Elenor olhou para Jason. Ele tinha o mesmo olhar apavorado de quando ela o deixou, mas a bruxa não estava muito diferente. A culpa a atingia em cheio, seus joelhos tremiam, seu coração parecia estar prestes a explodir. Ela só pensava em Hades; ele a odiaria tanto se soubesse que deixou um desconhecido da nobreza saber de seu segredo. Por que ela se importou com a vida de alguém que mal conhece?

A imortal estava tão enfiada em suas ansiedades e paranoias que nem chegava a ouvir os cochichos do garoto.

— Os olhos... Os olhos dela eram iguais aos dele, frios, sem sequer hesitar. — Ele se segurava firmemente, tentando evitar tremer demais. Sua boca tinha o gosto metálico do desespero. O que era aquela garota?

De repente, ele ouviu Elenor caindo de joelhos em lágrimas. Aquilo atraiu a atenção de Jason, que tirou o rosto de entre os braços e olhou para ela. As lágrimas caíam como rios, mas não deixava escapar muitos ruídos além de um ou outro soluço. Por que ela chorava? Ele secou seus olhos com a manga de sua roupa e se aproximou hesitante da jovem.

— Vo-você está bem? — Jason estendeu a mão para repousá-la nos ombros dela, mas recuou ao ver Elenor olhando em seus olhos.

— Por favor, por favor, eu te imploro, não me faça ter que te matar. — A voz chorosa dela soou assustadoramente ameaçadora para o Trevor.

— Salvei sua vida, isso significa que você me deve algo, certo? — Ela segurou-se firmemente nos ombros do garoto, enquanto implorava para que Jason não abrisse a boca para ninguém.

E por mais nervoso que estivesse, ele deu uma risada leve.

— O que diabos eu contaria para alguém? Não é como se fossem acreditar em um por cento dessa loucura.

Elenor respirou fundo, limpando sua mente, e se levantou de um pulo.

— É, você tem razão. Você faria esse favor para mim, não faria? — A garota olhou para trás para ver a resposta de Jason.

— Espere! — Ele levantou-se apressadamente e segurou o braço de Elenor. — Você me prometeu uma explicação e eu quero meu casaco de volta! O que é você?

— Eu? Sou uma bruxa, uma bruxa muito diferente dos seus livros e contos.

— Mas suas orelhas pontudas... Não é um elfo?

— Bruxas são elfos sem sua agilidade e fadas sem suas asas. — Elenor respondeu com medo de olhar nos olhos de quem poderia trazer tantas consequências futuras.

— Então o que você fez foi um feitiço?

— Não, nasci assim, com uma condição amaldiçoada ou abençoada, dependendo de para quem perguntar.

— Regeneração? Por que seria uma maldição?

— Imortalidade. — Aquilo tirou as palavras da boca de Jason. Então era isso, uma bruxa imortal? De certa forma, ele não se assustava mais, parecia como se sua cabeça tivesse aceitado aquela bizarrice.

— Como você parou aqui?

— Eu caí em um portal...

— Turquesa?

— Turquesa. — Os dois falaram simultaneamente, chocando Elenor.

— Como você sabe disso?

— Eu... apenas presumi. — Ela não engoliu aquela resposta, mas sabia que dificilmente ele falaria muita coisa.

— Você sabe como posso voltar para casa?

— Sinto muito, eu não tenho a menor ideia.

— Tudo bem, eu já notei que vou ter que passar um bom tempo aqui mesmo. — A bruxa suspirou. — Apenas, por favor, não comente com ninguém sobre isso. — Jason apenas assentiu, deixando claro que não tinha a menor intenção de desobedecê-la.

— Ei, se quiser, sempre dá para fazer o inferno ser um pouco mais confortável. Será que aquela oferta de antes de eu chamar de louca continua de pé? Posso não poder te ajudar, mas posso fazer sua estadia aqui menos pior. — Ele falou envergonhadamente, sentindo o sangue nas bochechas. Elenor, por outro lado, arqueou a sobrancelha, estranhando, mas deu um sorriso amigável.

— Na proxima quarta?

— Na proxima quarta— Jason falou sem a vergonha segurando-o mais. A garota apenas concordou novamente, fingindo saber o que significava "quarta" e seguiu com seu caminho.

E quando o menino se deu conta, estava sozinho.

— Oh, merda... Meu casaco.