38° Capítulo
Os adolescentes: Mirela e Emanuel na mídia. Representados por Mel Maia e Matheus Guerra
Mirela Oliveira
Mirela foi no cabide do quarto, pegou um chapéu, colocou na cabeça se olhando no espelho. Aquele espelho do quarto refletiu a sua imagem.
Sua baixa autoestima sempre a fazia ficar com um pé atrás em relação a sua imagem. Queria muito se olhar no espelho e se ver bem bonita.
Ela se achava magra, sem um estilo próprio, feia de óculos.Sua imagem no espelho não deixava dúvidas de quem ela era.
Queria ter mais um pouco de corpo, ser atraente, bonita, se sentir bem de biquíni. As suas amigas e Davi sabiam desse seu jeito, mas as outras pessoas se surpreendiam quando percebiam.
Porque para os outros era inteligente, madura, positiva, estudiosa. Parecia segura se si.
Era um disfarce. Não era legal usar isso. Afinal ela nem sabia fingir bem como a irmã e a mãe. Não conseguia enganar suas amigas e Davi.
Ficou se olhando no espelho e ficou fazendo poses de frente para o seu espelho. Precisava ver se estava bonita.
Pensou em se vestir diferente. E se mudasse um pouco o visual? Podia se sentir melhor consigo mesma. Pegou uma roupa que havia comprado, mas nunca a vestiu.
Um macacão branco com listras pretas. Era um macacão próprio para jovens da idade dela.
O macacão era curto. Deu de ombros e o vestiu rapidamente. Ela se olhou no espelho e se surpreendeu com o resultado. O macacão havia marcado bem o seu corpo, ficou justo, e ainda deixou as suas pernas de fora. Ela já esperava isso.
Porém, achou que não fosse ficar tão curto. Teve um pouco de vergonha de sair na rua daquele jeito.Parecia meio bobo, era só uma roupa, mas a garota não tinha coragem de usar algumas coisas.
Só que daquela vez ela decidiu continuar se arrumando para ver como ia ficar.
Pegou a sua necessaire, escolheu a sombra mais viva que tinha, pegou um batom, um lápis de olho, blush, delineador.
Porém, ela ficou meio confusa. Não sabia bem como passar o delineador e teve medo de borrar tudo. Preferiu guardar o delineador e passar só o que sabia usar.
Passou sombra roxa nos olhos, a cor mais viva que tinha, passou lápis de olho preto, um blush de leve nas bochechas.
Fez tudo com calma. Para finalizar pegou batom vermelho vivo e passou nos lábios.
O resultado final foi mostrado no espelho. Ao ver sua imagem refletida se arrependeu. Havia exagerado na sombra e o batom ficou um pouco borrado. Precisava assistir vídeos de maquiagem. Precisava aprender a se maquiar.
Se sentiu triste naquele momento. E isso foi inevitável. Era péssimo se ver feia e magra. A sua mãe a repreendia, dizia que a filha precisava enxergar o quanto era especial, a sua beleza, seu próprio jeito de ser.
Se orgulhar do seu corpo. Mas não era tão fácil para a adolescente.
Recebeu uma mensagem no celular. Pegou seu celular e viu que era uma notificação no facebook. Ficou meio intrigada e abriu o aplicativo.
Logo se deparou com uma nova solicitação de amizade.
Era um ManuelAzevedo.
Mirela ficou mais confusa sem saber quem era aquela pessoa. Parecia um perfil fake ou algo do tipo, porém ao entrar no perfil da pessoa percebeu a foto.
A foto de perfil apareceu bem no meio.Era um desenho, um simples desenho para alguns.
Mas para ela nao foi tão simples. Foi pelo desenho que reconheceu quem era a pessoa. Era Emanuel, irmão de Pedro Miranda, eram os dois filhos de Michel, o homem sério e chato que ela conhecia.
Ele queria ser o dono da razão impondo limites e regras.
Mirela nunca gostou de Michel. Ela o conhecia bem, porque Michel e a sua mãe, Cristina, eram amigos e os dois eram professores.
Michel ensinava as crianças da escola e Cristina também ensinava as crianças.
O dono do perfil era ninguém mais e ninguém menos que Emanuel. Irmão de Pedro. Emanuel Miranda era o seu colega de sala. Estudavam na mesma sala do 9° ano.
O garoto calado, meio estranho, tímido e que sofria bastante bullying na escola. Mas para a garota ele não era nada disso.
Mirela via as qualidades de Emanuel Miranda, não o achava feio, era capaz de enxergar o seu interior, o que ele tinha de melhor. Nutria sentimentos por ele e somente seus amigos eram os que sabiam disso.
