10° Capítulo
Rafael Santos
-Praia da Barra da Tijuca.
Os jovens são o futuro do Brasil.
A maioria dos adultos pensam assim nos dias de hoje, mas para Rafael Santos,essa frase não tinha nenhuma verdade.
Ele nasceu em Minas Gerais, mas aos 2 anos se mudou para o Rio de Janeiro. Nesse tempo seus pais queriam estar mais perto dos avós de Rafael e por isso decidiram se mudar.
O jovem tinha 19 anos e apesar da pouca idade ele já havia passado por muitas coisas ruins.Quando tinha 13 anos ele ganhou o título de "sem futuro" na escola.
Na sua infância levava os estudos a sério, porém depois de sofrer duas perdas se tornou desinteressado. Seus pais faleceram quando ele ainda era criança.
A primeira a falecer foi sua mãe que se chamava Regiane.Ela era bailarina e dava aulas de dança, mas teve câncer e quando descobriu a doença já estava avançada.Regiane ficou internada e sua companhia diária era seu marido, Murilo.
Ela não resistiu a doença e faleceu. Nesse tempo Rafael sofreu, porque era criança e também pelo fato dela ter falecido no dia 15 de junho que era seu aniversário.Sua vida se tornou triste com essa perda e ele ficou com seu pai.
Foi difícil para ele se acostumar com a ausência dela.Não conseguia aceitar que uma doença havia levado sua mãe.Passou a ficar mais quieto na escola, comia pouco e chorava com saudades dela.Ele costumava chorar somente quando estava sozinho.
O dia do seu aniversário se tornou uma data triste.Depois do seu último aniversário de 8 anos ele não teve mais vontade de comemorar nada. Murilo também sofreu muito sem a sua mulher e prometeu que cuidaria de Rafael.
O tempo se passou e parecia que as coisas estavam voltando ao normal. Ele não havia superado a morte da mãe, mas a vida não foi boa e nem justa para esse jovem.
Passou-se um ano e quando as coisas pareciam estar melhores aconteceu algo que o fez sentir como se o mundo desabasse em cima dele.Rafael estava com 10 anos e um dia teve que ir para a casa de seus avós, pois seu pai havia ido trabalhar e o deixou lá.
Ele gostava de estar com os avós e tinha a certeza que seu pai viria o bucar, mas dessa vez ele não foi.As 16:30 da tarde Murilo havia acabado de chegar no ponto de ônibus quando se deparou com uma troca de tiros da polícia com bandidos.
Um tiro acabou atingindo seu peito esquerdo.Seu pai faleceu com uma bala perdida e desde esse dia seu mundo pareceu ficar sem sentido e triste.
Ele começou a morar com os avós,mas sua adaptação a nova casa não foi fácil.Com sua mente de criança ele não conseguia aceitar que havia perdido seu pai também.Depois das perdas ele faltou aulas e passava o seu tempo livre assistindo vídeos no computador.
Com os fones no ouvido ele podia se desligar do mundo e tentar não se entristecer.Os avós cuidaram muito bem dele.Por sua mãe ter sido uma bailarina e também ter dado aulas de dança ela proporcionava pequenos luxos ao filho, mas com a sua morte tudo mudou.
Seu plano de saúde foi cancelado,o futebol foi deixado para trás, parou de frequentar clubes e não viajava mais.A sua vida sofreu uma grande mudança.A aposentadoria dos avós ajudava um pouco.
Com esses acontecimentos na infância ele se tornou solitário, triste e meio agressivo.A criança sorridente não existia mais.Aos 11 anos quis descontar sua raiva nas coisas materiais e começou a chutar tudo no quarto.
Quando sentia raiva extravasava chutando as coisas, mas certo dia sua avó escutou.Depois da conversa com o neto ela decidiu comprar um saco de boxe para ele descontar toda sua raiva.Rafael sempre chutava ou dava murros no saco de boxe.Ficava na varanda da casa dos avós.
Ele cresceu solitário e estudava por obrigação.Continuou meio agressivo e não confiava muito nas pessoas.Uma coisa nele que nunca mudou foi sua persistência,pois ele corria atrás do que queria.
Certo dia ele roubou aos 15 anos de idade, porém prometeu para si mesmo que nunca mais voltaria a furtar. Era um jovem problemático e que não desistia dos seus sonhos.Ele mudou com os acontecimentos do passado e com o tempo acabou se tornando um pouco pior.
Sua amizade com Carla e Daniel começou depois que ele os conheceu na rampa.Rafael gostava de andar de skate e a tarde sempre ia para rampa se encontrar com eles. Ele havia contado para seus amigos que tinha furtado uma vez, porque não queria esconder isso para si mesmo.
