Lembranças do passado
21 de agosto de 2016
Caro Xavier,
Hoje realizamos nosso segundo desafio do Torneio. O Professor X reuniu todos os alunos no pátio novamente e anunciou que o desafio de hoje seria diferente, mas primeiro ele falou as classificações da equipe. Os Inquebráveis, pelo menos, estavam em 5° lugar, sendo que tinham oito equipes, por que muitas não conseguiram capturar nenhuma moeda e a nossa, pelo menos, pegou a moeda da piscina após eu ter desmaiado.
O próximo desafio seria diferente, seria um desafio mais psicológico, porém também envolveria luta. Seria realizado na Sala Perigo, e a sala iria projetar visões, vozes, etc, de acordo com nossos maiores medos e angústias. Não queria participar, pois sabia o que estava por vir, mas já tinha chegado até aqui e não iria voltar. Se os quatro membros do grupo resistissem até o final da tortura psicológica sem desabar completamente ou pedirem para sair, o grupo ganhava 4 pontos, se fosse três que resistissem ganhava 3 pontos, daí por diante.
Esperamos a nossa vez. Os três grupos que foram antes de nós tiveram pelo menos um membro que saiu, chocado, antes do desafio acabar. Três dos Exterminadores de Mark saíram antes da hora, não aguentando a pressão psicológica, exceto Peter Fawles, que possuía poderes psíquicos.
Finalmente chegou a nossa vez, e todos entramos, hesitantes. A sala estava escura, e a porta atrás de nós se fechou, nos deixando na escuridão extrema. Lilian, de repente, segurou a minha mão, e após alguns segundos em que fiquei envergonhado, uma súbita sensação de conforto me preencheu, o que me ajudava a me consolar por estar naquele lugar. Mas de repente a mão de Lilian começou a se afastar de mim.
- O que está acontecendo? - Ouvi Dick dizer. Nós parecíamos estar nos afastando um do outro.
- Jack... Não... - Ouvi Lilian dizer também, mas já era um som distante, era como se todos meus companheiros tivessem sido levados para longe de mim. E de repente eu estava sozinho, tremendo no escuro. "É apenas um desafio", disse a mim mesmo, mas ouvi uma voz tranquilizadora, a voz que eu temia ouvir. Era minha mãe. Era doloroso ver o belo rosto de Sarah Mason de novo, atenciosa, gentil, me reconfortando com o olhar, e me lembrando de tudo que eu havia perdido.
- Vem, Jackie. - Disse ela me chamando pelo apelido. Eu estava voltando no tempo, e de repente me sentia de novo um inocente garotinho de oito anos, dentro de minha casa. Sarah Mason, minha mãe, tentava me consolar após um cansativo dia de aula. Após o dia em que eu havia descoberto que eu era diferente.
- O que você quer ver? Shrek? Monstros S.A?
- Eu sou um monstro, mãe? - Perguntei, como se eu tivesse esquecido tudo o que havia acontecido depois daquilo. Minha consciência atual continuava ali, mas era como se eu estivesse dividido entre minha consciência atual e a do passado. Em minha consciência do passado, eu havia acabado de descobrir meus poderes na escola. Normalmente, os mutantes manifestavam seus poderes na puberdade, mas comigo havia acontecido mais cedo, por algum motivo.
- Você não é um monstro, filho. - Disse ela, acariciando seus cabelos. - Você é... especial.
- Não é o que meus colegas dizem.- Falei com amargura, me lembrando daquelas crianças me chamando de monstro e... mutante.
- Filho, elas tem inveja de você. Por que você tem habilidades especiais mas eles não. - Disse meu pai, Jay Mason, encostando a mão em meu ombro. Ver seu rosto forte, porém gentil, e sua expressão motivadora de novo comoveram o meu "eu" atual. Seus cabelos pretos já estavam tocados pelo cinza, mas ele ainda parecia uma pessoa forte a quem admirar para mim. - Veja que legal, sua pele pode mudar de forma, você pode ficar super forte, ou super flexível!
Pensando por esse lado, eu começeu a achar interessante.
- E eu vou poder ser um super-herói? - Perguntei, os olhos brilhando com aquela perspectiva.
- Não antes dos 18 anos. - Respondeu meu pai, fingindo uma expressão séria, e minha mãe riu. Foi quando tocou a campainha.
- Eu vou atender. - Disse minha mãe. No fundo, minha consciência atual dizia "Não atenda! Não faça isso." Comecei a me sentir tenso, mas o "eu" do passado nada sabia sobre o que iria acontecer.
- Nunca se esqueça disso, Jack, você é especial. - Disse ele tocando meu peito. - Não importa o que os outros falem, você sempre será especial, e sempre será fantástico. Nunca se subestime, ok?
Assenti com a cabeça.
- Bom garoto. - Falou ele, e de repente seus olhos estavam preocupados. - Fique aí, Super-Herói! Eu vou ver quem é!
Então ele se virou para a porta. Minha mãe abriu a porta, e a dor e sofrimento em meu coração eram grandes. Eu não queria perder tudo de novo. Não agora que eu podia ver seus rostos e falar com eles de novo.
