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5 - O DO OUTRO LADO

Antônia corre e tranca-se dentro do quarto que um dia fora de sua mãe. Carmen morreu a exato sete dias.

Desde a morte de sua mãe, Antônia tem visto seu padrasto ficar diferente a cada dia. A menina chorou e ainda chora muito pela morte da sua mãe. E todos os dias tem pesadelos, acordando dentro de um caldeirão com fogo.

A sua tia Ana e o esposo Jonathan foram embora depois que a missa de sétimo dia acabou. O pior é que foi tanta dor e choro, que não perceberam o olhar de Eduardo cravado em Antônia.

Desde que Carmen ensinou Antônia a rezar vela com o pensamento nos "do outro lado", a menina nunca mais havia feito isso... não até agora.

Eduardo coloca uma panela grande, com água pelo tampo, no fogo. O reflexo da sua satisfação, consegue ser vista na perenidade do espelho d'àgua, que ainda não borbulha por causa da quentura.

Ele já se imagina mordendo a pele macia de Antônia... e isso o deixa excitado. Eduardo ainda não sabe se vai canibaliza-la viva.

As primeiras experiências foram com as pessoas mortas, porém, depois da quinta vítima, elas foram devoradas vivas. Entorpecidas, mas vivas.

O homem de olhos azuis levanta o martelo a cima da cabeça para ver o fio da machadinha. Serão duas porradas: a primeira com o martelo, e a segunda com a machadinha que fica atrás do martelo.

— Vai ser pá; pá; pei. — Fala Eduardo com os lábios em extenso sorriso. — Doce Antônia da pele mais alva que uma lã.

Ao virar para trás, a menina está assustada e chorosa olhando para ele. Eduardo franze a testa em sinal de raiva consigo mesmo. A carne fresca não pode estar estressada.

Ele suspira em desaprovação quando Antônia corre na direção do banheiro.

— Docinho, volta aqui. —  Pede Eduardo cinicamente, caminhando imponente, calmo e seguro na direção do banheiro. — Eu nunca faria mal a você. Eu prometi a sua mãe que não te faria mal. Não em vida... — Essa última frase Eduardo falou quase como um suspiro.

Com o cabo feito de metal do martelo, Eduardo bate a primeira vez na porta e fala com pesada ironia:

— Porquinha! Abra logo está porta ou soprarei, soprarei e soprarei até que sua casa destruirei.

O homem de barba por fazer esmurra a porta do banheiro com força. Dando uns sete passos para trás, observa que começa a sair fumaça da água na panela.

— Antônia! Não tenho o dia todo! Amanhã você tem escola! Vamos jantar!

Sem ter resposta vinda do banheiro, Eduardo marcha com fúria, empunhando o martelo na mão, e chuta a porta do banheiro com violência:

— Então você esta escondida aí... — Diz Eduardo com uma voz cheia de felicidade.

O corpo foi encontrado pela polícia quase todo devorado.

Os legistas, haja vista um só não daria conta, observam o cenário de mortandade.

— Por onde vamos começar? — Pergunta Oliveira para Martinez.

— Cara, puta que pariu. Não sei... nunca vi algo assim.

Oliveira e Martinez estão parados diante do corpo pendurado e desmembrado.

— O cara teve muito trabalho. Ele tirou toda a pele da vítima com uma precisão cirúrgica.

— Gostei do trocadilho, Oliveira. — Martinez brinca sem sorri. Seus olhos refletem o sangue espalhado por toda cozinha. — Quem fez isso é um animal... ou melhor, um demônio. Um animal nunca faria isso.

O tórax ainda foi achado. Os braços, pernas e cabeça estão pendurados como mercadorias expostas num açougue, esperando para serem vendidas.

— As unhas da vítima foram arrancadas — Oliveira liga seu gravador de bolso e com suas mãos vestidas por luvas transparentes, começa a mexer no que sobrou do cadáver. —, e deixadas num Pires de porcelana, que será recolhido para procurar DNA. Encontramos os membros e a cabeça, porém o tórax e a virilha ainda não. Posso observar que o braço foi possivelmente removido com a vítima viva.

Martinez, fica parado sem ação na frente da cabeça pendurada para baixo. A vítima estava sem língua. A boca com um afundamento na arcada dentária frontal. Como uma pancada excessivamente animalesca.

O couro cabeludo não existe.

— Quem por Deus faria isso? Mergulhar a cabeça da vítima, com ela viva, dentro da panela com água fervendo? — Oliveira escuta a pergunta feita por Martinez, mas ao virar o braço esquerdo amputado, viu como o osso do antebraço saiu inteiro.

— Martinez, será que a pele estava tão cozida que não houve dificuldade do osso sair? — Oliveira, havia parado a gravação para perguntar ao amigo.

— Oliveira... a pele do rosto foi removida de um só vez. Será que foi com um bisturi?

— Talvez. Sabe o que me conforta?

— A menina ter sobrevivido?

— Exatamente. Ilesa. Sem um arranhado.

— Tadeu e Frank assim que chegaram aqui, 30 minutos depois da central ter recebido uma denúncia de violência doméstica, por telefone, encontraram a menina dormindo na frente de um vela acesa.

— Isso eu não sabia. — Surpreende-se Martinez. — Ela não escutou nenhum barulho?

— Estava dormindo igual um anjinho... ou melhor, uma anjinha. Pobre criança. Perdeu a mãe e depois de sete dias perde o padrasto.

— Vamos terminar logo isso aqui. Não aguento mais esse cheiro enjoado de sangue fresco.

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