39º Capítulo (Parte 5: Luara conhece sua ídola)
Na mídia (do lado esquerdo) Érica
(Do lado direito) Luara
Representadas pelas atrizes do Elenco
Será que essas duas serão amigas? O que acham?
A atual e a ex de Paulo....
Érica Sousa
Júnior beijava uma garota ruiva em um canto da casa. A maioria dos jovens dançavam animados. E foi ali que Érica viu o quanto as pessoas da escola eram doidos.
Ela estava dançando a bastante tempo e decidiu parar um pouco para ir procurar alguma coisa para comer na cozinha da casa. Havia ouvido falar que tinha salgadinhos, doces, bebidas e etc na cozinha.
Saiu empurrando algumas pessoas que estavam no meio e finalmente conseguiu achar a cozinha. Se surpreendeu com o tamanho do lugar.
Era duas vezes maior que a sala pequena do apartamento onde morava. Havia ouvido falar que a casa de Davi tinha sido comprada e nunca tinham feito nenhuma mudança drástica nos cômodos.
Ficou um pouco admirada olhando ao redor da cozinha e percebeu depois uns jovens comendo salgadinhos e conversando.
A despensa era também no mesmo lugar. E naquele momento estava com a porta fechada. Ela pegou uns salgadinhos e começou a comer. Estava um pouco cansada de tanto ter dançado e se sentia meio sozinha.
Ela odiava sentir isso. Desde o começo de janeiro tentava aproveitar a sua própria companhia. Isso começou depois que desfez a amizade com seus antigos amigos da escola integral. Porém, não havia sido fácil porque não gostava de se sentir sozinha.
Não sentia falta dos seus antigos amigos falsos, mas sim de ter amizades verdadeiras. Naquela festa sentiu falta de ter alguém do seu lado para se divertir com essa pessoa e que fosse alguém em quem pudesse confiar.
Ouviu umas vozes diferentes e olhou para frente. Um garoto de cabelo platinado saiu do banheiro rindo alto e uma garota alta de cabelo curtinho com franjinha o esperava do lado de fora. Ela comia salgadinho e mexia no celular.
O garoto abraçou a menina por trás a surpreendendo e logo beijou seu pescoço. A garota riu e se virou para trás o olhando.
Os dois ficaram se olhando e de longe dava para perceber o grande sentimento de amor que eles tinham um pelo outro.
A garota acariciou o rosto dele, espalhou beijos pela bochecha dele, sussurrou algo no seu ouvido e o fez morder os lábios. O clima de romance estava no ar.
O garoto agarrou ainda mais ela, a olhou com um olhar intenso e a beijou ali mesmo. Um beijo digno de cinema. Porém, era um beijo de verdade e nada técnico. Érica revirou os olhos com a cena deles e não sentiu nenhum pouco de inveja do casal.
Ela não acreditava mais no amor, não queria gostar de ninguém, não ia deixar ninguém a enganar e nem ser feita de boba.
Queria que os casais fossem bem felizes, mas longe dela. Odiava assistir filmes de romance ou filmes clichês. Não conseguia nem se quer imaginar se ela fosse aquela garota alta. Não conseguia se imaginar ali. Sendo aquela menina.
Com os braços ao redor do pescoço dele, o beijando com vontade e com muita paixão, compartilhando de um momento clichê, achando que precisava de alguém para ser feliz e não se importando com os olhares curiosos das pessoas que estavam na cozinha e os observavam rindo.
Ela nunca queria ser a apaixonada bobinha. Nunca ia admitir passar por isso de novo. Sua companhia era importante e já bastava para si mesma ficar feliz.
Não queria depender do amor de outra pessoa para começar a ter amor próprio. Viver sem sentimentos, com bloqueio emocional, sendo fria era a melhor coisa que podia fazer. Sem clichês, sem beijos na boca, sem o lado doce da vida.
Érica continuou os observando e não estava nem percebendo o quanto olhava para o casal se beijando. O garoto encerrou o beijo com selinhos e sorriu apaixonado.
Os jovens bateram palmas e gritaram: "Está namorando. Está namorando." Todos juntos e isso não deixou o casal com vergonha. Eles agradeceram as palmas e o apoio dos jovens.
Porém, Érica não tinha percebido algo muito importante e que estava de baixo do seu nariz. Ela tinha se preocupado em observar o beijo e não percebeu quem era o casal.
