Capítulo Dezoito
Minha voz sumiu. Encarei-o com raiva no olhar.
- Você acabou de me mandar calar a boca? - eu estava perigosamente calma, agora. De que adiantava gritar com ele, se não fazia diferença?
- Sim, Katherine. Eu mandei. Quero silêncio para pensar. Pode me fazer esse favor? - sua voz tinha um tom estranho, que eu não conseguia reconhecer.
- Você é um idiota - afirmei.
- E você é insuportável - ele retrucou.
Pronto. Foi o que bastou para meus olhos ficarem vermelhos. E quero dizer literalmente vermelhos.
- Seu merda! - xinguei, de repente esquecendo de todos os nomes feios que eu sabia em centenas de línguas.
- Ah, Katherine, deixe de ser dramática! - ah, agora ele estava todo calmo? Cravei as unhas na palma de minha mão. - Além do mais, achei um motel bem afastado do centro de Lafayette. Já vou estacionar.
- Vai querer que eu finja ser sua "namorada"? - perguntei, amargamente, deixando de lado minha raiva. Se eu quisesse matar o clã Luna, teria que me concentrar.
- Vou, sim. Para que mais um casal jovem iria a um motel? - ele riu, e depois virou numa rua pouco movimentada.
Não respondi. Daniel se debruçou sobre o volante, procurando o lugar onde ficaríamos, acho. Quando o viu, fez uma curva brusca e entrou por um portão de ferro, com grades tipo estilo antigo. Na placa - também em estilo antigo - estava escrito Sex Love. Oh, meu Deus! Era nisso que ele queria que eu passasse a noite?
Avançamos mais cem metros antes de depararmo-nos com uma construção, que deveria ser o motel em si. Tinha todo aquele ar de lugar antigo. As paredes do lugar eram de uma cor clara, e as janelas eram grandes, com varandas. Nada do que eu esperava para um motel.
- Sério, Daniel? - balancei a cabeça.
- O que? O lugar é bonito e afastado. Por dentro não é tão ruim quanto parece - justificou.
- Como sabe? - perguntei, maliciosa.
- Ah, Katherine! Você não acha que passei trezentos anos sozinho, acha? - ele ergueu uma sobrancelha.
- Ah, sei lá. Você é meio chato e careta. E é muito difícil imaginar você com... - parei no meio da frase. Um sentimento estranho queimava dentro de mim. O que é isso, Katherine?
- Está com ciúme? - ele jogou a cabeça para trás e começou a gargalhar.
- Claro que não! - neguei, mas ele ignorou, estacionou o carro bem na entrada do prédio, e piscou para mim, antes de descer.
Mas então voltou, jogando-me seu casaco e avisou:
- Vai ficar comprido em você, mas precisamos cobrir essas manchas de sangue.
Resmungando enquanto vestia o casaco, que ia até a altura do joelho - sim, ele era assim mais alto que eu -, logo me juntei a ele, tentando botar uma expressão de amor no rosto. Mas eu sabia que minha atuação não estava sendo convincente.
- Katherine, melhore a cara - Daniel pediu, antes de abrir a grande porta de vidro corrediça.
- Está difícil - retruquei, mas mesmo assim, abri um sorriso.
Entramos no motel, e percebi que Daniel tinha razão: o lugar era melhor por dentro do que parecia. Lustres pendiam do teto, iluminando o ambiente. As paredes tinham uma cor clara e aconchegante, e o aroma... bem, parecia baunilha. Tive vontade de rir, ao perceber os significados que isso poderia ter. A mesa da recepção ficava perto da porta de entrada, e havia apenas uma garota ali. E não era uma bruxa!
- Tem vaga? - perguntou Daniel, pegando minha mão.
Os olhos castanhos da menina se arregalaram, e suas bochechas ficaram vermelhas. Ao abaixar a cabeça, seus cabelos escuros caíram sobre o rosto. Oh, querida, você é apenas mais uma que caiu aos pés do deus grego ao meu lado. Não pense que isso é uma boa coisa.
- Sim - ela murmurou, timidamente. - Uma noite?
- Sim - respondemos, em uníssono, eu e Daniel.
- Certo. Quarto com hidromassagem? - ela perguntou, e me segurei para não comemorar. Aquele lugar era mesmo bom!
- Sim - respondi antes que Daniel pudesse negar.
- Ok - ela começou a cantarolar baixinho, procurando algo em sua mesa. - Seriam... cento e cinquenta dólares.
Uau. Eu não sabia que eles cobravam tanto para uma noite.
- Você vai nos deixar passar a noite de graça - disse, me aproximando. - Vai pensar que pagamos adiantado. Agora, dê-nos a chave do quarto e volte ao trabalho. Entendeu?
- Sim, entendi - a garota mexeu a cabeça em concordância, e depois me entregou uma chave, também com ar antigo.
- Ótimo - forcei o controle mental mais um pouco, até ver as pupilas dela dilatarem, e depois encolherem até ficarem em tamanho normal. - Agora, podemos subir.
- Subam as escadas e encontrarão o quarto cinco - a garota explicou, sorridente.
De fato, haviam mesmo escadas ali. E não pareciam ser poucas. Droga!
- Obrigada - tentei conter minha amargura ao falar.
- Ah, e mais uma coisa - ela chamou, antes que nos virássemos para ir. - Aqui, a pedido dos donos do local, os homens devem carregar a mulher até o quarto. Como se recém tivessem se casado.
Que merda era aquela? Parecia que tudo o que acontecia era para fazer Daniel ficar perto de mim! Mas que droga!
- Você sabia disso? - rosnei para ele.
- Por que acha que te trouxe à este lugar, especificamente? - Daniel sorriu, malicioso, e tentou me pegar no colo.
Mas então, algo aconteceu. Como uma força invisível, não sei. Apenas sei que, ao tentar me tocar, algo atirou Daniel para longe. Vi-o atingir a parede com força. Notei que a garota se encolheu em baixo da mesa, e corri em sua direção.
- Esqueça que viu isso - ordenei, e ela repetiu o que eu disse, piscando e voltando a sorrir.
- Tenham uma boa noite - ela desejou.
- Obrigada - murmurei, rapidamente, e depois fui ver se o idiota já havia conseguido levantar. E, é claro, que ele ainda está no chão, se contorcendo. Revirei os olhos. - O há com você? Vai me dizer que a pancada na parede doeu? Na minha opinião, foi bem feito!
- Ah, fique quieta! - ele pediu, se levantando. - Eu sei o que aconteceu.
- E...? - pressionei.
- Fiz a promessa de não te tocar de um jeito romântico, a menos que você permita - ele resmungou um palavrão, e foi andando em direção às escadas. - E você não quer que eu te carregue.
- Tá, mas ser carregada não é algo romântico - revirei os olhos.
- Neste caso, é, sim. Pelo menos sob meu ponto de vista - ele desviou o olhar. - Vai ter que permitir que eu te carregue.
- Não - eu disse, prontamente. - Vou subir sozinha.
- Mas é tradição! - a garota gritou, como se só tivesse ouvido essa parte.
- Não me importa! - gritei de volta, cravando as unhas na palma da mão.
- Temos que manter a imagem, Kath... eu te solto assim que sumirmos da vista dela, ok? - ele implorou, lançando-me um olhar de cachorro pidão. Apreciei a ironia não só pelo fato dele ter chamado Jesse de cachorro, mas por estar agindo com um.
- Ahhhh... tudo bem! - cedi, abrindo os braços, dramaticamente.
- Muito obrigada - ele veio, rapidamente, e me ergueu do chão, fazendo-me soltar um gritinho e depois rir. Digamos que isso me lembrava os velhos tempos...
∞
- Pare com isso! - gritei, debatendo-me no abraço de Daniel.
