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XLI - Desistir é igual à morte


O insulto ferrou-lhe a alma como uma dentada. Vegeta cuspiu saliva misturada com sangue e o sabor metálico que lhe invadiu o palato era como a lava fervente, que os vulcões expeliam em rajadas furibundas, a encher-lhe o estômago.

- Macaco nojento!

Odiava essa associação de palavras, macaco e nojento. Recordava-lhe um tempo de subjugação e de humilhação que ele julgava já ter ultrapassado. Mas ali, naquele momento, confrontado com as memórias tornadas subitamente realidade, não conseguia superar os seus traumas antigos.

O ódio profundo que o passado lhe invocava, cravava no seu coração espinhos retorcidos e endurecia o que tinha amolecido com o passar dos anos de uma vida confortável que ele, de algum modo, aceitara com naturalidade. Tudo regressava agora de rompante, acicatando o assassino que dormia dentro de si. Vegeta levantou-se, sacudindo a cabeça para afastar as tonturas. A dor no flanco indicou-lhe que deveria ter um par de costelas partidas. Paciência... Continuaria o combate assim. Dominou a vontade de fazer uma inspiração profunda. Olhou o adversário de esguelha.

Mas como raios tinha Freeza adquirido tanta força, tão de repente?

A criaturazinha detestável, um lagarto alvo como um fantasma, que vinha das profundezas do pretérito para assombrá-lo, olhava-o com um desprezo mortal, o prazer de o estar a superar estampado no rosto inexpressivo.

Vegeta aprontou-se. Aumentou o ki, a luz dourada ondulou irrequieta, as habituais faíscas azuis serpenteavam à sua volta. Não compreendia como Freeza conseguira repelir as suas últimas investidas e como sobrevivera a uma explosão de energia que provocara, lançando uma rajada de projéteis luminosos.

Estava a ser descuidado e a inépcia nublava-lhe o discernimento. Deveria aplicar-se mais. Inclinou-se ligeiramente para diante, sorrindo para desafiar o outro com a sua insolência. Freeza, contudo, não se deixou atingir. Continuava impassível, aguardando por mais um ataque.

Antes, tinha atirado um:

- Macaco nojento!

Também Freeza queria desafiá-lo e apelar ao seu descontrolo. Por momentos, quase o conseguira.

As costelas partidas picaram-no, ignorou a dor com estoicismo. Investiu num salto e atingiu Freeza com um murro tão potente nos queixos que sentiu os nós dos dedos estalar. Este foi lançado pelos ares, deixando, como rasto, um lamento doloroso. Vegeta assentou os pés no chão que era sacudido por um tremor de terra, fincou-os, esticou um braço. Voltou a palma da mão, dedos unidos, para onde o adversário estava e berrou:

- Big Bang Attack!!!

Uma esfera portentosa foi em perseguição do ki que focalizara com esse ataque energético. Freeza desapareceu numa explosão amarela que abanou o planeta até ao núcleo. Os vulcões ribombavam, a fazer coro com as trovoadas que cobriam o céu negro de tempestade.

Um relâmpago chicoteou o ar próximo do saiyajin. Mantinha a pose, pernas bem fincadas, braço esticado, a mão firme. Chovia areia e pedras, à medida que o fumo se dissipava e a luz se dissolvia na meia penumbra daquele planeta do firmamento cor de chumbo. Onde devia estar Freeza, o corpo, restos da criatura, laivos de ki, não havia nada. Não restava nada, aparentemente. Nada sentia, o saiyajin petrificado, a entranhar o que a paisagem lhe transmitia com as suas subtilezas. O tirano fora completamente desintegrado.

Fim.

Então, Vegeta sucumbiu ao cansaço e às dores. Os joelhos bateram no chão que roncava, agitado por um interminável terramoto. Expirou num misto de alívio e de soluço. O suor escorria da sua testa pelas têmporas, encharcava-lhe as roupas em fiapos. Desde Kilm que usava o mesmo uniforme, sem uma couraça que tanta falta lhe fizera. Apoiou as mãos no chão, junto aos joelhos, tentando respirar devagar. Estava desfeito, mas a vitória fazia a adrenalina fluir e aquecer-lhe o sangue com uma emoção há demasiado tempo arredada da sua alma. O guerreiro vitorioso, a saborear o feito impossível, um sentimento tão egoísta quanto precioso, e sentiu-se realizado.

