
Capítulo Dezessete
- Tirei mais uma - gemi, arrancando a terceira bala da minha perna. O metal queimava minha mão, e logo joguei-o o no chão do carro. Ainda estávamos em movimento. Agora passávamos pela Jane St, que tinha poucas pessoas passando. Daniel queria sair de Nova Ibéria ainda hoje, mas iria parar em dez minutos, para me ajudar a tirar a bala do ombro, que estava muito difícil de mover.
- Isso, Kathy. Já vou parar, tente não se mexer. - Ele avisou, chamando-me pelo nome que eu odiava.
- Pode parar de me chamar assim, merda? - reclamei, trincando os dentes.
- Eu gosto do apelido. E te chamo do jeito que eu quiser, Kathy - decidindo que estávamos longe o suficiente do bar, ele parou no acostamento.
Cercando a estrada, haviam alguns metros de grama, seguidos por várias árvores de grande porte. Pelo menos, era assim no lugar em que paramos. Se seguíssemos mais alguns quilômetros, a paisagem logo mudaria.
- Não importa o que você gosta - retruquei. - Está falando comigo. Não quero que me chame assim. Eu tenho um nome, e é Katherine!
- Uau, não precisa se irritar - falou, saindo do carro e dando a volta, até estar na minha porta. - Além do mais, salvei sua vida. De novo. Pode me dar alguns créditos por isso, né? - ele abriu a porta e se ajoelhou ao me lado.
- Tá, ok. Mas não me chame assim - soltei um grunhido quando Daniel enfiou a mão em meu ombro, procurando a maldita bala de prata.
- Certo. Tudo bem. Mas só por agora - ele girou a bala entre os dedos, jogando-a no mato quando começou a queimar sua pele.
- Humf! - resmunguei, e depois suspirei, aliviada. Não havia mais nenhuma maldita bala em meu corpo! Ótimo, agora eu podia andar sozinha.
- Agora, vamos sair de Nova Ibéria - Daniel levantou, sacudindo o jeans com terra.
- Ok - concordei, mesmo querendo voltar e dar uma surra no Caçador. Talvez, depois. - Vamos para onde?
- Lafayette - ele respondeu, sério, enquanto voltava para a estrada. - Trinta e três quilômetros daqui. Uma meia hora.
- Ah - respondi, por não ter muita coisa a se dizer. - Como me achou?
- Percebi que estava demorando demais... - ele parecia perdido em pensamentos. - Então, quando foi sair para procura-la e te dar uma bronca, a bruxa tentou me impedir. Foi aí que vi que havia algo errado.
- O que fez com a bruxa? - ali estava minha chance de saber se ele ainda tinha algo de vampiro dentro de si.
- Eu... bem... tive que...
- Mata-la? - para mim, isso era a coisa mais normal do mundo.
- Fiz uma promessa três séculos atrás - ele queria se desviar da pergunta ou o quê? - Prometi fazer o que fosse necessário.
Sem conseguir me conter, soltei um risinho.
- Ainda com esse papo de "eu vou te manter segura pela eternidade"? - indaguei, irônica.
- A palavra de um vampiro, é tudo, Katherine. Você deveria aprender um pouco disso.
Calma, calma, calma! Ele estava me insultando?
- Eu deveria aprender? - repeti, erguendo as sobrancelhas.
- Sim, Kath, deveria. - Ele não iria voltar atrás? Idiota! - E não só um pouco... mas muito.
Respirei profundamente, tentando me controlar.
- Vou te dar uma, mas apenas uma, chance de retirar o que disse - avisei, meus olhos começando a ficar pretos.
- Retirar o que, Katherine? A verdade em minhas palavras? Ah, por favor!
- Por favor? Por favor? Você acha que sou o que? Uma criança, que precisa ser educada? Daniel, posso me cuidar sozinha! Não preciso de ninguém para me dizer o que fazer!
- Ah, quer saber? Dane-se! Não quero mais conversar com você - ele afirmou, se concentrando apenas e completamente na estrada. Ignorando minha existência.
Passamos dez minutos nesse silêncio estranho. Até que...
- Vamos atrás do clã Luna?
Uma pergunta. Foi o que bastou para irrita-lo ainda mais.
- Você se alimentou até quase matar um monte de humanos inocentes hoje, e por isso, quase foi morta pelo Original menos de uma horas atrás! - ele rosnou, apertando com força o volante. - E agora já está querendo saber quando vai acontecer o próximo massacre? Ah, tenha um pouco de responsabilidade!
