Capítulo Doze
Às vezes, sinto que foi melhor assim. No final das contas meu pai não levou o caderno, apenas deixou muito bem impresso nas entrelinhas o que pensava daquilo tudo. Com o passar da semana, ele de fato me colocou para trabalhar na firma dele; em funções tolas, como xerocar papéis e anotar recados. Coisas que o meu pai considerava suficiente para manter minha mente ocupada, me impedindo de pensar em "besteiras como poesia".
Estava errado, sempre arranjava tempo para escrever. Frases surgiam na minha cabeça o tempo todo, logo eu realizava automaticamente todas as tarefas que ele me exigia, enquanto minha mente vagava pensando em outras coisas. Certa vez, escrevi uma poesia durante o horário do almoço em um guardanapo, usando uma caneta que peguei em um porta-canetas da minha sala. Provavelmente, alguém viu o que eu estava fazendo, porque no dia seguinte o porta-canetas e seu conteúdo haviam sido removidos.
Os encontros com Samaris continuaram. Certamente, a melhor parte do meu dia. Nós nos entendemos muito bem, os beijos se misturam com as conversas e risadas tornando-se uma coisa só. Ela é incrível, já esteve em quase todos os lugares do país e me contou uma história diferente sobre cada região. Tudo nela me atrai, poderia passar horas simplesmente a admirando.
— Que isso? — disse Samaris, me surpreendendo, puxando um guardanapo riscado esquecido do meu bolso.
— Ah, não é nada — respondi encabulado. — Devolve, por favor?
— Não mesmo — puxou o guardanapo para longe do meu alcance esticando os braços. — Me deixa ler. — Correu os olhos entre os borrões de tintas. — Essa poesia é perfeita! — Exclamou.
— Eu escrevi à toa, esses dias.
— Daria uma boa música, sabia?
— Será?
— Claro! — Samaris puxou o violão que sempre carrega consigo — É só encontrar o tom e a melodia certa.
Ao dizer isso, tocou um acorde em Lá menor.
— Algo desse gênero ficaria perfeito para a sua poesia.
E aos poucos, pude observar a poesia virar canção bem em frente aos meus olhos. Não sei se ela notou de fato que a poesia era sobre ela, mas para mim foi no mínimo engraçado ver a cantora virar uma poesia e a poesia virar canção pelas mãos da garota.
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