Capítulo 39
"Você nunca precisou ter saído de mim para que um dia eu chegasse a te amar."
Nem percebi que havia cochilado na poltrona enquanto velava pelo sono de Susan. Quando acordei ouvi cochichos e resolvi continuar de olhos fechados para ouvir sem ser notada.
— Você tem certeza? — Era a voz de Thomas que perguntava, sua voz soou arrastadas para meus ouvidos ainda dormentes.
— Ela merece, e eu quero ver tudo, papai. — Susan falou manhosa.
— Então essa será a surpresa da tia Ellie? — Ele riu baixinho, provavelmente para não me acordar e colocar o possível plano a baixo.
— Será — Susan concordou, também sorrindo, contudo voltou a falar ainda mais baixo. — Papai, eu sem querer chamei a tia Ellie de "mãe", mas ela tava dormindo, eu juro, ela não vai brigar comigo, vai? Eu sei que minha mãe de verdade é a Amanda, mas... Eu não sei, ela não gosta de mim.
Houve um momento de silêncio da parte de Thomas, sentia que eu estava sendo encarada, porém não ousei levantar minha cabeça antes de ouvir uma resposta. Controlei minha respiração e esperei ansiosamente pela resposta dele.
— Está tudo bem, minha princesa. Lembra quando eu te disse que o modo como você chama a pessoa é como você a enxerga por dentro e na sua vida? — Provavelmente Susan apenas assentiu, pois não ouvi sua voz. — Então, se você vê a Ellie como sua mãe, ela pode significar isso para você. Um dia você ainda entenderá o significado de ser mãe, não se prive de ser uma filha agora, ok? E não, eu não acho que ela irá brigar com você...
Eu não brigaria, de forma alguma. Por mim, você me chamaria assim todos os dias... O pensamento passou por mim sem que eu mexesse qualquer coisa para impedi-lo.
E Thomas não parou. Eu começava a acreditar que ele havia nascido mesmo para fazer meu coração pular na caixa torácica.
— Aliás, a chamei de "amor" várias vezes sem ela saber e não apanhei, não é?
— Eu ouvi todas elas. — Susan riu do pequeno segredo. — Mas agora vocês estão juntos, não é? Pode chamar ela assim todos os dias...
— Se ela permitir, sim.
Antes que eu pudesse ouvi-lo mais ou até mesmo responder algo, meu celular tocou. Fingi surpresa, como se estivesse acordando naquele momento e depois de dar uma olhada para os dois pares de olhos castanhos que me observavam, peguei meu celular.
— Alô?
— Ellie Harper Laurent, onde você está??? — Jennifer berrou no meu ouvido e eu afastei o celular na hora.
— No hospital. — Respondi. — Por que você está gritando?
— Já são sete horas da noite e minha amiga ainda não chegou!!! Eu estava preocupada, né?! — Broqueou quase me deixando surda.
— Jenny, calma. Eu estou bem, ok? E já vou para casa, não precisa se preocupar. — Falei notando que Susan e Thomas estavam prestando atenção numa TV que eu nem sabia que tinha no quarto, na verdade ela estava dentro de um armário, que eu nem tinha noção que havia coisas dentro.
— Eu vou te buscar então — Disse a loira.
— Eu pego um ônibus aqui em frente, pode ficar tranquila aí, já chego.
— Nada disso! Já tô saindo aqui! — Revirei os olhos, ia retrucar mais uma vez, porém sabia que de nada adiantaria. — Até mais.
— Que mulher louca. — Ri voltando a me virar, nesse exato momento houve uma movimentação, e quando olhei para a dupla de olhos amendoados ele ainda estavam focados na TV. — O que estão vendo?
— Hã... — Susan tentou responder e vendo que estava perdida, lançou um olhar para o pai.
— Então... É... Um programa bem legal — Thomas respondeu olhando para ela com um sorriso e depois encarando-me. Cruzei os braços e ergui uma sobrancelha como Jenny costumava fazer para intimidar alguém.
— E qual é o nome do programa?
Ambos ficaram mudos por alguns segundos e eu limpei a garganta para tentar demonstrar algum tipo de impaciência, mas por dentro estava rindo. Porém, cortando totalmente meu barato, a TV anunciou:
— Voltamos agora com KT notícias, segunda edição...
— Estar informado é sempre bom! — Thomas afirmou, sentado ao lado de Susan com um sorriso travesso no rosto. Ri com ele, então lembrei-me de que ainda não tinha perguntado a Thomas se ele conseguiu falar com meu irmão.
— Consegui falar com Mike?
— Quem é Mike? — Susan perguntou voltando sua atenção para mim.
— Um amigo meu. E talvez ele possa ajudar você. — Ela riu satisfeita e continuou a assistir TV, muito embora ficasse prestação atenção ao que dizíamos.
— Eu conversei com ele, expliquei todo o caso como se o conhecesse de outro lugar. Porém, aparentemente, ele sabia que eu estava mentindo. — Thomas viu de relance que a mulher do jornal falaria sobre o incêndio no circo, mais uma vez, então ele se levantou e mudou de canal na falta de um controle. — Ele disse que poderia ajudar, que se formou em fisioterapia pediátrica, neonatológica e hebeátrica, mas para isso você deveria conversar com ele.
— Como ele sabia que você me conhecia? — Questionei observando Thomas vir até mim depois de achar um canal de desenho e se sentar no braço da poltrona.
— Ele disse que estava na cidade a menos de dois dias, ninguém o conhecia em Kennet, não tinha uma desculpa razoável para que eu fosse atrás dele. A menos que eu te conhecesse, você é a única em Kennet que sabia da formação dele. — Explicou acariciando minha bochecha, que deveria estar toda marcada por causa do cochilo que tirei.
— Tudo bem...
Estava me decidindo sobre aquilo, ou melhor, já estava pronta para dizer que eu concordava, quando fomos interrompidos com batidas na porta.
Um médico magricela entrou segurando uma prancheta e nos cumprimentou, trocou algumas palavras com Thomas e comigo sobre algo como possível procedimento que poderíamos realizar para uma mais rápida reabilitação de Susan. Então Susan voltou a deitar e tiraram a coberta dela. Quando revelaram as pernas dela, cobertas por uma calça de moletom rosa bebê, os olhinhos da minha garotinha ganharam um tom melancólico.
— Eu irei avaliar alguns lugares e se você sentir algo pode me falar, tudo bem, Susan? — Ela assentiu sem olhar direito para o médico, apenas para suas pernas imóveis.
O médico pegou nos pés dela e iniciou fazendo cócegas ou era só uma técnica de toque, eu não sabia dizer, Susan apenas suspirou. Ele então começou a dobrar seus joelhos como estivesse alongando. Movimentos de subir e descer as pernas dela, os membros de Susan não respondiam.
— Senhor e senhora Campbell, a fisioterapia terá que ser intensa e integral, contudo, por ela ser uma criança, recomendo que peçam ao médico responsável para realizar atividades de recreação para que ela não desista, ok? — Ele ficava alternando seus olhares entre mim e Thomas. Eu assenti naturalmente, sem ligar para como ele me chamou. — Ela já tem seu médico integral para voltar para casa na segunda?
— Tem. — Eu respondi, entrelaçando meus dedos aos de Thomas. — Vamos conseguir.
— Ótimo. Eu volto aqui amanhã para uma nova avaliação. Não desista, garotinha. — O médico deu apoio e um afago no cabelo de Susan antes de sair.
Meu celular vibrou e eu li a mensagem que Jenny havia enviado rapidamente; ela já tinha chegado.
— Você tem o número do Mike? — Questionei quando ficamos sozinhos, e ainda tristonha Susan cobriu suas pernas e voltou a ver TV.
— Você não precisa fazer isso se não quiser. — Thomas lembrou-me. Eu maneei a cabeça.
— Eu preciso. — Olhei de lado para Susan. Thomas tirou um papel do bolso e me entregou.
Levantei-me, fui até Susan.
— Eu estou indo, mas volto, ok? Vai tudo voltar ao normal, daqui um tempo você já estará correndo de novo e dançando! — Eu sorri tentando passar maior conforto para ela. — Eu vou orar por você, mas você não pode desistir, certo?
— Certo, tia. — Ela ergueu-se o quanto pôde e me abraçou.
Rodeei seu corpo frágil com meus braços e sussurrei só para ela ouvir:
— Você pode me chamar do que quiser. Eu nunca vou brigar. — Notei que ela sorriu. — Boa noite, princesa.
Voltei-me para Thomas e ele estava apenas nos olhando, alheio a conversa que eu e sua filha tivemos. Segurei em seu rosto e sorri.
— Sabe, eu acho que sou ou serei daquelas que fazem tudo pelos filhos, você vai entender isso, não é? — Deixei a pergunta no ar, pois Thomas estava do jeito que eu imaginava, com uma cara de confuso e surpreso. Lhe dei um beijo profundo e ainda completei. — Dá próxima vez quero saber quando me chamar de "amor", senhor Campbell. Ah, e eu adoro surpresas!
Segui andando rápido para a porta, mas ainda assim o ouvi Thomas dizer:
— Não te ensinaram que é feio ouvir a conversa dos outros, amor?
Eu ri, surpresa e encantada, e sai assim do hospital, rindo como uma boba por um motivo bobo, porém ainda assim havia um motivo para sorrir, não é? Então eu não iria me privar disso. E uma coisa era preciso ser dita, eu comecei a pensar em um futuro assinando meu nome como Ellie Campbell.
Para compensar a sexta que parecera um dia de 48 horas, o dia seguinte foi de menos turbulência. Até chegar o domingo, dia da minha apresentação.
Estava desde cedo no Instituto mesmo que fôssemos apresentar no início da noite, Irina não queria que nada desse errado com a turma dela, que era uma das mais jovens.
Depois de conferir as roupas de todas as meninas eu saí para almoçar num restaurante que tinha próximo do Instituto. Não havia falado com Thomas desde a noite, quando trocamos mensagens. Eu havia contado para ele que conversei com Mike e até com Kile por telefone, porém eles disseram que queriam conversar comigo pessoalmente na segunda feira, por isso estava ansiosa nestes dias que antecedem meu reencontro com meus irmãos.
Peguei meu celular depois de colocar meu prato de comida sobre a mesa de dois lugares e me sentar. Havia algumas mensagens de Jenny me desejando um bom dia e avisando que chegaria um pouco antes do início do evento para me ajudar nos bastidores. Respondi-la rapidamente e então entrei na conversa com Thomas.
Ellie: Boa tarde, amor! Tudo bem com a pequena e você? Expectativa para voltar para casa amanhã? Você deve estar tão exausto.
Em vez de me responder, Thomas me ligou, ele começou a fazer assim faz um tempo e isso seguia-se todas as vezes, menos de noite, quando eu estava com Jenny e não queria fazê-la acordar por estar conversando com ele.
— Boa tarde, amor — Notei que ele sorriu, porque ainda brincávamos com aquela conversa que ouvi dele com a Susan. — Susan está bem ansiosa, e eu também. Exausto de ficar com minha filha e trabalhar com meu pai em um caso complexo? Não, dias piores já passaram.
— Seu otimismo vale o dia de uma pessoa. — Brinquei, porém falava sério. Thomas tinha uma forma de usar as palavras que iluminava o dia de qualquer um. — Queria que pudessem ver o espetáculo no Instituto.
Ele suspirou e nisso eu comi um pouco.
— Ainda vamos nos ver hoje, não é? — Thomas questionou e eu engoli antes de respondê-lo.
— Jenny queria uma comemoração depois da apresentação, mas acho que consigo dar uma fugida e ir dormir aí. De certo, eu sairei do hospital com vocês amanhã.
— Ótimo! Você está almoçando? Desculpa atrapalhar, te ligo depois, ok?
Estava pronta para respondê-lo, quando alguém tocou meu ombro. Levantei meus olhos e eles se arregalaram.
— Dylan! — Acusei, alto o suficiente para Thomas ouvir do telefone, pelo menos eu esperava por isso.
— Achou que eu não voltaria? — Ele sorriu sarcástico e roubou uma batata frita do meu prato. — Como está Susan? Eu realmente não queria fazer mal a uma garotinha, mas se isso afetou você, eu fico feliz.
Thomas, escute isso, lembre-se do restaurante perto do Instituto, por favor...
— Eu pensei que você já tinha desistido de me provar coisas idiotas me machucando! — Afastei um pouco minha cadeira quando ele se sentou na minha frente.
— Eu ainda não te fiz perceber a escolha errônea que fez há alguns anos? Ellie, como você ficou burra com o tempo... Eu seria mais esperto se estivesse no seu lugar.
Ele estava mesmo duvidando da minha capacidade de inteligência? A raiva me subiu a cabeça.
— Você é um monstro! E fraco! Pois precisa acabar com a vida de muitos para satisfazer esse seu ego, e provar que eu nunca deveria ter terminado com você.
Eu já estava mexendo com fogo, mesmo sabendo que Thomas já dissera que eu era o alvo, além de Dylan ter praticamente assumido ser o autor do incêndio no circo. Mas eu precisava mantê-lo ali e continuar pedindo internamente para que Thomas estivesse escutando tudo, além do mais, eu já estava cansada de guardar tanta coisa só para mim.
— Só que você não entende, me separar de você foi a melhor escolha que fiz desde que me entendo por gente!
Ele estava borbulhando de raiva, porém eu sabia que não faria nada na frente de tanta gente.
Ter ficado com Dylan no passado foi um erro, mas me fez conhecer ele bem – ou nem tanto, devido às suas atitudes presentes –, porém pequenas coisas nunca mudam no ser humano. Como a forma de irrita-lo ou como inflar seu ego.
— Viu seu apartamento, querida? — Ele provocou tentando voltar a conversar às suas conquistas.
— Aquilo? Me diz, você é meu vizinho do terceiro andar, não é? Assim conseguia me vigiar de perto, né? — Questionei escondendo meu celular sobre meu colo e voltei a comer, como se a presença dele fosse insignificante. Porém, por dentro, eu estava nervosa e tremendo!
— Você acha pouco? — Ele se aproximou sobre a mesa, quase derrubei a garrafa de água que eu trazia quando me afastei. Eu estava tentando permanecer e aparentar ser sangue frio, no entanto, Dylan tocou em uma ferida ainda não cicatrizada. — Eu também matei seus pais e posso fazer muito mais.
Flashes do dia em que encontrei a carta com o texto de despedida dos meus pais e o testamento deles vieram a minha mente. Depois da minha volta à Livelli, minha cidade natal, então meu reencontro com meus irmãos e o enterro dos meus pais.
Dylan tinha trazido de volta tudo o que eu queria deixar para trás. Apesar do aparecimento dos meus irmãos.
— O que foi? Te deixei transtornada, amor?
Era uma confissão, clara e explícita.
Thomas, por favor, apareça, por favor...
— Soube da sua apresentação no tal Instituto próximo daqui... Mas quero te levar para sair depois do seu show — Dylan voltou ao modo calmo, cínico na verdade.
— Eu não vou a lugar nenhum com você! — Sentenciei com os dentes cerrados.
Dylan tentou se aproximar com sua mão do meu rosto, mas eu estapeei sua mão, atraindo a atenção de muitos, porém o pior não foi isso. No ato meu celular caiu do meu colo e Dylan percebeu, notou a chamada e se levantou exaltado.
— Não brinque com fogo, Ellie. Você pode se queimar. — Avisou em ameaça, olhei em volta, nenhum sinal de Thomas ou qualquer policial. Não tinha dado certo.
— Você só esqueceu que eu já nasci em meio à destroços. — Respondi espalmando minhas mãos sobre a mesma e levantando-me.
Ele saiu e ninguém havia chegado. Peguei meu celular no chão e vi que a chamada de Thomas ainda acontecia.
— Ellie? Ellie, você está bem? — Thomas chamava, um garçom passou e eu pedi que ele colocasse minha comida em uma marmitex. — Ele ainda está aí?
— Não, ele já foi. Eu estou bem. — Suspirei e cobri meu rosto com uma das mãos.
— Tentei contatar meu pai, mas estava dando fora de área.
— Temos uma confissão! Isso não basta para ele ser procurado? — Questionei me levantando quando o garçom voltou com minha comida. Não dava para comer ali com tantas pessoas me olhando. — Ele disse que sabe da minha apresentação, mas que queria sair comigo depois. Acho que ele vai tentar algo.
— Vou tentar um mandato, agora sabemos realmente quem estamos procurando. — Enquanto ouvia Thomas, paguei pela comida e segui de volta para o Instituto, tinha uma cantina para professores e funcionários lancharem por lá. — E não. Ele sabe que você se atentou a qualquer tentativa dele. Ele pode estar louco, mas não se colocaria em evidência, muito menos em perigo, Dylan apenas vai atrás quando você está com a guarda abaixada.
— Ok, eu entendi. Não abaixarei a guarda.
— Isso, meu amor. Mas não se prenda a isso, hoje é o dia da sua apresentação. — Thomas trouxe-me o conforto que eu precisava. E ainda estava sendo um fofo, eu nunca me senti tão amada. — Prometo não mandar violetas hoje, tá bom?
— Meu e dar meninas, nosso dia. E, Thomas... Não faça isso comigo. Mande, consegui um novo antialérgico legal com o médico da Susan. — Amenizei a situação.
— Você falou com ele?
— Eu precisava saber um pouco de fisioterapia, não é? E descobrir que a mulher dele é farmacêutica, ai ele me indicou.
— Entendi — Ele riu nervosamente. — Mais uma vez, fique tranquila que vou fazer o que posso aqui.
— Eu confio em você, meu amor. Até de noite, hum?
Thomas confirmou, nos despedimos e desligamos. Almocei no tempo que me restou e voltei a ajudar Irina com o que precisasse.
(01/10/2016)
Eu ia chegar aqui cheia das fórmulas físicas, mas estou sem criatividade para isso hahahaha.
Fui estudar hoje, prova segunda, parei só agora, o capítulo deve tá cheio de erros, tava quase confundido números com letras! HAHAHA
Gente, o que é aquilo ali nas visualizações? 4k faltando 2 dias para 4 meses da história na plataforma! Obrigada gente! Até dia 3!
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