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※ Capítulo 9 ※

   A rotina na Urahara shop era tranquila e divertida para Nemu, desde a organização da loja, os treinamentos, idas ao mercado e conversas casuais, tudo era novo, instrutivo e agradável.

   Era sexta-feira e Urahara havia ido até Tóquio naquela manhã, junto com Tessai, Ururu e Jinta. Eles tinham ido fazer compras bastante específicas e só voltariam a noite. Como Yoruichi não gostava de acordar cedo, ela havia ficado dormindo e Nemu ficou responsável por cuidar da loja até os outros voltarem.

   Eram quase 15h00 quando Yoruichi acordou. Nemu, que já estava convivendo com eles há cinco dias e havia reparado nos hábitos de todos, preparou uma deliciosa refeição, pois sabia que Yoruichi acordaria faminta.

— Garota você cozinha muito bem! — exclamou Yoruichi.

— Muito obrigada Yoruichi-Sama — agradeceu fazendo uma breve reverência.

— Como sabia que eu acordaria com essa fome de leão? Você fez bastante comida e só estamos nós duas aqui.

— A senhora passa a maior parte do tempo em forma de gato e só toma leite. — Fez uma pausa. — Imaginei que quando voltasse a forma humana precisaria repor as energias.

— Você é muito observadora. — Limpou os lábios com o guardanapo. — E como vai o tratamento?

— Vai bem, mas eu não achei que recuperar essas memórias me deixaria ainda mais confusa — respondeu Nemu com o semblante sombrio.

— Você gosta dele? — perguntou Yoruichi, encarando-a.

— Quem? — Fez uma expressão confusa. 

— Kurotsuchi...

— É claro que gosto de Mayuri-Sama, ele me criou! Se não fosse por ele eu não...

— Não foi o que eu quis dizer. — Yoruichi a interrompeu. — Eu revistei sua bolsa logo que chegou, por questões de segurança, e vi aquele recorte de jornal, então como faltam mais três doses pro final do seu tratamento imaginei que já conseguisse responder essa pergunta.

— Entendi — disse Nemu, olhando para a mesa que as separava. — Eu ainda não me lembrei do incidente mencionado no jornal, foi poucos dias antes da guerra então acredito que só me lembrarei algo sobre isso tomando as últimas doses. Mas sim, eu gosto dele.

   Elas continuaram conversando sobre o assunto, e Nemu contou a Yoruichi sobre suas lembranças mais recentes, suas dúvidas em relação ao seu corpo e o beijo que havia ocorrido após o festival, pois ela havia se lembrado deste incidente na noite anterior. 

   Nemu nunca havia confidenciado nada a ninguém, e contar sobre suas vidas era algo novo para ela. Descrevia os fatos como quem lê um relatório, contou sobre as memórias do passado, a convivência com Mayuri, e os fatos mais recentes até a sua vinda a Karakura.

   Yoruichi era uma mulher livre e sem pudores, enquanto Nemu poderia ser definida como uma pessoa extremamente objetiva, apesar da aparência inocente. Elas conversavam de forma clara, jogadas de qualquer jeito no sofá, enquanto a tarde se passava de forma agradável para ambas.

— Então pelo que você se lembra vocês ainda não fizeram sexo? Só se beijaram? — perguntou Yoruichi.

— Até onde eu me lembro, sim. — Nemu respondeu sem um pingo de constrangimento.

— Bem, isso é algo que diz respeito só a vocês dois, mas eu acho que o Kurotsuchi gosta de você do jeito dele.

— Por que acha isso Yoruichi-Sama? — Franziu o cenho. — E o que quer dizer com "do jeito dele"?

— Pelo que você me contou ele te beijou no festival, mesmo tendo falado que vocês não deviam, depois isolou suas memórias para não te prejudicar, mas recentemente te beijou de novo com a desculpa de verificar se você tinha bebido. — Suspirou. — Além de tudo, quando chegou de viagem não gostou de te ver sozinha com Akon. É bem óbvio, não?

— Eu não acho que Mayuri-Sama tenha esse tipo de sentimento. — Abraçou uma das almofadas que havia no sofá. — Ele diz que essas coisas não existem e que é tudo uma questão de hormônios...

