7. museu
Por um momento achei estar caminhando por algum lugar mais estranho do que a cidade em que estava. Observava detalhadamente as paisagens e cada canto que poderiam facilmente formar um álbum de fotos maravilhosas.
Mas, a enorme porta larga, com detalhes góticos e um tom cinza convidativo e curioso, fez-me entrar sem ao menos me informar, porém, um mundo surgiu após aquela porta. Um mundo inofensivo, curioso e agradável.
Via-se estruturas ladeadas do chão ao teto, cobertas de uma tonalidade pouco semelhante à da entrada, do branco ao bege, cores vivas igualando-se ao ouro que brilhava com alguns raios solares que adentrava uma das portas abertas.
Não havia muitas pessoas por ali, mas os poucos que se encontravam, estavam com seus 'smartphones', a tirar fotos e a gravar vídeos ou o que quer que elas estivessem fazendo.
Enquanto eu, entorpecida em meu descobrimento, visualizava alguns dos quadros espalhados pelas paredes, distribuídos de forma harmônica e singular, como um caminho de pedras coloridas a levar para uma mina de ouro. Seguia obediente cada cor viva que surgiam até uma longa entrada. Estava, em poucos minutos, totalmente adentrada e envolta naquele museu.
Cada quadro, com um desenho expressado, faziam-me imaginar o momento da criação. Como qualquer outra arte, o desenvolvimento sempre é algo interessante de se observar. O criador em constante ansiedade e empolgação, deposita uniformemente a sua criatividade no lugar de destino, e ao finalizar, dá-se algo extremamente singular e indefinível, apenas incrível.
Eu acabava por me perder em pensamentos a cada cor e a cada paisagem, a cada detalhe, a cada pessoa, a cada quadro. Envolvia-me nos sentimentos postos em cada qual.
Envolvia-me nos sentimentos que acabavam por ser meramente despertos em meu coração, ignorando a ilusão, a dispersão, a ignorância.
Pensei em mim, na viagem... coisas indispensáveis das quais não conseguiria nem sequer por um momento parar de pensar. Pensei em Bem.
Nesse exato momento, fora a minha vez de pegar o meu 'smartphone', mas ao contrário de todos à minha volta, eu estava a escrever. Improvisando um diário digital, anotei meus novos pensamentos a respeito do homem que deixei para trás. A respeito do que ouvi mais cedo. A respeito de toda essa confusão dentro de mim e do turbilhão de pensamentos.
Meus olhos lacrimejaram, via sim o fim e não encontrava mais os raios da esperança que repetidas vezes surgiam. Onde Bem estaria agora? E se eu voltasse agora mesmo, o encontraria do jeito que "deixei"?
Digitei desajeitadamente algumas palavras em um bloco de notas e devolvi-o a bolsa, assim como guardei minha curiosidade e caminhei para a porta por onde entrei.
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Estava diante de uma obsoleta máquina de escrever, pensando o porquê de me encontrar com algo assim, nas poucas vezes que vi uma, ou que até usei, fora na casa de minha falecida avó e com Rúbem, ele escrevia suas músicas totalmente à moda antiga e era apaixonado por fitas cassetes.
Mas, por que estar ali?
Furtivamente, presenciei a figura de Rúbem, ele segurava um cordão marrom e amarrava-o sutilmente em seu pulso. Nele estava o mesmo pingente do qual me dera. E, repentinamente, lá estava eu, adentrando o ambiente sem avisos.
A minha figura abraçava Rúbem de forma demasiadamente apertada, enquanto ele sussurrava algo. Quando os dois, diante de mim, soltaram-se do abraço, ele se acomodou no banco, em frente a maquina de escrever e digitou uma última frase em francês: Je t'aime.
Num movimento rápido, ele pegou a folha onde acabara de escrever e saiu, puxando a minha figura pelo braço para outro cômodo. Eu segui, observando-os.
Ele, agitado, prosseguiu até uma sala onde pousava o seu violino. O papel ele colocou rapidamente na estante diante de si, pegou o instrumento e repousou-o em seu ombro, delicadamente, foi adentrando no seu espaço coberto de notas e harmonias.
Minha figura, sentava em uma poltrona confortável, ouvindo o som que saía do violino, entorpecida com a delicadeza de cada soar das notas.
Rúbem tocava notas delicadas, pacientemente, cada nota de uma vez.
Minha figura parecia deliciar-se até o momento em que ele finalizou a melodia e ela deu palminhas para ele. Desse dia, eu lembrava muito bem, mesmo sonhando, me perguntava o porquê de estar se repetindo.
Rúbem recitou o poema que fizera, do qual se baseou para criar aquela melodia que acabara de ser ouvida. Seguiu-se da última frase em francês e uma pose "triunfal" para finalizar, sendo seguido de mais uma seção de palminhas contentes.
— Estava inspirado — minha figura disse, sorrindo —, fez pensando em alguém?
Lembrei-me de ter ficado ansiosa a respeito da pessoa que poderia ter roubado o coraçãozinho do Bem, mas naquele momento, antecedendo a resposta "ninguém" que ele deu no dia, olhei bem para o rosto dele e um desespero de súbito tomou conta de mim.
Os lábios dele não se mexeram, mas, espalhado pelo ambiente, totalmente audível, pude ouvir a sua voz em um sonoro "você". Pensei estar em uma caixola, pela forma que o som fora abafado, mas enquanto me despertava, notei que de fato eu estava em um lugar. E este lugar era a mente dele.
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Dei um pequeno salto da cama, atordoada, caminhei até a janela do quarto e respirei profundamente. Eu não queria mergulhar mais naquilo, não queria aprofundar-me nos meus erros e lembrar-me tão detalhadamente das formas em que Rúbem expressava o amor dele por mim.
Seja como for, eu teria de resolver isso imediatamente. Se eu iria ficar pensando nele durante toda a viagem da qual ele não foi capaz de impedir, era melhor estar por perto. Daria no mesmo, eu acho.
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