- Não paro, não! - ele começou a rodar, apertando-me contra se peito.
- Estou tonta - reclamei, fechando os olhos.
- Oh, não! - Daniel riu, colocando-me no chão. - Meu bebezinho ficou tonto!
Sorri, feito uma boba, e fingi cair para o lado.
- Catarina? - com sua velocidade de vampiro, Daniel se postou ao meu lado, amparando-me de uma queda que eu fingia.
- Que é? - meu eu humano ria e brincava. Parecia que eu tinha dez anos! Então, empurrei o vampiro, que "caiu" e se esparramou no chão. Sentei-me em cima dele, fazendo-lhe cócegas. Ele riu, mesmo não sentindo de verdade.
- Achei que estivesse tonta - logo, ele se colocou por cima, cutucando minha barriga, de um jeito brincalhão.
- Eu queria que você me colocasse no chão - disse, contorcendo-me de tanto rir.
- Ah, vai se arrepender! Ainda não aprendeu que não se engana um vampiro? - rápido, ele se ergueu, puxando-me para um abraço apertado. Depois, eu já não sentia meus pés tocarem o chão. E logo, ele estava me girando no ar, como se eu não pesasse mais que uma pena.
∞
Sacudi a cabeça, tentando afastar a lembrança. Katherine, o que é isso? Por que fica lembrando de quando estavam juntos? Pare já com isso!
- Pensando muito? - Daniel me fez voltar ao presente.
- Não é da sua conta - retruquei, e depois menti: - quero que me coloque no chão. - A verdade era que eu gostava de ficar aninhada ali. Não por que eu gostasse dele, mas porque era bom e... Katherine, pare com isso!
- Não quer, não - ele respondeu. - Se realmente quisesse, aquela força invisível já teria me atirado contra alguma parede - e depois riu.
- Oh, ele é o cavaleiro de armadura brilhante da história! - faleou, irônica.
- O que isso tem a ver com o assunto? - ele pergunta.
- Nada, mas você é - retruco, sendo balançada acima do chão.
- Muito engraçado - ele me jogou para cima, e gritei. E então, me segurou antes que eu batesse no chão.
- Nunca mais faça isso! - rosnei, me irritando. Por que ele tinha que estragar tudo? - Não sou sua garota. Agora, me coloque no chão.
Sem contestar, ele me largou, e me entregou a chave do quarto. Paramos na frente de uma porta mais nova, com uma fechadura normal. Maravilha! Quer saber por que não eu não havia gostado do lugar? Porque tudo tinha aspecto antigo, o que me lembrava os velhos tempos. Mas essa porta... bem, tive que me conter para não agradecer em voz alta. Eu realmente odiava coisas com aspecto antigo.
Abri a porta e entrei no quarto, que também tinha um aspecto mais novo. A cama king size ficava bem no meio do lugar, e havia rosas de verdade espalhadas sobre ela. O chão era de carpete, e uma poltrona vermelha ficava ao lado da janela de vidro.
- Belo lugar - Daniel elogiou.
- Prefiro o hotel em que paramos em Nova Ibéria - eu disse. - Agora, vou ver se o banheiro tem mesmo uma banheira grande com hidromassagem.
Entrei pela porta que estava num canto afastado da entrada, satisfeita ao constar que o banheiro era grande. Uma banheira para duas pessoas se encontrava perto da parede, e... sim, tinha hidromassagens! A pia do cômodo ficava na parede oposta à da banheira, e era só isso. Não era como eu estava acostumada, mas... bem, servia.
Saí do banheiro, atirei o casaco para ele, mirando seu peito, mas ele o pegou.
- Agora, está na hora de bolarmos alguns planos - disse, sentando na cama e jogando as rosas no chão.
- Sim, tem razão - Daniel sentou ao meu lado. - Mas para isso, vamos ter que chamar Tatia.
Sorri, satisfeita por ele não ter desistido no último segundo.
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