33º Capítulo
Rafael Santos
- 09:35 da manhã
As vezes quando pensamos no tempo que éramos crianças dizemos que a infância tem gosto de pirulito, mingau ou bombom e tem cheiro de terra molhada, giz de cera ou biscoito.
Para cada pessoa foi um tempo diferente onde erraram, aprenderam, brincaram e muitas outras coisas que valem a pena ser lembradas.
Memórias formadas nas mentes de cada criança como o dia certo que visitavam os amigos, uma tarde de brincadeiras ao ar livre, quem ensinava as tarefas de casa, tardes agradáveis nas praças ou parques e quase tudo isso ficou registrado nas mentes para lembrarem quando já estiverem adultos.
Quando Rafael lembrava de sua infância vinha lembranças de dias tristes e solitários onde ele se viu sozinho sem os pais. Eram coisas que queria esquecer para parar de ser atormentado pelo passado.
Porém, também vinha lembranças boas. Como, por exemplo, quando passava as tardes com os seus avós, assistia sua mãe dançando balé, brincava com seu pai, comia doces depois do almoço e o que mais lembrava desse tempo eram os sabores.
Falar dele criança o fazia lembrar do sabor do jambo. Na frente da casa de dona Margarida e seu Joaquim, seus avós, havia um pé de jambo rosa.
O casal de idosos plantou esse pé de jambo antes do neto nascer, porque dona Margarida amava plantas e tinha jarros de flores naturais.
Sempre aguava suas plantas e cuidava de cada uma com carinho. Transmitia amor para essas plantas. Ensinou o neto a plantar feijão quando ele tinha 11 anos e precisava fazer trabalhos assim para escola.
Rafael gostava de comer jambo e esse era um dos motivos que o faziam querer ficar com os avós. O sabor da fruta o fazia voltar aos dias onde era pequeno.
Um menino branco, um pouco baixo e que ficava pálido as vezes. Se pegasse muito sol podia ficar com a pele vermelha parecido com aqueles camarões.
As flores do jambeiro deixavam a calçada enfeitada trazendo a impressão de um tapete cor de rosa e Margarida ficava com um sorriso no rosto.
Sentia orgulho de si mesma por ter plantado já seu marido achava nada demais.
Era acostumado a ver as flores rosas no chão e para ele isso não tinha mais o mesmo encanto. Não sorria mais como antes e era um pouco pessimista.
Acreditava que sua alegria de jovem tinha se perdido em algum momento da sua vida.
Uma casinha simples e atraente ao mesmo tempo. Tinha um portão de ferro, uma caixinha de correio no portão, pintada de amarelo, janelas azuis e um jardim pequeno na frente.
Parecia um lugar antigo e a maioria dos vizinhos gostavam do casal e sabiam da história do garoto que perdeu os pais.
A família era bastante famosa onde moravam e naquela rua todos ficavam do lado de fora conversando até tarde. Era uma das poucas ruas calmas que ainda existia ali.
A maioria das pessoas amigáveis, algumas mães de família iam varrer as calçadas e no fim ficavam conversando com as vizinhas, não gostavam de escutar música alta, crianças corriam até se cansar ou soltavam pipa nas épocas que as pipas enfeitavam o céu, colocavam cadeiras no quintal ou nos portões da frente para conversarem.
Quase todos já tinham passado dos 59 anos e eram poucos jovens que ainda moravam naquele lugar. Por isso o garoto se sentia mais solitário por não ter como fazer amizade com alguém da sua idade.
Só tinha amigos na escola e na rampa de skate. A única jovem que morava na mesma rua que ele era Rayra Valentina. Se conheceram na rampa, mas depois descobriram que podiam ter se conhecido antes disso.
Rayra era sua companhia quase diária e tinha o poder de sumir.
Quando isso acontecia ele entendia o sumiço dela. A garota tinha um pai alcoólatra, chegava bêbado e ainda batia na mulher ou na única filha.
