Capítulo Sete
Jesse me empurrou para trás de si tão rápido, que bati a cabeça na parede.
- Eu falei para não tocar nela - Daniele disse, perigosamente calmo.
Jesse me apertou com mais força na parede.
- Briga! Briga! - as pessoas que estavam na festa se reuniram ao nosso redor, gritando e assoviando.
Xingando mentalmente, me desvencilhei do toque de Jesse, e me coloquei no meio dos dois vampiros. Droga, não era pra ter chegado neste ponto!
- Eu - disse para Daniele, minha voz afiada como uma lâmina - faço o quiser da minha vida. Você não manda nela. Então acho melhor você me deixar em paz. Nos deixar em paz.
Ele me encarou, incrédulo. E então começou a rir.
- Quem foi o idiota que te deu essa ideia? Fazer ciúme? Ah, Deus, me poupe!
Rosnei em resposta. Ao longe, eu via Cassie e Ana me encarando, abismadas. Elas não achavam que a situação chegaria a tanto.
- Ahm, Katherine - Jesse falou ao meu ouvido - o que devemos fazer?
- Acabar a festa e resolver nossas diferenças lá fora - respondi.
Merda, como Daniele era idiota! Tolo! Achava que podia ameaçar o garoto com o qual me agarro e depois sair sem nenhum arranhão. Essa ideia me dava vontade de gargalhar.
- Ouviram a garota! - Daniele gritou - a festa acabou! Andem, todos para fora!
Pouco a pouco, a multidão foi se dispersando. Como ele conseguia fazer com que todos o obedecessem assim fácil?
Ana e Cassandra foram as últimas a sair. Cassie me lançou um olhar preocupado, mas apenas fiz sinal com a cabeça para que ela saísse.
- Ótimo! - exclamei, sarcástica. - Você conseguiu estragar a festa! E agora vem me passar sermão?
- Não vou lhe passar sermão, Catarina - Daniele retrucou.
- Meu. Nome. É. Katherine! - gritei.
- Ei, vocês dois - Jesse disse, nervoso - será que podemos conversar sem gritar?
- Não! - eu e Daniele berramos ao mesmo tempo.
- E você... - o vampiro mais velho continuou - o que estava fazendo com ela?
- Nada que seja da sua conta - respondi antes que Jesse abra a boca. - Eu já disse que faço o que quiser da minha vida.
Daniele bofou, e em um movimento rápido, se postou na frente de Jesse, seu rosto a centímetros do dele.
- Se você tocar nela mais uma vez que seja, juro que irei mata-lo.
- Droga, Daniele! - gritei, e me joguei contra ele, empurrando-o em direção à parede com força. - Você não tem direto algum sobre minha vida!
Com supervelocidade de vampiro, me afastei e parei ao lado da porta, fulminando-o com os olhos. Daniele tinha o rosto queimando em fúria. Irritado, ele abre a janela do quarto para deixar uma brisa entrar.
Revirei os olhos e abri a porta do quarto para sair, quando senti alguém colocar as mãos em posição para quebrar meu pescoço. Revirei os olhos, sem me intimidar. Quebrar o pescoço de um vampiro jovem e fraco - principalmente se este nunca se alimentara de um Original - podia deixa-lo inconsciente por um tempo, mas não o mataria. Já quebrar o meu pescoço, me deixaria atordoada, mas nada mais que isso. O que ele tinha em mente?
Senti uma dor forte, mas suportável, quando meu pescoço quebra, e fico meio tonta. Como ele tivera a ousadia de quebrar meu pescoço? E não é só isso; logo ele me pega nos braços e me coloca na cama. Ah, eu não o deixaria sair imune.
Se havia uma coisa que ele não sabia sobre mim, era a velocidade do meu poder de cura. Depois de me alimentar de dezenas de Originais ao longo destes três séculos, eu me curava numa velocidade absurda, mas ele não sabia disso.
Senti meu pescoço voltar ao lugar e a tontura desaparecer, mas não deixei que isso apareça em meu rosto.
