34º Capítulo
Essa foto aqui é uma colagem para lembrarem a vocês de alguns personagens.
Do lado esquerdo é como imagino Luciana (Fernanda Concon), do lado direito é Gabrielle (Clara Tiezzi) e abaixo temos o casal. Eliane ( Bianca Rinaldi) e Victor (Sergio Marone).
Porém, se quiserem imaginá-los diferente de como imagino então fiquem a vontade.
Bom dia, boa tarde, boa noite aos leitores. Posteeei e me perdoem pela demora. Estou bem animada hoje e feliz por ter conseguido escrever tudo que queria. Alguns avisos antes de iniciarem a leitura
1- Quero deixar claro que o meu objetivo é escrever sobre a realidade. Por isso aqui tem muitos jovens rebeldes, mal educados, tem um pouco de preconceito, bullying, mas não me levem a mal. Esses temas e comportamentos de alguns jovens fictícios é apenas o jeito de ser de cada personagem.
Escrevo sobre isso, porém não quer dizer que eu apoio tudo que eles fazem. Apenas quero escrever a realidade de hoje em dia.
Agora sem mais delongas vamos para a leitura.
Natália Alves
Finalmente aquela manhã estava acabando aos poucos. Para ela já havia se surpreendido muito para um primeiro dia de aula.
Estar estudando com pessoas novas, precisando interagir e sentindo o peso do 2º ano era as vezes sufocante e assustador.
O novo a assustava demais.Não havia se conformado com o namoro de sua mãe nem a viver na casa de Victor. Era difícil para a jovem aceitar que as coisas tinham mudado.
As pessoas podiam a julgar pela falta de educação e o jeito rebelde, porém por trás da marra existia alguém precisando ser compreendida.
Queria ter tido tempo para se recuperar da morte de Cristovão e entrar no quarto dele quantas vezes fosse preciso.
Queria poder estar em casa se sentindo reconfortada pela presença do fantasma de Cristovão.
Apesar da sua morte não podia negar que de vez em quando tinha a impressão de ver o corpo de seu pai deitado na cama, de ter ouvido a risada típica dele, de ouvir passos andando pelo corredor do andar de cima se assemelhando aos passos dele.
- Bom dia- o professor de matemática disse devagar enquanto escrevia a agenda na parte de cima do quadro- Hoje preparei alguns cálculos. Tarefa de classe: cálculos. Casa: atividade no caderno para trazer na próxima aula.
O professor passou de cadeira em cadeira entregando o papel com cálculos. Explicou que a partir de 11:20 quem tivesse terminado podia entregar, ia ser liberado para sair da sala e esperar tocar.
Natália bufou olhando para cima ao perceber que tinha esquecido a calculadora.Do seu lado direito estava Luciana, a pegadora da escola.
Luciana usava uma blusa curta deixando um pouco da sua barriga de fora, saia acima do joelho, tênis e um batom vermelho nos lábios.
Havia ido para escola sem farda por conta do diretor Adriano ter liberado shorts ou saias acima do joelho.
Ter liberado ir a paisano fez eles comemorarem.
Luciana fazia a primeira questão com o objeto nas mãos e a novata decidiu pedir emprestado. Ficou resolvendo tentando ter paciência e se concentrar naqueles números.
Enquanto resolvia a segunda questão umas imagens começaram a pertubar sua mente.
Eram imagens de um mar violento.
Nessa memória estava se divertindo no mar com seus pais. Não queria pensar nisso por ter se afogado. Seu pai tinha se afastado, ela começou a se afogar, gritou por socorro levantando os braços chamando por sua mãe que estava mais na frente.
Com a mente de criança teve a certeza que gritando alguém ia vir a salvar, mas errou em pensar assim.
Eliane percebeu o desespero da filha e ignorou totalmente. Continuou mergulhando na água até o marido aparecer, porque escutou a voz da pequena e ficou desesperado ao vê-la se afogando longe das outras pessoas.
Costumava a chamar de pequena desde o aniversário dela de 1 ano quando lhe presenteou com a pulseira de plaquinha.
Nadou rapidamente, a pegou nos braços bem preocupado, deitou a menina na areia, pois tinha desmaiado e engolido muita água. No tempo tinha 6 anos.
Quando acordou Eliane a abraçava com força e mostrava preocupação. Nas memórias desse dia lembrava de quando pediu socorro, engoliu muita água, achou que fosse morrer. Sempre quando lembrava da memória se perguntava o motivo de mãe não ter a salvado.