Por problemas familiares e também por baixa auto estima ela se isolava no conforto de seu quarto. Havia também seu esconderijo secreto que ele conhecia muito bem.
O esconderijo secreto era em uma igreja abandonada que tinha perto deles. Passava dias sem vê-la e não ligava para saber como estava por suspeitar que tivesse acontecido algo ruim e ela precisava ficar sozinha.
Nessa segunda-feira a garota fez questão de fazer companhia para o amigo. Disse para ele que não ia conseguir ficar em paz pensando em como o mesmo estava.
Apesar dele tentar convencê-la foi impossível, porque continuou com teimosia e batendo o pé impaciente para mostrar que estava bem determinada a ficar.
Se preocupava muito com o amigo e queria se certificar que não ia sentir nem uma dor ou algo parecido. Seu jeito de cuidar das pessoas era igual ao cuidado dos médicos,mas a menina não queria isso.
Sonhava em se tornar arqueóloga por sempre ter gostado de estudar história e de tudo relacionado ao passado.
O médico recomendou repouso para Rafael e nada de esforços por pelo menos 48 horas e esse tempo já tinha se passado. Passou o domingo todo deitado, recebendo suas refeições na cama e ficando entediado rapidamente.
No primeiro dia semana continuava repousando apesar de se sentir bem. Queria poder ter ido a escola como todos os dias.
Aquele acidente foi bem inesperado como são as surpresas desagradáveis. Porém, a maior surpresa veio depois.
Margarida contou sobre o homem causador do acidente, dele ter o ajudado e do mesmo ter chegado tarde no trabalho somente para saber notícias.
Ela também disse que seu nome era Roger Santos. Estava acompanhado com Andreina Diógenes, sua filha, e quando ouviu ela contando logo lembrou da patricinha da escola.
Ainda não tinha esquecido dos seus olhos azuis, pois pareciam ter o hipnotizado. Só ouvia sua voz quando ela falava na sala de aula e a achou bem orgulhosa no dia que os novatos se apresentaram na aula do professor de inglês.
A patricinha mexeu com os seus sentimentos e se queria mesmo esquecê-la precisava de muito esforço pelo fato dela ser novata logo no 2º ano B.
Pensou em Rayra ser a melhor opção para esquecer ela. A solução podia estar em sua amiga?
O que pareceu difícil de acreditar foi em Roger. O pai dela fez questão de ficar no hospital esperando por notícias dos médicos, falou com os avós dele e ainda se responsabilizou por tudo. Fez isso de coração sem esperar nada em troca.
Pensou que talvez o homem fosse bom, responsável e ainda gostasse de ajudar os outros. Não conhecia ele, tinha motivos nenhum para acreditar e a sua desconfiança não o deixava, mas se realmente fez tudo de bom coração então era bem diferente da filha.
Andreina pensava somente em si e sua vontade de saber mais da vida dela só aumentava.
Tina tomava um chá de camomila enquanto passava as páginas de um livro. A sua tranquilidade era admirável.
Ela precisava ler aquele livro que a professora de literatura havia passado e era muito importante todos lerem, porque no final ia ter um debate com os alunos valendo ponto. Sempre fora uma boa aluna e nunca decepcionou nenhum professor.
- Devia ler esse negócio na igreja abandonada- disse a fazendo se despertar e quase derramar o chá na sua roupa. Tentou segurar sua risada enquanto ela o lançava um olhar que queria dizer a seguinte coisa: "Odeio quando interrompem minha leitura."
- Eu estava na Carolina do Norte fingindo ser a Ronnie e pensando em como seria maravilhoso se os meus pais se divorciassem-colocou a caneca no chão e se ajeitando na poltrona preta.
- Aproveitando um romance de verão na praia de Wrightsville... Até você me acordar do meu sonho. Olha minha cara de felicidade.
