Furioso, Freeza fez mais uma tentativa para contornar aquele maldito saiyajin que brincava com ele em cada movimento. Reuniu as suas derradeiras forças e lançou um potente ataque energético – uma bola rosácea que fizera nascer entre as mãos. Quando a bola rebentou, o eixo do planeta torceu-se e vulcões emergiram à superfície na distância, rugindo enquanto expeliam oceanos de lava fervente.
As gargalhadas de Vegeta massacraram o que restava do seu orgulho.
- O teu adversário sou eu, não o planeta. Não o queiras destruir antes de mim, ou perdes a hipótese de mostrar que, afinal, serias um adversário digno de um super saiyajin!
Freeza levantou a cabeça. Vegeta pairava por cima dele, tão divertido e descontraído que o deixou ainda mais furioso. Através da visão turva do suor e do esforço, jurou ver um sorriso trocista, tão deslocado quanto ofensivo. Encarquilhando os dedos, lançou outro ataque energético, que foi estilhaçar-se na atmosfera, cozendo o ar. Vegeta brilhava, enquadrado pelo esplendor do ataque que facilmente esquivara.
O saiyajin riu-se alto, tão alto que feriu-lhe os ouvidos, como se lhe estivesse a espetar punhais por estes adentro. Fechou os olhos, as mãos, contraiu o corpo tremendo com uma raiva imensa.
Teria de arranjar soluções novas e depressa. Apesar de relutante, aceitou dois factos inevitáveis que moldavam os acontecimentos: primeiro, a prometida ajuda daquele que o acompanhava e que lhe jurara lealdade incondicional, falhara – em suma, fora miseravelmente traído. Segundo, o maldito saiyajin era francamente superior e ele não tinha meios, nem conhecia uma técnica que lhe permitisse vencê-lo – em suma, seria miseravelmente derrotado.
Vegeta aterrou. De pernas abertas, braços dobrados pelo cotovelo, o corpo a faiscar como uma supernova, os cabelos dourados e uns olhos verdes e vazios, era a personificação de um pesadelo.
Freeza limpou o canto sangrante da boca. Nunca iria admitir a sua derrota, nem as suas fragilidades. Lembrou-se da associação, o pensamento ensandecido a vibrar na sua mente como se fosse a resposta milagrosa ao seu problema. O saiyajin era uma supernova. Uma supernova era uma estrela moribunda. E foi a vez de ele sorrir.
- Ah! Ainda bem que conservas o teu humor – observou Vegeta sarcástico.
Haveria de obrigá-lo a gastar todo o combustível e haveria de se extinguir por si, enredado na sua estúpida ilusão de invencibilidade. O saiyajin não era invencível. Ele, Freeza-sama, é que podia usar esse epíteto.
E rasgou o sorriso.
Vegeta atirou a cabeça para trás, num gesto de desprezo. Disparou uma saraivada de esferas que explodiram em redor de Freeza, confundindo-o e cegando-o. Tentou proteger-se, cobrindo a cara com os braços cruzados, mas o calor sufocava-o lentamente. Tentou reassumir uma posição confortável, que lhe permitisse defender-se e partir para uma ofensiva surpreendente, mas desorientou-se. Tinha perdido o ki do adversário, não sabia onde é que ele estava e não foi capaz de focar as suas energias.
Nisto, o punho de Vegeta afundou-se no seu abdómen. Freeza abriu a boca, sustendo o fôlego, o sangue a encher-lhe as entranhas. Engasgou-se. Um pontapé de Vegeta à meia-volta derrubou-o e ele lavrou o solo com a cara. Quando parou, por fim, a alguns metros, deixou-se estar estendido, de borco, a sentir o corpo a estalar de dor. Tinha alguma coisa partida, mas nem ousou fazer essa contabilidade. Haveria de lamber as feridas quando saísse vitorioso.
Não gostava daquela segunda forma. Era pesada devido à blindagem óssea que o cobria, com o fito de o proteger dos oponentes que utilizavam habilidades de luta que envolviam lâminas ou ataques energéticos cortantes. Naquela ocasião, contra um lutador super rápido como era Vegeta, estava a atrapalhá-lo. Perdera o equilíbrio, perdera velocidade, não conseguia superar as deficiências mesmo recorrendo aos seus ataques mais potentes.
Precisava de tempo para se transformar novamente. Não seria muito difícil convencer Vegeta, pois o maldito saiyajin estava apostado em enfrentá-lo na máxima força. Precisava também de conseguir recuperar um pouco a sua energia.