Estava ferido. Estava sozinho num lugar remoto e desconhecido. Apesar de se sentir poderoso, sabia que não conseguiria sair dali sozinho. Relutante, lembrou-se do único que o poderia ajudar.

- Kakaroto...

Riu-se. Estava feito, tinha acabado com Freeza e todas as memórias retorcidas, os insultos asquerosos, a humilhação e a vingança foram desfeitos como quem rasga papel em minúsculos pedaços, debaixo de ventania. Era tudo irremediavelmente varrido para longe, para o esquecimento. E enquanto se ria, não se apercebia que o ki que ele tinha deixado de sentir há pouco, reacendia-se. Os restos reagrupavam-se. O corpo reconstruía-se.

E tudo voltava ao ponto de partida.

Vegeta limpou o suor que escorria para os olhos.

Quando se apercebeu, era demasiado tarde. Olhou para a esquerda. Uma sombra agigantava-se e engolia-o. Abriu a boca, mas o grito morreu-lhe na garganta quando o pontapé se afundou nas costelas partidas. Rebolou desamparado pelo terreno, acabou a resvalar pela encosta inclinada da cratera que o seu último ataque energético provocara.

Agarrou-se às pedras, esgravatando com as mãos ansiosas. Não conseguia respirar. Entreabriu os olhos e viu Freeza, de pé, na beira da cratera, a olhar para baixo, onde ele se estendia como um desgraçado. E que tornou a atirar:

- Macaco nojento.

O imperador do universo ergueu o dedo indicador e inflou uma imensa bola lilás. Vegeta ofegou. Estava praticamente indefeso. Apenas teve tempo para cruzar os braços sobre o rosto incrédulo e torcido.

Freeza lançou a bola lilás.

Enquanto combatia o fogo que o queria desintegrar, Vegeta pensou que aquele combate estava a tornar-se num maldito pesadelo. Freeza atuava de uma forma muito semelhante a Majin Bu, aquela coisa que não morria porque conseguia refazer-se após qualquer ataque que o atingisse. Cerrou os dentes. Haveria de derrotar o tirano e haveria de dançar sobre a tumba que lhe abriria.

Nem que isso lhe custasse a vida. Freeza era assunto dele.

Rechaçou o ataque energético. Elevou-se no ar, de braços e pernas abertos, gritando enraivecido, derramando o seu ki em redor. A bola lilás desfez-se em pequenas bolas que foram expelidas em todas as direções, estoirando aqui e ali, criando um efeito de fogo-de-artifício.

De volta ao chão, Vegeta encarou Freeza. Disfarçou as dores que o atacavam soltando uma gargalhada.

- Deves aplicar-te mais a fundo. Isso não basta para derrotar um super saiyajin! – ironizou.

Mais sério do que o habitual, Freeza não respondeu logo. Cruzou os braços, agitou a cauda atrás de si, num revolteio zombeteiro. Disse, em tom neutro:

- Isto foi só o princípio.

Um calafrio desceu-lhe pelas costas. Vegeta manteve o sorriso, contudo.

Freeza atacou com uma saraivada de raios, tão cortantes como a mais afiada das lâminas. O príncipe foi perdendo energia à medida que defendia cada um deles, com os braços, desviando-se de outros. Devolveu o ataque com uma sucessão rápida de raios seus, mais cortantes que os do tirano.

Mais uma vez e talvez para o confundir, o ki de Freeza sumiu-se, engolido pelos últimos raios que não foi capaz de defender ou de evitar. A explosão final limpou-o da superfície do planeta.

Vegeta tossiu sangue, esfregou a boca com as costas da luva.

Preparou-se para novo embate, na raia do desespero.

O ki de Freeza reaparecia, noutro local.

E o combate sem fim recomeçou.

***

A missão era simples: recuperar o medalhão de Mu.

