Capítulo 27
Aviso: Mesmo com as explicações feitas pela própria Ellie, durante o capítulo vocês contarão com imagens para ajudar na montagem do cenário <3
Capítulo postado em comemoração aos 2 meses de AUSA no wattpad!
Alguma vez já sentiu a sensação de que tem mil coisas para dizer à uma única pessoa, mas simplesmente nada sai? E o que tudo diz é aquela troca de olhares, aqueles sinais que só dois corpos entendem. É difícil de explicar, ainda mais para quem nunca sentiu.
Olhando nos olhos de Thomas e procurando as palavras perdidas, eu me recordava que não conhecia essa sensação.
- Como vai, senhor Pólen? Espero não ter atrapalhado sua ligação. - Lancei-lhe um olhar como se me desculpasse, mesmo sabendo que eu não havia tido culpa, conseguindo com que minha voz enfim saísse.
- Não era importante. - Respondeu escondendo as mãos nos bolsos da calça escura, então ergueu os olhos e me encarou intensamente. - Não tão importante quanto você.
Agradeci a maquiagem esbranquiçada que eu havia passado, assim meu rosto ruborizado ninguém ia ver. Nós saímos de perto da cabine de bilhetes e fomos andando, calados à princípio, e sem um destino ou caminho certo.
- Então você tem alergia a pólen? - Thomas quebrou o silêncio.
- Pois é, triste vida - Dramatizei olhando para cima, me distraindo com qualquer outra coisa que não fosse os olhos de Thomas. De soslaio vi quando ele avistou seu terno, o balançou o quanto pode e apenas o segurou no braço.
- Me lembrarei disso quando for a floricultura do centro, não comprarei flores com muito pólen para a melhor acrobata e bailarina do Arakluz. - Eu ri e maneei a cabeça. Não era a melhor, só me esforçava. Mas que artista não gosta de um elogio desses?
- Ah, não faça isso! Violetas são minhas preferidas, como o Mário, o bilheteiro, disse. Posso até não chegar muito perto delas, mas desde que as vi no trailer não me cansei de olha-las. - Confessei finalmente o olhando, Thomas sorria encantadoramente e assentia.
- Me lembrarei que você é teimosa também. - Nós dois rimos, entretanto eu concordava com isso. Não seria uma alergiazinha boba que me faria ficar longe das minhas violetas, eu ficaria perto, nem que para isso eu tivesse que viveria base de mel ou chá de hortelã-pimenta.
- Eu estava com saudades - Ele confessou em um momento, sem me olhar, encarava o caminho de pedras a nossa frente. Eu nem havia percebido que estávamos seguindo o caminho do sítio.
- Eu também - Segredei falando tão baixo que eu não tinha certeza se ele ouviu realmente. Uma parte de mim queria que ele tivesse ouvido, a outra, não. - Você sumiu.
- Tive problemas, não pude acompanhar Susan por muitas vezes. - Lamentou parando em frente ao casarão, eu não sabia o que fazer com minhas mãos e o que me restou foi colocar nos bolsos da bermuda de criança que eu usava.
- Entendo. - Me limitei a dizer, quando ele quisesse, quando chegasse a hora, ele me falaria o que o atormentava e principalmente, quem era Amanda, pois eu apostava todas as minhas fichas que era com ela que ele falava ao telefone. - Você deixou a Susan sozinha?
- Não, claro que não. Meu irmão, que você já deve ter conhecido, veio conosco. - Ele explicou e eu assenti. - Tem algo para me contar, Ellie?
- Como sabe? - Questionei com a testa franzida e o olhei. Thomas tinha um sorriso lindo naqueles lábios carnudos e róseos.
- Bom, você está parecendo ansiosa, está batendo a mão na perna várias vezes; alisando as sobrancelhas sem perceber; olhando para cima, como se lembrasse de algo que a fizesse feliz, e então sorri. - Esclareceu e tirou uma das mãos que estava bolsos para esfrega-la na outra que segurava o terno, começava a fazer frio e eu ainda não havia me trocado. - Acredito que queira contar algo, só não podia afirmar que era para mim, mas depois da sua pergunta eu tenho certeza que sim. O que é?
- Nossa, eu não gostaria de ser um suspeito na frente de um investigador como você - Brinquei passando as mãos pelos cabelos. Ele riu nasalado e se sentou no segundo degrau da escada do casarão, estendeu a mão e me puxou para sentar ao seu lado, depois de jogar novamente o terno para o lado contrário. Próximo demais, Thomas!
- Me conta.
- Eu consegui um estágio no Instituto de Dança, sai da Lasur na semana passada e estarei me apresentando com sua filha no dia 16 no evento. - Sorri olhando para cima e vendo o céu completamente estrelado, depois de falar tudo de uma vez só.
Meu avô dizia que o ser humano estava - e está - cada vez olhando mais para si mesmo, e esquecendo as belezas da natureza, como um céu este. Eu olhava, pois me lembrava dele. E ele era um dos motivos para me manter de pé todos os dias, mesmo não o tendo ao meu lado.
- Eu estou tão feliz por poder fazer algo que eu sempre sonhei!
- Eu não perderia esse espetáculo por nada - Thomas tomou minha mão nas suas e a acariciou, me trazendo um conforto descomunal e aquilo aqueceu meu coração. - Estou feliz por você, claro. Ainda mais por estar longe daquele maldito médico. E agora tenho dois motivos por ir ao Instituto no dia 16.
- Você ainda está me esperando? - Perguntei me arrependendo no mesmo segundo. Não era para perder aquele momento com um assunto tão delicado!
- Eu não sei se um dia deixarei de te esperar, Ellie - Ele confessou me olhando nos olhos e sem largar minha mão. - Somente ocupo minha cabeça e meu tempo com outras coisas para me impedir de muitas outras. É difícil desistir do que já se ama tanto.
Aquilo me pegou de surpresa e eu puxei minha mão. Meu coração se acelerou na mesma hora, minha boca secou e meus olhos estavam presos em Thomas. Ele, por sua vez, não recuou, subiu suas mãos pelos meus braços e chegou ao meu rosto. Já se ama? Céus, ele disse aquilo mesmo?
- Eu não posso te prometer nada, Thomas. Não sei o que estou sentindo! Nem por você nem por Alex, mas... Eu não quero viver com essa indecisão mais. - Eu falei colocando minhas mãos sobre as suas. - Talvez eu tenha que me afastar dos dois, para poder pensar melhor...
- Eu não acho isso. Acho que você tem que decidir sem afastar-se, e independente da sua decisão eu e ele teremos que aceitar... se queremos você da mesma forma. - Thomas ponderou ainda afagando minhas bochechas com minhas mãos sobre as suas. - Ellie, eu nunca cobrei nada de você, eu também não sei quando comecei a sentir o que sinto por você, mas aconteceu... e não consigo, nem quero, negar o que sinto. Não me peça para te esquecer...
Um dia Jenny tinha me perguntado o porquê da minha indecisão, pois se eu estava com Alex era porque ele fora minha escolha. Mas aquilo não era verdade. A cada dia que se passava eu me via mais acomodada naquele relacionamento e colocava ele como empecilho para que eu pudesse sentir novas coisas, ou até mesmo aprofundar o que quer que eu sentia por Alex. Quando aceitei namorar com Alex eu não estava o escolhendo, eu estava encontrando um jeito de me acomodar ou acreditar que eu poderia entrar em um relacionamento sem me machucar, aquela era a mais pura verdade. E eu havia cometido um grande erro em relação a isso.
As mãos de Thomas desceram um pouco, uma delas foi para minha cintura e a outra para minha nuca, eu só conseguia olhar no fundo dos seus olhos e aquilo já me deixava sem ar. Talvez eu já esperasse por aquilo antes mesmo de saber que queria. Só quando nossos narizes se tocaram foi que percebi o quanto tínhamos nos aproximado.
- Desde o primeiro dia em que te vi fazendo seu solo no circo eu me encantei. - Sua respiração batia no meu rosto e minha sanidade estava indo para um grau total de escassez. Meu coração não se aquietava de forma nenhuma, ele batia como um louco. - Eu te quero para mim e negar isso me tornaria hipócrita.
Minhas mãos foram parar em seu rosto e eu pisquei rápido. Seus olhos transmitiam tudo, mas os meus também? O que eu queria, afinal?
Nossos lábios estavam a poucos centímetros uns dos outros quando eu o empurrei pelo peito. Eu não podia fazer aquilo enquanto não resolvesse o que sentia com Alex.
- T-Thomas... eu não posso - Tirei suas mãos de mim e me levantei. - Eu estou com Alex. Eu... isso seria um erro. Eu não sou desleal dessa forma.
Eu ignorei os comandos do meu coração, que me mandavam ficar ali, e segui meu lado racional, indo para dentro do sítio.
Não era para aquilo ter chegado perto de acontecer. Qualquer um poderia ver. Eu estava quase traindo meu namorado depois de dizer a ele por diversas vezes que Thomas era somente um amigo.
Sem pensar duas vezes entrei no banheiro do casarão e me joguei debaixo da água com roupa e tudo. Meu corpo ainda estava reagindo àquele quase beijo, eu estava quente, para não dizer que pegava fogo por dentro. Meu coração não se acalmava por nada - mesmo que nada tenha se concretizado - e eu tremia, não de frio. Mas de um sentimento novo. Um que eu não sabia denominar, até porque não o conhecia. Não de verdade.
- Eu só tenho que esquecer o que poderia ter acontecido naquelas escadas. - Afirmei olhando para Jennifer deitada ao meu lado.
Era uma hora da manhã e eu estava falando com minha amiga - revoltada com algo que eu não sei o quê - sobre o que aconteceu comigo e com Thomas. Estávamos na casa dela, que era mais próxima do Instituto, onde eu teria que ir logo de manhã para ensaiar, e mais perto do Arakluz também.
- Você tem que tomar é uma atitude - Ela se irritou e pegou seu remédio e um copo com água na cabeceira larga da cama. Ela estava irritada com alguma coisa.
- O que aconteceu com você? Por que está desse jeito? - Perguntei colocando um travesseiro atrás das minhas costas e me apoiando nele. Jenny suspirou baixo e bebeu mais de sua água.
- Eu conheci o irmão do Thomas.
- Vish, os irmãos Lewis's só trazem problemas então? Achei que você estivesse abolido seus "lances casais" depois do venezuelano. - Comentei apagando da minha mente meus problemas e focando nos problemas dela.
- Era argentino, Ellie! E eu parei mesmo... mas o Tobias... argh! - Ela se levantou e começou a andar de um lado para o outro.
- O que ele fez?
- Ele... ahh! Ele me deu um fora! Eu o odeio! Sério! - Jenny disse e voltou a se deitar, puxando a coberta. Uau! Jenny levando um fora? Não era possível, deveria ter algo por trás disso. - Mas eu quero só ver! Convide ele e o Thomas para minha festa, vou subir num salto 40 e mostrar para ele que não deve-se rejeitar Jennifer Cardozo Bernardi!
- Boa sorte, mas... Eu nem sei como vou olhar na cara do Thomas novamente. - Cobri meu rosto com minhas mãos e entrei debaixo das cobertas também.
- Como sempre olhou, oras. Ele ia te beijar para provar alguma coisa, e está evidente que ele está conseguindo mesmo que vocês não tenham se beijado de fato. Você tem que avaliar a situação e como sou sua amiga te dou até o fim de semana para você se decidir, senão vou investir pesado! - Jenny declarou e eu arregalei os olhos me virando para ela, porém a mesma estava de costas como se não tivesse falado nada demais.
Quando ia retrucar, perguntar o que significava aquilo ouvi seu ressonar alto; ela já dormia. Eu tenho até o fim de semana para decidir... Deus, por que deixas decisões tão difíceis para mim?
Deitei olhando para o teto, pedindo ajuda ao meu sábio avô, à Deus, também. Realmente não dava para ficar pensando nos dois - em Alex e Thomas -, lembrar sempre dos meus momentos com os dois ou sentir meu coração bater mais que involuntário pelos dois.
Uma decisão teria que ser tomada. E por mim, claro.
Na terça segui para o Instituto pensando que eu poderia encontrar Thomas por lá, mas não foi o que aconteceu. Senhora Giovana, avó de Susan, levou a pequena para o ensaio.
Irina repassou do meio ao fim da coreografia, já que o início estava bem desenvolvido e executado. Foram horas ensaiando e só tivemos uma pausa quando todas as turmas foram chamadas para um dos ensaios gerais dentro do anfiteatro.
- Você está bem, Ellie? Parece perturbada com algo. - Irina comentou enquanto seguíamos com as jovens bailarinas atrás de nós em fila indiana.
- Acho que encontrei alguém que me "perturba" tanto quanto George com você, mas de maneira diferente, pois no seu caso você sabe o que sente...
- Repulsa!
- Paixão! - Retruquei fazendo-a revirar os olhos. Resolvi então desviar o assunto para ela. - Afinal, como foi o café no sábado?
- Eu queria mentir para você, porém isso não faz parte da minha índole. O lanche foi ótimo e ele não me chamou de "Marrenta" uma única vez. - Ela não me olhava, no entanto sorria para o corredor a sua frente. - E acabamos jantando juntos, mas nada demais.
Ergui minhas sobrancelhas e elas as mãos, impedindo-me de perguntar qualquer coisa, porém não deixei de sorri.
Sentamos nas cadeiras mais baixas enquanto os responsáveis pelas crianças e pelo evento ocupavam as cadeiras superiores. A primeira apresentação fora dos professores do Instituto, Irina estava divina dançando e sorrindo para o pouco público, na parte mais baixa das arquibancadas estava George, aplaudindo de pé.
- Turma da água, é a vez de vocês! - Anunciou a organizadora e eu levantei de mãos dadas com as menores bailarinas. Ocupamos nossos lugares no palco e eu olhei nos olhos de cada uma antes da música começar. Elas estavam tão contentes que aquilo me contagiou ao tomar meu lugar no centro delas. A música soou levemente pelas caixas de som espalhadas pelo anfiteatro, nossa apresentação se basearia em Ballet de repertório¹, do francês "ballet d'action", onde seguirmos a coreografia original, porém Irina fizera algumas mudanças para que as meninas conseguissem pegar os passos com mais facilidade.
Iniciamos com leveza e então o arabesque²: o primeiro, os braços abertos, o corpo sobre uma perna "base", formando um ângulo rectocom com a outra perna, que está estendida atrás. Ombros em simetria e leveza. Nessa posição demos meia volta em sincronia.
E então a perna de trás desceu ao chão em tendu derrierre.
Fomos para o segundo arabesque, esse a perna de trás faz um complemento com o braço do mesmo lado, fazendo-nos ficar alinhados e nos chegar ao máximo na hora de esticar, o outro braço desce um pouco ao lado, o outro pé permanece de base, na ponta do pé.
E por último o arabesque três, bem parecido com o segundo.
Sequências de passos do adágio pela música lenta, até chegarmos ao refrão da música e então seguimos para o allegro, a dança ganhou mais rapidez e precisou equilíbrio e contagem dos passos para as meninas. Até que depois de um espacate³ geral as pequenas apoiaram a cabeça nas mãos e as balançaram, enquanto eu circulava fazendo saltos em volta delas.
Toquei em cada uma delas fazendo-as levantarem e se posicionarem. Ao encostar em Susan ela sorria, olhando para a plateia, mas um foco secreto, olhei na mesma direção passando entre as bailarinas. Lá em cima, ao lado de Giovana, estava Thomas, do mesmo jeito que eu o vira quando o conheci. Usava um terno amassado e os cabelos negros amassados, porém sorria, não sei se para mim ou para sua filha, mas não importava. Ele viera.
*¹ Balé de repertório (em francês ballet d'action) é o tipo de ballet que contém uma história dentro dele, que é representada através das danças.
*² Arabesque indica uma posição do corpo onde o dançarino fica apoiado em uma das pernas, enquanto a outra perna se estende por trás do corpo, com os joelhos esticados. (Mais informações em http://www.mundobailarinistico.com.br/2013/07/arasbesques.html?m=1)
*³ A abertura, espaguete.
Já olharam para o céu hoje?
Pois é, não teve beijo. Mas não culpem a Ellie, ela ainda está confusa, mas ela vem agora como a moça observadora, afinal, ações nos mostram quem são os verdadeiros. Então vamos acompanhar o desenrolar da história.
Esse capítulo eu reescrevi umas 10 vezes, pois ele (e o da festa das gêmeas) eram marcos importantes, tanto que um deles mudou parte do enredo da história, mas isso já tem tempos.
Espero que tenham gostado e seguindo a programação próximo dia ímpar tem capítulo. :)
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