— Ele diz isso porque é um cientista, mas se é tudo uma questão de hormônios e ele até te beijou, porque já não deu o próximo passo? — Yoruichi questionou arqueando uma sobrancelha. 

— Próximo passo? — Nemu repetiu, aparentemente sem entender o que Yoruichi queria dizer.

— Se ele te beijou por causa dos hormônios e desejos carnais então porque já não te comeu de uma vez?

— Comeu? — Fez uma expressão ainda mais confusa.

— Ah desculpe, você não está acostumada com esse tipo de vocabulário. — Yoruichi riu. — Eu quis dizer fazer sexo, copular, entende?

— Entendo. — Fez uma pausa. — Não sei, talvez ele só tenha me beijado por pena e nem pense nesse tipo de coisa...

— Garota, se tem uma coisa que o Kurotsuchi é incapaz de sentir por alguém é pena — disse Yoruichi seriamente. — Ele não tem motivo algum para sentir esse tipo de coisa, principalmente depois do que a Soul Society fez com ele.

— Do que está falando, Yoruichi-Sama?

— Tenho certeza que você deve saber. — Suspirou profundamente. — Eu sinceramente acho que o Kurotsuchi é até bastante funcional e minimamente controlado, considerando a cota de tempo que passou trancafiado...

— Eu realmente não sei nada sobre esse assunto, Yoruichi-Sama, poderia me dar mais detalhes?

— Ele nunca te contou? — Fez uma expressão surpresa. — Kurotschi Mayuri passou muitos anos preso no ninho dos vermes.

— Ninho dos vermes?

— É uma prisão — esclareceu. — Todo e qualquer Shinigami que represente potencial risco à Soul Society é mandado para o ninho dos vermes. 

— Eu não entendendo, o que Mayuri-Sama fez para ser preso?

— Absolutamente nada — respondeu a mais velha. — Os que lá habitam não cometeram nenhum crime, mas quando alguém é considerado um risco, seja por conta de seus hábitos, filosofia pessoal, interesses ou origem, é mandado para lá e só um capitão tem poder de libertá-lo. 

— Mas isso é... — Fez uma pausa, tentando encontrar as palavras que havia perdido. — Errado. 

— Há muitas coisas que podem ser consideradas erradas na Soul Society, Nemu, especialmente na Seireitei. — Estralou o pescoço. — Agora com Kyōraku no comando as coisas melhoraram um pouco, mas na época do velho Yamamoto a coisa era bem mais controversa, e ele ficou mais de mil anos no poder.

   Nemu ouvia as palavras de Yoruichi com o máximo de atenção. Lembrava-se de ter estudado toda a estrutura da Seireitei e órgãos coligados, mas jamais tomara conhecimento dos detalhes práticos. Mayuri não gostava de política, mantinha-se informado sobre tudo por questões de autoproteção e se envolvia apenas o mínimo, visando única e exclusivamente garantir sua integridade bem como a do Instituto. Com as informações que Yoruichi lhe fornecia, Nemu montava um novo quebra-cabeça em sua mente. 

— Se apenas capitães podem libertar um prisioneiro em tais circunstâncias, como Mayuri-Sama conseguiu sair de lá? 

— Kisuke era carcereiro de lá, na época ele era o 3º posto e eu a capitã da 2ª divisão,  éramos os responsáveis pelo presidio além de nossas demais funções. —  Fez uma pausa. — Quando o posto de capitão da 12ª divisão ficou vago eu indiquei o Kisuke e ele passou no exame, foi ai que ele decidiu fundar o Instituto, mas como precisava de outro cientista como seu braço direito, ele tirou o Kurotsuchi da prisão e o tornou 3° posto na divisão e vice-presidente no Instituto.

— Mas porque o senhor Urahara tiraria Mayuri-Sama da prisão? — perguntou Nemu. — Eles não são rivais?

—  Confesso que não sei a fundo a história dos dois, desconfio  até que eles tenham se conhecido antes do Kurotsuchi ser preso. Quando Kisuke propôs tirá-lo de lá, Kurotschi se recusou, e só foi convencido porque Kisuke disse que se algo acontecesse a ele o Instituto ficaria sob os cuidados do vice-presidente, ou seja...  

 — Está dizendo que Mayuri-Sama pretendia tomar o lugar do senhor Urahara? — Nemu a interrompeu, questionando-a. 

— Talvez sim, talvez não. Kurotschi é um cientista e certamente sair da prisão e poder ficar no Instituto seria como sair do inferno e ir para o céu, mas ele não aceitou a proposta de imediato, provavelmente por sentir que só se tratava de um tipo de prisão diferente. — Encolheu os ombros, parecendo refletir sobre o assunto. — Os dois são cientistas e rivais, embora a rivalidade seja bem maior por parte do próprio Kurotsuchi, ele tem orgulho e nunca tentou sabotar ou prejudicar o Kisuke. Eles conviveram por nove anos e trabalharam juntos, embora o Kurotschi adorasse demonstrar que não gostava do Kisuke, ele sempre trabalhou duro e nunca jogou sujo. Quando Kisuke foi exilado da Soul Society, Kurotschi assumiu a liderança do Instituto e pouco tempo depois passou no exame de capitão, assumindo assim todas as responsabilidades da 12ª divisão.

— Eu não sabia disso — disse Nemu, ainda digerindo as palavras da mulher diante de si. 

— Eu realmente achei que você soubesse dessas coisas, mas até o fato dele ocultar isso diz muito, não acha? — Yoruichi a encarou significativamente. — Longe de mim tentar desvendar a psique alheia, principalmente de alguém tão complicado quanto o Kurotsuchi, mas ele não tem motivos para confiar em ninguém, e depois de séculos sozinho, criou você. 

   Nemu sentiu algo dentro de si ao ouvir aquelas palavras, mas não sabia decifrar que sentimento era aquele, nem qual era o objetivo de Yoruichi com aquela conversa. 

— Onde quer chegar, Yoruichi-Sama? 

— O que eu estou tentando dizer com tudo isso é que embora ele seja uma pessoa extremamente ruim aos olhos de todos, se você consegue enxergar algo de bom a ponto de gostar  dele, não deixe nada nem ninguém te atrapalhar. Eu acho que ele gosta de você do jeito dele, e se isso for o bastante, não há motivos para vocês não ficarem juntos.

— Mas tem a questão do incesto, da ética e da moral...

— Que se dane tudo isso! Vocês não precisam se adaptar a sociedade ou rotular o relacionamento de vocês. Faça o que quiser e seja feliz, esse é o meu lema!  — disse Yoruichi, tendo abandonado o tom sério nesse momento. 

— Por que está me dizendo tudo isso? — Nemu questionou com um leve sorriso nos lábios. 

— Porque sinto empatia por você. — Yoruichi sorriu, olhando-a nos olhos. — Não sei se está familiarizada com o significado disso, mas acredito que em séculos de existência Kurotsuchi jamais pôde compreender, e nem é culpa dele. Com você pode ser diferente, então não ouse impor limitações a si mesma! 

   Nemu não tinha bem certeza se havia compreendido tudo que Yoruichi queria dizer, mas sentia-se confortável com ela e ficou feliz com suas palavras. No entanto, não se sentia confiante para assumir seus sentimentos a ponto de abordar Mayuri ou pedir para terem um relacionamento, ainda que "não rotulado".  

— A reputação é algo que importa muito para Mayuri-Sama, e considerando que ele bloqueou as minhas memórias eu duvido muito que ele queira ter esse tipo de relação comigo. — Encolheu-se abraçando os joelhos junto ao corpo. — Sem falar que ele deve estar furioso comigo por ter fugido. 

— Acredito que a reputação em si não seja o problema, mas certamente é um pilar essencial na manutenção da liberdade dele, que convenhamos, foi conquistada a duras penas. — Fez uma pausa. — Mas não se preocupe com isso, foque em terminar o tratamento e dê tempo ao tempo. Além do mais você tem a mim, Kisuke e Tessai, e se o Kurotsuchi tentar dar uma de esquentadinho com você eu acabo com a raça dele! 

   Elas riram, e por um momento Nemu se esqueceu de todas as suas preocupações. Não havia porque gastar energia com especulações, afinal de contas. 