Quando voltavam Cristovão fez várias perguntas para mulher querendo entender o motivo dela não ter percebido a filha se afogando.
Eliane se defendeu com a desculpa de que havia muita gente no mar tornando difícil enxergar crianças no meio da multidão.
Apagou com força os cálculos que fez enquanto pensava, colocou o cotovelo na carteira, apoiou o queixo com a mão e continuou pensando.
Por mais difícil que fosse admitir para si mesma ela tinha certeza de uma coisa. A mulher queria que a garota tivesse morrido afogada e por isso ignorou seu grito por ajuda.
A imagem era nítida na mente tirando sua atenção do mundo a sua volta. Mais uma vez se sentia fraca. Aquela não era ela, fraca, incapaz, triste.
Precisava muito se reerguer de novo e quantas vezes fosse preciso.
Desde a morte dele começou a ficar sensível de repente ou por causa de lembranças. Queria parar de mostrar fraqueza.
As horas foram se passando rápido e o professor avisou que era 11:20 e quem tivesse terminado podia entregar. A jovem se assustou com seu aviso e suspirou aliviada olhando tudo feito.
Enquanto resolvia os cálculos se desconcentrou tanto ao ponto de ter a impressão de que o relógio passou bem devagar.
Se levantou, foi até ele, entregou a folha e guardou as coisas na mochila totalmente alheia a todos em sua volta. Lutou contra a vontade de chorar por conta da lembrança ruim.
Se concentrava no que fazia e guardou uma calculadora no estojo.
Quando ia sair escutou umas vozes distantes ficando claras quando uma garota alta bateu palmas na sua frente a despertando. Piscou os olhos e conseguiu enxergar Luciana parada.
- Volta para terra novata- sorriu e Gabrielle se aproximou delas- Te vi guardando minha calculadora. Talvez tenha esquecido de me devolver.
- Guardei nada- se forçou a falar, deu um passo e ela continuou na frente- Pode me dar licença ou prefere que eu passe por cima de você?
Nem lembrava de ter pedido o objeto emprestado.
- Não quero brigar sua bruta- revirou os olhos impaciente- Te vi guardando e preciso que me devolva.
- Deve ter emprestado para uma amiga- foi saindo devagar.
Luciana se virou rápido puxando a mochila dela, abriu a mochila com a outra gritando sem entender direito o porquê daquilo e tirou a calculadora preta do estojo.
Os alunos pararam de fazer os cálculos e ficaram observando tudo.
- Tenho uma ótima memória- sorriu forçado segurando o objeto. Alguns alunos bateram palmas se divertindo com a discussão quando viram a calculadora nas coisas da novata.
- Por que guardou e ficou se fazendo de santa?
- Agora lembrei de ter te pedido emprestado- pegou sua mochila com raiva- E antes que venha me acusar de roubo eu não quis roubar nada ok? Esses números me deixaram com dor de cabeça...
- Vai colocar a culpa na matemática?- a interrompeu aumentando o tom de voz e Gabrielle falou algo no ouvido da amiga- Para de atrapalhar, Gaby. O assunto aqui é entre eu e essa ladra.
- Ladra? Vai me acusar de ladra só por ter guardado essa droga?- gritou meio confusa por ver a situação fugindo do seu controle- Não roubei porcaria nenhuma, cara, só fiquei pensando em mil coisas e na hora de entregar a folha esqueci de te devolver.
- Ah então está dizendo a verdade - falou irônica- Talvez...talvez eu estou sendo injusta com você. Me desculpa de te acusar novata. Ou...eu devo te chamar de ladra?
- Acredita no que achar melhor- deu de ombros e ergueu a cabeça- É a sua palavra contra a minha. Pode ir na direção e vou poder me defender com a minha versão dessa história.
- Vão resolver seus problemas lá fora- o professor apontou para porta chateado- Estão atrapalhando os colegas.
- Se acha que isso vai ficar assim está muito enganada- Luciana esbarrou nela saindo em seguida desfilando e Gabrielle foi atrás.
- Estou morrendo de medo-falou ao correr para alcançar as duas na escada- Nunca roubaria e me chamar de ladra é muita injustiça.
Se afastou indignada por ter acontecido de novo a mesma coisa. Pela segunda vez foi acusada de roubo e se defender não adiantava quando nada ficava a seu favor.
