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28° Capítulo

Gabrielle Freitas

- 11:30 da manhã 

O último sinal tocou finalizando mais uma manhã de aulas. Porém, a garota havia perdido os momentos finais da aula de biologia que foi a última.

Foi porque o diretor Adriano chamou ela para conversar na diretoria.

Ser chamada na diretoria não tinha um significado ruim. Afinal ela era a aluna exemplar, tirava notas boas e se comportava bem.

A única do 2° ano  B com facilidade de se aproximar das pessoas e fazer amizade. Se tornou a queridinha dos professores.

Somente por isso não precisava nem se preocupar em ir na diretoria. Era a aluna mais confiável e responsável entre todos.

O diretor Adriano costumava pedir ajuda de algum aluno ou aluna dos 9° anos e ensino médio para o ajudar com novatos ou em alguma coisa da escola.

A escolhida para ser ajudante dele em 2016 foi Gabrielle Freitas e por isso chamou ela para conversar.

Sua primeira tarefa era mostrar a escola para os novatos.Não sabia bem o que esperar de ser ajudante dele.

Todos na escola sabiam a dificuldade de lidar com o diretor, porque ele era  exigente.

Adriano era um diretor e professor de sociologia. Gostava de ver uma sala organizada, escola organizada e se sentia mal quando entrava nas salas de aula que tinham papéis no chão.

Vez ou outra dormia na sua sala da diretoria e muitos alunos tinham que acordá-lo.

Usar álcool gel se tornou uma coisa importante e parte da rotina. Odiava se sujar com ketchup por exemplo e quando acontecia logo passava um pano limpando e em seguida usava o álcool gel. 

Parecia chato, queria ter tudo sob controle, porém era engraçado as vezes e se sentia orgulhoso quando via seus antigos alunos conseguindo passar no Enem.

Gabrielle saiu da escola e falou com algumas amigas. Depois de conversar  ficou do lado de fora esperando seu pai. Escutou  risadas e sussurros que estavam por perto.

Ao virar o rosto para o lado percebeu de onde vinha os sussurros. Um casal estava se beijando e sorrindo. Podiam parecer bonitos olhando de longe e sem saber quem eram, mas a garota os conhecia bem.

Júnior e Luciana se beijavam sem parar encostados em um carro.
Ele apertava forte a cintura dela enquanto ela passava a mão no cabelo dele.

Fez uma careta observando o beijo e lembrou de quando o primo a beijou de surpresa. Nunca imaginou vê-lo ficar com sua amiga.

Desviou o olhar e se deparou com uma garota ao seu lado. Teve quase certeza de ter visto ela uma vez.

- Foi esquecida também?- perguntou de repente e ajeitou a mochila nas costas. A garota tinha o cabelo loiro e olhos azuis.

- Esquecida?- franziu as sobrancelhas confusa- Nos conhecemos?

- Sou Andreina e você não precisa se apresentar, porque sei que seu nome é Gabrielle- estendeu a mão sorrindo um pouco.

- Todos me conhecem aqui- sorriu e pegou na mão dela- Eu sou a mais popular dessa escola e você deve ser novata.

- Olha gostei de você- passou a mão no cabelo- Até agora me pareceu ser a única pessoa legal nessa escolinha.

- Aqui tem muita gente legal, do bem e populares- deu de ombros- Ah e eu fui escolhida para ser ajudante do diretor esse ano. Acho que segunda feira vou levar os novatos para fazer um tour pela escola municipal.

- Um tour por aqui?- apontou para o portão da frente- Sorry, Gabrielle. Eu posso conhecer tudo sozinha e esse lugar é bem simples. Não tem como se perder.

 - Tem certeza?- perguntou surpresa- Porque aqui tem um lugar secreto onde os veteranos vão muito. Você iria gostar de se esconder lá quando precisasse ou para namo...

- Nada nessa escola pode ser capaz de me surpreender- disse um pouco alto- Duvido que tenha uma sala de teatro, computação ou umas aulas de música.

Andreina olhou para ela com um olhar diferente. Parecia estar rindo por dentro, olhar superior e deixou Gabrielle sem graça.