Olhou para o seu companheiro forçado, que se afastava cautelosamente, mantendo uma espécie de distância de segurança. Não tinham trocado palavra, mas ele não aguentara a curiosidade e perguntara, no caminho até ali, quando voavam lado a lado:

- O que foi que ele te fez?

Inesperadamente, obtivera uma resposta:

- Mostrou-me o meu planeta natal.

- Namek?

Claro que sim, mas o outro não confirmara.

Talvez tivesse sido necessária, a injeção forçada de memórias que não faziam parte dele, naquela dimensão. Nunca tinha havido uma razão para viajarem até Namek, não tinha havido o regresso às origens, o completar do ciclo, o recomeçar e a revisão.

Num gesto repentino, Piccolo travara e agarrara-se à sua túnica, sacudindo-o como se fosse uma trouxa de roupas. Goku deixara-o.

- Não me dirijas mais a palavra! Ouviste-me?

- Está bem, está bem...

Arreganhara-lhe os dentes, rosnara. Estava mais zangado consigo próprio do que com ele, Goku sabia-o, mas precisava de descarregar a fúria em alguma coisa. Não o iria fazer nele, isso era certo. Apesar do aumento colossal de poder, continuava a haver um abismo entre eles e o demónio sabia-o. Empurrara-o por fim e retomara a viagem, imprimindo uma velocidade estonteante ao voo. Goku seguira-o sem dificuldade.

Intrigava-o as mudanças súbitas na disposição de Piccolo. Ora estava contra ele, ora estava do lado dele, ora estava sob o feitiço do Sem-Nome, ora recuperava a lucidez, ora sucumbia ante a vontade de Tori-Sama.

Teve de esquecer tudo isso quando alcançaram o sítio onde pousava a nave de Freeza. Goku não gostou do que viu. Apesar de tudo parecer na mesma, a paisagem tinha mudado. A nave esburacada parecia ter-se deslocado, havia uma luminosidade esquisita a rodear os contornos do aparelho metálico, dos próprios pedregulhos e das montanhas. Os corpos dos soldados que ele e Piccolo tinham eliminado desapareceram e havia como que um caminho aberto na terra a rodear o veículo, que conduzia a um lugar específico onde seria suposto acontecer o encontro.

Goku ia interpelar Piccolo, mas lembrou-se da advertência para não lhe falar e retraiu-se. O demónio, entretanto, subia alguns metros e sobrevoava atentamente a fuselagem da nave. Quando Goku se preparava para se lhe juntar, alguém surgiu repentinamente diante de Piccolo e aplicava-lhe um golpe em cheio na cara. Com um grito rouco, o namekuseijin caiu com espalhafato.

O ki era de um super saiyajin. Goku, atrapalhado pela rapidez do ataque, não o reconheceu de imediato. O instinto fê-lo subir e enfrentá-lo, preparando-se para atacar antes de ser atacado. Mas quando lhe fitou o rosto, exclamou:

- Tiago-kun!

- 'Tousan! Tem cuidado!

Goten interpôs-se entre ele e Tiago. Unindo as duas mãos, disparou um ataque flamejante que derrubou o rapaz da Dimensão Real, fazendo-o sumir-se no interior da nave. Escutou claramente o corpo a embater lá em baixo, a partir vidros e a dobrar paredes no trajeto, com um ruído metálico, fraturante e seco.

- Ele está contra nós? O que foi que aconteceu?

- Não sabemos – respondeu Goten tenso. – Ele deve estar enfeitiçado, ou qualquer coisa parecida. Foi o Tiago quem nos roubou o medalhão e trouxe-o para cá. Eu e Trunks viemos atrás dele.

- Onde está o Sem-Nome?

- Quem?

- Aquele que tem o medalhão.

Goten olhou de relance para a nave. No fundo penumbroso, Tiago recuperava o ânimo. A sua energia agitou-se, perturbando o equilíbrio das coisas. Ele ainda não dominava totalmente os seus novos poderes, mas estava determinado em utilizá-los contra quem escolhera como oponente. Goten encolheu os ombros e respondeu:

- Não sei quem é esse. Não está cá ninguém. A nave está deserta. 'Tousan, eu tenho de ir. O Tiago-kun não desiste.