- Obrigado, obrigado. E o Davi pediu para avisar que vai ter jogo antes da festa acabar- esse garoto avisou e Érica ficou em choque ao ouvir o sotaque dele- Verdade ou desafio. Esse jogo. Oi, guria. Como tu tá?- ele perguntou se aproximando de outra garota de cabelo loiro.
- Não pode ser... De novo não... Que azar é esse me perseguindo?- perguntou devagar para si mesma e continuou paralisada no mesmo lugar- Só pode ser brincadeira.
- Acho melhor irmos embora logo, né? Se não as meninas te agarram aqui- a menina pegou na mão dele e guardou o celular no bolso- A festa tá maneira e nós aqui perdendo tempo.
- Guria, tu sabe que eu não tenho culpa se sou amado por todo mundo- ele falou sorrindo convencido e era o mesmo sorriso de Júnior- Eu só tenho olhos para tu. Te adoro.
Érica enfim teve coragem de sair da sua paralisia e olhar mais uma vez para o casal. A música alta lá fora não importava mais. Parecia que ela estava paralisada no tempo. Como não pôde perceber? O beijo foi tão mais importante do que ver quem eram as pessoas se beijando?
Olhou para eles e pôde perceber com horror de quem se tratava. O garoto de cabelo platinado era Paulo, seu ex namorado, e a garota alta de franjinha era Luara.
Ela conhecia bem Luara e desde 2013 acabou perdendo o contato dela. Luara gostava de ser muito estilosa, customizava algumas roupas suas, andava de patins, era toda de bem com a vida, ainda era apaixonada por mitologia grega e admirava a deusa Hécate.
Ela era da Wicca (religião que faz parte da Bruxaria Moderna)
Era apaixonada por cristais, incensos e adorava ler. Sabia mexer muito bem em computador.
Era como mestra e adorava ditar as regras as vezes. Sociável. Ninguém se cansava dela, ninguém achava o seu jeito estranho, ninguém a achava chata.
Ela era a queridinha. Perfeccionista e gostava de fazer tudo com perfeição. Se esforçava para ser melhor aluna da sala, defensora de alguém, tirar as melhores notas, deixar sua marca no mundo.
Sempre fazia de tudo para deixar sua marca, seu toque especial, algo que dissesse: "Luara passou por aqui." Ou dissesse: "Luara arrasa."
Desde quando Paulo ficou tão íntimo de Luara? Desde quando começaram a namorar? Desde quando seu ex namorado resolvera se apaixonar de verdade e não enganar ninguém? Desde quando resolvera mudar suas atitudes?
Eram tantas perguntas sem respostas. Seu estômago se embrulhou ao ver os dois trocando selinhos apaixonados, pegarem na mão um do outro e andarem em direção a porta para saírem.
Ela se virou rapidamente para trás e não se deixou ser flagrada por eles.Ainda mais pegarem ela os observando. Pensou que Paulo ia se aproveitar ao vê-la ali.
O casal saiu e deixaram o clima agradável para os outros jovens que bateram palmas para eles. Já ela estava mais para deprimida e com uma expressão confusa no rosto.
Como podia lidar com todos os encontros inesperados? Sentiu um frio na barriga ao imaginar ter que cruzar com Paulo sempre que saísse na rua ou encontrá-lo em um dia por acaso na escola municipal.
Não ia ser novidade se ele aparecesse pela escola de repente. Não ia se surpreender tanto. Com muito esforço conseguiu se manter de pé.
Aos poucos foi sentindo o seu coração se acalmar e podê relaxar mais. O frio na barriga foi desaparecendo.
Manteve a sua pose de forte e tentou manter sua pose de "não estou nem aí". Como se não se importasse com nada a sua volta. Mas no fundo ela sabia que estava se enganando.
A volta de Paulo abalou seu coração, mexeu muito com todos seus sentimentos que a tempos estavam adormecidos, abalou sua fortaleza, seus planos, seus sonhos, sua pose de forte. Abalou tudo.
Se odiava por sentir essas coisas, porque não imaginava que tivesse que lidar com isso mais uma vez. Não estava pronta e nunca esteve.
Parecia que desde 2013 seus sentimentos do coração estavam adormecidos. O amor estava bem, bem, bem guardado em um lugar longe de si mesma.
Ela fechou tanto seu coração e acabou construindo uma muralha em seu coração. Uma muralha tão grande, um coração tão frio, uma sensação boa de se sentir livre e solta, uma sensação de se sentir vazia sem um amor, mas bem consigo mesma.
