Natália Alves

Os alunos entraram na escola e todos logo perceberam que o diretor Adriano estava no pátio conversando com os professores.

Havia ninguém no andar de cima e os veteranos sabiam o motivo.

No primeiro dia de aula ou na segunda semana de aulas o diretor reunia todos no pátio para falar sobre o novo ano, alguma mudança na escola, as apresentações de novos professores e para dizer a famosa frase de "sejam bem-vindos novatos."

Era quase todo ano a mesma coisa e todos os veteranos estavam acostumados a essa parte da manhã.

Todos precisavam ficar e escutar tudo para somente depois serem liberados para as primeiras aulas.

Diretor Adriano sempre quis ter o controle das coisas.Ele era um homem alto,48 anos, era negro, tinha cabelo preto e os olhos da mesma cor.

Sua mulher, Sônia,não podia ter filhos e tinha 40 anos. Por esse motivo Adriano ficava triste, porque queria ter uma casa cheia de crianças correndo.

Sua única solução para não ficar deprimido era olhar para cada um dos alunos e vê-los como se fossem os seus filhos.

Crianças, os pré-adolescentes e os jovens eram como a sua falsa ilusão de família. O pátio ficou cheio de conversas e barulho.

Alguns estavam observando enquanto os outros escutavam suas músicas no fone de ouvido.

Natália parou no meio deles e cruzou seus braços. Ainda não havia esquecido da cena de bullying que os garotos perturbaram o colega.

Ela não tinha educação e a sua rebeldia as vezes passava dos limites, porém apesar do seu jeito difícil se diferenciava um pouco pelo fato de não apoiar o bullying. 

Achava muito errado. Não suportava os populares, que se achavam ou pessoas que queriam mandar em todo mundo. As vezes costumava julgar alguns como no dia que julgou o garoto da bicicleta.

Pedro Miranda era mesmo popular. Quando ele atropelou ela de bicicleta a mesma parou para pensar nisso.

Pensou que ele era irresponsável por ter atropelado ela, educado, preocupado e do jeito típico de pessoas que faziam sucesso onde quer que chegassem.

Nisso ela estava certa e por esses motivos não simpatizou com ele.

Quando Victor deixou Carla e Natália no portão da escola as meninas desceram do carro. Antes de entrarem ouviram risadas e viram o momento que Pedro empurrou o menino.

Ela resolveu ir até eles quando percebeu isso e nem Carla conseguiu convencê-la a não se intrometer.

Como não tinha medo de ninguém acabou ameaçando os dois ao dizer que se voltassem a perturbá-lo ia contar tudo para o diretor.

Respirou fundo soltando o ar e olhou para os lados. Adriano já tinha começado a falar e chamava atenção de todos para fazerem filas de acordo com a série de cada um.

Sabia que sua mãe tinha a matriculado no 2° ano B e sorriu pensando na fama ruim que essa sala costumava ter.

Todos do B eram a pior sala por culpa dos alunos que costumavam ser bagunceiros e com notas baixas. Não sabia se nessa escola as coisas funcionavam assim.

Achou a fila do 2° ano B e se juntou a eles. Ficou escutando Adriano falar que apoiava o grafite e começou a observar cada um daqueles desconhecidos.

Carla estava na frente, conversava baixo com o Daniel,os dois populares estavam no meio.

De repente sentiu alguém tocar o seu braço e era uma garota que estava logo na sua frente. Ela tinha mechas azuis e roxas no cabelo.

- Devendo liberarem logo a gente, mas não- a garota disse olhando para ela e respirou fundo-Ficam falando só essas besteira. E aí é aluna nova também?

- Infelizmente sou sim- respondeu e parou de observar os outros- Natália Alves e você?

- Érica Sousa- sorriu e pareceu pensar por um tempo- Não sei, mas seu nome parece familiar para mim. Que estranho.

- Não nos conhecemos ok?- balançou a cabeça sorrindo forçado- Eu nunca tinha morado aqui e me mudei a pouco tempo.

- Mas algo me diz que te conheço- franziu as sobrancelhas ainda pensativa- Deve ser coisa da minha cabeça. Então gostou dessa escola? Já se enturmou com alguém?

- Eu acabei de chegar garota- revirou seus olhos- E se quer mesmo saber preferia nem estar aqui.

- Espera- levantou a mão ao lembrar de onde a conhecia - Nos conhecemos da internet. Nossa...que loucura. Você é minha amiga virtual do facebook.

- Do que está falando?-ficou confusa e sem entender nada. Muito menos o motivo de Érica estar rindo como se estivesse muito surpresa.

- A uns dias atrás lembro de ter conversado com uma garota com seu mesmo nome- cruzou os braços- Sei lá seria coincidência demais, mas é isso.

Elas continuaram conversando e chegaram a conclusão que conversaram virtualmente na sexta feira.

Isso as deixou mais a vontade para se conhecerem melhor. Depois de um tempo os alunos foram liberados para as aulas.

Era 07:30 e todos haviam perdido um bom tempo da primeira aula. Por isso que nesse dia teve uma pequena mudança.

Primeira aula de 07:30 até 08:15, segunda aula de 08:15 até 08:50 e terceira aula de 08:50 até 09:30.

Alguns acharam ruim essa pequena mudança. O sinal tocou mais uma vez e Adriano foi para a diretoria.

Natália e Érica começaram a subir aquelas escadas conversando, mas antes uma coisa interrompeu a conversa delas.

Pedro e Davi passaram, ele esbarrou no braço dela e Natália percebeu que foi de propósito.

-Oh idiota quer me levar junto?-gritou com raiva- Eu sei que foi de propósito.

- Me perdoa defensora dos nerds- ele disse e levantou as mãos parando na frente dela no meio da escada. Percebeu quando o mesmo chegou perto do menino que sofria bullying. 

Rapidamente Pedro empurrou o menino e sorriu quando se virou para trás olhando para ela.

- Vai contar para o diretor agora ou prefere esperar o intervalo?- sua voz estava divertida provocando a garota e mandou um beijo em seguida.

Não conseguiu responder, porque perdeu ele de vista por causa das outras pessoas passando e alguns estavam correndo.

Ela respirou fundo e entrou na sala. Se sentou do lado de sua nova amiga, Érica.

Uma mulher um pouco alta, de cabelo loiro liso que descia até suas costas, pele branca, olhos castanhos e magra entrou na sala em seguida. 

Segurava uma pasta e uma bolsa. Colocou-as na mesa e ajeitou o cabelo que estava um pouco arrepiado. Com sua chegada logo foi possível perceber que as conversas pararam.

Alguns falaram com a mulher e ficaram animados. Por um momento ficou um clima bom no lugar. Era como se a chegada dela trouxesse alegria e calma junto com leveza e confiança.

Capaz de mudar qualquer clima ruim.

- Bom dia jovens- ela disse animada e sorriu - Prontos para se aventurarem e ao mesmo tempo aprenderem?

- Estou pronta para dormir-uma garota levantou a mão ao dizer e os alunos riram- Como a senhora é boa vai deixar a gente livre na primeira aula não é?

- Sou muito boa, sou amiga de vocês, sou engraçada só que eu estou aqui hoje para ensinar- sorrindo apontou para lousa- Porque vocês tiveram um mês de férias e devem ter dormido bastante nesse tempo livre.

- Tem que ser um assunto bom nessa aula de hoje para me deixar acordada- Luciana cruzou as pernas e somente de fazer isso atraiu olhares de alguns garotos sentados perto dela.

- Antes de começarmos eu preciso falar de uma coisa importante para vocês- se apoiou na mesa- Bom eu sou a professora Cláudia,ensino português e literatura ok?

- Se alguém precisar de mim para tirar alguma dúvida em relação a aula. Estou aqui e se sintam a vontade para virem conversar comigo em relação a assuntos pessoais também. Isso depende de vocês.
Quem me conhece sabe que eu amo me aproximar de cada um e essa aproximação não precisa ser somente nesses momentos de aula.

Todos ficaram em silêncio escutando e a maioria estava com sono. Cláudia decidiu continuar.

- Todos os anos tenho costume de pensar em algo para trabalhar com vocês ou algo para inovar nos momentos de literatura- continuou falando depois- E nesse ano não seria diferente. Essa minha nova ideia para agora 2016 envolverá todos aqui. Querem saber qual é?

-Conta logo professora- Gabrielle se ajeitou na cadeira parecendo ansiosa e a Natália somente observava.

-Talvez essa ideia não agrade a todos, mas é quase impossível agradarmos a todo mundo sempre-encarou eles séria e logo voltou a sorrir- Alguns novatos custam para fazer amizades com os alunos antigos e é algo bem normal. Eu quero ajudá-los nesse ano e também quero ajudar alguns aqui que mal falam com os outros colegas, porque não fazem parte do seu grupo de amigos.

Alguns ficaram ansiosos para saberem e mostraram interesse quando Cláudia falou sobre amizades.
Ela nunca tinha tratado desse assunto com eles.

- Para 2016 a minha ideia é duplas- bateu palma- Vocês vão ficar em dupla durante as aulas de português e de literatura.

-Por isso que eu amo muito a senhora- um garoto mandou um beijo para professora e se animou.

- Eu escolherei as duplas- disparou deixando todos surpresos. Estavam bem acostumados a escolhererem as duplas ou os grupos e os professores nem sempre escolhiam- Levem como algo legal. Vocês vão ficar em dupla, fazer amizade diferente, se permitir evoluir durante esse ano.

Nesse momento todos começaram a falar ao mesmo tempo e para acalmá-los ela bateu o apagador na lousa chamando de novo a atenção deles.

-Isso não é justo- alguém logo disse- E nós amamos suas aulas. Sempre traz algo novo para evoluir o ensino,mas eu não vejo nada de legal nessa sua nova ideia.

-Exatamente professora- Gabrielle fez bico e alguns riram dela-Deixa a gente ficar com quem somos acostumados a conversar.

- E qual será a graça todos sentarem em dupla com pessoas que estão acostumados a sempre conversar? -suspirou e balançou a cabeça.

- Gosto de inovações e dessa vez tenho uma ideia para ajudá-los.Isso vai ser legal e com o tempo verão o quanto pode fazer toda a diferença. Não estou pedindo para serem melhores amigos das suas duplas. Peço que colaborem, tentem fazer isso dar certo, fazer os trabalhos das minhas matérias juntos, sair para conversar. Aproveitem esse ano, porque no 3° vem a prova mais importante das suas vidas. No 3° sei que muitos irão fazer o Enem e não terão muito tempo para pensar em se quer ir para o cinema. Será um ano de correria e muito estudo. Aproveitem o tempo que terão durante o ano de 2016 e se permitam mudar um pouco para que no 3° estejam felizes por mais uma nova série iniciada, com as novas coisas que viveram e com boas histórias para contar.

Ela não sabia bem o que pensar disso e ficou pensativa. Cláudia falou coisas para se pensar e fazer cada um deles refletir. A sua intenção era mesmo ajudar. 

Professora Cláudia agradeceu por terem concordado, pegou um caderno e começou a dizer os nomes das duplas. Quando finalmente chegou no seu nome.

- Natália Alves e Pedro Miranda-leu em seu caderno e continuou. Os dois se assustaram e olharam um para o outro.

- Ah sem chance de eu me juntar com ele-levantou a mão e Pedro concordou com a cabeça.

-Se preocupa não que eu também não faço questão de ficar em dupla com você-o garoto disse sério e a encarou.

-Vejam isso como uma novidade boa e desafiadora- sua voz estava calma- Vamos voltar. Próxima é Érica Sousa e Júnior Fernandes.

- O que?- os dois perguntaram em uníssono suspresos.

-Se forem vocês- Cláudia apontou para eles- Entenderam certo. Podem se juntar agora.

- Pelo menos não vai ser só eu que vou me juntar em dupla com quem não gosto- ela disse e suspirou revirando os olhos- Boa sorte aí com quem quer que seja esse tal de Júnior.

- É um cara insistente até demais- Érica bufou olhando para ela e se levantou- Boa sorte com sua dupla, Naty.

As duas se afastaram um pouco e foram se juntar em duplas com os meninos. Depois dessa mudança se deu o início da primeira aula de português.