Capítulo 55
“É um oceano de emoções inexplicáveis imaginar que dois corações batem dentro de um único corpo”.
Encarei o teto acima de mim. Estiquei minha mão esquerda e acariciei as costas nuas de Thomas, que subiam e desciam calmamente seguindo sua respiração.
Ainda era incompreensível para mim como eu comecei a amá-lo em tão pouco tempo. Eu tinha conhecido-o em uma época de recomeços para mim, estava voltando de Livelli depois da morte dos meus pais e retornando ao circo, porém tinha Alex, que acabou sendo um bloqueio para o que eu sentia por Thomas. No entanto, ao final, meu coração acabou fazendo a escolha certa.
Talvez meu coração já soubesse o caminho que devia seguir no dia primeiro em que meus olhos encontraram os de Thomas com certo divertimento. Porém, como sempre, a vida tratava de colocar empecilhos para que não ficassemos juntos... Não, não era para isso. Era para medir nosso amor. Como um cabo de guerra, de um lado tudo que poderia nos fazer desistir, do outro, nossas forças para continuar acreditando que era possível e real.
Suspirei arrumando seus cabelos e sorri quando ele torceu o nariz e virou de barriga para cima. Eu tinha que aproveitar que ele ainda dormia para ir à Lasur, porém significava muito para mim ficar o observando dormir. E pensar que eu estava completando 25 anos e tinha ele só para mim, quer dizer, tinha Susan e poderia ter mais outro serzinho – poderia! –, mas era um prazer dividi-lo apenas com esses.
Levantei-me e fui ao banheiro escovar os dentes. Thomas havia chegado tarde da perícia, eu só notei que ele estava comigo na cama quando acordei com insônia por causa da ansiedade por volta das duas da manhã. Susan estava na casa dos avós, então eu poderia sair sem ter que explicar muita coisa.
Tomei um banho rápido e coloquei uma blusa branca sem mangas e uma saia rosa bebê solta, uma sandália fechada, com um salto pequeno.
Olhei para Thomas enquanto colocava um par de brincos, ele ainda dormia profundamente, meio de lado. Não resisti e subi novamente sobre a cama, coloquei uma perna de cada lado do seu corpo e dei um beijo sobre seus lábios.
— Te amo — falei e saí antes que fizesse ele acordar.
Ao passar pela porta do nosso quarto, tive uma surpresa que me fez ficar de olhos marejados, não sei se pelo pólen presente ou de alegria. Sobre a larga bancada que dividia a sala da cozinha estavam buquês enormes de violetas. Violetas amor-perfeito. Elas possuem apenas três pétalas e matizes de branco, roxo, amarelo e azul. Era, para mim, a planta cor de vida, pois era colorida, com fases roxas ou azuis, mas vivaz em amarelo e branco.
Olhei em volta a vi uma garrafa térmica, um pote de mel, uma cebola cortada ao meio e uma laranja na mesa de canto ao lado do sofá. Ri e fui até lá passando pelo lado mais longe das flores.
Tirei a tampa da garrafa e notei que era chá de hortelã-pimenta, bebi um pouco olhando para as flores e querendo toca-las.
Ri do exagero de Thomas ao deixar todos aqueles anti alérgicos caseiros ali. Peguei-os e os coloquei no lugar ficando apenas com a garrafa. Foi então que notei um bilhete que estava sob tudo ali.
“Feliz aniversário, meu amor
Me desculpe por chegar tarde, prometo fazer do seu dia maravilhoso (ou parte dele).
Com amor, Thomas”.
Abri um sorriso largo e procurei por uma caneta, virei o papel e escrevi:
“Todos meus dias já são maravilhosos por ter você comigo, obrigada e te amo!
Ellie.
P.S.: Saí, mas volto logo.”.
Cruzei a cidade para chegar à Lasur, Jenny me esperava na porta e peguei-me sorrindo ao lembrar de quando nos encontrávamos logo cedo para abrir a clínica.
— Bom dia, amiga — cumprimentei Jenny que estava com uma expressão carrancuda, devido ao seu mau humor matinal.
— Bom dia, Ellie, bom dia, bebê — ameaçou levantar parte da minha blusa para alisar minha barriga. — Feliz aniversário, Jujuba!
— Tá louca? Jujuba? Obrigada, mas sem apelidinhos de grávida! — Não evitei, sorri um pouco e puxei-a para dentro da Lasur. — Vamos entrar logo!
O exame foi bem rápido e o médico disse que ele sairia em algumas horas.
Acabei por voltar para casa, que com o tempo eu tive que aprender a chamar de minha, com Jenny. E tive outra surpresa ao encontrar um café da manhã de aniversário para mim, Thomas estava ao lado de Susan, ambos com sorriso enormes.