Mas todo ele gelou por dentro ao escutar o som de passos e a presença efervescente de Vegeta parado junto a si. Susteve a respiração. Um pontapé de lado fê-lo rebolar sem controlo, até parar mais adiante, de barriga para cima, todo franzido com as dores que lhe eletrificavam o corpo. Os passos acercavam-se sinistramente, outra vez.
O que ele mais temia era enfrentar um super saiyajin. Ouvira a lenda de Keilo e de Broli e de outros que tinham atingido esse nível de poder extraordinário, numa das visitas regulares que fazia ao planeta Vegeta. Os anfitriões eram rudes, gostavam de beber e as suas receções, mesmo aquelas atendidas pelo rei, descambavam em bebedeiras e pancadaria. Pelo meio, havia bazófia e desafios, contavam-se histórias de como eram os maiores guerreiros do universo. Freeza tolerava-lhes as descortesias – enquanto fossem assim, competitivos e egoístas, esgatanhando-se por protagonismo, capazes de matar o próprio irmão por uma qualquer ninharia, os saiyajin nunca haveriam de lhe fazer frente. Eram fortes, mas propensos ao egoísmo nunca se uniriam em torno de um objetivo comum. As histórias do super saiyajin, contudo, preocuparam-no, porque percebeu que se trataria de um poder extraordinário, conseguido precisamente por alguém que, mesmo sendo saiyajin, superaria os defeitos da sua raça e elevar-se-ia acima dos demais.
Vegeta tornou a pontapeá-lo. Freeza cuspiu sangue, tossindo com a garganta seca. Mesmo fraco como uma criatura recém-nascida pôs-se finalmente de pé e encarou o saiyajin que o observava com um sorriso cheio de desdém.
Então, aquilo era um super saiyajin. Um lutador brilhante e apático, focado totalmente no poderio imenso que acumulava nos músculos cintilantes, uma energia tão incomensurável que os cabelos se agitavam mansamente como labaredas, amarelos como o fogo que emulavam. O aspeto mais assustador, no entanto, era os olhos.
Então, aquilo era o seu pior pesadelo.
Freeza também sorriu, um fio de sangue a escorrer-lhe da boca.
- Muito bem, Vegeta. Estou impressionado contigo.
O sorriso de Vegeta desapareceu. Ah!, então o macaco nojento, no fundo da alma, ainda o temia. Estava preparado para tudo, menos para os seus jogos mentais. Freeza agarrou-se sôfrego a essa pequena vantagem. Iria manobrá-lo.
- Mas tu não estás impressionado comigo. Queres mais... Engano-me?
- O que é que estás para aí a dizer?
- Existe glória se me derrotares agora? Julgo que não.
- Não pretendo glória com este combate. Quero vingança!
- Mesmo assim, vinga-te de Freeza-sama quando ele está no auge do seu poder.
- Hum... - Vegeta soltou uma gargalhada boçal. – Agora és tu que te queres transformar? Chegaste ao teu limite e estás a admiti-lo. Desiludes-me.
- Dar-te-ei aquilo que queres.
- O que eu quero é o teu coração! – E Vegeta arreganhou os dentes.
A impiedade do saiyajin estimulou-o. Gostava de combates definitivos. Freeza abriu os braços, expondo o peito e o coração.
- Aqui o tens! Arranca-o!
Vegeta rosnou.
- Nunca saberás, contudo, se foste digno de o arrancar se não me deixares atingir o poder máximo. Qualquer imbecil com uma força extraordinária poderá vencer uma luta contra o mais fraco. Vingares-te... Pfff! – desdenhou Freeza mordaz. – Que objetivo mesquinho. Mas vencer com glória, isso sim, vale a pena e não está ao alcance de qualquer um.
- Esqueces-te que combates contra o príncipe de todos os saiyajin?! – vociferou Vegeta.
E esse príncipe desferiu um soco tão forte, que Freeza teve de se munir de todas as forças para não acabar estatelado no chão. O pescoço estalou quando a cabeça foi lançada para a esquerda, as pernas tremeram, todo o seu corpo massacrado vibrou.
- E tu, príncipe, esqueces-te que combates contra o senhor do universo?
E devolveu o soco com as derradeiras reservas de força que possuía. Inesperadamente, como não esperava o golpe, a cabeça de Vegeta foi lançada para trás, com um urro de dor. Quando o fixou, o sangue saía-lhe da boca rebentada. Ao provar o líquido vital, o saiyajin enfureceu-se. As faíscas crepitaram na capa dourada que o envolvia, o planeta tremeu. Freeza olhou-o com superioridade e ódio, percebendo que havia ultrapassado, por momentos ínfimos, todas as suas limitações.
Vegeta afastou-se, voltando-lhe as costas.
- Eu espero pela tua terceira forma. Transforma-te. Não quero vencer-te assim, com esse aspeto horroroso. Não tens a força suficiente para combateres contra mim e metes dó.
Freeza ignorou a última observação.
Preparou-se.
Enquanto convocava os poderes que iriam permitir metamorfosear-se, reconstituir as suas reservas de energia e readquirir a concentração e confiança perdidas, enviou uma mensagem telepática para o seu misterioso aliado. Exigia a sua ajuda imediata. Não estava em posição de fazer exigências, mas não tinha mais nada a perder.
Estranhou receber um eco imediato ao seu pedido. Estava atento, o maldito traidor. Provavelmente observava divertido como ele se esforçava por derrotar o saiyajin que o superava em todos os campos. Gritou-lhe o que lhe ia na alma, o orgulho ferido a formar palavras que a sua boca seria incapaz de produzir mais tarde. Acalmou-se ao receber a garantia que receberia toda a ajuda que lhe fora prometida.
A sua confiança aumentou e soltou um bramido terrível.
Vegeta levantou voo, para lhe dar o espaço que iria necessitar para a terceira transformação. Enquanto se afastava, disse-lhe:
- Quando terminares, mostro-te o próximo nível dos super saiyajin.
A revelação deixou-o apreensivo.
Por um segundo apenas. Freeza encerrou-se no seu mundo interior. Ficou tudo escuro e começou a mudança. Suspendeu a consciência, como se caísse numa hibernação forçada. O planeta agitou-se em convulsões. Mais sismos, vendavais e trovoadas. A tempestade abatia-se sobre aquelas paragens desconhecidas.
Vegeta cruzava os braços e observava, da sua posição altaneira e confortável, a transformação, a pensar nas mil e uma maneiras que ainda dispunha para continuar aquela paródia. E das mil e uma formas que poderia utilizar para acabar dolorosamente com Freeza.
Fazê-lo sofrer, humilhá-lo e espancá-lo estava a dar-lhe um gozo tremendo.
***
Bulma tinha adormecido numa espreguiçadeira que estava à sombra do alpendre, embalada pelo canto das ondas do mar. Trunks olhou para ela, confuso com o que sentia. Aquela, de facto, não era a sua mãe. Mas a mulher protegia-o com um certo carinho maternal e nutria pelo seu pai uma estima difícil de ocultar. Tinha acontecido alguma coisa entre ela e Vegeta e Trunks interrogava-se se isso queria dizer que o seu pai tinha enganado a sua mãe. Mas se o tinha feito com ela, que era a sua mãe na sua dimensão...
Irritado, entrou pela praia adentro, enterrando os pés na areia quente. Tiago estava ali, voltado para o mar, parado como uma estátua, a torrar ao sol. Havia uma diferença subtil no seu espírito e Trunks ficou intrigado. Aproximou-se e perguntou:
- Passa-se alguma coisa?
Tiago acusou a interpelação. Ficou mais tenso. Não se voltou, no entanto, e respondeu lacónico:
- Não.
- Não me pareces bem.
- Eu estou bem.
- Queres comer alguma coisa?
- Não.
- Tens sede?
- Já te disse que estou bem.
Trunks não estava convencido e insistiu:
- Pareces-me cansado. Não queres ir descansar? Eu e Goten dormimos bastante e agora sentimo-nos muito melhor.
- Quero treinar-me.
Encarou-o e repetiu o pedido, quase uma exigência:
- Vamos treinar!
- Agora?
- Existe algum problema? Não acabaste de dizer que te sentes mais descansado? Se tu estás bem e eu estou bem, podemos treinar-nos.
- Aqui? – Trunks olhou para todos os lados. – Não temos espaço.
- Criamos espaço.
Tiago saltou e ficou suspenso no ar. Transformou-se em super saiyajin, convocando a raiva que lhe fez disparar o ki. Trunks franziu a testa.
- Mas que bicho lhe mordeu?
Foi ao encontro dele, saltando também. Ficaram frente a frente, mudos, o oceano num infindável espelho azul abaixo deles, a ilha para trás. Afastaram-se do local para evitar estragos. Relutante, transformou-se em super saiyajin. Não conseguia penetrar na aura de Tiago e estranhou a resistência dele, o turbilhão de emoções e a confusão que ameaçava tornar aquele treino em algo mais sério que uma sessão amena de intercâmbio de técnicas de luta.
Por isso, esperou. Não quis ser ele o primeiro. Baixou a guarda, criando um engodo para que o outro atacasse com tudo o que tinha, revelando as suas intenções.
Mas Tiago não atacava. Começou a ficar nervoso.
As gaivotas piavam próximo, deixando-o ainda mais intranquilo.
Tiago aumentou o ki de repente. E sem que nada o fizesse prever, soltou uma gargalhada. Trunks sobressaltou-se.
- O que foi? – perguntou.
- Tu! – Tiago espetou um dedo acusador. – Tu estás com medo de mim.
O filho de Vegeta cerrou os dentes com força, o suor escorria-lhe pelas têmporas. Perdera, de um momento para o outro, a confiança no rapaz. Talvez fosse medo, ou outro qualquer sentimento cobarde que o minguava e ele detestava sentir-se inferior. A frustração roía-o. Continuava de guarda baixa e não se apercebeu do ataque à falsa fé. Quando sentiu o osso do maxilar vibrar com o murro que recebeu em cheio, percebeu que a força de Tiago estava diferente.
Defendeu-se por instinto, aparando o segundo murro agarrando o punho do adversário. Tiago sorriu-lhe e era estranho vê-lo com aquela atitude temerária, brilhando como um super saiyajin, o olhar esverdeado e faminto de ação. O guerreiro que dormia dentro dele despertava abruptamente. Julgou que deveria entrar no jogo e treinar-se como o rapaz queria que treinassem: um combate a sério.
Trunks afundou um joelho no abdómen de Tiago que cuspiu saliva e sangue, recebendo o golpe com espanto. Afastou-se, voando às arrecuas, agarrado à barriga com um braço, o outro braço preparado para se defender. Trunks lançou um par de esferas energéticas que assobiaram em busca do alvo numa trajetória errante que confundiu Tiago. Viu-lhe as íris esmeralda dos olhos a saltarem de um lado para o outro, a tentarem seguir o caminho das esferas. A explosão embranqueceu a paisagem.
Continuando impiedoso, precipitou-se para onde sentia a aura enfraquecida do rapaz, no meio do vapor que se dissipava lentamente. Mas quando ia despachá-lo com um soco, que esperava fazê-lo precipitar-se para a ilha, enfiá-lo na areia e terminar com aquele estúpido treino, um braço resoluto parou-lhe o ataque.
- Nani?
Empregara toda a sua força naquele soco e Tiago conseguira pará-lo. Com o espanto, ficou desprotegido e foi o suficiente para levar com um cotovelo, que não viu aproximar-se, no meio do nariz. As mãos agarraram-se à cara, gemendo.
Não teve muito tempo para se lamentar e para digerir a dor que se espalhava pela cara, numa dormência repentina. Baixou a cabeça para evitar ser novamente atingido, esquivou um terceiro soco.
A seguir, Trunks e Tiago engalfinharam-se num combate corpo-a-corpo renhido.
Só podia ter acontecido um milagre. A técnica, a perícia e o poder de Tiago tinham aumentado muito e admiravelmente conseguia dominar o estado de super saiyajin, ao mesmo tempo que manobrava o corpo em voo, quando tinha aprendido essas duas noções há pouquíssimo tempo. Combatia como um verdadeiro guerreiro, tinha uma forma própria de lutar, algo ingénua, mas determinada.
Trunks sentia-se orgulhoso – afinal, tratava-se do seu filho. Seria mais do que natural que Tiago conseguisse realizar aquelas manobras, atacando e defendendo com acerto, mas não fosse o pressentimento de que algo naquilo era pouco transparente e seria um dia para recordar. Trunks sabia que não se podia distrair.
O braço de Tiago roçou-lhe o peito, abrindo um rasgão na blusa. A primeira metade do medalhão de Mu ficou exposta e percebeu o olhar guloso do filho no triângulo dourado. Desviou-se o suficiente para evitar um segundo golpe que lhe rasou a orelha esquerda.
Apartou-se erguendo uma mão e gritando:
- Espera! Façamos um intervalo.
- Para quê?
Trunks forçou um sorriso. Para descansar, seria óbvio. Estavam os dois ofegantes e transpirados. Mas Tiago queria mais.
- Para perceber o que se passa aqui.
A sinceridade saiu-lhe da boca de forma inesperada. Não pretendia abrir o jogo, mas detestava os subterfúgios e estava a cansar-se daquela atitude – Tiago continuava a resguardar as emoções da sua perceção, que Trunks insistentemente tentava ler naquele espírito esquivo. O riso límpido do rapaz deixou-o ainda mais confuso.
- Estamos a treinar. Não é o que se passa aqui?
- Lutas por causa disto?
Esticou a corrente dourada que tinha ao pescoço. O triângulo balançou suavemente. A segunda metade do medalhão estava também à vista, sobre o peito arfante de Tiago. Tinha receio de ter nas mãos as duas metades, mas começava a pensar seriamente que o seu objetivo deveria ser aquele: roubar o medalhão ao filho. Ele estava a preparar alguma e o medalhão fazia parte desse plano esquisito.
- Não, não luto por causa dessa coisa! – Tiago voltou a palma da mão direita para cima, curvou os dedos que estremeceram com o esforço. – Luto para ser mais forte... Não é para isso que treinamos?
A mentira era tão evidente que irritou Trunks. Uma bola de um azul elétrico surgiu sobre a mão de Tiago. A capacidade de lançar ataques energéticos deixou-o perplexo. Largou a corrente, o triângulo bateu-lhe no peito.
- Tu consegues fazer isso?
- Pelos vistos...
A expressão de Tiago ensombrou-se. A bola crepitava inquieta, como se ele não a conseguisse controlar totalmente.
- Julgas que eu sou o quê? Tenho sangue saiyajin nas veias, tenho o teu sangue! Tudo o que tu fazes, eu também consigo fazer!!
E enviou a bola. Trunks cruzou os braços em frente à cabeça, recebendo a explosão. Tudo vibrou em redor. A energia não era muito grande, mas era mais do que estava à espera e conseguiu deixá-lo tonto.
- Não me subestimes...
Abriu os olhos assustado com a proximidade da voz. Tiago estava em cima dele. Com as mãos unidas, atingiu-o na cabeça e Trunks caiu desamparado, mergulhando no mar. A água fria foi um choque. Sentiu-se rapidamente a sufocar. Milhentas bolhas de ar saíram-lhe da boca que abriu, atrapalhado. Com um impulso vigoroso dos pés, chegou à superfície. Esbracejou para se manter à tona, respirando grandes porções de ar, lutou com as ondas e, olhando para o céu, descortinou a silhueta brilhante de Tiago.
Compreendeu que estava a ser demasiado brando. O rapazola precisava de uma lição. Elevou-se com raiva, disposto a atingi-lo sem piedade. Enquanto voava, a direito como uma lança, a mão direita, curvada em garra, enchia-se de luz, num ataque energético condensado que faria estragos. Mas quando estava perto, viu que Tiago tinha as duas metades do medalhão de Mu. Suspendeu o voo e o ataque, travando repentinamente, gerando uma onda sonora na atmosfera. Pestanejou para clarear a visão e certificar-se de que estava a ver bem. A mão esquerda apalpou o peito, verificando aterrorizado que já não tinha a sua metade.
- Tiago... O que é que...?
A pergunta morreu-lhe a meio, num sopro levado pelo vento.
Num gesto tão repentino, quanto inusitado, Tiago uniu os dois triângulos. Desapareceu num clarão luminoso, a sua aura de super saiyajin diluiu-se como se sugada por um vórtice e Trunks viu-se sozinho no meio do ar. Olhou para todos os lados, atarantado. Tiago tinha desaparecido e levara consigo o medalhão de Mu.
- Tiago!!!!
O berro perdeu-se naquela solidão altaneira e o chamamento não teve qualquer consequência. Berrara para o nada. Quando aterrou na ilha, a tremer de inquietação, Goten esperava-o. Bulma tinha-se levantado da espreguiçadeira. Krilin e Mutenroshi acabavam de sair da casa.
- Trunks-kun, o que se passou aqui? Com quem estavas a lutar?
- Com... com o Tiago.
Tinha um nó apertado na garganta que o impedia de engolir.
Bulma disse:
- Mas parecia... Parecia que eram inimigos.
- Não sei... Acho que sim – concordou Trunks.
- Inimigos? Tu e o Tiago? Mas porquê, Trunks-kun?
- Tentei descobrir, mas falhei.
Olhou para o amigo desesperado.
- Goten-kun, ele levou o medalhão. As duas metades... Unidas!
- E isso é mau? – perguntou Bulma.
- Que medalhão é esse?
A pergunta de Krilin foi ignorada pelos rapazes. Trunks e Goten entreolhavam-se, a perceber a gravidade da situação.
- Foi o medalhão que o levou.
- Ou quem procura pelo medalhão. Desde o início desta história.
- Goten...?
- Hai!
Bulma estava arrepiada de medo. Tentou dizer alguma coisa, mas tardou demasiado e não conseguiu impedi-los de abandonarem a ilha num voo rápido e urgente. Eram apenas dois pontos no horizonte quando gaguejou umas sílabas, erguendo um braço que acenou timidamente para os chamar de volta. Desistiu com um suspiro, descaindo os ombros. Mutenroshi colocou-se ao lado dela, a fixar o oceano infinito.
- A Terra está salva, pois os saiyajin foram eliminados – disse numa voz sábia. – Mas a verdadeira batalha para a nossa libertação está a começar agora.
***
Goku bebeu água até se saciar. Era fresca e abundante, jorrando de uma fonte inesgotável que vertia diretamente para a sua boca. Ao abrir os olhos viu que eram as mãos do seu salvador que lhe davam de beber, unidas em concha por cima dos seus lábios. Quando as mãos se apartaram, a água desapareceu. Goku sentou-se, totalmente restabelecido. Mas também muito confuso.
Já não estava dentro do pesadelo negro, nem na sala de comando da nave de Freeza, nem no lugar inóspito onde a nave aterrara. O prado verdejante pejava-se de flores coloridas, havia algumas árvores. O solo onde se sentava era fecundo e quente. Goku enterrou os dedos na terra, retomando a paz de espírito que o tinha abandonado durante o pesadelo.
E as mãos que lhe tinham dado de beber não eram realmente mãos. Eram umas estranhas pinças metálicas, que faziam um barulho engraçado quando tocavam uma na outra. Pic... pic... pic...
Goku esboçou um sorriso fatigado.
- Tori-Sama...
Estava também profundamente agradecido. Graças a Tori-Sama fora salvo. Do quê, ainda não sabia muito bem dizer, mas desconfiava que obteria as suas respostas em breve.
- Estás estranho – desabafou.
O homem abriu os braços e moveu as pinças. Pic... pic... pic...
- Gosto de me ver assim. Se é para estar no teu mundo... É assim que eu me desenho no mundo Z.
- Mas esta não é a Dimensão Z.
- Eu sei. Mas também foi criada por mim. Não diretamente, é certo, mas tudo aqui me pertence. É como uma extensão de mim próprio... É difícil de descrever.
- Foi isso que estiveste a aprender no Palácio Celestial? A sentir o nosso mundo?
- Hai... Hai, algo parecido a isso... Sentir o vosso mundo.
- O criador vai salvar-nos, afinal. Kaioh e Dende tinham razão.
- Veremos... Acho que sei como fazê-lo. Mas não o conseguirei sozinho. Enfrento alguém muito poderoso, com os mesmos poderes do que eu.
- Estás a falar daquele ser que estava com Freeza? Aquele que me atacou?
- Hai.
- Quem é ele, Tori-Sama?
- É uma criatura antiga, nascida do caos inicial. Enquanto crescia, foi absorvendo a energia e as faculdades ilimitadas do universo que se expandia e quando eram criadas todas as coisas que conhecemos: as estrelas, os planetas, o tempo. É uma parte distorcida do próprio universo. Pode assumir qualquer forma, tem um poder imenso.
- É... é invencível? – perguntou Goku tenso.
- Nesta dimensão? – Tori-Sama olhou para o céu – Talvez... Kamisama não tem a certeza, mas julga que existe uma forma de o derrotar.
- Tu poderás derrotá-lo.
- Talvez...
- Para que precisa do medalhão de Mu, se já é tão poderoso?
- Como o universo, ele está a envelhecer. E como todas as coisas que envelhecem, perdem capacidades. Para além disso, a sua ambição é ilimitada e não está disposto a aceitar o seu declínio. Vi as suas intenções claramente quando estive no Palácio Celestial. Se não o pararmos, vai conseguir destruir tudo o que conhecemos, todas as dimensões, todos os universos.
- Mas, não percebo... Ele sempre existiu, certo? Onde estava ele?
- Adormecido. Era o próprio Cosmos, camuflado em cada átomo, diluído no tempo e no espaço, existindo entre o vácuo.
- E o que o fez despertar?
Tori-Sama sentou-se ao lado de Goku. Apoiou os braços nos joelhos fletidos.
- Freeza.
- Freeza? – Goku piscou os olhos atarantado. – Como?
- A maldade e a ambição de Freeza. Encontrou-o e despertou-o.
- Espera aí um bocadinho. Freeza foi derrotado por mim, foi morto por mirai Trunks. Que Freeza é este que surgiu noutra dimensão e que desperta essa criatura poderosa, que ameaça agora todas as outras dimensões? Incluindo a tua?
- É um mistério. Kamisama explicou-me que foi a própria criatura que atraiu Freeza, um outro Freeza, para o local onde ele estava adormecido e fê-lo despertar. Aconteceu alguma coisa no passado que perturbou o seu sono pacífico. A curiosidade pelo lado sombrio da existência. Depois, era Freeza quem procurava pelo medalhão de Mu e a criatura continuou a sentir curiosidade. Está, simplesmente, a aprender. Foi como se nascesse agora e brinca com tudo o que o rodeia. Um gigantesco bebé ingénuo, mas terrivelmente perigoso.
- Brinca com as nossas vidas! Ouve, Tori-Sama: para derrotá-lo, é fazê-lo dormir outra vez?
- Hai.
- Só isso?
- Parece simples, mas não é. Adormecê-lo, desfazê-lo outra vez nos milhões e milhões de átomos onde ele existia antes de emergir como ser palpável, pensante. Como ser com sentimentos.
- Sentimentos malignos...
- Esse é o problema. O mal domina-o, diverte-se provocando dor. Aprendeu com Freeza. Como se Freeza fosse, de algum modo perverso, o seu progenitor.
- Para desfazê-lo... - disse Goku pensativo. – Não basta uma Kamehame-Ha?
- Não.
- Porque não?
Tori-Sama não sabia a resposta e não respondeu.
- Tem nome, esse inimigo que enfrentamos? – perguntou Goku.
- Não.
De repente, Goku espevitou-se. Levantou-se com um pulo enérgico.
- Onde vais? – perguntou Tori-Sama.
- Voltar para junto desse Sem-Nome. Não lhe podemos dar espaço. Mesmo que não o possa destruir com uma Kamehame-Ha, vou tentar fazê-lo.
- Não podes ir!
- Porque não?
Tori-Sama baixou a cabeça envergonhado, as pinças bateram uma na outra. Pic... pic... pic...
- Porque ainda não tenho a certeza de o conseguir derrotar.
- Mas sou eu quem o vai enfrentar.
- Podes enfrentá-lo. Mas o combate final cabe-me a mim.
Goku observou-o. Com aquele aspeto caricato, era estranho confiar nele o seu futuro e dos seus amigos. Susteve a respiração. Mas não desistiu. Levou dois dedos à testa e pediu:
- Agarra-te a mim. Regressamos à nave de Freeza.
Inesperadamente, contudo, não aconteceu nada. Goku olhou atrapalhado para Tori-Sama.
- O que... o que... - tartamudeou confuso, com o cérebro vazio.
- Não vamos.
- Tori-Sama!
Percebeu que os seus poderes derivavam daquele homem atarracado e risível, com as suas pinças metálicas do barulhinho irritante. Pic... pic... pic... E que ele o comandava como se fosse uma marioneta.
- Vamos, sim! – exclamou Goku nervoso. – Não podemos hesitar. Eu combato o Sem-Nome, tu vais analisando como é que ele reage, encontras o seu ponto fraco e entras na luta. Conhecendo as suas fraquezas, será fácil derrotá-lo.
- Não te disse que preciso de ajuda?
Goku engoliu em seco.
- Di-disseste – tornou a tartamudear.
- Preciso da ajuda de Shenron.
- Shenron?!!
A revelação foi como se tivesse engolido um pedaço de gelo. Estremeceu.
- Precisas das bolas de dragão? – perguntou Goku aflito. – Nós usámos as bolas de dragão há pouco tempo. Só daqui a um ano é que...
Uma pinça metálica ergueu-se à altura do rosto dele, fechou-se abruptamente. Pic! Quase lhe trincando o nariz. Goku lançou o pescoço para trás.
- Eh... Então?
- Quem criou as bolas de dragão, Son Goku? – perguntou Tori-Sama impaciente.
- Foste... tu?
- Errado! Foi o Kamisama, há muitos anos, quando era um jovem namekuseijin, antes de expulsar da sua alma a maldade que tomou a forma de Piccolo.
- E...?
- Precisamos de Piccolo.
- Piccolo está ao lado do Sem-Nome.
- Vais trazer-mo.
Goku abriu os braços e lamuriou-se:
- Vês? Afinal, sempre tinha de regressar à nave de Freeza. Devolve-me os meus poderes.
Tori-Sama aguardou uns instantes. Depois, como se maturasse os prós e os contras daquela decisão, fez soar a sua pinça metálica. Pic. Goku percebeu a mudança no ki e sorriu.
Uma perceção longínqua interferiu na sua concentração, momentos antes de se teletransportar. A mudança indelével no seu espírito não escapou a Tori-Sama que o avisou com rispidez:
- Não o vais fazer.
Goku explicou:
- Vegeta está a lutar contra Freeza, neste momento, num planeta distante. Freeza vai assumir a terceira forma e o Sem-Nome vai ajudá-lo, dando-lhe um poder imenso. Estou a senti-lo... Vegeta não vai conseguir derrotar Freeza e eu tenho de o ir buscar. É só um pequeno desvio.
- Não o podes fazer.
- Porque não?
Tori-Sama suspirou.
- Tanto tempo ao lado do príncipe dos saiyajin e ainda não sabes como ele é? Vegeta exigiu esse combate, irá levá-lo até ao fim. Se apareceres e interferires, ferirás o seu orgulho irremediavelmente. Não te metas entre ele e Freeza.
- Mas se é uma luta perdida!
- Espera mais um pouco... Vegeta ainda está em vantagem.
- Kuso... Espero o quê? Que Vegeta morra?
- Vegeta não vai morrer.
- Como sabes tu isso?
- Eu não vou deixar, Son Goku.
Goku tentou encontrar um argumento qualquer para convencê-lo, mas não se lembrou de nenhum e ficou a olhar para Tori-Sama, com uma expressão aparvalhada.
- Quero Piccolo aqui – exigiu o criador veemente.
Contrariado por estar a ser manobrado, sabendo que, no fundo, Tori-Sama tinha razão, pois os seus instintos nunca o tinham defraudado, Goku cerrou os dentes e aceitou as ordens. Estava dependente do homenzinho das pinças metálicas. Levou os habituais dois dedos à testa e desapareceu do prado verdejante.
***
A pele estalava, abrindo rachas que se enchiam de luz e traçavam linhas vermelhas por todo o corpo. A terceira metamorfose de Freeza acontecia em todo o seu esplendor. Vegeta aguardava, tão seguro da sua superioridade que se tornava patético. Tinha nobreza, no entanto, no porte que exibia, enquanto repunha lentamente as reservas de energia e concentrava as forças. Pernas ligeiramente afastadas, braços cruzados, sorriso torto, a melena negra a agitar-se suavemente sob a brisa.
Ainda não se tinha apercebido de que a sorte iria mudar e o desconhecimento do próprio destino, era, de algum modo, poeticamente esmagador.
O Sem-Nome via o que se passava no planeta distante onde Vegeta e Freeza livravam um combate inútil. Sim, porque não haveria vencedores e o resultado seria invariavelmente igual para os dois: a morte. Não se incomodou sobremaneira, estava abençoadamente desprovido de emoções. Estalou os dedos com displicência e a aura de Freeza foi sacudida por um espasmo intenso ao receber aquela dádiva de poder. Depois, notou o rapaz dos cabelos loiros em pé, resfolegando como um cavalo cansado, a estender-lhe o prémio mais aguardado.
- Arigato.
Recebeu com indiferença o medalhão de Mu que o rapaz lhe depositou na palma das mãos estendidas. O triângulo dourado composto pelas duas metades, separadas para evitar o que ele estava prestes a provocar, não lhe evocou nada. Parecia-lhe uma peça insignificante. Mas qualquer coisa era insignificante para ele, que já provara da omnisciência do universo.
Ele era deus.
O rapaz ficou pregado ao chão, apático. Afastou-se dele e do demónio verde. Saiu da sala de comando da nave, colocando ao pescoço os dois triângulos do medalhão de Mu.
O que faria a seguir?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro