Mirela Oliveira

- 06:00 da manhã (quinta-feira)

A janela estava aberta e toda a claridade entrava no quarto.Mirela era uma garota pré-adolescente de 14 anos de idade que gostava muito de organização.

Havia um cabide em uma parte do quarto onde ficava alguns chapéus e ainda sua farda da escola.Tinha um guarda roupa rosa, uma mesinha para estudar com um notebook, luminária e um enfeite de mesa Torre Eiffel.

No chão um tapete lilás e na parede um mural de fotos com pisca-pisca.A cor da parede era branca. O quarto era um pouco grande, mas não se comparava ao da sua irmã, Carla.

Mirela Oliveira se sentia bem estando em um lugar organizado.Gostava de ficar trocando as coisas de lugar no quarto.

Pérola,uma gata branca dos olhos azuis, havia acordado. A gatinha dormia com a garota na cama. Pérola foi até sua dona e ficou a observando dormindo.

Ela estava acordada, porém não tinha vontade de se levantar. Permanecia com os olhos fechados, os apertando só para aproveitar aqueles últimos momentos na cama.

Sua paz fora interrompida com um miado da gata. Ela permaneceu na mesma posição. Pérola bateu a sua patinha de leve no rosto dela e ainda começou a andar pela cama miando.

- Faz silêncio- ela sussurrou de olhos fechados- Deixa eu dormir mais.

Ouviu a porta rangendo ao ser aberta e fingiu estar dormindo novamente.

- Janela aberta?-sua mãe gritou- O que aconteceu?

Cristina olhou para a cama e suspirou sem muita paciência.

- Eu sei que você está bem acordada filha-cruzou os braços.

- O plano era conseguir dormir, mas você me acordou- ela se espreguiçou e coçou os olhos- Desculpa aí por ter esquecido de fechar a janela.

- As aulas voltaram- olhou em volta do quarto- Por acaso esqueceste disso mocinha?

- O que mãe?- perguntou segurando uma risada- Sério que a senhora disse essa palavra?

- Não vejo nada de mal- olhou para ela e sorriu.

- É engraçado seu jeito de falar- deu de ombros e se levantou- E eu não me esqueci que as aulas já começaram.

- Pois agilize aí- deu um beijo na testa dela sorrindo- Ah e coloque a ração para essa gata, porque eu comprei ontem.

- Pode deixar- balançou a cabeça e criou coragem para perguntar o que tanto queria- É...eu posso vim para casa de ônibus com minhas amigas?

Sua mãe pareceu pensar por um tempo e ela torceu em silêncio.

- Não- foi a única resposta e quando iria sair do quarto a garota a chamou.

- Mãae- cantarolou, juntou as mãos e fez uma cara de tristeza tentando a convencer- Por favor. Eu prometo que depois da escola vou vim direto para casa.

- Eu sei- ela suspirou- Eu confio em você, mas não nas suas amigas. Além do mais você estava gripada a uns dias atrás e pegar muito sol quente pode te fazer ficar doente de novo.

- Mas eu já estou boa- levantou a cabeça- E nem vou pegar sol, porque vou vim com minhas amigas de ônibus.

- Eu já disse que não, Mirela-ela ficou séria e saiu.

Respirou fundo. Sua mãe era muito protetora, mãe coruja e não entendia que sua filha não era mais criança. Pegou a sua farda pensando no que sua mãe havia dito.

"Eu confio em você,mas não nas suas amigas." Ela sabia quem eram os amigos que tinha e eles nunca foram má influência. Não entendeu bem o que sua mãe quis dizer.

Iria pegar o seu caderno de desenhos na mesa, mas o olhar da garota se dirigiu ao mural de fotos. Ali haviam fotos do seu nascimento, de quando era bebê, de umas viagens que fez junto com sua família e fotos dela com sua irmã.

Aquele mural era muito importante para ela, pois tinha as melhores lembranças.