O livro do debate era A Última Música do Nicholas Sparks. A garota gostava do romance da ficção por poder se aventurar em algo que tinha quase certeza que nunca ia viver.
Ler sempre foi o seu escape dos problemas e a fazia se desligar de tudo. O seu passatempo se resumia em imaginar ser alguma personagem.
Ele continuou deitado na cama observando ela cruzar os braços chateada. Achava sua amiga fofa assim e as vezes a irritava somente por diversão.
- Desculpa te tirar desse mundo- fez uma voz arrependida- Mas ficar aqui sem fazer nada só vendo você lendo esse negócio está muito entediante.
- Pois vem ler comigo- sentou do seu lado- Vem conhecer a Ronnie e o Will. Eu te convenço a se interessar pela leitura.
- Prefiro minhas músicas-se sentou e se encostou na cabeceira- Se estiver cansada de olhar para minha cara, com sono ou entediada pode ir embora. Já basta a dona Meg me vigiando de cinco em cinco minutos.
- Eu já disse que não me importo e vou ficar- tomou chá e se encostou na cabeceira também- Dona Meg só quer ter certeza que você se recuperou.
- Menina teimosa essa hein- balançou a cabeça apertando a bochecha dela querendo a irritar um pouco- Se quer me ajudar de verdade então vamos sair pela janela. Eu vou contigo para igreja abandonada...
- Vamos só quarta- o interrompeu lembrando de algo- Lembrei agora. Sua amiga lá...como é o nome dela mesmo? Catarina? Camila?-se enrolou tentando lembrar o nome e ele sabia a quem se referia, mas deixou ela se lembrar.
- É...Carla. Carla ligou ontem querendo saber se tinha recebido alta e falou com seu Joaquim. Acho melhor ligar para ela assim vai se acalmar mais.
- Amanhã vão me ver são e salvo chegando na escola- colocou as mãos atrás da cabeça- Depois falo com ela. Ao invés da gente estar jogando conversa fora sabe o que deveríamos estar fazendo para aproveitar?
- Eu sei. Deveríamos estar estudando, pesquisando na internet, jogando videogame- mudou de assunto despreocupada- Aí chega a hora de eu ir me arrumar para enfrentar mais uma tarde de estudos.
- Não é nada disso, Tina- suspirou meio cansado e tentando não forçar nada por saber as regras da relação deles- Vamos aproveitar do jeito certo. O que me diz?- beijou a bochecha dela e foi descendo beijando seu pescoço.
Rayra se arrepiou mordendo o lábio deixando claro que gostou da iniciativa de Rafael, mas ainda assim quis continuar se fazendo de difícil por não estar muito confortável naquele momento.
Podiam estar sozinhos, mas por causa da sua timidez ficava envergonhada perto dele. Nem sempre era fácil se arriscar tendo que ignorar seu jeito de ser.
Mordeu a orelha dela causando arrepios pelo seu corpo todo a fazendo se repreender porque se deixou levar.
Se afastou e segurou o rosto dele que entendeu o que ela queria dizer sem precisar ouvir as palavras. Respirou fundo em seguida parecendo arrependida.
- Ah meu lindo e a razão da minha existência- brincou querendo ser engraçada antes de acabar com o clima. Ele sorriu e tocou nos lábios dela com suavidade- Estamos na sua casa e eu... Não vou ficar confortável com a gente se beijando aqui. Alguém pode entrar...
- Ninguém vai nos incomodar sabe por que?- se levantou, fechou a porta trancando em seguida e voltou a se sentar- Problema resolvido, princesa. Agora podemos ficar a sós.
- Como queria ser assim e parar com minhas inseguranças- se encolheu desanimada- Para deixar de lado essas besteiras.
- Tristeza não combina contigo, minha princesa- beijou a testa dela para mostrar que estava tudo bem- A gente só ia se beijar. Não precisa ficar mal por causa disso.