Precisava provar sua inocência ou tentar convencer a garota da história de esquecimento. Ouviu um pigarrear e se virou deparando com Érica e Júnior.
- O que foi aquilo entre você e aquela facinha?- Natália ficou confusa com o apelido. Érica explicou melhor- Ela é conhecida assim por aqui.
- Cismou que eu roubei aquela droga, mas foi só um mal entendido que poderia ter sido evitado se essa garota tivesse me ouvido-revirou os olhos.
- Eu ia odiar ser acusado de algo que não fiz- Júnior disse e pegou no ombro de Érica- Acredito na sua palavra gatinha.
- Nem te chamei para vim comigo- empurrou ele respirando fundo- Não somos amigos e nunca seremos se você viver descumprindo as promessas.
- Achei que a gente tinha combinado de se conhecer com a trégua-pegou no coração fingindo dor- Magoou meus sentimentos gatinha.
- Combinamos depois de alguém ter prometido nunca mais me chamar de gatinha- apontou um dedo para ele chateada- Agora esse alguém pisou na bola como imaginei que faria cedo ou tarde.
- Cancela esse gatinha e finge que ainda estamos na trégua- beijou a bochecha dela- Mesmo com sua marra não vou desistir de te conhecer melhor.
- Quem é ele afinal?- a rebelde sorriu observando a briga procurando esquecer do desentendimento na sala de aula.
- Júnior e parceiro da sua amiga nas aulas de português- se apresentou convencido- Também sou novato esse ano.
- Me chame de Naty- terminou de descer as escadas e os dois desceram também- Parece que se odeiam e vivem implicando um com o outro.
- Quem tem fama de mexer com quem está quieto é esse garoto- encarou ele- Mas aceitei seu convite para sairmos e no próximo vacilo dele posso acabar desistindo.
- Se mexer com minha amiga vai se ver comigo-a rebelde ameaçou e Érica riu apoiando a ideia.
- Vocês são malucas- ele caiu na gargalhada enquanto elas ficaram sérias- Pode ficar tranquila oh Naty, porque entendi o recado.
- Eu não estou brincando, Júnior, fui bem sincera- se encostou na parede com a pose de antes- Para onde vocês vão?
O sinal tocou quando ela fechou a boca e os três sorriram. Quando estavam quase indo para saída da escola, Natália teve a impressão que alguém a olhava.
Olhou para frente e viu um rosto de trás do armário das crianças do 5º ano.
A pessoa se escondeu depressa depois de ser pega no flagra. Porém, toda a proximidade dessa pessoa com o trio a deixou intrigada.
Pela proximidade podia ter chegado a escutar a conversa dos três.
Reconheceu o rosto da pessoa. Era o artista, amigo da Carla, quem estava observando o trio. Daniel se levantou rapidamente, saiu de trás do armário todo desconfiado e começou a morder um copo descartável.
A rebelde estranhou o jeito suspeito e ficou sem saber direito o que pensar. De longe conseguiu notar seu desconforto.
Carla e Rafael passaram perto dele e Daniel os seguiu de cabeça baixa.
Ou ele escutou a conversa sem querer ou de propósito. Seu nervosismo deixou claro que algo estava errado.
Gabrielle Freitas
- Meio dia e meia
A rua permanecia calma, o silêncio predominava, o som do vento estava a deixando mais ansiosa e olhar para o relógio em seu pulso aumentava seu nervosismo.
Desde que chegou em casa esperava por Júnior Fernandes. Eles tinham combinado de contar sobre o beijo daquele dia e Gabrielle queria resolver isso logo.
Porém, Júnior fez o favor de não chegar na hora marcada. O celular vibrou e era uma mensagem do primo avisando que estava a caminho.
Agradeceu e entrou em casa, porque precisou ficar no meio do sol quente esperando um sinal que indicasse a chegada do garoto.
Colocou em sua cabeça positividade para a ajudar nessa conversa. Não ia ser nada fácil contar tudo para seus pais.
A buzina de uma moto se fez presente acabando com o silêncio na rua. Ela se assustou com a buzina e ao olhar para o lado esquerdo conseguiu ver uma moto preta vindo.
Acalmou o seu coração aos poucos enquanto o primo se aproximava e quando chegou em frente a porta estacionou. Ele usava uma camiseta vermelha, calça jeans e tênis. Tirou o capacete abrindo um sorriso.
- Está linda hoje priminha- disse sorrindo saindo de cima da moto- Eu tive tanta sorte de nascer na mesma família que você.
- Para de jogar seu charme para cima de mim- se escorou no batente da porta- Sabe o que é ser pontual? Porque marcamos de você vim 12:00 horas e já são meio dia e meia.
- Parece a general Sophia querendo me colocar nos eixos- colocou as mãos nos bolsos da calça- Eu sou jovem e não me preocupo com esse negócio de responsabilidade, porque essas besteiras não me interessam agora.
- Bem-vindo a vida adulto priminho- abriu os braços meio vitoriosa- Logo logo essa vida baterá na sua porta e não terá para onde correr. Vem faculdade, trabalho, uma futura casa própria e etc.
- Pois eu vou aproveitar muito minha juventude enquanto posso-deu alguns passos a frente para diminuir a distância entre eles- Não quero saber do futuro. O meu foco mesmo é no presente e a minha frase é...
- Eu sei da sua frase que usa como um mantra-o interrompeu se afastando novamente dele- "A vida é para ser vivida da melhor maneira possível e sem aventura nenhuma que graça teria?" Eu sei esse mantra decorado.
- Deveria vim se aventurar comigo no próximo acampamento e vamos desbravar juntos cada canto da floresta-ficou animado e entrou sem pedir licença- Nas férias do meio do ano planejo viajar.
- Me deixa de fora desse negócio de acampar e ficar na natureza cheia de insetos-fez careta- Entrar sem pedir licença é bem sua cara, né? Só lembre do motivo de estar aqui e que não veio com a intenção de se exibir ou agradar seus tios.
- Ainda tem como voltar atrás sobre esse assunto do beijo- ficou de costas para ela parado mexendo em um quadro na parede.
- Claro que não vamos desistir e acho bom você contar toda a verdade para eles- puxou o braço do primo em direção a sala- Mãe? Pai? Nós temos visita.
- Juninho? Aconteceu alguma coisa?- Gisele apareceu o chamando de jeito carinhoso- Gaby está tão séria ultimamente. Almoçamos cedo somente para termos esse momento entre nós quatro.
- Finalmente resolveu nos fazer uma visita- Bernardo sentou calmo no sofá comendo um pedaço de bolo- Meu sobrinho vive sumindo e esquece da gente.
- Desculpa todo o suspense que fiz-encarou eles séria criando coragem- Mas ficar adiando seria pior, porque uma hora ou outra vocês vão ficar sabendo.
- Ai filhinha- Gisele sussurrou meio preocupada- Que clima tenso. Não me diga que eu vou ser avó- gaguejou e Bernardo se engasgou ao ouvir. Ele tossiu e apontou para cozinha.
- A-água por favor- pediu procurando o ar, Gisele correu para cozinha, abriu a geladeira e colocou a água no copo se tremendo.
- Pai? Calma...ai mãe para que a senhora foi falar isso?- a garota ficou sem saber o que fazer e bateu nas costas dele- De onde tirou essa ideia?
- Aqui meu amor- ela veio correndo com o copo e o marido bebeu a água rapidamente- D-desculpa eu acho que devia ter procurado as palavras. Está melhor?
- Estou melhor-passou um pano na roupa molhada de água e colocou o bolo na mesinha- Querem me matar do coração? Que história é essa de ser avó?
- Vamos manter a calma. Vocês entenderam errado- se virou para o primo envergonhada- Eu nem estou grávida.
- Acho bom não estar mentindo para mim- seu pai limpou a garganta- Eu ia ficar decepcionado se descobrisse por outras pessoas que minha filha está esperando um bebê. Uma menina exemplar, obediente e grávida? Um grande mau exemplo.
- Está exagerando meu amor- suspirou e tentou parar de se tremer pelo susto- Se Gaby diz isso então vamos acreditar. Fiquei nervosa e pensei errado, porque pela cara deles tirei conclusões precipitadas. Me perdoem.
- A gente sempre se protege-sussurrou a lançando um olhar de raiva se referindo ao seu namoro com Pedro. Depois o desafiou- Vamos, Juninho, conta logo o que veio fazer aqui.
- Bom meus fãs- sorriu forçado, deu dois passos para trás- Vou almoçar primeiro e aí resolvemos essa treta... podemos deixar para depois-Gabrielle se apressou e beliscou o braço dele.
- Nem pense em fugir de uma coisa que você causou- os tios estranharam verem eles brigando de verdade- Para de ser moleque e assuma o que fez.