- Mas se insiste tanto então vou fazer esse pequeno tour-cruzou os braços.

- Não vai para casa?- mudou de assunto por ter ficado com raiva do jeito que Andreina falou.

- Minha mãe deve estar chegando-ela respondeu- Está esperando alguém?

- Oi priminha- antes dela abrir a boca alguém a interrompeu- Tudo bem?

Júnior havia chegado perto delas sem fazer barulho. Gabrielle o observou e percebeu um pouco de batom roxo em seu lábio.

Rapidamente a imagem do beijo dele com Luciana veio em sua mente.

- Estava tudo ótimo até você chegar e estragar minha manhã-abaixou a cabeça e colocou a mão na testa.

- Está brava hoje?- ele tentou pegar na sua mão e ela se afastou- Acho que a sua raiva é por ter passado um bom  tempo longe de mim e ficou com esse mau humor.

- Pode dizer para o babaca me deixar em paz?- sussurrou para Andreina.

- Não quero me envolver nisso não honey-balançou a cabeça- Segunda feira conversamos mais. Bye bye casal cute cute.

Saiu sorrindo a deixando sem graça. Havia escutado que eram um casal fofo e isso fez ela ficar envergonhada na frente do garoto.

- Agora somos só nós dois- ele disse baixo e mordeu de leve o lódulo da orelha dela- Te chamei para irmos na padaria do Victor.

- Me deixa em paz-tentou não manter contato visual e ignorou os arrepios que sentiu pelos braços- Meu pai está perto de vim me buscar.

- Vai recusar ir na padaria comigo?- pegou no queixo da prima forçando o contato visual- Esqueceu do convite?

- Não vai conseguir meu perdão seu babaca-disse pegando no pulso dele fazendo-o soltar seu queixo.

 - Gaby, vem cá vem-pegou no ombro dela- Vamos nos beijar de novo e fica tudo bem. 

- Não sabe respeitar uma menina?- gritou percebendo em seguida que a rua tinha pouco movimento- Nunca mais vou sair com você.

- Aceita pelo menos sair comigo uma última vez?-suspirou cansado- Eu juro não te beijar de novo.

- Eu vou deixar uma coisa clara aqui-  disse sem gaguejar- Tenho namorado, amo muito ele, nunca seria capaz de o trair e quero distância de uns certos  babacas. Entendeu ou quer que eu desenhe?

- Fica linda quando está com cara de brava- fez um biquinho- Namorar é só perda de tempo e ficar sem se apegar é bem melhor.

- Isso não combina comigo- sorriu forçado.

- Estou com muita saudade de ficar contigo- parecia ter sido sincero- Nós saímos, colocamos o papo em dia e tenho seu perdão. Topa assim?

- O meu pai está vindo- respirou fundo, mas ele colocou os dedos nos lábios dela fazendo-a ficar quieta.

- Não podemos parar de nos falar por causa de um beijo- disse calmo- Vou ligar para o tio Bernardo e dizer para onde vamos. Depois te deixo em casa e pronto.

- Sinto que posso me arrepender de aceitar- falou devagar depois de um tempo e pegou o celular- Mas liga logo para o meu pai antes que eu mude de ideia.

Sem perder tempo Júnior ligou para  Bernardo, os dois foram para o ponto de ônibus e logo o ônibus chegou.

Júnior Fernandes

Perto da casa de Gabrielle havia uma padaria delivery. O dono do lugar era Victor, pai de Carla. Aquela padaria sempre foi movimentada e as pessoas gostavam muito de comprar pão pela manhã ou fazer os pedidos para irem entregar.

Victor era conhecido onde morava e as vezes Carla ajudava ele a atender os clientes. Padaria simples, paredes claras, mesas quadradas, alguns vasos cheios de flores frescas por todo o lugar, em uma parede tinha adesivos de cupcakes, pães, bolos ou docinhos.

Era o ponto de encontro de alguns jovens.

Júnior e a Gabrielle desceram do ônibus. Começaram a andar pela calçada e ele lembrou de quando foi visitar a sua prima depois de ter chegado do acampamento.