- Quando você quer ser romântico, se passar por bom moço, agir como um anjo até que consegue- soltou uma gargalhada apesar de ainda estar meio desanimada- Assim nem tem como dizer que é um vagabundo.
- Eu consigo ser romântico quando quero-sorriu convencido- Se não quer ficar hoje então vou te forçar a nada. Lembra das regras dessa amizade colorida?
- Não forçar o outro a ficar- entrelaçou seus dedos no cabelo dele suspirando aliviada- Me desculpa por ser tão insegura, Rafa? Eu pareço muito boba assim, né? Pode falar a verdade.
- Precisa pedir desculpa não- pegou na cintura dela- Só seria bom te ver mais solta em relação a isso, porque não iríamos fazer nada de errado. Eu sou péssimo com conselho e não sirvo para isso só que se for para ajudar minha amiga a deixar essa timidez, se valorizar e ter amor próprio aprendo a aconselhar fazendo o que tiver ao meu alcance.
- Obrigada por ser paciente com essa tola- apontou para si mesma- Só falou verdades e preciso criar vergonha na cara e começar a me arriscar sem ter medo de me arrepender. Assim nunca vai se cansar de mim.
- Ficar se colocando para baixo é um caminho sem volta- sua expressão séria mostrou uma certa impaciência e ao mesmo tempo a repreendeu-
E eu acho bom você se animar logo, enxergar seu corpo atraente, suas qualidades e até sua beleza quando tiver acabado de acordar.
- Eu vou me esforçar a cada dia- disse com determinação na voz- Com a sua amizade consigo ser mais forte e nem sei como te agradecer por tudo.
- Agora vi confiança nessas palavras- deu um selinho demorado nela a pegando de surpresa- Ter iniciativa também é legal e seria um começo. Vai ser interessante para nós dois.
- Talvez ir para balada, se embebedar até o amanhecer e dormir com caras que nunca vi na vida possa ser viver como um jovem normal do século 21-disse pensativa.
- Prefiro que vá com calma, porque não quero te ver parecendo uma doida nas baladas- ela deitou a cabeça no colo dele- Fazer algumas loucuras pode te prejudicar muito.
- Estava brincando- fechou os olhos sorrindo um pouco e veio em sua mente a imagem dele junto com uns amigos da escola antiga- Talvez eu pudesse me juntar com aquela galera lá da sua escola antiga e quebrar algumas regras.
- Eles são meus amigos e você nem combina com aquele grupo- acariciou o braço dela nervoso- Quero a mesma Rayra Valentina do meu lado e só precisa mudar o que realmente for preciso.
Pensar na possibilidade da amiga se juntar com essa galera era quase impossível, pois os mesmos só se metiam em confusões.
O garoto era amigo deles desde o ano passado e seus avós o matricularam na escola municipal para o afastar dessas amizades erradas.
Mesmo assim ainda continuava falando com o grupo, se encontravam para conversarem e as vezes iam para festas.
Nessas festas rolava de tudo desde drogas, bebidas e até sexo. Com a influência das amizades começou a experimentar drogas em setembro do ano passado.
As vezes ficava com vontade de usar drogas ou fumar um cigarro sabendo que só tinha como fazer isso longe da vigilância de dona Meg e seu Joaquim.
Então esperava aparecer uma festa e não comprava nada, porque no lugar já tinha tudo.
Ele só queria curtir um pouco com a galera, se divertir, sair, se distrair. Para o jovem era um divertimento e só. Sempre dizia que era um simples passatempo e sabia a hora certa de parar.
Rafael não bebia e nem usava drogas por causa de alguma insistência das suas companhias, mas sim por conta própria. Um dia ele teve vontade de experimentar para esquecer os problemas.
Rayra nem imaginava isso e nunca podia saber dessas coisas. Fazia tudo escondido descobrindo um mundo novo onde tudo era sem moderação.