- Eu vim aqui para assumir a minha culpa-sentiu o coração acelerar e gaguejou- É que... A gente se beijou quando cheguei de viagem. No caso eu beijei ela.
Os dois se levantaram surpresos ao ouvirem. O garoto explicou como aconteceu e assumiu que o beijo foi forçado.
Sua última confissão deixou o tio furioso ao ponto de puxar com força a orelha do sobrinho.
Gritou pedindo para dizerem que era uma brincadeira de mau gosto, mas a raiva aumentou quando o ouviu afirmando que realmente aconteceu.
Para se acalmar precisou beber dois copos de água e se controlar. O jovem se assustou com a reação inesperada e pensou que era exagero.
O homem sincero, íntegro e educado nunca havia presenciado algo parecido. Na visão dele namoro entre primos era pecado gravíssimo.
Já tinha visto muitas pegadinhas que os jovens faziam envolvendo os pais ou amigos.
Então supôs ser uma pegadinha deles. Estava confuso, surpreso e assustado.
Imaginou estar sendo filmado por jovens escondidos em algum lugar da casa. Que os dois seguravam uma risada para não estragarem essa brincadeira.
Ou talvez o vídeo fosse ao vivo e já estava pagando o maior mico na internet.
Sorriu nervoso chamando atenção dos que estavam presentes.Começou a andar pela sala, cozinha, espiou de trás do sofá, abriu as janelas e parou de andar perguntando onde estavam as câmeras.
Gabrielle entendeu a que o pai se referia e suspirou. Negou com a cabeça deixando claro não ser pegadinha.
Bernardo custou para se convencer não se tratar de uma pegadinha. Quando entendeu o clima ficou mais tenso. Parecia ter uma nuvem negra em cima das suas cabeças.
- Nesse final de semana estamos planejando o nosso pequenique- fixou o olhar em um ponto na parede- No Parque Lage. Planejava te convidar a nos acompanhar, mas devido a essa barbaridade mudei de ideia. Eu nunca mais te convidarei para nenhum passeio. Sai da minha casa, moleque.
- Vão me excluir dos passeios- sentou no sofá pegando na orelha dolorida- Vale a pena ficar pistola comigo por um beijinho? Deixem de ser caretas.
- Pelo visto não percebe a gravidade do que fez- gritou de repente- Isso é pecado, moleque. Quebrou a minha confiança. Não volte a aprontar essas coisas e se voltar a acontecer eu vou tomar medidas drásticas.
- Estou de acordo titio- usou a ironia, levantou e pegou o capacete- Relaxa aí. Tenho palavra e eu te prometo manter distância de um metro da princesinha. Vamos ficar longe um do outro, cumprimentar sorrindo, sem aperto de mãos. Agora posso tratá-la até como uma desconhecida.
- Vai embora por favor- falou baixo do lado dele- Para de usar a ironia, porque meu pai foi sincero.
- Relaxem meus fãs que já estou indo- segurou os ombros da prima a empurrando de leve sussurrando em seguida no seu ouvido- Fui irônico por ter certeza de que essa cena toda foi desnecessária. A partir de hoje vou ficar a um metro de distância de você. Se cuida, Gabrielle Freitas.
Júnior andou dando passos largos para subir em cima da moto. Gisele a chamou para o quarto e pela cara dela queria melhores explicações do acontecido.
O constrangimento ainda não havia acabado e o clima insistia em continuar tenso. Boa parte da culpa tinha sumido da sua mente por terem contado.
Eliane Alves
A lua estava brilhante naquela noite junto ao céu estrelado. Os moradores da rua onde Victor morava iam dormir cedo as vezes.
Por isso a maioria das casas estavam trancadas e com as luzes apagadas desde o começo da noite.
O relógio no quarto do casal marcava 23:10, ela observava o namorado dormir com um sorriso de satisfação nos lábios, olhava para o dedo, via o anel de compromisso e sentia vontade de gargalhar por ter conseguido iludir o carioca.
Alguns sons de buzinas e choros de bebês tiravam um pouco o silêncio da noite. Ouvir esses choros estava a deixando incomodada. Decidiu parar de observar o namorado dormir para poder ligar o ventilador.
Queria que o barulho do ventilador fosse capaz de abafar o som lá fora. Ouvir choro de bebê fazia sua mente viajar até o tempo que a filha era pequena.
Cada choro era uma lembrança diferente dos dias que considerava os piores de sua vida.
Talvez fosse um exagero pensar assim, pois muitas mulheres sonham em ser mães e algumas passam anos tentando engravidar.
Noites mal dormidas, dor de cabeça, o bebê chorando de um lado e a mãe do outro, dias cansativos, mãe solo e muitas outras novas realidades iam fazer parte da rotina diária a partir do momento que aquele recém-nascido nascesse.
O lado positivo podia ganhar de alguma forma por o simples motivo daquele pequeno ser humano ter sido muito aguardado. Parecia um sonho namorar, casar e formar uma família.
Eliane nunca pensou dessa forma. Seu sonho nunca foi ter um filho. Uma mulher egocêntrica, muito ambiciosa, interesseira, nunca se apegava em relacionamentos, bem esperta, fingia se importar com Natália.
Fingia se importar, porque não queria que as pessoas vissem quem ela era de verdade. Desde a adolescência tinha certeza do que queria conquistar na vida.
Ser rica, viajar o mundo todo e morar em uma mansão no Rio de Janeiro. A ambição não tinha limites.
Tirou o anel de compromisso e colocou em cima da cômoda.
Passou devagar as unhas no braço do namorado lembrando com detalhes da noite onde achou o perfil de Victor no facebook.
Tinha visto as publicações dele e principalmente informações pessoais no perfil. Divorciado, morava no Rio de Janeiro, dono de uma padaria, pai de duas meninas, fotos dele no local de trabalho.
O nome padaria ficou em sua mente e percebeu a oportunidade imperdível.
Arquitetou o plano na mesma noite e sem pensar muito decidiu conversar com o homem para ver se investir no carioca era um negócio bom.
Aos poucos foi o conhecendo melhor e descobriu que ele havia se divorciado recentemente. Estava abalado e meio para baixo, porém não se negava a conversar com Eliane.
Havia iniciado as conversas no seu momento de fraqueza. Por essa razão teve mais facilidade em colocar o plano em prática.
Namorou virtualmente já planejando como ia o conhecer. Seu interesse sempre foi no dinheiro dele. Sabia como agir em casos como esse e o pai de Natália tinha ficado no passado.
O problema que atrapalhava um pouco era sua filha. A garota rebelde nunca foi fácil de lidar. Sentia raiva dela e nunca a amou realmente.
Se arrependia de ter concordado com o ex marido em fazer aquela menina entrar na casa deles.
Ela não foi planejada, esperada, muito menos trouxe alegria para mulher.
Se Cristovão não fosse tão bonzinho, se Mariana Diógenes Santos tivesse sido mais bem resolvida na sua primeira gravidez e se Roger não tivesse contado sobre a gravidez de Mariana. Isso nunca ia ter acontecido.
Se arrependia amargamente quando percebia a realidade. Cristovão faleceu e deixou a menina indesejada na responsabilidade dela.
Queria poder voltar atrás para consertar seu erro.
Se pudesse voltar no tempo então nem ia aceitar a ideia maluca. Porém, não tinha como consertar erros do passado. Tinha que aprender a viver com as consequências.
Victor não era rico, mas tinha uma padaria e podia começar a investir melhor no seu trabalho e ficar com ele era a coisa certa.
Tirar dinheiro dele, continuar fingindo ser uma boa pessoa para não deixar nenhuma desconfiança em ninguém e viver um namoro de aparências.
Não se importava se os outros achassem que o namoro deles estava sendo rápido demais. Ninguém a conhecia no Rio de Janeiro e por isso não podiam julgá-la.
Ter iludido fingindo estar apaixonada, ter conseguido o anel e perceber que estava tendo bons resultados a fazia se sentir satisfeita.
Deu um selinho rápido nele e se deitou do seu lado. Precisava pensar no próximo passo para deixar Victor completamente louco por ela.
- Tenha uma boa noite- sussurrou enquanto o abraçava e ele se mexeu um pouco- Vamos ser muito felizes juntos- segurou uma risada enquanto falava e finalizou- Tão lindo e tão bobo... você está nas minhas mãos querido.
Fechou os olhos e tentou dormir em meio ao som do ventilador. Não pensava em desistir e se viesse algo para atrapalhar ia lutar contra isso se fosse preciso.
Tinha certeza que ia ter sucesso, porque não ia se apaixonar por ele. Sua ambição importava mais que o amor.
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