A porta se abriu, e apareceram dois homens com ternos, sérios.
- Vocês são os pais de Jack Mason? - Perguntou um deles.
- O que vocês querem? - Perguntou Jay, colocando a esposa atrás dele. Sarah me olhou com um sorriso para me reconfortar e não me deixar preocupado.
- Precisamos levar o seu filho agora. - Disseram eles.
- Para que? Eu exijo saber! - Rosnou Jay, desafiador.
- Por favor, senhor, saia da frente. - Disse o outro.
- Não até que eu saiba para onde vão levar meu filho! - Insistiu meu pai.
Um dos homens de terno suspirou.
- Você não nos deixa escolha.
Então ele sacou uma arma, e atirou sem pensar duas vezes no peito de meu pai. A mesma desolação e choque que havia tomado conta de mim quando isso aconteceu, há tantos anos, me possuía agora. Comecei a gritar, desesperado.
Minha mãe também gritou:
- Não! O que vocês fizeram?!
Os homens a empurraram, e avançaram em direção a mim. Minha imaginação infantil há muito tempo os havia deixado mais malignos do que eram, dois homens extremamente altos vestidos com ternos e com rostos vazios avançando em direção a mim, e a Sala Perigo não suavizou a lembrança, apenas fez ficar mais assustadora.
Minha mãe se jogou contra eles, com raiva e pânico.
- Não vão levar ele! Não vão levar meu filhinho! Deixem ele em paz!
Então um dos homens atirou nela também, e o meu mundo desmoronou.
- Mamãe! - Gritei, de repente com nove anos de novo, e os vultos com ternos avançaram em direção a mim e cobriram tudo. Essa visão acabou, mas eu ainda chorava como uma criança. Sentia o suor frio escorrer pela minha testa e minha consciência pesada, minhas têmporas latejando, meus olhos vermelhos de tanto chorar.
E então o pânico apenas aumentou, porque logo percebi que eu estava preso, em uma espécie de mesa de tortura, de ferro, e minhas mãos, pés e cabeça estavam imobilizados.
Tentei me mover, mas não conseguia.
- Paciente 06. Mutante. - Disse uma voz que fez meu sangue gelar, meu coração bater desesperado para escapar, mas não havia fuga. Me contorci, em pânico, mas não conseguia nem me mover. E o homem, cujo tom de voz excêntrico eu reconhecia muito bem, era Doutor Hors, o meu pesadelo. Não parecia algo impressionante de imediato, com os cabelos grisalhos e desarrumados, os óculos que lhe davam aparência de excêntrico, e o bigode. Ele me lembrava uma versão do mal de Albert Einstein. Mas o assustador era sua expressão, seus olhos, frios, distantes e calculistas, seu sorriso vazio sem emoção, apenas te analisando como uma mercadoria. Ele se ergueu sobre mim, e pelo que pareceu horas, realizou vários procedimentos, coletou sangue com agulhas grandes e extremamente afiadas, testou meus poderes, me levou ao nível da dor extrema, e enquanto isso eu estava me debatendo em vão, sem esperança de escapar. Eu estava ciente de que era só gritar, era só pedir, e a macabra experiência acabaria, mas resolvi resistir. Se passaram horas e horas na minha percepção, por fim o doutor falou:
- Agora você vai fazer o que eu te ordenar. Você será minha arma, meu jovem... E por meio de você, eu assumirei o poder.
- Não. - Falei para ele, fraco. - Eu nunca vou cumprir suas ordens.
Hors olhou para mim, com um sorriso e uma sobrancelha erguida.
- Interessante. Este precisa de mais disciplina! Prendam ele na maca de novo! - Ordenou ele, e dois homens com ternos me pegaram, resistido aos meus chutes, e me prenderam na maca de tortura.
O doutor pegou um bisturi.
- Vejamos se vai aprender a ter respeito.
Então, com o coração saltando e suor frio escorrendo de meu corpo, eu voltei ao normal, ainda me debatendo. A Sala Perigo estava iluminada, e ao meu lado estavam meus amigos novamente, todos um pouco chocados. Porém entre eles, eu era o mais abalado.
Ciclope entrou para nos retirar da sala, e vi que Professor X havia assistido tudo pela janela.
- Muito bem. - Disse o professor Fera, impressionado. - Nenhum de vocês desistiu. 4 pontos para os Inquebráveis!
Saímos todos de lá, um pouco chocados, e todos olharam admirados por termos resistido. Porém eu não me sentia bem. Lilian me falo sobre o objetivo do desafio, pois os X-Men podiam passar por muita pressão psicológica e tinham que saber enfrentar seus medos, e se quiséssemos nos tornar X-Mens, mas mesmo assim o meu passado, que eu estava começando a superar, agora não sai da minha cabeça. Pelo menos o Professor X deu dois dias para nos recuperarmos desse desafio. Agora, tenho de ir dormir. Ou tentar, mas duvido que vá conseguir. Até mais!
Jack Mason
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