   Yoruichi preparou uma cesta com lanches e bebidas e elas foram fazer um piquenique no parque para espairecer e ver o por do sol. Era incrível como Yoruichi conseguia comer tanto! Nemu se sentia feliz, com Ururu pôde sentir como é ter uma amizade entre meninas, e com Yoruichi, uma amizade entre mulheres. Sentia-se muito mais íntima dela do que jamais havia sentido com Matsumoto ou Nanao.

   O por do sol estava lindo, Nemu achava que o sol do mundo humano era uma das coisas mais bonitas que já havia visto. Ela e Yoruichi tomavam vinho e conversavam sobre tudo e sobre nada. Aquela viagem estava sendo muito melhor do que Nemu poderia imaginar.

— Nemu — Yoruichi a chamou, enquanto observavam a paisagem. 

— Sim?

— Como é o Kurotsuchi sem todas aquelas pinturas e porcarias que ele usa? 

— Ele tem um tom de pele parecido com o meu, olhos amarelos, lábios finos, cabelos azuis, um queixo bem definido e um belo corpo. É forte, mas mais magro que a maioria dos capitães, cheio de cicatrizes, mas nenhuma que o deixe menos bonito...

— Ele é bonito? — disse Yoruichi engasgando com o vinho por um momento.

— É muito bonito. — Deu um pequeno sorriso. — Diferente dos outros, mas ainda sim, muito bonito.

— Quem diria!

   Elas permaneceram em silêncio por alguns instantes observando a paisagem e a brisa batendo nas folhas das árvores.

— Yoruichi-Sama — foi a vez de Nemu iniciar um novo tópico. 

— Sim?

— Quando o senhor Urahara teve problemas você o ajudou a escapar, certo?

— Sim, ajudei.

— E você teve que abrir mão de tudo e ficar desaparecida por mais de cem anos...

— Onde quer chegar, Nemu? — perguntou Yoruichi num tom brincalhão.

— Qual é a sua relação com o senhor Urahara?

— Bem, somos melhores amigos desde a infância, mas somos muito diferentes. Eu sou uma pessoa livre, faço o que me dá na telha, detesto rotina e não tenho muita paciência para negociações, se é que me entende. — Deu mais um gole em sua taça de vinho. — Já o Kisuke sempre gostou de ter uma rotina, é obcecado por ciência, é diplomático e dificilmente usa a força para resolver algo. Nós somos tão opostos que nos complementamos. Kisuke jamais tentaria me prender,  por isso eu sempre escolho permanecer ao lado dele, e como nos conhecemos há muito tempo não faria sentido mudar nosso estilo de vida.

— Vocês tem um relacionamento romântico?

— Romântico? — Ela riu. — Eu não colocaria dessa forma. Ele faz o meu tipo, e quando eu demonstro que o quero ele nunca me rejeita, é até bem pervertido. Mas não suportaríamos nos olhar na manhã seguinte, então quando fazemos esse tipo de coisa eu sempre me transformo em gato logo em seguida pra nenhum de nós ficar constrangido.

— Então vocês ficam juntos mas não tem um relacionamento? — perguntou Nemu, que buscava acompanhar o raciocínio por trás das palavras despretensiosas de Yoruichi.

— Eu diria que temos um relacionamento não rotulado. Somos amigos, companheiros de batalha, as vezes transamos, mas não somos casados nem temos um relacionamento público. Até poderíamos ter se quiséssemos, mas somos muito amigos e não faria o menor sentido para nós fazer esse tipo de coisa. Kisuke é tímido, ele dificilmente toma a iniciativa, e quando toma é porque está quase morrendo de tesão. No entanto, quando eu estou em forma de gato ele se sente livre para demonstrar afeição por mim, e eu me sinto muito amada. É perfeito para nós.

— Então vocês se amam... Do jeito de vocês? — disse Nemu, encarando-a por um momento. 

— Sim, você entendeu! — confirmou Yoruichi sorrindo.

   Quando voltaram para a Urahara Shop constataram que todos haviam acabado de chegar de Tóquio. Organizaram as compras, conversaram animadamente sobre a viagem e antes de dormir Urahara aplicou o soro em Nemu. 