Ela permaneceu em silêncio com os olhos fechados e o ar pesado que se instalou no quarto logo desapareceu aos poucos. Aquilo era pessoal e preferia colocar uma pedra por cima do assunto.
Eles decidiram abrir a porta, Tina voltou a ler seu livro o ameaçando se interrompesse de novo sua leitura e a confiança dela o fez acreditar melhor na sua disposição para mudar.
Mirela Oliveira
Educação física era a penúltima aula do dia para os alunos do 9º ano. Depois de tanta tarefa queriam um descanso de pelo menos uma hora e essa era a aula preferida para quase todos.
A professora de educação física se chamava Francesca, uma italiana que morava no Brasil desde seus 6 anos e por isso já estava familiarizada com o país, porque desde criança aprendeu a falar português.
Quem via ela não pensava que era uma italiana e só desconfiavam quando ficavam sabendo o nome dela. Os alunos a chamavam de Fran.
Mirela e suas amigas estavam escolhendo uma música para dançarem. Ela era fã da série Soy Luna e costumava sempre assistir os episódios.
Elas também assistiam, torciam para um casal ficar junto, aprendiam novos ensinamentos principalmente a nunca desistir dos seus sonhos. Adoravam assistir o canal da Disney.
As três escolheram a música Siempre Juntos de Soy Luna. Sabiam toda a coreografia e se divertiam juntas.
Francesca costumava deixar os alunos não participarem do jogo da quadra, mas era se eles tivessem machucado o pé e se fossem fazer alguma outra atividade física.
As meninas preferiam dançar ou correr ao redor da quadra.
Então ela liberava e colocava ponto de participação no diário quando fazia a chamada.
Estavam prontas para começarem a coreografia quando Davi chegou as interrompendo e jogou a bola em Ana. A bola acertou forte a cabeça dela ao ponto de fazê-la cair no chão.
- Tinha que ser o Justin Bieber- Mirela disse ajudando a amiga a se levantar- O gol fica para lá.
- Se eu fosse esse cara nem estaria mais aqui- pegou a bola e olhou para a garota- Foi mal, Aninha. Ainda preciso aprender a jogar direito.
- Precisa mesmo se não vai acabar machucando alguém gravemente- fez uma careta de dor e Mirela olhou para ele com olhar reprovador- Eu não quero sentir nada que me faça ir correndo na direção pedindo para minha mãe vim me buscar aqui.
- Ela é filhinha de mamãe- o ruivo fez um bico rindo dela- Relaxa aí Nina Simonette, porque te amo e só foi uma bolada. Uma dorzinha de leve não vai te matar e nem te fazer voltar para casa.
- Acho melhor dançarem sozinhas meninas- ela sentou na arquibancada abraçando as pernas.
- Não acredito que o Justin Bieber estragou tudo- Emily se aproximou e fez o mesmo olhar reprovador da amiga- O que ganha tirando nossa paz?
- Fica calma minha bruxinha preferida- tirou do bolso da calça um lápis verde e apontou ele na direção dela o usando como varinha- Pode ficar com seu bichinho.
- Eu pego esse bichicho e quebro ele aí você fica sem lápis- sorriu cruzando os braços- Só para deixar claro sou uma bruxa com muito orgulho.
- Esquece esse menino e vamos logo fazer essa coreografia- Mirela suspirou com a discussão dos três.
- Oh deviam escutar a inteligente aqui- apontou para ela- Essa menina sabe de tudo. Só não ganha da nossa amada mãe bruxinha.
- E esse menino implicante devia sair correndo antes que eu perca minha paciência- bateu nele e o mesmo só fez rir alto se protegendo- Ninguém te aguenta mais.
- Desculpa acabar com a alegria das Superpoderosas- fez Mirela parar de bater nele- Mas tudo que falei sobre a bolada é verdade. Ana é delicada, vive numa concha, precisamos tratá-la como uma pessoa da realeza. Pode nem triscar um dedo nela que já sente mil e uma coisas diferentes. Nunca vi uma pessoa tão frágil assim.
