XVI - Combate difícil
Kilm atacou. O joelho atingiu a cabeça de Vegeta com uma violência tremenda. O príncipe foi cuspido pelos ares, o corpo inerte num voo descontrolado. Antes de chegar ao solo, apanhou com uma cotovelada no peito e um par de murros na testa. Vegeta rodopiou e foi cair de cara para baixo na orla do bosque, onde começavam as árvores.
O combate acontecia numa pequena clareira inclinada, pontilhada por algumas rochas. Goku, Toriyama e Tiago assistiam de um ponto elevado.
Tiago deu um passo em frente. Toriyama admirou-se com a súbita reação dele. Seria uma estupidez interferir naquele momento inicial, além de que o rapaz não seria suficientemente forte para proteger Vegeta. E nem Vegeta haveria de gostar. Mas achou interessante o instinto. Goku disse, com as mãos enfiadas no cinto, numa atitude descontraída:
- Calma, Tiago-kun. Vegeta está a brincar com ele.
- A brincadeira não está a sair bem.
- Isto não é nada.
- Não é nada?
- Vegeta ainda nem sequer se transformou em super saiyajin.
- E vai fazê-lo?
- Será melhor não. A energia que irá utilizar nesse estado terá consequências imprevisíveis e não queremos atrair mais atenções.
- Que consequências? Tremores de terra?
- Hai.
- E se Kilm for mais forte do que ele?
- Não é. – E Goku sorriu.
Apagou logo o sorriso. Temia que estivesse enganado. Kilm teria qualquer truque na manga ou não estaria tão confiante. Poderia conhecer Vegeta, mas seria que Vegeta o conhecia realmente? Nunca se tinham enfrentado... E depois havia aquela característica esquisita de conseguir camuflar a sua energia, algo que tanto espantara o príncipe dos saiyajin quando chegara à Terra pela primeira vez, munido do seu scouter que media a força de combate dos adversários.
Vegeta levantou-se. Sacudiu a cabeça para tirar a poeira dos cabelos.
- É a minha vez.
Atacou com um potente murro, logo seguido de uma combinação pontapé, murro, pontapé. Derrubou Kilm com um golpe que lhe desferiu nos queixos com as duas mãos unidas. Aguardou que o outro reagisse à dor e ao princípio de humilhação, quando abrisse os olhos, pois deixara-o inconsciente.
Kilm não se moveu durante um tempo infinito. Jazia no chão da clareira como um monte de trapos prateados e pretos.
- Hum! – exclamou orgulhoso. – Nunca pensei que fosse tão fácil.
O rosto de Goku crispou-se. Vegeta voltou-se para o pequeno grupo. Estava satisfeito e, por isso, baixava a guarda, aligeirando a pressão dos músculos.
- Alguma coisa não está bem... - murmurou Goku apreensivo.
- Porque é que dizes isso? – perguntou Tiago.
Uma perturbação atrás de Vegeta apanhou a atenção de Goku, que só teve tempo de gritar o início do nome do companheiro.
- Veg...!
Era como um fantasma transparente movendo-se, os contornos da criatura ondulando no ar, vendo-se através desta os troncos distorcidos das árvores. O corpo de Kilm permanecia inerte no sítio onde caíra, o encarnado dos seus cabelos espreitava por entre a tal trouxa prateada e preta, um toque de cor vivo e sinistro. Mas Kilm surgia também atrás do príncipe dos saiyajin, como um espectro, num salto acrobático, impulsionado por uma energia diabólica, um punho em riste que apanhou Vegeta na cabeça e fê-lo cair desamparado para diante.
- Ainda está a brincar?! – perguntou Tiago alarmado.
- Vegeta!
Toriyama não se mexia, aterrorizado e fascinado com o que presenciava. A sua criação ganhando vida própria, revelando-se num esplendor magnífico e assustador. À exceção daquele monstro de cabelos encarnados que não percebia como seu, vindo de outra dimensão que não aquela que ele tinha criado, que não nascera da sua imaginação. Aos poucos, começava a compreender o jogo que estava a mergulhar a Terra – a sua Terra, a de Son Goku e todas as Terras possíveis – num caos.