- Não lhe faças mal. Ele é um dos nossos.

- Eu sei.

Goten descia para a nave e Goku gritou:

- E Trunks?

- Perdi-o!

Aquilo estava a ficar demasiado esquisito para o seu gosto. Os seus músculos retesaram-se, antecipando problemas. Desceu até ao chão e pôs-se a tentar descobrir o caminho desenhado no terreno que parecera ter visto quando ali chegara. Piccolo passou por cima dele, cruzando o céu como um relâmpago e entrou na nave.

Caminhando devagar, Goku rodeou a nave. Tinha os ouvidos entupidos e, à medida que andava, tinha a sensação de entrar num vórtice, num mundo sombrio do qual não sabia se conseguiria regressar. Aparentemente, os olhos diziam-lhe que continuava no mesmo sítio, o enorme transporte espacial de Freeza à sua esquerda, um deserto rochoso a estender-se até perder de vista, um céu azul despido. Mas o coração, a bater apressado no peito, a bombear e a incendiar-lhe o sangue nas veias, dizia-lhe que tudo não passava de uma ilusão e que ele caminhava na direção certa da armadilha.

Queria chegar até esse ponto sem retorno, porque sabia que nesse lugar danado iria encontrar o seu inimigo.

Parou. Viu a ara erguida, um pedregulho liso mais alto que largo, o cimo desbastado e inclinado. No centro talhava-se um triângulo tosco, como se tivesse sido cortado à pressa com um cinzel pouco habilidoso. Percebeu com um calafrio que o cenário mudara. Espessas nuvens negras de tempestade, carregadas de água e de eletricidade, revolviam-se nos céus, enquadrando a plataforma natural onde estava a ara. Em volta não havia nada, apenas um negrume gelado pejado de almas irrequietas.

Era pior que o momento em que enfrentaram Zephir, no Templo da Lua. Era o seu pesadelo regressado, de rompante e Goku estacou, a combater tenazmente o medo que o arrefecia.

Junto à ara surgiu o ser encapuzado. Ao pescoço tinha uma corrente dourada e pendurada nessa corrente, um triângulo, também dourado, com o desenho de um sol rodeado de caracteres de uma língua antiga. A mesma forma cravada na ara, tão perfeitamente igual que o triângulo dourado encaixaria sem problemas no modelo triangular escavado na pedra. Goku fitou o amuleto sentindo a desesperança apoderar-se dele.

- Sabes o que está aqui escrito?

Forçou-se a encarar o espaço vazio que o capuz rodeava. Aquele ser não tinha nome e muito provavelmente não teria rosto, nem teria consistência e seria meramente uma impressão de um sonho mau.

Pior que Zephir; que Majin Bu; que Cell, na sua forma perfeita; Freeza...

Os inimigos que enfrentara ao longo da sua vida desfilavam nas sombras que o rodeavam, uivando lamentos de lembranças comuns. Goku engoliu em seco.

- Não – respondeu.

- "A imortalidade é um dom que se conquista, mas que depois se amaldiçoa". Achas que eu vou amaldiçoar o poder que o medalhão de Mu me vai conceder, Son Goku?

- Não – repetiu e arranjou vontade para inventar um sorriso e completar: – Porque não vais conseguir utilizar o medalhão nesse altar mágico que tens aí.

- Oh... Gosto de te ouvir. Significa que ainda acreditas na tua vitória. Gosto disso... Gosto da perseverança ante a adversidade.

- Sempre que combati, as minhas hipóteses de vitória eram muito baixas. Foi sempre isso que me motivou e foi sempre por causa disso que venci. Ultrapassar os meus limites será sempre um bom objetivo.

- Hum... Conheces a história do medalhão de Mu?

- Mais ou menos... O feiticeiro que o procurava antes de ti contou essa história. Uma história velha, se queres que te diga.

- Antes de mim? Não existe nada antes de mim.

- E nem saberás o que haverá depois de ti.

- Também não existe nada depois de mim, pois eu existo sempre e sempre existirei.