- Eu concordo em partes- Emily começou devagar esperando a reação das duas- Não me matem antes de escutar o restante. Concordo com ele na parte dela ser desse jeito e vivo dizendo que pensamentos negativos atraem coisas negativas.
- A conversa está muito boa só que a Fran está chamando para começar o jogo- Davi correu para longe delas.
- Mudou de lado agora?- colocou as mãos na cintura sem entender nada- Decidiu ser chata nessa altura do campeonato?
- Davi é muito infantil, Mih. Nem vale a pena brigar com criança- sentou do lado da outra garota- Me perdoa, Aninha? Sabe que eu estou aqui para te ajudar.
- Não fiquei com raiva, Mily, até porque você é nossa mãe e seu dever é nos proteger ou nos dar uns puxões de orelha- a abraçou forte.
Os quatro eram conhecidos na escola como o grupo dos apelidos pelo fato de cada um ter o seu próprio jeito de ser. Davi adorava implicar e associava cada apelido a algo único nelas.
Com as suas implicâncias conseguia irritá-las, mas na verdade nunca imaginou ter que viver sem elas. Tinha vergonha de admitir isso.
Mirela era a inteligente por saber sempre de quase tudo, Ana tinha esse apelido de Nina Simonette, porque o nome pertencia a uma personagem de Soy Luna a qual a garota gostava e se identificava.
Ela tinha uma cintura fina, pele pálida, corpo se assemelhava ao de uma boneca. Adorava mitologia grega e vivia lendo o livro Pegasus e o fogo do Olimpo.
Emily era chamada de bruxa pelo fato de ser Wicca, porque Wicca sempre foi uma religião que fazia parte da bruxaria moderna. O seu colar com pingente de coração verde e seu rosto pequeno eram a sua marca registrada.
Elas se vingavam dos apelidos o chamando de Justin Bieber por ser parecido com o cantor, mas devido a seu cabelo ruivo não tinha perigo de o confundirem com o famoso.
Emily ficava chateada quando o menino tocava no assunto de religião por ser Wicca e sentir na pele o preconceito das pessoas ao explicar sobre suas crenças.
Tinha respeito por outras religiões e ficava triste diante de zoações, ofensas, críticas.
Mesmo com o preconceito falava abertamente das suas crenças nas redes sociais e não arrumava briga com ninguém.
Ela era como a mãe do grupo devido sua proteção maternal misturado com a inteligência. Fazia bem para muita gente somente em estar por perto.
- Cena fofa- Mirela bateu palmas observando o abraço demorado- Hora de esquecer o Davi e focar aqui. Estão sabendo da novidade?
- Eu nunca sou a primeira a saber de nada- a bochecha de Ana que era pálida ficou vermelha de vergonha ao ponto de sentir queimar seu rosto. Queria poder ser mais bem informada igual todo mundo- O que aconteceu dessa vez?
- Lembram da prima da professora Francesca?- perguntou animada por finalmente começar essa conversa.
- Aquela americana... Chinesa- Emily se atrapalhou para lembrar e mexeu no seu pingente de coração- Errei, errei, errei deve ser uma africana.
- Está viajando no mundo da lua- ajeitou o óculos respirando fundo-
A professora Francesca tem toda a família morando na Itália. A prima se chama Chiara, é adolescente e está morando aqui no Brasil a quatro anos.
- Eu lembro da Fran dizer que estava com saudades da prima- comentou distraída amarrando o cadarço do tênis- Dela estar em solo brasileiro fiquei sabendo agora.
- Chiara está misturada com os playboys da particular e pelo que estão falando sua próxima escola vai ser essa- contou mais animada e ansiosa.
- Sei não, mas se eu fosse o diretor ficaria orgulhoso em receber uma gringa- disse convencida e mudou a voz- Para mim é algo novo. A italiana pode ser legal e se cair na nossa sala eu vou me aproximar dela.