Ali estava a sua família completa e os seus pais que eram os alicerces da casa onde viviam. Cristina e o Victor, os pais de Carla e de Mirela, haviam se divorciado a uns meses atrás.

Tudo ainda era muito novo para a pré adolescente e ela sofreu no começo do divórcio. A sua família foi separada e isso afetou muito as duas filhas do casal. Carla havia ficado com seu pai e a Mirela com a sua mãe.

No final do ano ela havia ficado bem doente e não teve como passar o natal e o ano novo com seu pai, pois estava muito gripada.

De quinze em quinze dias ela ia para a casa de seu pai ou passava um final de semana com ele, mas nos últimos dias não teve como ir. Passou um tempo olhando para as fotos, Pérola foi para perto dela e começou a passar sua cabeça nas pernas dela.

Queria se arrumar para não se atrasar e decidiu ir logo para o banheiro. Pensou no dia anterior.

Ela havia chegado atrasada na escola.A sua mãe era professora de português em uma escola particular e sempre deixava a sua filha cedo, mas naquele dia elas se atrasaram um pouco.

Mirela tinha saído do carro e quando iria atravessar a rua percebeu o carro de seu pai. Prestou atenção e ele não estava ali sozinho.

Seu pai e Carla estavam encostados no carro e perto deles havia uma mulher. Ela tinha o cabelo loiro e usava roupas bonitas.

Com um tempo os amigos de sua irmã chegaram e ficaram conversando. O seu pai parecia feliz e percebeu bem quando ele falou com a mulher.

Mirela ficou confusa no dia anterior com o que havia visto. Não conhecia ela.

Victor e a mulher desconhecida pareciam bem íntimos e tinha uma explicação boa para aquilo. Começou a pensar que seu pai só podia estar namorando, mas por que não a contou nada?

Se fosse isso a sua filha deveria saber. Ela precisava muito descobrir aquela história. Terminou o banho, colocou seu óculos e vestiu sua farda.

Usava um óculos de descanso somente para ler, ir a escola ou ver algo que estava longe.

Mirela andava com o óculos guardado para quando precisasse usar. Ela foi até o espelho e ficou se olhando. Se achava feia de óculos e não gostava muito do seu corpo.

Isso a fazia ficar com uma baixa autoestima. A adolescente não costumava ficar se arrumando, mas para ir a escola era um pouco diferente.

Havia um bom motivo para isso.

Emanuel Miranda, seu colega de sala, era o motivo certo para essa mudança na garota. Eles não tinham amizade e só se falavam quando precisavam.

O garoto era tímido e ainda sofria bullying, porque alguns meninos riam dele ou implicavam com seu jeito calmo de ser. A única coisa que eles tinham de igual era a paixão pela arte e pelo desenho.

Mirela adorava ficar desenhando,era apaixonada por gatos, gostava de ir ao cinema com suas amigas e ela odiava filmes e histórias clichês. Amava aprender novas línguas e sabia falar em espanhol.

A série que ela mais gostava era Soy Luna e ela cantava muito as músicas da série. Ela era um pouco intensa, porque sentia muito as coisas e gostava de ajudar as pessoas.

Um dos sonhos dela era trazer alegria para os moradores de rua. Havia um outro problema além da baixa autoestima da adolescente.

Para ela ter a certeza que estava bonita precisava se olhar no espelho várias vezes.

Fazia poses e mais poses de frente para o espelho como se fosse bater alguma foto, ficava ajeitando o cabelo e tirava o óculos para ver como ficava sem ele.

Depois dela se convencer de que estava com uma boa aparência era hora de sair do quarto. Ela suspirou e foi a cozinha. Observou a sua mãe ajeitando a mochila dela com as coisas para levar a escola particular.

Sentia que a sua mãe gostava de seu pai e esperava muito que um dia eles dois se resolvessem para juntarem a família.

Um capítulo da Mirela que é da família do Victor Almada. Na mídia é como eu imagino a personagem sendo a Mel Maia.