- Isso, eu não sei. Mas estou aqui para me assegurar que haverá um "depois de ti".

- Oh... Os teus limites. Mas receio, Son Goku, que o teu caminho termina neste local, comigo. Não te quiseste juntar a mim, vais pagar o preço pela recusa.

- Veremos! – O saiyajin acentuou o sorriso.

- Mu era um deus bondoso. Poderá existir maior contradição? Um deus bondoso. Quando se é um deus temos de fazer escolhas difíceis. Esmagar criaturas inferiores para nos alimentarmos da sua energia. Não concordas?

Goku não respondeu. O Sem-Nome prosseguiu na sua voz monocórdica:

- Tinha a mesma capacidade do que eu, viajava entre dimensões e assumia várias vidas. Deixou o seu legado neste medalhão. E deixou ainda a imortalidade, que não possuía. Deveria sonhar com a possibilidade de viver para sempre, enquanto morria aos poucos e perdia todas as riquezas que tinha reunido ao viver tantas vidas, em tantas dimensões. Achas que é um castigo ou uma bênção, aquilo que o medalhão de Mu nos concede? O próprio medalhão fala de uma maldição... E se a imortalidade que Mu nos oferece não é somente isso: uma maldição?

- Se tu já és tão poderoso, para que queres usar o medalhão de Mu? Não precisas do que ele te pode oferecer.

- Quero mais, Son Goku. Estou aqui para experimentar o universo. Quem me despertou, não fazia a mínima ideia do que estava a fazer.

- Freeza... Freeza era um imbecil – disse entre dentes.

- Deverás dizer é um imbecil. O teu companheiro ainda não o conseguiu eliminar.

- Vegeta...

- Gosto do teu companheiro. Não é como tu. Perde as estribeiras facilmente e, quando isso acontece, é manobrável. No entanto, julga que comanda sempre o jogo.

- Não fales dele assim.

- O príncipe dos saiyajin, não é?

- Cala-te!

O Sem-Nome acariciou o medalhão de Mu. Goku piscou os olhos e apontou um dedo:

- Pensava que só alguém da Dimensão Real é que podia tocar no medalhão inteiro.

- Essa regra é válida para vocês, criaturas inferiores. Não para mim, que sou um ser supremo. Ainda duvidas da minha divindade?

- Não. Não duvido. Por isso, não percebo para que queres tu o medalhão – insistiu. – A treta que me contaste não me convenceu.

- Podes assistir à maravilha. Aliás, foi por essa razão que te convoquei. Para que sejas testemunha da maior revolução que o universo já conheceu. Vou usar o medalhão no altar mágico e tu, Son Goku, serás o primeiro a ver o que acontece. Será um privilégio. Rejubila, saiyajin!

Goku susteve o fôlego. O Sem-Nome retirou o amuleto do pescoço, arrancando a corrente dourada. As nuvens despejaram relâmpagos brilhantes quando o medalhão foi elevado nas mãos da criatura. A ara assumiu contornos fantasmagóricos, como se palpitasse, ansiando pela reunião com o medalhão.

Ele teria de fazer alguma coisa. Com Zephir não acontecera nada daquilo. O altar saíra imperfeito – havia um losango e não um triângulo e fora esse detalhe que possibilitara à Ana eliminar o feiticeiro, ao usar o medalhão com o vértice principal para baixo. Transformou-se em super saiyajin e impulsionou-se na direção do Sem-Nome para lhe arrancar o medalhão. Sabia que não podia tocar na peça dourada, mas a urgência da situação fê-lo reagir sem medir as consequências.

Um grito distraiu-o:

- 'Tousan! Para!!

Um braço travou-lhe o punho.

A cabeça, cheia de lamúrias, e os ouvidos, entupidos com um zumbido, desanuviaram e Goku começou a hiperventilar, a receber ar renovado nos pulmões. O Sem-Nome, a ara e o medalhão tinham desaparecido e ele estava dentro da nave de Freeza. Olhou para baixo e viu que Tiago agachava-se, a defender um golpe seu. Saltou para trás como se se tivesse queimado.

- O que é que se está a passar aqui?