   Desde a noite do festival o clima entre Nemu e Mayuri tornou-se um tanto... Tenso. Ela havia gostado muito do beijo, e desejava repetir a experiência, mas Mayuri disse que não estava disposto a tocar no assunto naquele momento, pois havia muito trabalho a fazer. 

   Ela não poderia culpá-lo, de fato estavam muitíssimo ocupados, e tanto sua experiência literária quanto o pouco que havia vivenciado até o momento deixavam claro que romances tem o poder de desconcentrar as pessoas. No entanto, por mais que sua noção de prioridade não tivesse sido afetada, uma parte de si ainda torcia para que ele mudasse de ideia e a beijasse inesperadamente. 

   Os dias se passaram de forma lenta — segundo a percepção de Nemu, que esforçava-se ao máximo para manter a produtividade — principalmente porque Mayuri a encarregara de tarefas administrativas durante as últimas semanas, realizando os serviços de laboratório majoritariamente sozinho. 

   Se fosse sincera consigo mesma, poderia dizer que estava decepcionada. Nemu adorava o trabalho de laboratório, fazer o controle de cobaias, botar a mão na massa, realizar operações e testar na prática as teorias que havia aprendido, pois essa era a melhor fase do processo. Se perdessem uma cobaia Nemu jamais se sensibilizaria, mas seria a primeira a voluntariar-se para dissecá-la e investigar o ocorrido. Ela era uma cientista, e adorava seu trabalho. 

   O serviço administrativo não era ruim, mas Nemu sentia falta da rotina de experimentos, e também da companhia de Mayuri. Somando isso aos sentimentos que nutria, era fácil concluir porque aqueles dias andavam tão... Cinzentos. 

   Era sexta-feira, e Nemu preenchia a planilha de gastos semanal do Instituto sentada em sua mesa, quando sentiu a reiatsu de seu capitão. Levantou os olhos e o observou aproximar-se sem diminuir o passo. 

— Nemu, pegue a pasta do experimento 402, vamos fazer mais um teste de resistência — ele disse sem parar de caminhar, indo em direção ao laboratório subterrâneo. 

   Nemu mal conseguia acreditar, levantou-se rapidamente para pegar os arquivos e seguiu Mayuri com a alegria de quem havia ganhado na loteria. O experimento 402 era um trabalho conjunto de Nemu e Mayuri, e só eles tinham acesso irrestrito àquela pesquisa. Tratava-se da criação — e aprimoramento contínuo — de seu suplemente regenerativo. 

   Chegando ao laboratório ela acomodou os arquivos e observou Mayuri configurar o programa de computador que utilizariam para o monitoramento da experiência. Fazia aproximadamente sessenta dias desde que realizaram o último teste, e haviam obtido resultados bastante satisfatórios. 

— Quantas miligramas utilizaremos dessa vez? — perguntou Nemu, segurando um vidrinho transparente com um líquido roxo numa mão e uma seringa na outra. 

— Sete — respondeu Mayuri, ainda olhando para os monitores a sua frente. 

   Ela estranhou aquela informação, pois da última vez que testaram aquela substância haviam aplicado quatro miligramas nas veias de Nemu, e chegaram a conclusão de que seria perigoso utilizar uma dose maior. Independente das modificações realizadas na fórmula, aquele aumento parecia um tanto exagerado aos olhos da tenente. 

— O senhor modificou a fórmula? — ela perguntou, sentando-se na cadeira de testes. 

— Sim, acredito que conseguiremos acelerar consideravelmente o processo regenerativo. — Terminou de configurar o programa e finalmente olhou na direção dela. — Por que está sentada aí? 

   Nemu estranhou a pergunta dele e encolheu os ombros num movimento involuntário. 

— Eu lhe disse que seu limite é quatro miligramas, e você não pode ser exposta a um novo teste tão cedo. — Tirou o jaleco e fez menção para que ela se levantasse. — Você sabe como utilizar o programa. 

   Dito isso Nemu se levantou e Mayuri se sentou na cadeira. Ela preparou uma espécie de soro e o conectou ao braço direito de seu capitão, em seguida aplicou a substância que havia na seringa para que fosse diluída no soro e entrasse lentamente nas veias dele. A ideia era acompanhar os efeitos em tempo real, e se o programa mostrasse qualquer reação indesejada, deveria interromper o experimento imediatamente. 