Emanuel nunca foi de usar as redes sociais. Não era fã de facebook ou do instagram. Preferia ficar isolado, um garoto invisível.
Então por que tinha decidido mudar naquela hora? Havia feito um perfil no facebook, mas fez por vontade própria?
As perguntas vieram em sua mente. E então preferiu aceitar sua solicitação de amizade. Era um bom começo.
O sol ficou um pouco mais forte no céu e a realidade voltou a tona.
Daqui a pouco iria para casa do pai e ainda estava tentando lidar com a situação. Pensou em tentar aceitar a realidade, tentar fazer as coisas se tornarem um pouco fáceis, tentar ser boazinha.
- Você tem certeza de que quer ir para casa do seu pai? - sua mãe entrou no quarto, mas viu como sua filha estava vestida e maquiada- Estava tentando se maquiar?
- Sei que ficou ridículo. Não precisa me dizer- interrompeu a mãe meio envergonhada e suspirou- Eu fico feia maquiada. Não fico?
- Você fica linda maquiada filha, mas maquiagens não são para garotinhas como você- sorriu com doçura- Isso é para adultos.
- Não sou mais uma garotinha mãe. Eu já sou adolescente- protestou com a voz manhosa e juntou as mãos- Eu já posso ser dona da minha vida?
- Os pais sempre vêem os filhos como bebês ou crianças. É inevitável e eu te vejo como a minha bebezona- fez voz de bebê sorrindo e começou a pentear o cabelo.
- Está bom mãe. Pode parar com isso. E se eu tivesse na rua, na frente dos meus amigos, no shopping a senhora ia me fazer passar vergonha. Não me chama assim- tirou o chapéu e pegou um algodão para tirar a maquiagem.
- Está se arrumando para ir para o seu pai? Então... Você quer mesmo ir para aquela casa?- ela perguntou com um jeito ansioso, mas disfarçou um pouco- Quero dizer, você sabe que eu não estou te obrigando a nada, né? Você pode mudar de ideia a qualquer momento. Posso ligar para o seu pai...
- Mas, mãe, eu quero ir. Eu quero ir passar o final de semana com o meu pai e com a Carla- continuou tirando a maquiagem do rosto- Por que eu ia desistir? Não tem motivo.
- Filha, claro que tem motivo. Você sabe que as coisas mudaram. Aquela casa não é a mesma agora- falou com cuidado as palavras. Parecia ter medo de dizer algo errado- Entende né?
- Costumo dizer que tenho duas casas. Essa aqui e a do papai. Porque me sinto bem nos dois lugares- ela deu de ombros sem preocupação e se virou para encarar a mãe- Lá também é meu lugar. Você sabe que aquela casa era nossa antes. Eu, a senhora, pai e a Carla. As nossas memórias ainda estão lá.
- Eu sei filha, mas não pertence mais a gente. Nós moramos aqui agora- ela falou triste- Victor preferiu se afastar da gente e refazer a vida. Foi escolha dele.
- Vocês concordaram em se divorciar. Não esquece disso mãe- Mirela logo a lembrou suspirando- A senhora quis isso também. Não vale a pena a gente ficar querendo achar os culpados. Já faz tanto tempo.
- Então você está preparada para as mudanças, né? Parece estar segura com essas novidades- ela falou e logo entortou a boca- Vai passar dois dias com pessoas desconhecidas então. E pior... Pior. Essas pessoas vão estar na sua segunda casa. Ficou feliz?
- Por favor mãe. Não começa- pediu e jogou o algodão no lixo- Eu posso te dar um conselho? Supera. É... Tenta superar isso tudo de ruim. A senhora merece ser feliz.
- Nunca serei feliz sem o Victor. Eu só gosto dele- falou chateada e magoada com o conselho- Victor deve estar se enganando. Ele está só passando por uma fase e logo irá acordar disso. Irá ver que a mulher da vida dele sou eu, irá terminar o namoro com essa tal mulher, irá voltar para mim. Nós dois vamos ser felizes de novo.
- Pode até acontecer, mas e se não acontecer? Já pensou? A senhora fala com convicção que vai dar certo, que vai reatar com o papai, que vão ficar juntos, mas já parou para pensar ao contrário? E se a história de vocês tiver... Acabado de verdade? Chegou ao fim- continuou tentando fazê-la olhar as coisas por outro lado.
- Por que está falando assim comigo? Parece até que não quer mais ver sua família unida. Credo- Cristina ficou mais magoada e estranhou o jeito da filha.
- Porque eu estou tentando aceitar as mudanças. Se meu pai não tivesse mesmo apaixonado então ele não ia ter chamado essa namorada para ir morar com ele. Já parou para pensar nisso?- perguntou devagar tentando não entristecer a mulher-Meu pai não ama a namorada dele, mas ele está apaixonado. Eu tenho quase certeza disso, porque a Carla me contou a história deles.
- Você não sabe nada de amor, Mirela. É só uma menina. Sabe nem o que está dizendo- se chateou e balançou a cabeça- Eu tenho certeza que a Carla torce pela gente. Ela sempre está do meu lado.
- Esse é o problema de vocês duas. A senhora e a Carla tem expectativas demais e isso acaba atrapalhando. As coisas não são sempre do jeito que a gente quer- pegou nas mãos da mãe e forçou um sorriso- Estou do seu lado e por isso eu te aconselho. Supera. A senhora merece toda a felicidade do mundo ao lado de uma pessoa que te ame de verdade. O papai sempre vai ser da família.Ele nunca vai deixar de ser meu pai. Nossos laços são eternos. Laços de família ficam para sempre.
- Eu e a sua irmã não criamos muitas expectativas. A gente só é positiva. E você devia ser também- apontou para ela- Não sei se consigo superar tudo que eu e Victor vivemos. Tivemos um casamento muito lindo e saudável. É complicado para mim e eu queria voltar a morar naquela casa... Aqui é sei lá. Aqui é muito pequeno, não tem muitos cômodos e é alugado ainda por cima. Eu não nasci para viver em lugarzinhos pequenos, pobres, sem luxo. Eu não nasci para pagar aluguel. Eu mereço muito mais que isso.
- O que te importa? Me fala- Mirela perguntou de repente gritando e logo surpreendeu a mulher. Cristina ficou confusa e Mirela abriu os braços- O que te importa mamãe?
- Eu não sei onde você quer chegar, Mirela- cruzou os braços confusa- Eu não sei mesmo.
- O que te importa? A senhora vai me dizer agora o que prefere, o que acha melhor. Presta bastante atenção mãe. A senhora prefere passar a vida toda ao lado de sua família, ter saúde, ter conforto, viver em uma casinha bem pequena, mas ter felicidade? Prefere viver sem o luxo, sem as jóias, sem o reconhecimento, mas ter felicidade e ter uma família do lado? Agradecer todos os dias pelo o que tem.
- Ou a senhora prefere ser uma atriz bem famosa, ser conhecida no Brasil e no mundo todo, ter muito dinheiro, jóias, ter empregados, carro bom e morar em uma mansão. E ter muitos e muitos fãs pelo mundo. Teria tudo que você sempre quis, mas viveria infeliz, sem uma família do lado, sem ninguém e terminaria o dia sozinha. Passou um tempo grande indo atrás de status e acabou deixando a família para trás. O que te importa de verdade?
Cristina ficou calada quando Mirela terminou. Mirela soltou um suspiro e parou de a olhar. Ficou chateada com sua mãe, pois pelo jeito que ela falou foi como se ela quisesse voltar com o Victor só para morar na casa grande e não por amar o ex marido.
A adolescente quis abrir os olhos da mulher e fez o possível. Ela torceu em silêncio para que a mãe entendesse o seu recado e escolhesse a coisa certa.
Tinha um pouco de esperança que a mãe ainda tivesse salvação.
Queria que Cristina parasse de ser fútil, parasse de olhar para si mesma e enxergasse sua sorte.
- Eu vou te esperar no carro. Não se atrase- Cristina quebrou o silêncio e saiu em seguida deixando no ar um clima desagradável.
Emanuel Miranda
Ser o irmão de Pedro Miranda podia ser o sonho de muita gente da escola. Pertencer a família do garoto, fazer parte do dia a dia do garoto popular era o sonho de alguns.
Porém, se contentavam em apenas ser amigo de Pedro.
Porque afinal se tinha Pedro Miranda na festa, se ele ia para algum show, se ele marcava presença em um lugar então isso significava que a festa ou o show ia lotar de gente, pois o garoto popular ia estar no lugar em tal hora e em tal dia.
Pedro nunca estava sozinho. Se uma menina estivesse interessada nele então ia ter que entrar na fila, pois o garoto era muito famoso e tinha uma fila de meninas querendo ficar com ele.
Se a menina fosse tímida podia ir desistindo de o conquistar.
A menina precisava ter muita atitude e chamar ele para conversar. Mesmo se fosse na frente dos seus amigos. E ter atitude, ser bonita, falar bem era o primeiro passo para o sucesso nessa paquera.
Algumas meninas, que eram consideradas feias ou as que sofriam bullying, não tinham vez. Umas eram apaixonadas por Pedro, porém nunca conseguiram chegar perto do garoto.
Emanuel Miranda, o irmão de Pedro, não se considerava sortudo por ser o irmão dele. Para ele não era grande coisa. Era normal.
Estava acostumado a ver o irmão sendo mimado e a ficar sempre em segundo plano. As pessoas gostavam do popular, do bonito, do que se destacava e não estavam nem aí para o garoto estranho da escola.
Emanuel achava tudo uma grande besteira. Não queria ser como Pedro. Nem fazer amizade com as pessoas ruins que faziam bullying com ele.
E não se arrependia de não ser amigo deles. Nunca quis ser cruel como era a maioria do grupinho dos populares.
Achava eles chatos e tediosos. Pessoas fúteis. Assim como o irmão.
O pré-adolescente estava escolhendo um anime para assistir. Usava o seu notebook velho, de 4 anos atrás, para pesquisar tarefas da escola, trabalho e no tempo livre assistia animes.
Era seu passatempo preferido. Animes e desenho. Se desligava do mundo real para entrar em outro. Para fingir que fazia parte do mundo dos animes ou para se concentrar em um desenho.
Adorava se desligar do mundo real. Se isolar dentro do quarto. Era quase como estar no paraíso. No seu quarto podia ser ele mesmo, podia encontrar motivos para sorrir, se divertir nem que fosse sozinho.
Ele podia até fingir que morava no Japão. Liberdade de sobra para imaginar. Se esquecia por um tempo da vida sofrida que tinha. Esquecia dos problemas. Isso parecia uma terapia e era de fato.
Não precisava se consultar com os psicólogos. Preferia estar sozinho no seu mundinho. Ele fazia sua própria terapia e estava tudo bem assim. Para ele não precisava de mais nada.
Seu celular vibrou mais uma vez em cima da mesinha. Já era a quarta vez que o celular vibrava indicando que havia novas notificações no facebook.
Um aplicativo que havia instalado a pouco tempo e estava se perguntando o porquê teve a ideia de o instalar e ainda fazer uma conta nele. Afinal o que um estranho como ele ia querer fazer em um aplicativo como esse?
Ficou fazendo essa pergunta para si mesmo. Se xingou mentalmente um pouco arrependido de ter instalado o aplicativo.
Mandou solicitação para os amigos do seu pai, Michel, porque conhecia alguns deles. E por último mandou solicitação para Mirela.
Uma atitude ousada que o fez ficar muito arrependido de ter feito.
Nem eram amigos. Eram só colegas de sala. Conhecidos. Mirela podia não ser popular, nem se destacar, porém ela tinha um grupo. Era inteligente e ainda dançava. Nunca ia querer ser amiga de um esquisito como ele.
Era o seu pensamento naquele momento. Lembrou do dia que ela o ajudou.
Ele colocou um anime no notebook e ficou pensando no dia que Mirela foi tentar o ajudar. Lembrou da cruel lembrança que ia ficar marcada para sempre em sua memória.
Do dia que foi alvo de mais uma brincadeira dos colegas.
Uma brincadeira sem graça e de muito mal gosto.
Os seus colegas fizeram um abaixo assinado para tirar o garoto da escola e no papel tinha muitos nomes. Então a maioria queria a saída dele.
Ver a derrota dele e ficar zombando, rindo, fazendo brincadeira de mal gosto. Era isso que queriam.
Ele havia ido se isolar no banheiro da escola, chorou bastante, sentiu uma vontade de sumir. Quando ele achou que todos os colegas estavam pouco se importando com ele.
Foi quando a Mirela apareceu. Ela era a única que parecia estar preocupada de verdade. Sem brincadeiras.
Havia ido atrás dele e o achou saindo do banheiro. Tiveram uma pequena conversa estranha e o garoto saiu em seguida de cabeça baixa.
"Você é legal, mas acho que não vai querer estar perto de mim." Emanuel havia dito no dia para Mirela. Assim encerrou a conversa.
Não sabia o que a garota havia achado disso e pensou que ela devia ter o estranhado. Devia ter imaginado mil coisas e o quanto ele era esquisito.
Mas foi a única que se preocupou e ofereceu ajuda. Ele sabia que a garota tinha talento para dança, era de bom coração e bonita. Mas somente isso e nada que o ajudasse a entender bem a colega.
Saber as suas intenções com a aproximação daquele dia.
Era o seu primeiro facebook e ele não pôde evitar se sentir arrependido. Ele esperava que ninguém da sua escola o achasse naquele aplicativo e assim podia continuar invisível.
Um garoto invisível na vida real e no mundo virtual. Era assim que queria continuar sendo naquele momento. E ter como amiga virtual uma garota de bom coração era bom.
Por isso havia escolhido mandar solicitação para ela e ver se tinha feito a escolha certa.
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