Sem se apaixonar, sem amar ninguém, sem se permitir. Tinha se acostumado com essa vida. Tudo ficava mais fácil quando ela tinha amigos e podia sair de casa para esquecer o mundo real.
Achava que sua muralha nunca ia ser destruída. A volta de Paulo mostrou o lado difícil das coisas e deixou claro o quanto ela tinha se enganado. Ainda era capaz de sentir. Ainda tinha sentimentos em seu coração.
Não tinha se tornado completamente fria, pois quando viu Paulo na praia sentiu muita vontade de beijar ele. Ainda parecia sentir desejo por seu ex namorado. Se odiava por admitir para si mesma e começava a ver que não evoluiu muito.
Seu plano havia dado um pouco errado. Seu estômago se embrulhou de novo ao vim em sua mente a imagem do beijo do casal.
Eles ali, os dois estavam tão apaixonados. O olhar dizia tudo. Colocou a mão na boca sentindo uma vontade de chorar e de vomitar ao mesmo tempo.
Não estava entendendo o porquê daquilo. Que sentimento era aquele. Não conseguia compreender. Correu para fora da cozinha e quase derrubou uma pessoa que vinha em sua frente.
Correu com a mão na boca e lutou contra essa vontade de chorar. Estava muito perdida e não sabia o que fazer.
Escutou a música alta preencher seus ouvidos e percebeu que todos dançavam ao seu redor. Todos alheios ao que ela tinha visto. A festa não havia parado.
Escutou um vidro sendo quebrado e o som vinha do lado direito de onde estava. Era um menino desconhecido. Ele pegava algumas estátuas de cavalo de vidro e tacava no chão.
O menino estava em cima de alguma coisa, as pessoas ao redor dele comemoravam animadas, batiam palmas, outras vaiavam enquanto o menino tacava as estátuas todas no chão.
Érica pensou que aquilo ia dar problema, pois podia ser de alguém da casa. E ela estava bem certa. As estátuas eram do pai de Davi e tinham grande significado para ele.
O homem fazia coleção das estátuas de cavalo. Era a sua preciosidade. Tirou a atenção dele e olhou para sua frente.
Em meio ao jogo de luz conseguiu ver um amontoado de pessoas que estavam sem dançar e pareciam assistir algo. Ela se aproximou, foi empurrando mais e mais jovens e enfim chegou perto do amontoado de pessoas.
Porém, ela viu uma cena que a fez voltar rapidamente para a realidade e esquecer Paulo. Lorrane e Natália estavam no meio das pessoas e elas duas brigavam.
Chegou a tempo de ver Natália jogar uma bebida na roupa de Lorrane e no fim jogou o restante da bebida no cabelo dela. Isso deixou ela com muita raiva.
Por um momento pensou que a sua amiga ia levar um tapa na cara, mas se surpreendeu ao ver Natália segurar o pulso de Lorrane e não deixar que ela a atingisse.
"Essa é das minhas." A jovem pensou sorrindo e admirada com a rapidez da amiga. Lorrane e Natália começaram a brigar e acabaram correndo para chamar o dono da festa. Davi e Pedro chegaram e logo tentaram separar as duas, mas quase não conseguiam.
Os dois conseguiram as separar com bastante esforço e Davi defendeu a novata ao afirmar que ela ia ficar. A jovem não confiou nas boas intenções de Davi. Ele podia querer algo em troca e por isso defendeu sua amiga.
Depois Lorrane saiu apressada e passou por ela. Lorrane bufava com muita raiva. A jovem riu sem aguentar segurar a risada e mandou um beijo no ar para Lorrane.
Davi e Pedro foram embora e todos continuaram encarando a novata. Ela também estava a olhando de longe e feliz por a amiga ter feito um estrago e brigado com Lorrane.
Em um momento o olhar da novata foi para o lado direito e ela viu a rockeira a encarando.Só que ela não esperava ser vista naquele momento e parou de sorrir.
Não sabia qual atitude tomar. Lembrou da discussão que as duas tiveram na escola. Nenhuma resolveu se aproximar. Ficaram paradas se olhando de longe e sem saber o que fazer. Suas expressões sérias.
Estava pensando em se aproximar, mas a novata saiu andando na outra direção e continuou dançando depois. Percebeu que ela dançava, mas ainda estava tensa.
Érica resolveu ir até a amiga e resolver aquilo com uma boa conversa. Se fosse possível, porque estavam em uma festa e o barulho era grande. Não tinham como ter privacidade.