Algo despertou a atenção de Tiago que se abalançou a descer a pequena elevação onde assistiam ao combate. Kilm viu-o, sorriu, ia intersectá-lo. Goku não sabia se devia acudir a Vegeta ou defender o rapaz que se revelava estupidamente afoito. Quanto a Kilm, não teve dúvidas. Fez nascer na mão direita uma esfera luminosa e enviou-a. A esfera apanhou Tiago nas costas, que foi cuspido alguns metros para diante, a uivar de dor. Uma nuvem cinzenta engoliu o rapaz.
A energia de Vegeta estabilizava. Ele soergueu-se, apoiando-se nos braços esticados, a cabeça metida entre os ombros.
- Gostaste do meu truque?
- O combate é entre nós os dois – ciciou Vegeta. – Deixa o miúdo em paz. Ele não é adversário para ti.
- Ele é que se meteu no nosso combate.
- Se o voltares a atingir... mato-te com um só golpe. Entendido?
A desfaçatez de Vegeta fez com que Kilm disparasse mais uma das suas gargalhadas sonoras. O príncipe apoiou um pé no chão e levantou-se combalido. Goku observava tudo, com um olho em Tiago que também se levantava atarantado. Ele tossiu um pouco, fixou o monte de trapos que se julgava ser o corpo inanimado de Kilm e que se dissolvia, à medida que o verdadeiro Kilm se materializava noutro ponto da clareira, próximo de Vegeta. Coxeou, agachou-se. Agarrou em alguma coisa e escondeu-a no bolso do blusão. Kilm, ao contrário, dos outros, percebeu o que Tiago fazia.
Vegeta postou-se defronte do seu oponente, limpando o canto da boca que sangrava.
- Tu também não és adversário para mim, Vegeta-chan.
- Ainda não lutei a sério.
- Nem eu... E os meus truques de Yardrat ainda mal começaram.
Goku admirou-se.
- Yardrat? Foi onde aprendi a Shunkan Idou.
- Ele sabe utilizar essa técnica – explicou Toriyama.
- Nani? – Goku voltou-se para Toriyama. – Será possível? Vegeta disse-me que conhecera Kilm quando era mais novo. Ele era o comandante das Forças Especiais de Freeza, antes de Ginyu. Eu cheguei a Yardrat precisamente numa cápsula das Forças Especiais, que tinham programado a viagem até esse planeta para dizimar os seus habitantes e muito provavelmente destruí-lo. Não acredito que Kilm tivesse sido amigo de Yardrat. Aqueles que trabalhavam para Freeza viviam para conquistar e subjugar outros povos do universo.
- Nada disto faz sentido... Olha, eu não conheço esse Kilm, OK? - avisou Toriyama.
- Vegeta disse-me que Kilm tinha morrido... - completou Goku, pensativo. – E então, quem é este Kilm que está aqui?
- Um Kilm de um universo alternativo. De outra dimensão. Vocês também são de outra dimensão!
- Mas Kilm esteve na nossa dimensão, no passado. Vegeta conheceu-o.
Quando chegou ao pé deles, Tiago sentou-se ofegante. Goku acercou-se.
- Tiago-kun!...
- Con-consegui.
- O que foi que conseguiste?
- Recuperar a minha metade do medalhão. – Mostrou o triângulo dourado. Piscou o olho, tentando sorrir, mas a máscara depressa caiu e esboçou um esgar de dor, agarrando-se às costelas.
Na clareira, Vegeta e Kilm encaravam-se, antecipando o próximo embate.
Goku agachou-se junto a Tiago, colocou-lhe uma mão nas costas, dizendo preocupado:
- Tu estás ferido. Nunca mais faças isso. Não estás preparado para desafiar Kilm ou outro qualquer.
- Tinha de o fazer... Perdi novamente o medalhão e Vegeta disse-me que...
- Acreditaste em Vegeta?