— Feliz aniversário, mamãe — Susan foi a primeira a pronunciar-se andando calmamente até mim.
Meu coração se encheu ao ouvi-la chamando-me de mãe, eu já estava acostumado-me com isso, porém o sentimento era sempre inexplicável toda vez que ela proferia o título. E ainda era algo surreal para eu vê-la andando novamente.
Eu, que encontrava-me estática, a apertei em meus braços e acariciei seus cabelos.
— Obrigada, pequena — Sorri tentando segurar as lágrimas.
Por cima do ombro dela, vi Thomas de braços cruzados e com um sorriso largo nos lábios, que chegavam até seus olhos. A imensidão castanha dos seus olhos me encarou com ternura e eu sorri de volta.
Desprendi-me de Susan e fui até Thomas. Ele tomou meu rosto entre suas mãos e me beijou demoradamente.
— Criança no recinto, pessoal — Jenny caçoou com uma uva na boca, enquanto se sentava na cadeira diante da mesa repleta de comida das mais variadas, e entre elas uma torta Pavlova.
Mandei-me um olhar gélido que ela fingiu não ligar e Thomas riu. Susan nos olhou sem entender.
— Feliz aniversário, amor — Thomas me deu um beijo na testa e me puxou para a mesa. As minhas violetas ainda estavam ali, num lugar um isolado, mas ainda ali.
A mesa estava repleta de todo o tipo de comida, várias frutas, a torta que levava o nome da bailarina russa que era minha inspiração, sucos, chás, pães. Um café da mão dos céus, como dizem.
— O que é isso? — Susan apontou para o curativo no meu braço, de onde o sangue foi tirado. Thomas também notou e esperou uma resposta.
— A Ellie teve que fazer um exame para saber se está... Hum... Com alguma coisinha tentando roubar espaço no corpo dela... — Jenny disse me fazendo querer arrancar sua cabeça e servir no meu próximo jantar. Qual é a pena em Kennet por homicídio doloso de amiga que te coloca em enrascadas diversas?
— Não tem nada disso. — Olhei para Thomas que me lançava um olhar questionador. — Só fui fazer um exame de sangue de rotina, coisa boba.
— Qualquer problema maior, me avise — Thomas pediu.
Arqueei uma sobrancelha involuntariamente e respondi com um sorriso:
— Você será o primeiro a saber.
— Família linda, eu já vou indo — Jenny despediu-se depois de pegar uma vasilha com um pedaço de torta. — Levar para minha mãe, né, sabem como é.
— Fala pra Paty ir no Arakluz hoje com o Carl, é meu aniversário, mas eu tenho apresentação!
— Ah! Claro que eles vão! — E saiu, acenando e me lançando um olhar enigmático.
Depois que Jenny se foi, eu, Thomas e Susan fomos para a piscina, curtir meu aniversário em pleno domingo. Susan entrou na água com Thomas enquanto eu ia trocar de roupa, ao passar pela sala notei que meu celular, sobre a mesa, apitava pela chegada de uma mensagem.
Jenny: O doutor acabou de mandar o e-mail, o resultado saí às 16 horas.
Ellie: Ok!
Apaguei as mensagens para não correr o risco de Thomas ver. Peguei o protetor solar e fui passando enquanto seguia para a varanda.
O sol daquele fim de manhã banhou-me de primeira, o dia ainda estava no início, porém eu já queria que ele não acabasse.
— Vem, mãe! — Susan chamou quando me notou. Seu sorriso para mim era imenso e o meu quase rasgava meu rosto ao vê-la mexendo as pernas na água.
— Isso aí tá frio?
— Pare de frescura, Ellie — Thomas zombou emergindo na borda mais próxima de mim.
— Só uma pergunta, ow! — Desviei quando ele lançou água com a mão na minha direção. — Thomas Lewis Campbell!
— Susan? — convocou se erguendo na borda. Jesus, que homem é esse? Pensamentos ninfomaníacos de tanto andar com a Jenny? Claro!
Minha menina subiu pela escada do lado contrário e eu me vi cercada. Fechei os olhos e rezei umas dez Avé Maria.
— Não façam isso. — pedi em murmurou e fui andando na direção da Susan, onde se tornaria mais fácil fugir, já que perto de Thomas eu me tornava uma presa fácil.
— Prende ela, filha — orientou Thomas e eu gemi baixinho.
Thomas aproximou-se mais e me pegou no colo tipo noiva, Susan não perdeu tempo e voltou para a piscina em um pulo.
— Me coloca no chão, Thomas! — implorei prendendo meus braços em volta do seu pescoço.