   Não era a primeira vez que a vida de Mayuri ficava nas mãos de Nemu, mas quando isso acontecia ela sempre sentia um frio na barriga. Tudo que experimentavam nela já havia sido experimentado nele antes, e quase sempre pela própria Nemu, pois Mayuri não suportava a preocupação de seus subordinados que ficavam perguntando sobre seu bem-estar a cada cinco minutos. Nemu sabia avançar até onde era necessário, e não hesitava em fazê-lo. 

   A utilização do programa durante o experimento era essencial, não apenas para a coleta de dados, mas também para saber quando a cobaia — nesse caso, Mayuri — havia chegado ao seu limite. A substância agia no organismo de forma extremamente dolorosa, logo, não dava para confiar nas reações de quem quer que fosse a cobaia, e só poderiam confiar nos dados do programa. 

    Iniciaram o experimento, e Nemu dividia a atenção entre os monitores diante de si e o rosto de Mayuri, que olhava para o teto sem realmente vê-lo. Logo nos primeiros minutos Nemu já notou que Mayuri suava e franzia o cenho, e ela sabia o que aquilo significava. 

   Nemu havia lido certa vez que as pessoas se tornavam mais suscetíveis a dizer a verdade quando expostas a dor, tendo sido dessa premissa que nasceu a tortura. Havia uma oportunidade diante de si, e ela decidiu aproveitá-la. 

— Mayuri-Sama — ela o chamou, sem tirar os olhos do monitor. — Por que me beijou depois do festival? 

— Por que está me perguntando isso agora? — ele respondeu com outra pergunta, ainda olhando em direção ao teto, com a voz mais baixa do que de costume. 

— Porque a oportunidade surgiu — respondeu calmamente, ainda acompanhando os dados no monitor. 

   Ele riu sem humor, mas não disse nada. Três minutos se passaram e a dor que Mayuri sentia começou a ficar mais óbvia. 

— Mayuri-Sama, eu realmente gostaria de ouvir sua resposta. — ela insistiu, olhando-o de soslaio. 

— Fiz porque você pediu que eu fizesse — respondeu com dificuldade. — Você sabe disso, estava lá também. 

    Nemu sorriu ao constatar que Mayuri conseguia ser irônico até mesmo sob efeito da dor, mas ainda não havia obtido as respostas que desejava. 

— Só por isso? — ela questionou, encarando-o seriamente. — Fez só porque eu pedi que fizesse? 

   Mayuri não respondeu num primeiro momento, e Nemu sabia que qualquer outra pessoa já estaria gritando de dor em tais circunstâncias. 

— Fiz porque quis — ele respondeu finalmente. 

   Nemu não fez mais nenhuma pergunta, estava satisfeita e até mesmo... Feliz. 

   Os minutos seguintes se passaram ao som dos gritos de Mayuri enquanto o olhar atento de Nemu acompanhava os dados mostrados no monitor. Quando o programa finalmente mostrou que a cobaia estava chegando ao seu limite, o experimento foi encarrado. 

   Nemu salvou todos os dados pertinentes nas devidas pastas, em seguida se aproximou de Mayuri para retirar a agulha de seu braço. Ele estava encharcado de suor e parecia extremamente cansado, então ela fez uso de um pano úmido para remover o suor e proporcionar algum alívio. 

— Por que decidiu aumentar tanto a dosagem? — ela perguntou enquanto passava o pano na testa dele. 

— Foi um risco calculado. 

   A resposta foi curta e sem maiores explicações, mas naquele momento tudo ficou claro para Nemu. Ela finalmente sentia que era capaz de compreendê-lo completamente

   Naquela noite Nemu sonhou e se lembrou de inúmeras coisas além do experimento que realizara junto de Mayuri, inclusive do incidente que causou a matéria no jornal e todo o caos que se seguiu após isso. 

   Mais do que nunca Nemu sabia exatamente o que sentia, e estava determinada a contar para Mayuri tudo que se passava em sua mente e seu coração, independentemente das consequências.



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