- O que vamos fazer com ela? - indagou Jesse, nervoso.
- Por enquanto, esperar que se cure, e depois lhe passar um sermão sobre responsabilidade.
- Certo. Acha que vai demorar muito?
- Com a quantidade de sangue Original que ela tem nas veias, duvido que demore mais que alguns minutos.
Ah... então os dois estavam do mesmo lado? E ainda mais contra mim? Será que Daniele fingira aquela raiva por Jesse?
Mais rápida do que seria possível, me levantei e corro até a janela aberta. Estávamos no quarto andar, mas a queda não me mataria. Pulei a janela.
O vento zunia em meus ouvidos e ouvi um baque surdo quando atingi o chão. Sem pensar em olhar para trás, disparei em direção à entrada do prédio dos estudantes. Se eu não podia sair pela porta do quarto deles, entraria pela porta da frente.
Mas antes de ter a chance de me aproximar do prédio, alguém pulou em cima de mim, e caí, batendo a cabeça no cascalho que cobria o caminho.
Senti um liquido quente descer pela minha cabeça. Maravilha! Agora eu estava sangrando! Por mais que o ferimento fosse se curar em alguns segundos, o sangue não se limparia magicamente de meu rosto.
- Sua... - Daniele me pressionava contra o chão.
- Sua, o que? Vadia? Desgraçada? Me xingue do que quiser, seu idiota, porque eu não me importo.
- Chegou a esse ponto, Cata? - ali estava. Meu antigo apelido. O apelido que ele inventara. Eu estava pensando em quando ele jogaria essa carta. Catarina. Cata.
Revirei os olhos.
- O ponto, Daniel - chamei-o nome que as pessoas usavam aqui. O nome que poderia fazê-lo entender que eu não me importava - é que eu estou nem aí para o que você pensa de mim. Se eu aprendi uma coisa nestas décadas que passei sozinha, é que você deve se amar, antes de amar a outro. E sabe de uma coisa? Eu me amo. Não importa o que você diga.
Algo faiscou em olhos. Raiva, por seu truque não ter funcionado? Ou seria orgulho, por eu ser inflexível? Afinal, teve uma época, quando eu ainda o amava e era amada por ele, que discutíamos sobre ser inflexível em relação aos outros e as nossas decisões, e eu sempre cedia ao próximo. Ele queria que eu mudasse. E agora, séculos depois, aqui estou eu: dura e inflexível como uma pedra.
- Só quero manter você segura, Cata - ah! Ele ainda insistia nisso? Em me manter segura? Em usar meu estúpido apelido?
- Eu acho que você deveria tentar proteger a si mesmo antes de vir para cima de mim - rosnei, movendo-me tão rapidamente que ele não teve tempo de pensar.
Empurrei Daniele em direção a uma árvore a cinquenta metros de distância. Ele bateu nela com força, e logo escorregou para o chão. Resmungando e gemendo, ele se ergueu, mas eu já esperava por isso. Assim, ao ver o mínimo movimento dele, me posiciono a sua frente e chuto-o no ponto da barriga em que estaria o estômago.
Ele ri, provavelmente recordando velhos momentos.
- Garota, eu lhe ensinei isso para se defender de homens com más intenções, não para me derrubar.
Revirei os olhos, também lembrando.
∞
Uma vez, eu estava sendo perseguida - mesmo - por uns garotos estúpidos da minha aldeia. Eu era uma humana frágil na época, e me ainda encontrava com Daniele escondida, mas já sabia o que ele era. Não tinha como me defender dos meninos mais velhos.
Eu estava encurralada na floresta, a segundos de ser ferida de um jeito que nunca mais sararia, quando ele apareceu. Daniele deixou os quatro garotos inconscientes antes de me envolver nos braços musculosos. Eu tremia muito.
- Ei, shhhh, vai ficar tudo bem - ele havia dito, enquanto eu chorava. - Vai ficar tudo bem.