— Que pessoa tem o sonho de morar na beira mar e fica com medinho de água fria? — Ele olhou para mim de olhos cerrados e eu finquei uma unha na sua nuca, fazendo com que ele me colocasse no chão, mas não me soltasse. — Aí! Que mulher agressiva!
Ri diante do seu sorriso provocativo e o beijei. Naquele momento eu queria ter uma resposta positiva do teste que havia feito mais cedo, eu tinha suposições, claro, porém precisava de uma confirmação. Suspirei me afastando, olhei dentro dos olhos de Thomas e constei que um dos motivos da sua felicidade sou eu. E uma confirmação só mudaria nossa vida para melhor, eu me sentiria completa.
Minhas mãos tremiam enquanto eu segurava o envelope. Eu sabia que não deveria ter ficado tão ansiosa, pois se a resposta fosse negativa eu me sentiria pior ainda. Porém não tinha como me deter.
Como controlar o desejo de ser mãe que vem me encalçava todos os dias? Só de imaginar um serzinho meu em meus braços já sentia as lágrimas virem. E já nem era mais para provar que eu poderia ser uma figura progenitora melhor do que meus pais foram. Essa coisa de tentar ser melhor que alguém já havia sido excluído como um vírus de computador da minha cabeça.
Eu não precisava – nem preciso – ser melhor do que ninguém, além de mim mesma.
Saí da Lasur depois de despedir-me da antiga estagiária que havia assumido o cargo de recepcionista quando eu pedi demissão, precisava me acalmar. Chamei um táxi e falei ao motorista o endereço da casa de Thomas.
Eu tinha dado uma desculpa esfarrapada para sair antes às três. Afinal, pelo horário do circo, eu só devia estar no mínino no trailer, às 19 horas.
O táxi parou em um sinal e eu encarei o envelope com o nome da Lasur Laboratório. Comprimi meus lábios. Ali estava o resultado que poderia provar que eu realizaria de um dos maiores sonhos meus, e também o selamento do meu amor por Thomas. E se fosse verdade, ele seria o primeiro a saber, antes de outros, como prometi mais cedo.
— Será que tem alguém aí? — murmurei tocando a base da minha barriga. — Se tiver, quem sabe você não será uma cópia do papai.
— Senhora está grávida? — o motorista questionou e a palavra "senhora" ficou na minha cabeça. Senhora Campbell. Na minha mente essa nomenclatura tinha um bom tom, se eu não fosse uma doida insegura. Desviei meus olhos para o senhor.
— Ainda não sei — Levantei o envelope na altura dos seus olhos e sorri apenas erguendo os extremos dos meus lábios.
— Minha esposa diz que estar grávida é mais que um resultado de um exame, senhora — ele comentou voltando a colocar o carro em movimento. Olhei-o pelo retrovisor e esperei que continuasse: — Você sente antes mesmo que perceba ou saiba se realmente está. Você sente?
Acabei ficando com aquilo na minha cabeça mais tempo que o necessário para uma resposta, porque eu sentia sim! Muito!
— Sim — respondi ao senhor que abriu um meio sorriso.
— Felicidades à você e seu marido — desejou e eu suspirei.
— Marido ainda não — ri de mim mesma ao lembrar do primeiro pedido. O motorista me olhou curioso, porém nada falou.
Segurei o envelope mais firmemente, agora eu já estava mais calma. Tirei o lacre e abri na área destinada. Peguei o papel dentro, minhas mãos tremiam como mais cedo, passei os olhos rapidamente pelos meus dados até chegar embaixo.
“BETA - HCG 1797.6 mUI/ml
V. R. (Valores Referenciais):
De 0 a 50 mUI/ml => Negativo
De 50 a 150 mUI/ml => Indeterminado
Acima de 150 mUI/ml => Positivo”.
Dobrei o papel e encostei no estofado.
— Positivo? — o motorista voltou a perguntar e quando meus olhos encontraram os seus, meus lábios estavam curvados em um amplo sorriso.
— Sim! — animei-me ao anunciar, logo depois, questionei-me mais baixo: — Como Thomas ficará ao saber?
— Meus parabéns!
— Obrigada. — Sorri-lhe guardando o papel no envelope. — O senhor pode seguir para o Shopping Aquáris, preciso comprar algo antes de voltar para casa.
O horário do espetáculo não tardou a chegar. Cheguei no Arakluz por volta das 18 e meia, estranhamente havia muita coisa para repassar com Bill, então só depois consegui seguir para o trailer para trocar de roupa.
As gêmeas passaram por lá, assim como Jenny, e minha nova família, meus sogros também, e isso acabou me atrasando muito, fazendo com que Dalton tivesse que mudar os planos da noite, deixando eu e Bill por último. Porém, até o momento, ninguém veio me procurar e eu não ouvi barulho nenhum, o que era bem estranho para o circo.
Coloquei uma calça legging preta e uma blusa branca curta, que só chegava até acima do meu umbigo. A fala daquele taxista ficou gravada como palavras escritas em ouro, na minha mente.
Coloquei-me diante do pequeno espelho que havia para maquiagens. Aproveitando por estar com uma blusa mais curta, virei e fiquei tentando achar volume.
Pelo relatório, eu estava com umas 12 semanas – o que fazia-me questionar quando eu e Thomas havíamos concebido, ainda em novembro –, e eu não tinha uma mínima ideia de como seria os próximos meses, ou talvez eu ainda não tivesse notado uma pequena mudança. Será que eu estou mais cheinha?
Bateram na porta e me sobrassaltei. Cobri o espelho e olhei em volta, nada suspeito. Suspirei e abri a porta.
— Thomas? — meus lábios se curvaram em um sorriso e eu o beijei. Ele estava lindo como sempre, usava uma calça jeans escura, camisa social vermelha e um blazer também escuro. — O que aconteceu?
— Preciso te levar lá dentro.
— Mas minha apresentação começa em meia hora, aliás, cadê as pessoas? Isso parece vazio. — Um arrepio atingiu minha espinha quando uma memória me acertou em cheio, balancei a cabeça e foquei naqueles olhos castanhos.
— Nós vamos entrar juntos agora — Ele sorriu para tranquilizar-me. — Vamos?
— O que vocês estão aprontando? — questionei retoricamente.
Thomas abaixou a cabeça, colocou as mãos no bolso da calça e foi subindo o olhar, tímido e ao mesmo tempo, intrigante. Mordi meu lábio inferior e minha bochecha por dentro.
— Espera só um minuto — pedi.
Voltei-me para dentro do trailer. Peguei minha bolsa, tirei dela o envelope. Olhei em volta a procura de uma caneta e escolhi as melhores palavras.
“Conheci dezenas de pessoas que não significaram algo para mim, até conhecer você, que mudou minha vida para sempre. Só...”
— Vamos, Ellie! — ouvi ele gritar e sorri depois. — O que você está aprontando?
— Espera aí!
“Conheci dezenas de pessoas que não significaram algo para mim, até conhecer você, que mudou minha vida para sempre. Só abra quando o espetáculo acabar. Te amo”.
Peguei uma caixinha enrolada em papel de presente de ursinhos, com um laço ao meio, sob a fita do laço coloquei o envelope.
— Podemos ir — Apareci na porta do trailer surpreendendo Thomas.
Ele balançou a cabeça e sorriu. Tomou minha mão entre a sua, segurando-a firmemente, e enquanto me guiava pelo gramado notou a caixinha que eu trazia.
— O que é isso? — questionou, curioso.
— Surpresa.
Thomas arqueou suas sobrancelhas, porém nada disse. Cruzamos o gramado e passamos pela portaria do Arakluz, completamente silenciosa. Nem mesmo Mário estava na bilheteria.
Passamos pela portaria como se estivéssemos ali para ver um espetáculo, havia um corredor escuro, parecidos com as salas de cinema, com pequenas luzes vermelhas no chão coberto com uma espécie de piso áspero, porém de pano.
No final do largo corredor havia um portal de topo arrendondado, uma das luzes do picadeiro incidiam diretamente ali, atravessado pelas camadas finas de pano vermelho pregado desde o topo do portal até o chão. Passamos por ele e eu admirei quão grandioso era o Arakluz visto do ponto do público. Meus olhos correram cada parte da tenda que alternava em vermelho e amarelo. Olhei para o centro, o palco estava vazio, assim como as arquibancadas.
— Cadê todo mundo? — inquiri quando Thomas me ligou para um dos corredores da arquibancada.
Ele não disse nada, apenas parou na frente de duas cadeiras centralizadas e sentou-se em uma delas, puxando-me para outra. No mesmo instante, a luz se apagou. E então, a cortina se abriu.
(01/12/2016)
Não me matem por acabar nessa parte hahah
Como podem ver, o capítulo foi dividido, caso isso não acontecesse eu não conseguiria postar hoje, como havia prometido, então resolvi deixar essa parte aqui por não ter conseguido escrever.
E isso se deu por causa de uns acontecimentos essa semana. Alguns de vocês devem saber o quanto eu sou ligada em futebol e amanheci na terça sabendo o que aconteceu com o time da Chapecoense, fiquei muito mal, escrevi bem pouco. E na quarta, eu fui para o sítio da escola e escrevi menos ainda. Fiz o que pude para postar hoje e espero que tenham gostado.
#ForçaChape
#DiaMundialContraAAIDS
Até o próximo!
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