- Deixa-me, Son! Eu acabo com esse miserável!

A voz de Piccolo surgia amplificada, das paredes e do teto, mas o namekuseijin não se via em lado nenhum.

- Não! Ele é dos nossos!

Goku abriu os braços, a tentar proteger o rapaz que continuava agachado, enrolado como uma bola. Procurou pelo filho, o ki a desvanecer-se, e assustou-se porque cada vez era mais fraco, como se estivesse a morrer. Chamou:

- Goten? Goten, onde estás?

- Sou eu. Son Gohan.

O Sem-Nome estava novamente a brincar com ele e Goku fechou os olhos num repente, a tentar concentrar-se. Tinha os sentidos todo baralhados, voejando como folhas ao vento, sem rumo definido, numa dança aleatória. Tentou agarrar as folhas, uma por uma, como se isso o ajudasse a ordenar as ideias. Uma potente estalada derrubou-o. Goku abanou a cabeça.

- O que é que estás a fazer? Baka!

- Ve-Vegeta? – admirou-se.

- Não!

A capa branca adejou diante dos seus olhos desfocados. Goku esfregou-os aflito. Sentiu um puxão na túnica, viu a mão verde de Piccolo a agarrá-lo para que se aguentasse em cima das pernas.

O ruído de uma luta encarniçada próximo dali sacudiu-o. Goku pediu que o soltasse, mas Piccolo não obedeceu. Prendia-o, não para o ajudar, mas para o conter. Conseguiu perceber porquê ao ver quem lutava contra quem. A seguir, perdeu-se num remoinho de sensações dúbias que lhe provocavam uma enorme ansiedade.

Era Gohan que lutava, contra Piccolo.

Goku olhou para o namekuseijin que exibia os caninos desenvolvidos num sorriso incerto. Não estava a perceber nada. Eram gritos e pancadas e explosões, tudo pegado numa cacofonia irritante. E as imagens sucediam-se como num filme, fotograma a fotograma, por vezes paradas, outras vezes com movimentos rápidos, ou ainda em movimentos lentos e engasgados, como se a película estivesse encravada na máquina.

E ele assistia ao filme. Son Gohan adulto conversava com Piccolo no Palácio Celestial. O pequeno Son Gohan a chorar enquanto Piccolo se irritava. Piccolo e Gohan correndo numa paisagem estranha. A incrível cena de Gohan a matar Piccolo. O planeta Namek deserto e Piccolo sozinho. Gohan sem Piccolo e Gohan a lutar contra Piccolo. Um redemoinho de imagens impossíveis e plausíveis, a um tempo. Verdades e mentiras. Imaginação e recordação. Goku endureceu os músculos do peito e dos braços, lançou um brado gigantesco e soltou-se da mão verde do demónio.

- É assim que eu vivo, Son Goku.

A voz do Sem-Nome envolvia-o como um cobertor demasiado quente, vinda de todos os pontos, ecoando no espaço e penetrando dolorosamente na sua cabeça.

- É assim que eu existo, em cada segundo de tempo. Vejo todas as possibilidades de um momento, as dimensões coexistindo e eu, no meio delas. Não sei o que é o futuro, pois conheço tudo o que poderá ocorrer, consoante as decisões tomadas. Não sei o que é o passado, pois ele enrola-se com o que há de vir. O presente não é real, é apenas mais um dos lugares em que se tomam decisões. A minha vida é desprovida de qualquer pingo de emoção. Percebes o inferno?

O Sem-Nome era uma criança pequena, nua e indefesa, que se sentava perto dele. Já não era aquela figura ameaçadora, velada por um capuz misterioso que ocultava o que cobria.

- Não podes desejar o fim para o universo só porque tu não te enquadras dentro dele – refutou Goku zangado. – As outras criaturas merecem viver as suas vidas normais. Que mal te fizeram para que tu as ameaces com a destruição? Que mal te fiz eu, ou os meus amigos, para que nos tenhas chamado até aqui?

Os olhos redondos e lacrimosos do Sem-Nome fitaram-no.

- Eu não vos chamei... Vocês é que vieram.