- Era a minha oportunidade – explicou guardando o medalhão no bolso do blusão esfarrapado. – Aquele Kilm tem alguns truques esquisitos mas que têm algumas falhas. Quando ele se transportou de um sítio para o outro, deixou tudo o que era físico, incluindo o corpo, para trás.
- Uma espécie de Shunkan Idou...
- Talvez. Mas, ao ir recuperando aos poucos o que é palpável, deu-me tempo para ir buscar o medalhão.
- Interessante... - murmurou Toriyama.
- E a primeira metade do medalhão? – perguntou Goku.
- Está com ele – respondeu Tiago, apontando Toriyama com o polegar.
- Quer dizer, que nós temos o medalhão completo?
- Sim.
Goku levantou-se e disse num berro:
- Vegeta, termina o combate de uma vez! Kilm já não nos interessa!
***
A adrenalina a fluir pelos músculos e a inundar-lhe o corpo inflamava-o com uma raiva que há muito não sentia. Haveria sempre de precisar daquela intensidade física que comandara grande parte da sua vida. Ele nascera guerreiro e, apesar de já ter interiorizado a incómoda verdade de que não haveria de morrer definitivamente – porque ele já tinha perdido a vida por duas vezes – como um guerreiro, consolava-se com os momentos em que vivia como um guerreiro, os pequenos momentos, absorvendo ao máximo o tempo da excitação, da entrega e da vitória.
O seu adversário era patético, munindo-se de ardis mentais, querendo assustar com o pouco que conseguia fazer. O que era aquele fantasma do passado, com uma aura desmaiada, ao pé de um super saiyajin como ele?
Pó!
De um super saiyajin que atingia o nível três?
Menos do que pó!
Vegeta sorriu.
- Já chega de aquecimento, não achas?
- Acho!
Tinha coragem e isso era admirável. Julgava que lutava de igual para igual contra ele e Vegeta comprazia-se disso. Mas agora Kakaroto gritava-lhe que acabasse com aquele combate e o seu momento de prazer teria de terminar. Não antes sem um pouco de fogo-de-artifício.
Vegeta atacou com todo o poder que conseguia imprimir no seu estado normal. Passada uma sucessão de golpes que se afundaram sem piedade no enorme corpo de Kilm, rematou com um salto, juntou as mãos e destas surgiu uma pequena esfera vermelha faiscante que rebentou em Kilm, engolindo-o numa chuva de fogo e de pedras.
- Não utilizes ataques flamejantes! – avisou-o Goku, numa voz esganiçada.
Tiago olhou para Goku.
- Porque é que falaste em japonês?
- Por que dizes isso?
- Goku-san, assim não te entendo.
- Mas eu estou a entender-te perfeitamente. Tori-Sama, estás a entender-me?
- Iria sempre entender-te. Tu falas a minha língua...
- Vês, Tiago-kun?
- Goku, para com isso.
- Mas paro com o quê?!
A nuvem provocada pelo ataque de Vegeta dissolveu-se e Kilm apareceu, as roupas ligeiramente chamuscadas. Tinha um corte profundo que sangrava, que ia do meio da testa até à orelha esquerda, que se escondia naquela melena encarnada. Vegeta sentiu-se realizado – provocara sangue no inimigo. Iria acabar com aquele bastardo sem sequer fazer o mais pequeno arranhão e essa ideia fê-lo aumentar a confiança.
- Kilm! Lamento, mas agora vou matar-te – anunciou trocista. – Kakaroto quer que eu acabe com o combate. Está com pressa... E eu concordo com ele. Já não tens piada! Gostei de te rever.
- Mas o combate só termina quando eu quiser – contrapôs Kilm, também trocista. – E ainda não disse a minha última palavra.
- O teu humor é fantástico. É quase igual ao meu!
- Vou derrotar-te, Vegeta-chan. E quando despejar todo o meu poder sobre ti, vais implorar pela morte.
- Tu?! Tu tens uma força de combate ridícula!
- E tu não passas de um saiyajin, um reles macaco que pode ser facilmente derrotado.