Continuou indo atrás dela e quase a perdeu de vista. Achou Natália perto do sofá. Ela ajeitava o cabelo e tentava mantê-lo em ordem, porque havia saído de uma briga e seu cabelo havia ficado bem bagunçado.
Também tinha um pouco de bebida por seus braços. O lugar perto do sofá estava um pouco calmo. Só havia uns dois casais se beijando no sofá e um espaço sem ninguém dançando, pois a sala era grande. No meio da sala era onde todos estavam amontoados.
- Oi, mana. Eu pisei na bola, né? Mandei muito mal- Érica disse alto para sua voz ser escutada apesar do som da música e Natália se virou rapidamente- Fiquei com raiva por causa de uma besteira.
- Érica, não esperava que fosse vim falar comigo- a interrompeu e observou a amiga- Esperava te ver se juntando de novo com a patri... Ah... Bom a Carla- se corrigiu rapidamente- O que aconteceu?
- Aconteceu que eu sinto sua falta, cara, me acostumei contigo. Foi isso o que aconteceu- sorriu um pouco e se aproximou mais- É horrível se apegar a alguém, porque sentimos falta da companhia da pessoa e isso é um saco.
- Sabe que também gosto de você e muito. Não queria que a gente tivesse brigado- deixou isso claro e também falou alto- Sempre tenho culpa de tudo, mas naquele dia a culpa não foi minha.
- Como a culpa não foi sua? Ficou me provocando de propósito e ainda se faz de vítima?- perguntou rindo e não conseguiu fingir estar com raiva- Mas eu também tive culpa.
- Não precisa se explicar. Ficando distante daquela fingida da Carla e voltando a ser minha amiga já basta- passou as mãos pelo cabelo de novo e checou se estava em ordem.
- Ainda quero saber porquê você odeia tanto a Carla- revirou os olhos e não gostou muito do pedido dela- Mas enfim... Vou te contar mesmo assim. Eu vou resumir, porque não me sinto pronta para contar tudo.
- Tá legal. Se você insiste- deu de ombros e suspirou- Pode resumir a história- cruzou os braços e a olhou com atenção.
- As vezes a gente machuca muito nosso coração. Nos apaixonamos e quebramos a cara, porque é para isso que serve o amor- começou a explicar com calma e não pôde evitar a imagem do beijo de Paulo e Luara. A imagem nítida em sua mente a fazia ficar com o estômago embrulhado- O amor não serve para nada. Só serve para quebrar corações.Um sentimento insignificante. Não é paixão e muito menos amor. É só ilusão, idiotice, coisa passageira. É intenso só na hora quando existe a ilusão e depois? Aí acaba e tudo vira... Sei lá. Uma droga novamente.
- Por isso eu evito esses assuntos. Namoro, paixão, beijo. Odeio falar disso. É tudo entediante- desabafou e umas lágrimas caíram por suas bochechas- Não gosto de brincadeiras e muito menos de provocações em relação a esses assuntos chatos- fungou e enxugou as lágrimas- A vida é muito mais que namoro. Prefiro aproveitar a vida fazendo coisas que eu gosto.
- Mana, essa é a história que você disse que ia me contar?- perguntou tentando procurar as palavras certas para não magoá-la- Do falso namoro do seu passado onde durou 7 meses e você foi a vítima. Nossa. Eu fui muito sem noção.
- Deixa de se culpar. Isso já é uma história muito antiga e não interessa- desconversou- Você também não tinha como saber. Evito sair contando sobre meu primeiro namoro.
- Interessa sim, porque esse namoro te machucou muito, né? Te deixou traumas. Olha... O amor ainda existe. Não devia se negar a sentir algo intenso como o amor- explicou com calma.
- Chega né? Vamos encerrar o assunto. Já acabou- pegou no braço dela- Tudo certo entre a gente? Por mim essa história já está esquecida.
- Amigas de novo. Nunca deixamos de ser... Ou deixamos?- franziu as sobrancelhas desconfiada- Eu ia lutar para voltarmos a amizade.
- Te amo muito e esse amor de amigas vale mais que a ilusão de um namoro ou casamento- abraçou ela sorrindo- Você vai precisar me aguentar por muito tempo. Mas sem provocações.
- Não prometo nada- sorriu retribuindo o abraço- Eu gosto de provocar as vezes, mas vou maneirar as provocações.
- Senti a sua falta doidinha- continuaram o abraço e Érica esqueceu completamente de Paulo- Não ia me perdoar se perdesse uma amiga corajosa e doida como essa. Acabou com a Lorrane e ainda fez todo mundo assistir. Mandou bem- acabaram o abraço.