Cerrei as mãos em punhos, cravando as unhas na pele.
- Eu não me importo, droga! Daniel, eu gosto de matar! É minha natureza! Um vampiro precisa matar para viver. Eu aproveito o momento, e daí? Qual é o seu problema? E se eu quiser matar o clã Luna sozinha, como fiz com o Solis? Que direito acha que tem, para mandar em mim?
Pronto. Nossa trégua estava acabada. Outra vez.
- Por que é tão difícil se importar com alguém além de si mesma, Kath? - sua voz se suavizou, deixando-me na dúvida em saber se eu preferia o Daniel irritado ou o Daniel que sentia pena de mim.
- Ah, Daniel, deu! Cansei! Encoste o carro. Quero dirigir.
- Você não está em condições de dirigir - ele retrucou, apontando para minhas pernas, que não estavam completamente cicatrizadas. Normalmente, um ferimento a bala teria se curado em, no máximo, um minuto. Mas como elas não eram de madeira, e esse metal atrasava o processo de cura... bem, apenas disse que ainda estava escorrendo sangue dos ferimentos. Mas que droga.
- Não me importa. O carro é meu. Quero dirigir - insisti. Por que ele tinha que ser tão chato? Mas que saco!
- Não - ele repetiu. - Além do mais, estamos quase chegando. Só mais dez minutos.
- Acho que você não vai querer parar em um hotel de luxo... estou certa? - inclinei a cabeça, olhando-o com uma cara de santa, que não engana ninguém.
- Está. Vamos parar em um motel - ele respondeu, e as palavras demoraram um pouco para me atingir.
- Quer parar em um motel? - olhei-o com desdém. - Você está louco se acha que vou parar em um motel com você! Andou fumando, Daniel?
Ele conteve o riso e depois falou:
- Um motel, Katherine, é mais discreto que um grande hotel. Ali, você pode hipnotizar as pessoas para lhe darem um quarto, pois não é uma rede grande. Podemos passar despercebidos.
- Não vou parar em um motel com você - rosnei. - Não me importa o quão mais fácil seja passar despercebido por ele!
- Ah, Katherine! Não vou tentar nada, contra sua vontade! - ele jogou a cabeça para trás, xingando em outro idioma.
- Promete? - insisti. Talvez, assim, eu concordasse. Mas só talvez.
- Sim, Katherine. Eu prometo que não tentarei nada romântico contra sua vontade - uau. Ele sabia mesmo brincar com as palavras.
- Ótimo. Fico mais tranquila - revirei os olhos.
- Sério que me acha tão baixo? - ohhh, ele estava magoado? Dane-se!
- Sim, sério!
- Argh! Você é impossível! - ele respirou fundo, tentando se acalmar. - Então, planejaremos nossos próximos passos lá. Não sei se devemos matar as bruxas primeiro, ou ir atrás do Caçador. Mas, devido à acontecimentos recentes... bem, acho que devemos exterminar o clã.
Meu queixo caiu. Daniel, falando em exterminar um clã inteiro de bruxas? Uau, realmente, hoje era um dia daqueles. Mas, sendo como sou, não podia deixar essa passar em branco.
- Sabe que vamos ter que matar essas bruxas, né?
- Sim, Katherine, eu sei. E daí?
- "E daí" - fiz aspas com os dedos - que você é muito careta. Muito chato. Acho que vai amarelar quando realmente tiver que fazer o serviço. Falar é fácil, sabia? Fazer é que é difícil - provoquei.
- Katherine - ele disse, calmamente. - Não significa que, porque eu não mate no meu tempo livre, não saiba como faze-lo.
- Ah, sei lá. Pode ter perdido a prática, ou algo assim? - ri, debochando.
- Kath, se a situação pedir para eu matar, vou fazê-lo sem hesitar. Não se esqueça que vivo sob uma promessa.
Revirei os olhos, esperando que ele falasse mais alguma coisa, e como ele não disse mais nada, perguntei, suspirando, dramaticamente:
- Algo a acrescentar?
- Na verdade, sim - ele fez suspense.
- E o que seria? - pressionei.
Ele desviou o olhar da estrada e encarou meus olhos verdes, dando-me um sorriso amarelo.
- Pode calar a boca, agora?
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