O insulto que Freeza gostava de lhe cuspir na cara sempre que o queria humilhar, atingiu-o com a potência de um punho a afundar-se nas tripas. Vegeta rangeu os dentes, irritado. Kilm explorou o ponto fraco:
- O que fizeste com a tua cauda, macaquinho? Porque é que a cortaste? Ou não gostaste de a ver no corpo que esta dimensão te deu?
- Cala-te! Vou fazer-te engolir essas palavras!!
Uma vaga de energia desprendeu-se do corpo de Vegeta e espalhou-se em redor dele. Os cabelos de Tiago agitaram-se com a vaga quente.
- Goku-san...
- Hum?
- Porque é que Vegeta está também a falar japonês?
- Alguma coisa está a acontecer, Tiago-kun... E não sei o que possa ser. Tori-Sama?
- Não me perguntes a mim... Tu é que me arrastaste para esta história, lembras-te?
Goku olhou para Toriyama de esguelha. E não era ele, também, o início de tudo, ao desenhá-los e assim trazê-los para aquela dimensão? Talvez Vegeta tivesse razão e aquela ideia de envolver o seu criador da Dimensão Real não passasse de um devaneio de Dende, que não faria a mínima ideia de como resolver mais uma crise que ameaçava a Terra. Tiago olhava para eles atarantado. Disse-lhe, a marcar as sílabas:
- Por favor, para de falar japonês!!
- Mas eu não controlo a língua da tua dimensão em que te falo!
Tiago gritou frustrado.
Goku fixou Kilm. Seria ele, com algum truque mental, que os procurava confundir?
No entanto, Kilm estava mais interessado em confundir Vegeta, provocando-o.
- Se não te importas, macaquinho... Agora é a minha vez de atacar.
- Só se eu te deixar, bastardo!!!
A energia de Vegeta explodiu, uma névoa amarela envolveu-o e ele transformou-se num super saiyajin. Por um instante, Kilm reagiu com verdadeiro espanto. Nunca tinha visto o fenómeno. Seria normal, tendo ele morrido quando Vegeta era apenas um adolescente, quando a existência de um super saiyajin não passava de uma lenda.
O poder de Vegeta aumentava gradualmente e o chão ressentia-se, abanando devagar. Kilm, passado o pasmo inicial, preparou o embate. Dobrou ligeiramente os joelhos, dobrou os cotovelos, fechou as mãos. Goku estava apreensivo, fixando principalmente Kilm, a medir-lhe as reações.
- Isto é... fantástico! – exclamou Toriyama.
Tiago olhava para Vegeta com a mesma admiração. Nunca pensara que tanta força pudesse ser possível, uma energia tão imensa que palpitava em redor do lutador e que contagiava o que o rodeava. Era luz que faiscava e estalava. O tremor de terra que roncava debaixo dos seus pés excitava-o. Tinha visto Goku transformar-se em super saiyajin por duas vezes, mas não se comparava àquilo que ele contemplava. Nessas ocasiões, Goku não estava a lutar, tinham sido puras demonstrações de estilo. Ali, era diferente. A ação obrigava à perfeição.
Nas suas veias corria o sangue daquele guerreiro. Seria ele alguma vez capaz de atingir um tal poder? Tiago mirou as suas mãos, que lhe pareceram tão frágeis e brancas, incapazes de qualquer habilidade para além de teclarem um computador. Mas ele desejava ser como Vegeta... Ser um saiyajin! Não apenas senti-lo...
Vegeta atacou com precisão. O seu punho enfiou-se no abdómen de Kilm. O impacto fê-lo vomitar uma golfada de saliva e de sangue. O mesmo punho enfiou-se a seguir no queixo, num uppercut violento que enviou Kilm pelos ares como um foguete. Vegeta saltou na sua perseguição. Com uma rapidez que nem Tiago, nem Toriyama, conseguiram acompanhar, o saiyajin ultrapassou o adversário, pontapeou-o com ambos os pés também no abdómen e enviou-o de volta ao chão. Kilm derrubou algumas árvores, abrindo um rego no centro do bosque, e desapareceu numa cratera.
- Matou-o! – gritou Tiago.
Goku negou com a cabeça.
- Não?