- Também senti sua falta marrenta- Natália riu com o apelido novo que colocou nela- Ah e aquela loirinha nem importa mais. Afinal quem é Lorrane mesmo? Sabe que nem eu sei.
As duas riram e depois se abraçaram de novo. Foi somente quinta e sexta sem se falar, mas parecia que estavam sem se falar a meses. Tinham uma conexão forte e uma relação bonita de se ver.
Érica decidiu aproveitar a noite e não ia permitir que seu ex namorado estragasse sua noite.
Afinal ela teve que inventar uma mentira para mãe, passou quase o dia todo convencendo sua mãe a deixá-la ir dormir na casa da tal amiga, havia saído de casa, se encontrado com Daniel nas escadas, quase ela ia sendo pega na mentira, quase foi assaltada ao ficar sozinha na rua escura quando esperou Júnior.
Foi difícil convencer sua mãe e ainda teve que passar na casa de Júnior para trocar de roupa. Uma aventura atrás da outra. Conheceu também os pais de Júnior.
E a noite mal estava começando ainda. Não tinha feito tudo isso atoa. Fez tudo para ir para festa e prometeu para si mesma que nunca ia perder essa festa. E ela ia mesmo deixar seu ex namorado estragar sua diversão?
A resposta era não. Afinal estava ali para se divertir e ia pensar somente em si mesma. Nada podia estragar sua noite.
Andreina Diógenes
- Aquela selvagem me paga. Ah se me paga- pegou firme na pia enquanto se olhava no espelho do banheiro- 5, 4, 3, 2, 1- respirou fundo- Eu sou Andreina, sou linda, nova, popular. Não vou me deixar levar por isso.
Continuou sua contagem de 5 para baixo e foi se acalmando. Odiava ficar estressada ou fazer barraco nos lugares. "Fazer barraco" era algo fora da sua realidade.
Conseguiu se acalmar e abriu seus olhos novamente. A mancha no vestido xadrex havia ficado bem visível. Não sabia como limpar aquilo. Só lavando o vestido mesmo e não tinha como fazer aquilo ali.
Tinha vergonha de admitir, mas ela estava com um pouco de vergonha de sair do banheiro daquele jeito.
Pensou um pouco mais e não conseguiu encontrar outra solução. A solução era sair dali, aproveitar a festa e não esbarrar mais em ninguém.
Andreina cruzou os braços. Lembrou da sensação diferente que havia sentido quando Natália tocou nela. O que tinha sido aquilo? Nunca tinha sentido nada do tipo.
Um choque que percorreu seu corpo todo, uma sensação estranha de familiaridade. Os olhos de Natália. Era como se um laço invisível as unisse.
Estava ficando paranóica? Podia ser? As perguntas rondaram sua mente. Só podia ser paranóia sua, porque sabia que aquela menina era uma possível ladra e podia ser perigosa. Não tinha nada a ver com a novata.
Pensou que estava ficando confusa daquele jeito, pois havia passado muito tempo convivendo com as pessoas da Escola Municipal.
A convivência com os alunos da municipal podia estar mexendo com sua cabeça. Pensou que só podia ser isso.
Passou a língua nos lábios pensativa e rapidamente a imagem do beijo com Rafael preencheu seus pensamentos. Ainda não tinha esquecido o ocorrido na praia. Rafael perto dela, bêbado, com aquela voz embolada, o toque dele, os sussurros, o beijo inesperado.
Depois a chegada de Patrícia e ainda teve que mentir de novo para Patrícia ao deixar a entender que Rafael era seu primo, mas conhecia a amiga. Patrícia tinha ficado desconfiada e com razão. Nunca tinha ouvido falar desse primo.
Tocou delicadamente no seu próprio pulso e sentiu-o formigar. Parecia que o toque de Rafael estava em seu pulso. Teve nojo dele e medo também. Agradeceu quando Patrícia chegou e pôde ir embora em paz.
Esperava não se cruzar com Rafael tão cedo, ia evitar qualquer encontro desagradável, ia evitar até o olhar daquele dia em diante. Havia sido surpreendida com o beijo e não sabia ainda qual atitude tomar.
Se odiava por estar naquele momento sentindo os lábios dele contra os seus. Como se estivessem conectados.