- Se você não tivesse aparecido... eles iriam... iriam... - eu engasgava com as palavras de tanto chorar.
- Ei, shhhh. Prometo que uma coisa dessas nunca mais vai acontecer com você. - Ele falou. - Palavra de vampiro.
- Você não pode me proteger para sempre - eu disse, encostando a cabeça em seu peito.
- Ah, eu não a protegerei para sempre - ele sussurrou, brincando com meus cabelos - pois vou ensinar-lhe a se defender sozinha.
Eu havia sorrido em meio às lágrimas, e ficado aninhada em seus braços por horas, até escurecer. Mas ele entendera que eu não faria mais nada além de abraça-lo, não depois do que havia acontecido, então desta vez, não ouve beijo de despedida, e eu fiquei aliviada ao ver que ele me respeitava assim também.
∞
Essa lembrança me atingiu como um raio, e estremeci. Sacudindo a cabeça, percebi que não mais que alguns segundos haviam se passado, e Daniele me encarava, notando que eu estava lembrando o mesmo que ele.
- Ah, você nunca vai esquecer aquilo, não? - ele sorriu consigo mesmo.
Xingando mentalmente por me distrair, dei-lhe uma joelhada no ponto fraco do homem, e ele caiu de joelhos, gemendo e gargalhando. Seus cabelos negros estavam grudados à testa, e os seus olhos brilhavam com divertimento.
- Ah, você acha isso engraçado, é? - pressionei meu corpo contra o dele até Daniele estar deitado. - E que tal isto?
As presas rasgaram minha gengiva para ficarem maiores e aparecerem ao mínimo esboço de um sorriso. Senti minhas pupilas dilatando e soube que meus belos e hipnóticos olhos verdes estavam negros, no momento.
Aproximei meu rosto de seu pescoço, pronta para dilacera-lo, mesmo sabendo que não o mataria por muito tempo.
- O que está acontecendo aqui? - a voz grossa de um homem me fez recuar, guardando as presas e fazendo minhas pupilas voltar ao tamanho normal. - Já passou mais do que da hora de entrar.
Senti seu cheiro inconfundível antes de virar-me.
- É, garotos - a voz aguda de Lily me fez suspirar, irritada. - Não temos muitas regras sobre namoro dentro da propriedade, mas já é de madrugada e vocês têm classes amanhã.
- Ah, certo, desculpe - murmurei, tentando manter a calma e discrição, senão teria matado ele ali mesmo, na frente de Daniele e Lily.
Daniele me olhou confuso, mas me seguiu sem reclamar quando levantei, e caminhei rápido em direção ao prédio, a cabeça abaixada para cobrir o fio de sangue que antes escorrera por minha cabeça.
Ao entrar no prédio, chutei a primeira coisa que vi, e depois soquei a parede.
- Ei, ei, ei! - Daniele me segurou antes que eu quebrasse um vaso sobre um criado mudo. - O que foi?
- Não sentiu o cheiro? - perguntei, me afastando.
- Não. Não tem cheiro de nada - ele disse, confuso.
Mas é claro que ele não sentiu! Ele não pensara ter matado a linhagem inteira! Ele não memorizara o cheiro deles, o gosto de seu sangue - que era muito que o melhor que o humano.
- Original - rosnei baixinho, e depois bufei, mais que irritada.
- Você não pode estra falando sé... - ele parou, quando comecei a respirar rapidamente, e senti minhas pupilas dilatarem.
- Ah, estou falando muito sério - eu disse, perigosamente calma.
Comecei a avançar em direção a ele, pronta para soca-lo, pois ele era o único ali comigo. Um ruído me fez perder a atenção nele por um segundo, mas logo eu estava rosnando e mostrando as presas.
Eu era o verdadeiro monstro das lendas. Eu não era uma vampira normal. Eu era o pior, do pior. Todo o mundo sobrenatural sabia quem eu era.
Eu era a vampira.
ޜ9sv*M
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