A mão direita de Vegeta, dedos unidos, apontava para o sítio onde Kilm desaparecera.
- Vegeta! Não utilizes ataques flamejantes!
- O que foi que ele disse, Tori-Sama?
- Pediu-lhe que não disparasse um Big Bang Attack – respondeu Toriyama a Tiago em inglês, sem desfitar Vegeta que pairava por cima do bosque.
- O que é isso?
- Algo como... uma bomba!
- Ahn? E isso... é possível?
- Nunca pensei vê-lo com os meus próprios olhos...
O príncipe dos saiyajin hesitou por um par de segundos. Baixou o braço e olhou para Goku irritado.
- Por que estúpida razão queres poupar-lhe a vida?
- Não precisas de matá-lo! Temos Tori-Sama connosco, temos as duas metades do medalhão de Mu. Deixa-o... Lê a sua energia, ele já levou que chegue.
- Ele consegue disfarçar a sua energia.
- Não quando está ferido.
- E que sabes tu? Ele esteve em Yardrat, não sabes do que ele é capaz de fazer.
Uma voz fantasmagórica disse:
- Tens razão.
A frustração de Tiago era cada vez maior. Era como um pesadelo, estar dentro de um filme japonês, preso numa cena à qual não podia escapar e não entender palavra. Voltou-se para Toriyama. Ao menos esse ainda se lembrava que sabia falar em inglês.
- Por favor, o que dizem eles?
Toriyama olhava para Vegeta pálido de susto. Tiago levantou a cabeça para as alturas e viu, apesar de tudo se desenrolar novamente com uma rapidez que raiava o impossível, Kilm atingir Vegeta com um golpe seco com a mão e depois o despenhamento do saiyajin no bosque, abrindo um novo rego entre as árvores, oposto àquele criado por Kilm.
- Vegeta!! – chamou Goku.
- Son-kun, deixa-o utilizar os ataques flamejantes – aconselhou Toriyama.
- Mas assim iremos interferir na tua dimensão.
- Vocês já o fizeram... O Big One de março é obra vossa... não é?
- O grande terramoto que provocou o tsunami?
- Hai.
- Acho que... que sim. Eu não sei como... Foi talvez quando a porta dos mundos se abriu e as dimensões se baralharam. Peço-te perdão, Tori-sama! Nunca imaginámos provocar uma tal tragédia no teu mundo, no teu país. Por muito que possa fazer, com a ajuda de Vegeta, nunca será suficiente...
- Comecem por derrotar aquele monstro com o cabelo encarnado. Depois restaurem a ordem nos diversos universos. Acho que será suficiente. Nós ficaremos, a honrar a memória e os nossos mortos, a aprender a lição dos deuses.
- Fomos nós, não foram os deuses.
A pairar por cima das copas das árvores que se agitavam, Kilm chamou pelo príncipe.
- Vegeta-chan, vamos! Não me digas que já desististe?
Escutou-se o som de madeira a partir-se. Surgiu uma luz muito brilhante que se esvaiu para os céus em grandes e grossos raios. Com um salto, Vegeta surgiu diante de Kilm, a brilhar com a esplêndida energia de um super saiyajin. Estava ferido, o braço esquerdo sangrava.
- Deixei que me atacasses para ver até onde ia o teu poder e fiquei muito satisfeito com o que descobri – explicou Kilm com um meio sorriso zombeteiro. – Não me digas que isso é um super saiyajin? Então, confirmas a lenda.
- Não me impressionas com essa tua falsa coragem. Sei que, por dentro, tremes ao contemplar o espetáculo que te estou a oferecer tão generosamente. Hai, isto é um super saiyajin!
- Ah!, eu também quero ser um super saiyajin.
Aquela resposta causou um arrepio a Vegeta.
Kilm ergueu os dois braços para o alto, com os dedos indicadores esticados. Uniu-os por cima da cabeça, como se estivesse a dançar. Um trovão ribombou no horizonte longínquo.
Estava escuro como breu e arrefecia muito depressa. Goku voltou-se para trás.
- Tiago-kun, leva Tori-Sama daqui. Fujam, depressa!!
- O que disse ele?
- Disse para nós fugirmos – respondeu Toriyama.
- Mas por que é que eu deixei de o perceber?
- Não interessa. Façamos o que ele diz.
Um segundo trovão soou mais próximo deles. Kilm permanecia na mesma posição ridícula, fitando Vegeta como se lhe quisesse ler a alma. O saiyajin impacientou-se.
- Se não atacas tu, ataco eu!
Mas quando puxou um braço atrás, sentiu uma explosão ruidosa envolvê-lo, congelar-lhe todo o corpo num só golpe e um gelo estranho espalhar-se por ele, como se tivesse sido atirado para um mergulho forçado num oceano frio e viscoso. Piscou os olhos, para conseguir ver Kilm que se desfocava diante dele. O coração batia-lhe dentro da cabeça. E viu o que não desejava ver, o que seria impossível.
Kilm brilhava com a intensidade amarelada de um super saiyajin.
Pelo menos, já não estava naquela posição ridícula de bailarino.
Mas fora precisamente essa posição ridícula que lhe dera a possibilidade de sugar a energia do seu adversário e de ter transferido para ele o que Vegeta era. Um dos truques de Yardrat, certamente! Uma técnica engenhosa, mas desleal.
Goku também estava siderado. Considerava seriamente a possibilidade de atacar Kilm, mas primeiro teria de convencer Vegeta disso. Ele nunca o admitiria, mas estava numa situação incómoda em que poderia perder aquele combate. Goku pensava que, talvez sendo dois super saiyajin, Kilm não conseguiria transferir os poderes dos dois ao mesmo tempo e assim seriam capazes de derrotá-lo.
Vegeta sabia que estava no seu estado normal, cabelo tão escuro como aquela noite. Reuniu toda a energia que conseguiu e, lançando os braços para diante, enviou uma série de raios para Kilm. As explosões criaram uma cortina de fumo que engoliu o outro.
No entanto, Kilm era um maldito super saiyajin e defletiu o choque dos raios com uma facilidade que o espantou. Os raios saíram disparados para todos os lados, arrasando com outras áreas do bosque. Goku olhava em redor, desolado e cada vez mais irritado.
A seguir, Kilm atacou. Vegeta defendeu-se como pôde, mas não aguentou o ímpeto de Kilm por muito tempo. Com um grito lancinante, perdeu as forças e estatelou-se no chão, caindo de costas, braços e pernas abertos. Estremeceu e gemeu, a tentar manter-se consciente.
- Vegeta, eu...
- Kakaroto, fica onde estás!
Uma esfera violeta surgiu ameaçadora entre as mãos de Kilm. Deitado e parcialmente imóvel, Vegeta rosnou. Aquele ataque carregava uma energia imensa. Kilm despejava todo o poder que lhe roubara naquele ataque. O seu adversário era prático e conciso e isso agradava-lhe. Ele também não gostava de subterfúgios e que brincassem quando levava as coisas a sério. Mas ali, estava em desvantagem.
Kilm disparou a esfera violeta que desceu até ao chão sibilando como uma serpente. Goku cruzou os braços diante do rosto e defendeu-se. A explosão abanou-o violentamente, engolindo-o numa onda de calor sufocante. O chão fendeu-se, árvores e terra foram cuspidas casando com a onda quente, tornando o ar irrespirável por segundos intermináveis.
Quando o fumo começava a dissipar-se, o bosque tinha sido arrasado.
- Goku-san!
O grito de Tiago alertou-o. Ele viu como o rapaz amparava um corpo inerte no meio da poeira que assentava como uma chuva de cascalho em redor deles.
- Goku-san! É Tori-Sama!
Goku percebeu. Cerrou os punhos, cerrou os dentes.
- Está morto!
- Não o deixes, Tiago-kun. Espera por mim e por Vegeta!
Tudo se complicara irremediavelmente. Goku pensava furiosamente enquanto se aproximava daqueles dois que se enfrentavam num combate assassino. Vegeta dissera que queria matá-lo, ele tentara dissuadi-lo, mas via que essa solução seria a mais acertada, por muito que lhe custasse admiti-lo. Os poderes mentais de Kilm, aprendidos em Yardrat, tornavam-no irritantemente imbatível.
Nisto, um lampejo de sorte mudou o curso do combate. O corpo de Kilm regressara ao original e ele já não tinha o poder de um super saiyajin. A esfera energética que lançara tinha-lhe levado toda a energia. Goku procurou por Vegeta no chão, mas não o encontrou. Voltou a cabeça e viu-o brilhando de forma magnífica por cima dele e de Kilm. Estava ferido e cansado, mas disposto a dar tudo por tudo para terminar definitivamente aquele confronto. Transformava-se em super saiyajin, nível dois. As faíscas azuis assobiavam em redor dele, os cabelos espetavam-se em cachos laranja, as linhas do rosto estavam suavizadas. Teria alcançado o nível três se não estivesse tão esgotado. O novo aspeto intrigou Kilm.
Vegeta encolheu-se ligeiramente, o sangue a escorrer da testa para os olhos. Um urro persistente e rouco vibrava das suas cordas vocais à medida que conciliava toda a sua energia, para desferir um portentoso ataque que seria, desejava ele, último e definitivo.
- Vegeta, para!!! Estás a provocar um tremor de terra!
- Quero lá saber! – resmungou Vegeta. – Vou eliminar este bastardo antes que ele consiga perceber o que foi que o atingiu. Vou mostrar-lhe... o verdadeiro poder de um super saiyajin!
- Mas ele pode roubar, mais uma vez, a tua energia.
- E julgas que eu caio duas vezes na mesma armadilha?! Sai daqui, Kakaroto! Não preciso da tua ajuda.
- Se utilizas demasiada energia...
- Poderei levar-nos de volta!
- Não sabes isso.
- Não, e tu também não.
Goku olhou para Kilm que antecipava aquele ataque com um certo prazer. Contudo, Kilm estava ferido e também cansado. Havia uma esperança. Vegeta prosseguia na concentração do seu poder, estremecendo e urrando, chispas voando em todas as direções.
- Vamos arriscar? – sorriu Vegeta, por fim.
- E se formos parar a outra dimensão que não a nossa?
- Isso será impossível!
- Kilm não veio da nossa dimensão. Já paraste para pensar nisso?
- Quero matá-lo, para começar! Depois, logo paro para pensar no que me estás a dizer... Afasta-te, Kakaroto! Ou também serás atingido e não me vou refrear por causa de ti... - Completou presunçoso: – Pelo contrário!
Por dentro, ainda havia aquele desejo mórbido de o desafiar e de o vencer e Goku afastou-se. Lembrou-se de Tiago. Olhou para o rapaz que protegia o corpo exangue de Toriyama. Não desesperou e a ideia que lhe cruzou a mente, como se uma chispa daquelas lançadas por Vegeta o tivesse iluminado, pareceu-lhe a mais acertada e aquela que eventualmente lhes traria a vitória final sobre o inimigo invisível que enviara aquele Kilm dos infernos para lhes roubar o medalhão e para derrotá-los.
Então, baixou até Tiago, colocou-se numa posição que lhe permitiria defendê-lo se fosse necessário e deixou Vegeta apoderar-se, mais uma vez e sempre de forma exagerada, do palco dos acontecimentos.
Kilm soltou a sua última gargalhada.
Curiosamente, não tentou novamente a técnica mental que o faria duplicar em si próprio o poder do seu adversário. Gritou bem alto, reunindo a força que julgava certa para se defender. Tinha garra ou simplesmente iludia-se com as suas capacidades. Vegeta desatou o seu poder num único golpe.
A terra foi sacudida por um sismo tremendo, que vibrou violentamente naquele sítio e espalhou-se por muitos quilómetros, como uma besta faminta e imparável. Uma onda de energia azul envolveu-os a todos – Goku, Tiago e Toriyama. Vegeta, no seu centro. Kilm, o objetivo da vaga mortífera.
O grito agudo que se escutou foi levado pelo vento.
Depois, silêncio. E a noite ficou mais negra e fria.
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