- Não é como se nunca tivéssemos visto gente de fora- Ana se levantou em um pulo as assustando- É normal para mim.
- Podemos ajudar ela a se enturmar, aprender o português e decidimos se poderá entrar para o grupo- pegou o celular e colocou novamente na playlist- E para melhorar ainda vou passar o final de semana com meu pai.
- Então as novidades são para comemorar mesmo- colocou o braço no seu ombro e ela a empurrou de leve rindo dizendo para parar de ser folgada.
- Pode parecer bobagem eu estar feliz por uma simples novata- fez voz de choro- Porém, bobagens assim me animaram. Sabem da minha paixão por novos idiomas e passar o final de semana com meu pai novamente é minha luz no fim do túnel.
- Desembucha que esse negócio de luz no fim do túnel ficou confuso- ela se interessou por perceber um pouco de tristeza e se abaixou de frente para algumas plantas.
- Vamos nos alongar, Emily. De vez em quando a professora olha de canto de olho para gente-sussurrou e ficou de costas para os alunos- Sobre meu pai o problema é o namoro dele.
- Namoro? Como assim Mih?- as duas perguntaram em uníssono gritando atraindo atenção de quase todos presentes.
- Podiam ter disfarçado melhor antes de fazerem um escândalo- começou a correr sem sair do lugar- Eu nem tive como dizer nada, porque foi muito rápido. Foi na semana passada que a Carla me deixou por dentro da nova vida lá na casa da vovó.
- Que drama- correu tentando tirar a franja que caía em seus cílios- Faz só alguns meses do divórcio deles e o tio Victor já está comprometido.
- Vocês nem imaginam o restante da história e nem venham me dizer que estou com ciúmes-parou de correr e balançou os braços em círculos- Mesmo com as brigas dos meus pais ainda tínhamos momentos bons, as nossas guerras de travesseiro, os bolos da minha mãe e eu sinto falta disso. Carla quem tem ciúmes e tenho medo dela estragar o relacionamento do meu pai.
- A namorada dele mora no Rio, certo?- perguntou antes de começar a fazer flexões no joelho.
Ela explicou sobre tudo que sua irmã havia contado e sua voz ficou triste demonstrando não estar a vontade com o novo.
As meninas confessaram que nunca imaginaram ver Victor namorando pela internet.
A garota admitiu que também nunca imaginou, mas uma das realidades do mundo virtual era sobre namorar virtualmente.
Explicou da parte que mais a incomodava do seu pai ter chamado a mulher para morar em sua casa. Ainda parecia difícil de acreditar nisso.
- Que mudança ele teve nesses quatro meses- Emily refletiu depois dela terminar de explicar- Muita mancada o tio não ter te avisado nada. O que pensa em fazer agora?
- Não sou como minha irmã que age as vezes sem pensar- soltou o ar se recuperando por ter falado rápido-
Eu vou passar o final de semana na companhia do papai, conhecer essa mulher e tentar simpatizar pelo menos com a filha dela.
- Que barra a Carlinha está passando precisando viver dia e noite com essas desconhecidas-ainda estava refletindo escolhendo as palavras certas- Pelo menos ele está seguindo sua vida sem ficar deprimido com divórcio.
- Pensa positivo como a Mily- Ana sugeriu com um bom tempo sem dizer nada- Podem ser do bem e chegaram na intenção de ficar.
- Ultimamente estou sendo mais pessimista apesar de lutar contra esses pensamentos-confessou e olhou para o céu- Algo me diz que muitas surpresas me esperam e é como se uma voz dissesse em meu ouvido para não confiar nessa tal de Eliane.
Elas se preocuparam com o jeito da amiga e Mirela preferiu encerrar a conversa fazendo o que mais gostava de fazer. Colocaram Siempre Juntos para tocar baixo, deixaram o celular na arquibancada e começaram a dançar.
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