A porta se abriu e Andreina se alertou de novo. Não queria ser vista com o vestido manchado. Uma menina alta entrou no banheiro, ela tinha cabelo curto e franjinha. Não a conhecia de lugar nenhum.
- Olá. Espero não estar atrapalhando- a menina falou sorrindo amigável e começou a se olhar no espelho.
Andreina ficou calada e nem sorriu de volta. Continuou passando a mão na mancha do vestido e suspirou. Não estava com vontade de conversar com ninguém. Abriu sua bolsinha e pegou o seu Iphone rosa. Abriu no Instagram e tentou conectar a internet, mas sem muito sucesso.
- Nossa o que aconteceu com seu vestido?- a menina se atentou para a roupa dela- Espera... Você foi a garota que caiu em cima da poltrona da mãe do Davi- não soube mais o que dizer e tentou ser simpática- Davi não viu nada ainda. Fica tranquila.
- Não estou preocupada com nada honey- falou sem a olhar e colocou na câmera do celular- Preciso retocar essa maquiagem urgente- falou sozinha e tirou sua base junto com a sua sombra da bolsinha.
- Não acredito. Não acredito. Andreina Diógenes Santos aqui? Em pessoa?- a menina gritou e falou como se elas tivessem alguma intimidade- Eu sou tipo muito sua fã.Te sigo em todas as redes sociais.
A menina parecia paralisada e bastante alegre. A olhava como se Andreina fosse uma celebridade ou alguma modelo famosa. Andreina processou a informação e tentou acalmar a surpresa da tal menina.
Porém, se sentiu bem importante ao ser reconhecida e saber que a tal menina era como sua fã. Gostou de ter esse efeito nas pessoas.
- Eu mesma. Andreina Diógenes Santos- estendeu sua mão sorrindo- E não você não está sonhando. Sou eu mesma. Fico muito feliz de conhecer uma fã.
- Uau. Que loucura. Que loucura te conhecer pessoalmente e ainda mais em um lugar bem pouco provável- a menina pegou na sua mão e a puxou para um abraço. Andreina tomou um susto com a atitude inesperada.
- Pode me soltar por favor?- pediu quase sem voz por causa do abraço apertado e a menina a soltou- Obrigada... Garota, você é magrinha mas é forte hein? Não esperava que tivesse uma fã admiradora desse jeito.
- Desculpa, Andi... Ops Andreina- se corrigiu meio sem graça e sorriu nervosa- É que te acompanho tanto pela internet, curto todos seus posts, vejo suas lives, suas fotos e até parece que somos tipo bem íntimas. Desculpa por isso. Pelo meu jeito.
- Como é seu nome mesmo. Fui muito mal educada de não perguntar- ergueu a cabeça tentando parecer normal, porém estava gostando da energia da menina desconhecida e começava a gostar de conhecê-la.
- Me chamo Luara. Sou, tipo, muito amiga de muita gente daqui- se apresentou amigável- Adoro esse lugar.
Continuou se olhando no espelho calmamente, passou um pouco de sombra nos olhos e mais rímel nos cílios. Se sentiu um pouco melhor diante da sua imagem.
- Vamos voltar para festa? Está muito bom lá fora. Ah e não se preocupa com o Davi. Eu posso fazer ele não descobrir que foi você que quebrou a poltrona- piscou o olho para ela e abriu a porta.
- Não precisa me defender, Luara. Eu me resolvo depois com esse garoto- guardou a sombra na sua bolsinha- Foi muito bom te conhecer. Pode ir para festa. Nos vemos por aí. Bye.
- Não querendo ser chata, mas queria poder ficar do seu lado- falou meio sem graça e procurando as palavras certas- Adoro todo mundo daqui. Só que não é todo dia que se conhece sua ídola, né? Tipo queria poder me divertir com você, conversar mais. Essas coisas.
- Então vou precisar te decepcionar, porque não quero mais nem aproveitar nada. Estou com vontade de ir para casa. Sorry- se desculpou sorrindo sem mostrar os dentes.
- O problema é essa mancha no vestido, né? Eu sei- piscou o olho para ela novamente- Nem esquenta. Tá escuro lá fora e ninguém vai ver essa mancha.
Luara conseguiu convencer Andreina a sair do banheiro. A patricinha gostou ainda mais do jeito amigável de Luara e não queria mesmo admitir, mas pensou que elas podiam ser amigas.
Naquele momento não se preocupou em saber se Luara era popular ou não. A companhia dela importava e aquilo de ela agir como se fossem íntimas foi o que mais a surpreendeu.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro