Capítulo Trinta e Um
Fiquei desesperado, estava sozinho com uma grávida num parque e ela desmaiara. "Ela está grávida, seu idiota!" - repetia para mim mesmo - "devia ter ficado de repouso, eu não devia tê-la trazido aqui!".
Enquanto eu tentava acordá-la (não tinha a menor noção do que estava fazendo) um senhor notou algo de estranho e apareceu perguntando se podia ajudar.
Rapidamente ele chama a ambulância que depois de alguns minutos chega para nos socorrer. A caminho do hospital ela se mexeu, parecia estar retomando a consciência, mas em vez de abrir os olhos, moveu levemente a própria mão e encontrou cegamente a minha, a segurou e não voltou a se mover até chegarmos ao hospital.
— Você tem algum parentesco com a garota?
O médico de meia idade encara a minha mãe através dos seus óculos de aro de tartaruga. Assim que eu consegui ligar para ela avisando onde estávamos, largou o trabalho e correu para ver se estava tudo bem.
— Eu sou uma amiga da família. — Respondeu do outro lado da mesa, segurando sua bolsa sobre o colo. — Os pais dela não puderam vir. Então vim no lugar deles.
Ele a encara por um momento antes de dizer:
— Tudo bem, então. — E começou a mexer nos papéis. — A boa notícia é que o ocorrido com a... — Ele lê o nome dela na ficha. — Ocorrido com a Jéssica, é comum em alguns casos de gravidez. Devido ao seu corpo estar produzindo todo o complexo embrião-placenta, que é o sistema que servirá para sustentar a vida de seu bebê. Isso somado a algum estresse emocional pode ter acarretado esse desmaio. Ela só terá que evitar demasiado esforço físico nos próximos meses, procure fazê-la descansar com os pés apoiados em algum lugar. Se os desmaios voltarem a ocorrer me procure para fazermos uma série de exames. Entendido?
— Sim, entendi. Descansar e... Entendido.
— Perfeito. — Responde o médico. — O lado ruim é que ela está praticamente no terceiro mês de gravidez e ainda não havia me procurado. A primeira consulta é uma das mais importantes, irei recolher informações sobre o seu histórico médico e ginecológico, pedirei alguns exames, irei fazer uma avaliação do seu estado de saúde completo examinando coração, pulmão, abdômen e seios; medirei também sua pressão arterial, seu peso e estatura; e verificarei braços e pernas para ver a presença ou não de varizes ou inchaços. Hemogramas, exame ginecológico completo entre outros...
Logo percebi que Jéssica passaria um tempo considerável dentro do hospital.
— Os primeiros meses são apreensivos, porque é o período em que ocorre a maior parte dos abortos espontâneos. Não creio que esse seja o caso, mas pelo sim ou pelo não: fiquemos de olho.
Deixei o doutor passando as orientações necessárias para a minha mãe e entrei no pequeno quartinho em que Jéssica estava. A encontrei sentada em cima da maca, aparentemente bem, esfregando a própria barriga e a olhando atentamente. Depois de alguns minutos ela percebeu que eu estava a observando.
— Ah, você está aí. — Disse erguendo a cabeça. — Já me liberaram para ir embora?
— Acho que não. — Eu me aproximo e sento numa cadeira perto dela. — Parece que você ainda vai precisar fazer alguns exames.
— Entendi. — Ela me parecera bem radiante para quem acabara de desmaiar. — Sabe o que o médico me falou, Ick?
— Não. O quê?
Ela botou as duas mãos sobre a barriga novamente:
— Ele disse que a essa altura o coração do bebê já está batendo. — Ela sorri. — Acho que eu consigo sentir... Eu acho que consigo sentir o coração dela batendo.
— Dela?
Ela ri.
— Eu sempre esqueço que ela ainda não tem sexo definido.
Jéssica chorava sem motivo aparente nos cantos da casa durante a tarde e já pensou seriamente em abortar o bebê em algumas ocasiões, contudo, ainda abre um de seus sorrisos mais belos para anunciar que o coração do bebê já está batendo.
Talvez eu devesse atribuir essas oscilações de humor à agitação hormonal proporcionada pela gravidez.
Talvez não.
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