Sua relação com seus avós era um pouco distante.Eles matricularam o neto na escola municipal que era onde estudava seus amigos.Por esse motivo ele estava ansioso para as aulas começarem.
Nessa quarta feira da última semana de janeiro Rafael estava na praia da barra da Tijuca com um grupo de amigos.Eles haviam ido para o mar e depois comeram ovo de codorna.
No seu grupo tinha três casais que brincavam de correr um atrás do outro.Os outros somente conversavam e Rafael segurava uma latinha de cerveja.
Ele estava distante das conversas e andava olhando para o mar pensativo. Os seus pensamentos estavam em uma garota com que ele ficava as vezes. Essa garota era atraente,mas o jovem não estava apaixonado por ela.
Eles apenas ficavam quando estavam a fim e sem nenhum apego da parte dos dois.O jovem continuou pensando nela enquanto andava com o grupo e bebeu um pouco de cerveja.
Rafael bebia somente para esquecer os problemas e a bebida o fazia ser uma nova pessoa.Em um momento de distração enquanto ainda pensava ele se deparou com uma pessoa dançando a beira mar.
O jovem estreitou os olhos por causa do sol e conseguiu ver que era uma garota.Ela dançava bem a vontade e fazia cada passo com leveza.
Ele reconheceu os passos e soube que era balé de jazz.Rapidamente seus pensamentos foram para sua falecida mãe. Lembrou dela ao ver a garota dançar.
De repente percebeu que seus amigos haviam parado de andar, a observavam e que todos pareciam ter olhares só para ela.
Os pensamentos de sua mãe dançando balé vieram como uma enxurrada a sua mente.Ele a observava atentamente e ficou boquiaberto sem perceber.
Uma amiga se aproximou dele e disse no seu ouvido.
- Cuidado para baba não descer hein- sorriu se afastando.
Alguns amigos dele estavam admirados com a garota que dançava.Para Rafael ela parecia um pássaro. Como estavam no calçadão não dava para ver muita coisa, mas ele sabia que nunca havia a visto.
Sorriu enquanto a olhava e sentiu uma saudade imensa de seus pais. Piscou os olhos tentando parar de olhar para ela e bebeu um grande gole de cerveja.
Ele se engasgou um pouco e tossiu.A garota continuou fazendo os passos de balé de jazz.
- Quem é aquela gata?- perguntou seu amigo, Carlos.
Carlos estava admirado e a olhava sem piscar os olhos.
- Eu não sei- ele respondeu- Mas ela dança muito bem e chamou atenção de todos.
Rafael teve vontade de conhecê-la e saber mais sobre ela.
- Um show desses não se vê todos os dias- Micaela disse sorrindo.
- Que corpo-ele soltou com a voz baixa, mas Carlos escutou.
- Ela é linda e tem um corpo bem atraente- sorriu e mordeu o lábio.
- Vocês dois não mudam hein- Micaela os empurrou de leve e balançou a cabeça.
Ela conhecia os melhores amigos de Rafael e se deu bem com Carla.
- Ela nem olha para vocês- bateu nos ombros deles- Está muito focada nos passos que está fazendo.
Rafael sorriu um pouco e jogou a latinha no lixo. A garota parou de dançar e ele percebeu que ela não havia visto as pessoas a olhando.
Ela ficou andando pela areia e se sentou, mas se levantou novamente. Começou a correr em direção ao calçadão.
- Olha lá a gata misteriosa está vindo para cá- Carlos disse olhando para o corpo dela.
- É, mas a gata- Rafael frisou- Está indo embora também.
Enquanto corria a garota olhou para o grupo deles e o coração de Rafael acelerou um pouco.Ela pareceu olhar para ele enquanto passava pelo grupo.
A troca de olhares durou pouco tempo e ela passou rápido por eles.Era como um pássaro que voava muito rápido e alcançava vôos altos.
Rafael engoliu em seco e sentiu como se as lembranças de sua mãe dançando estivessem indo embora com aquela garota.
Em um momento ela parou de correr e olhou para trás.Para a surpresa dele ela parecia o procurar.Seus olhares se encontraram novamente.Ele desviou o olhar e coçou a cabeça.
Achou que a cerveja estava fazendo efeito por ele estar meio zonzo e ter dado muita atenção aquela garota desconhecida.Para ele só podia ser efeitos da cerveja mesmo.
As pessoas na praia voltaram a fazer o que faziam antes e o seu grupo continuou andando pelo calçadão.Em vez de não ficar sóbrio e esquecer dos problemas ele percebeu que ir a praia não tinha o ajudado em nada.
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