Havia chegado na casa dos tios sem avisar antes e estava de moto.Andava pela calçada relembrando disso e da sensação de adrenalina nas veias enquanto pilotava sua moto.

Como se fosse capaz de ganhar o mundo.

Chegaram em frente a padaria. Júnior olhou para ela e sorriu enquanto subiam as escadas.

Entraram na padaria e viram Victor atrás do balcão. Distraído ele atendia alguns clientes.Sorriu para um garoto  pequeno que estava comprando um bolo.

Eles sentaram em uma mesa perto do balcão. Carla apareceu com a farda da escola e um avental. Naquele dia ela estava ajudando seu pai.

Os seus olhos estavam vermelhos como se ela tivesse chorado. Atendeu a mesa deles e logo anotou os pedidos saindo apressada em seguida.

- Por que me chamou para vim aqui mesmo?- ela suspirou, colocou seu cotovelo na mesa e apoiou a cabeça com a mão.

- Você precisa relaxar priminha-ele sorriu- Parou de falar comigo e te chamei para gente se acertar.

-Queria que eu estivesse feliz da vida depois de você quase ter acabado com o meu namoro?-fez a pergunta o desafiando.

- Sabe que eu não me apego, Gaby, e só porque te beijei não quer dizer que estou apaixonado por você- ele disse com a voz óbvia.

- Não te perguntei isso-ficou séria- Está só me enrolando. Quer o meu perdão? Depois de tudo que fez?

- Quero que pare de teimosia para acabar com esse clima ruim entre a gente-a encarou.

- Fico surpresa com sua cara de pau- sorriu alto- Como se eu tivesse tido culpa. Essa conversa está ridícula e se te ignorei foi por bons motivos. Não venha se fazer de santo.

- Eu sei que tive culpa, mas somos jovens imaturos e agimos assim por impulso as vezes- balançou a cabeça e nesse momento chegou o almoço que os dois pediram.

- Obrigada- ela disse para a mulher que veio deixar os pedidos. A mesma saiu em seguida- Entendo a parte de sermos imaturos. Agora a parte de agirmos por impulso envolve beijar alguém que namora?

- Beijar foi uma despedida- piscou o olho para ela- O seu namoro não acabou e nossa amizade não precisa acabar.

- Quem quis acabar nossa amizade não fui eu- bebeu um pouco de suco- Eu sabia que iria me arrepender de aceitar sair com você.

- Se quer ir embora então me perdoa primeiro-cruzou os braços e sentiu-se confiante.

- Está me forçando a te perdoar só para ficar tudo bem- apontou a colher para ele- Odeio seu jeito convencido e sua persistência, mas não conseguirá me forçar a nada. Sabe o que pode fazer para mim?

- Vale a pena eu ser persistente com a minha priminha- deu de ombros- Vai me pedir algo?

- Depois da sua cara de pau-disse e respirou fundo- Só vai ter que fazer uma coisa por mim.

- Nem vem me pedir para ir falar com seu namorado popular que não vai acontecer-revirou os olhos.

- Errou querido, porque tem alguém que precisa saber de tudo- ele viu um pouco de determinação nela- Os meus pais merecem saber sobre a burrada que o sobrinho aprontou.

- Como é essa história, Gabrielle?-ele engoliu em seco.

- Te perdôo se você contar a verdade para meus pais- sorriu- Não vou estar bem comigo mesma escondendo isso deles.

- E-está querendo d-demais-gaguejou deixando claro seu desconforto.

- Me fez sentir culpada por não ter sido firme nesse dia, me fez ter raiva por um bom tempo e ainda pior eu precisei implorar para o Pedro poder acreditar em mim- falou chateada-
E quem foi o responsável por isso fica sem sofrer as consequências? Assim é injusto.

- Levou muito a sério mesmo essa história toda-entortou a boca e ficou pensativo.

- Me deixa terminar de almoçar e ir para casa-o ignorou-Tenho mais nada  para conversar.

Júnior pensou em dizer outra coisa e se calou. Por fim levantou  as mãos  vendo que não podia fazer nada naquele momento.

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