Carla estava sem entender o afastamento do amigo e quando ele foi na casa dela ficou pior.
Ela exigiu saber o motivo dele ter a ignorado na escola.
Daniel não soube como responder e simplesmente saiu com Natália depois. Porém, as palavras ficaram presas em sua garganta.
Ele não gostou de ter mentido para ela. Não estava gostando de ficar distante dela. Nesse momento era a melhor coisa que podia fazer.
Podia tentar falar com ela na casa de Davi, eles podiam ir para um lugar tranquilo na parte da piscina, para conversarem melhor.
Estava se preparando para o grande momento. Esperava que conseguisse conversar a sós com ela nessa noite, porque nada podia dar errado.
Estava cansado de esconder esse segredo. Precisava ser sincero com ele e principalmente com ela. Se levantou do sofá em um pulo, passou a mão no rosto, olhou para cima e ficou encarando o teto.
Percebeu que sua avó o olhava com atenção e ele não queria preocupá-la. Sorriu para avó, se abaixou um pouco, beijou a testa dela.
Depois foi para o quarto, pegou sua roupa para festa, tomou um banho, se arrumou e passou bastante perfume. Estava ficando animado e ansioso.
Precisava se concentrar no que queria. Para os outros podia parecer besteira, coisa de adolescente, passatempo, mas para ele não era. Sabia o que sentia.
Não tinha dúvidas de que era muito apaixonado por essa garota.
- Todo perfumado filho. Isso tudo para festa?- Ruth perguntou ao ver o garoto saindo do quarto- Vai passar na casa da Carla para irem juntos?
- Carla vai de carro com o pai dela- respondeu sorrindo- E eu vou sozinho de ônibus, mas logo chego lá. Não se preocupe.
- Que bom que você não vai com ela filho- disse aliviada e ele a olhou confuso- Desculpa, mas você sabe o que penso dessa menina. Ela não é uma boa influência para você, te faz ir para o mal caminho e ainda te obriga a pichar muros. Você ia sendo preso nas férias por culpa dela, meu filho.
- Mãe eu já sei o que a senhora pensa dela- suspirou cansado por voltarem a esse assunto. Sua mãe nunca tinha simpatizado com Carla- Eu não fui preso nas férias, eu não grafito por obrigação, eu não quebro as regras. Amo grafitar. E ela também gosta então a gente combina de fazer uns grafites.
- Pichação não é arte filho. Estou cansada de te falar isso. Eu te aconselho sempre para parar com essas coisas erradas- pegou a jarra de suco- E você precisa pensar no Enem. Precisa estar preparado e continuar com essa pichação não vai te ajudar em nada.
- Não é pichação. É arte, é grafite, é desenho. A senhora sabe disso- ajeitou a roupa e respirou fundo- Eu estou muito feliz hoje e a gente não costuma brigar. Eu vou agora, porque o Davi mora longe daqui e ainda preciso pegar ônibus.
Daniel se despediu da sua mãe e da sua avó e saiu de casa. Ele pressionou as têmporas e sentiu um pouco de dor de cabeça.
Não queria ter tocado nesse assunto logo nessa hora. Não queria se chatear e gostava muito da amizade de Carla.
Não ia se afastar da garota porque a mãe não aprovava a amizade deles. Olhou para frente e começou a descer as escadas,mas parou em um degrau quando escutou que alguém se aproximava.
Olhou para trás e viu sua vizinha, Érica.
- Olha quem está aqui. Você também foi convidada para festa?- ele parou no degrau e tentou puxar assunto com ela.
- O que quer agora, Daniel? Eu estou bem ocupada- cruzou os braços ao parar de andar e eles ficaram perto um do outro.
- Só queria saber se você também foi convidada. Eu estou indo agora e vou de ônibus. Podemos ir juntos.
Sorriu amigável, porque precisava mostrar para ela que realmente podia confiar nele e ele acabou ficando meio preocupado por vê-la sair sozinha.
- Você não tem nada a ver com isso, Daniel. Não te devo satisfações e eu não vou sair com um nerd. Vou sair sozinha- deu um passo e ele segurou seu braço.
- Por que é sempre assim? Chata e mal humorada. Eu só fiz uma pergunta normal- deu de ombros e tentou não mostrar sua preocupação.
- Porque eu não tenho tempo para ficar conversando. Daniel, as vezes você é tão certinho que cansa sabia? Você é muito irritante e curioso- puxou o braço de volta e não o encarou- A gente se ver depois. Tchau.
O garoto não entendeu o motivo para ela ter tanta raiva dele e balançou a cabeça. Decidiu a seguir e ver para onde ela iria.
Não estava invadindo sua privacidade e espaço, mas precisava ficar de olho nela para a mesma não fazer besteira.
Havia prometido isso a dona Daniela. Desceu as escadas atrás dela e a encontrou já saindo do apartamento. Andou devagar sem fazer muit barulho e continuou a seguindo.
Érica foi andando em direção a uma rua escura e perigosa. A rua que costumava acontecer assaltos durante a noite.
Ele estranhou ela ter ido para essa rua. Ficou escondido de trás de um carro preto e a observou de longe. Érica parou em uma calçada e ficou olhando para os lados.
Ela parecia esperar por alguém e isso o deixou confuso. A garota parecia meio inquieta. De repente ele ouviu o som de uma moto que se aproximava. A moto vinha pela direita e parou bem perto dela.
Ele franziu as sobrancelhas confuso e continuou observando de longe. O garoto tirou seu capacete e ele não conseguiu ver direito quem era.
Os dois ficaram conversando, o garoto da moto de repente sorriu alto e ele conheceu a risada. Se assustou na hora por ter conhecido. O garoto da moto era Júnior Fernandes, o skatista novato do 2º ano B.
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