- Nani? E esperavas que não o fizéssemos, depois de teres ameaçado o nosso mundo, a Dimensão Real, o universo inteiro? – Goku rangeu os dentes e completou: – Tu sabias que viríamos.

- Talvez... – respondeu num suspiro.

- Se vês o futuro, sabias que chegávamos aqui, a este ponto da história. E agora? Quais são as possibilidades? Tu vês a tua derrota, não vês? Tu nunca vences... não é? É isso que te preocupa. A vitória é sempre nossa.

O medalhão de Mu oscilava entre os dedos pequenos da criança infantil.

- Eu posso alterar o meu inferno utilizando o medalhão no altar. Quero saber se posso ser alguém normal, com um futuro desconhecido desenhado pelas minhas decisões e ações. Ser um deus imortal não é aquilo que eu sou... Não é, Son Goku.

Passos e um ki conhecido fizeram Goku voltar a cabeça. Gohan avançava destemido para enfrentar o Sem-Nome que se postava altivo junto ao altar. Não passava de uma ilusão de ótica e Goku tentou apagá-la do seu campo de visão. Gohan não estava ali com ele. Quem estava ali era Goten. Son Goten!

Uma grande raiva ferveu-lhe no âmago. Goku exclamou:

- Maldito! Nunca te deixarei usar o medalhão!

Descarregou um raio rápido sobre a criança que brincava com o amuleto dourado. A explosão lançou um clarão ofuscante, faíscas, línguas de fogo. O chão tremeu. Goku surgiu no mar branco que se desvanecia lentamente. Expirou ruidosamente. Sabia que não acabara com ele, mas iria tentar fazê-lo da única maneira que conhecia, que era eliminá-lo com o seu poder. Concentrou o ki, aumentando-o descomunalmente, até senti-lo bombear nos músculos frementes.

Na plataforma, a sua capa a ondular fantasmagoricamente, o Sem-Nome exibia descaradamente o medalhão de Mu. Movia os lábios, repetindo uma ladainha que conjurava um feitiço sobre o altar. As nuvens revolviam-se, os relâmpagos estalavam, os trovões troavam, criando um cenário apocalíptico.

Atarantado por a criança ter desaparecido e ter surgido novamente a figura encapuzada, Goku tentou atingir outra vez o Sem-Nome, dirigindo o disparo para a plataforma. Mais uma explosão e nada. Era como lutar contra sombras e tentar abater o vento. Goku não desistia, porém. Uma terceira explosão, mais potente que as anteriores, abriu uma enorme fenda no terreno. Mas o Sem-Nome permanecia incólume, junto ao altar, esquivo como um peixe molhado.

Levantou os olhos, alertado pela luta que havia sentido há pouco e que ele confundira com um confronto entre Gohan e Piccolo. Era Trunks que lutava contra Tiago. De Goten, nem sinal. Nem de Piccolo. Goku não sabia o que mais fazer. Ofegante, esticou o braço direito, agarrando-o com o esquerdo, convocando energia suficiente para disparar outro ataque flamejante.

Nos céus em convulsão, as nuvens ameaçadoras engrossaram e começaram a andar muito depressa, como que empurradas por um furacão. Inchavam e desinchavam, enchendo-se e vazando-se de ar, tomando uma forma alongada e pregueada. Goku deu um passo atrás. A cabeça doía-lhe e, por cada trovão que soava, sentia uma pancada que lhe descia do cocuruto pela espinha, drenando-lhe a força nas pernas. Estava prestes a desfalecer, quando começou a perceber o que se escondia no alto.

Um rugido cruzou os céus.

A ladainha do Sem-Nome interrompeu-se, de repente. Olhou para cima.

As nuvens corriam, voavam, esticavam-se. Lutavam contra quem as dominava e as desfazia, criando um vórtice que engolia o que era mau e repunha o cosmos. O negrume foi perfurado por uma monumental cabeça verde, que rugia espetacularmente.

Goku gritou de pura alegria:

- Shenron!!

E, a cavalgar o cachaço do dragão sagrado, agarrado aos cornos esculpidos em troncos de árvore, estava Tori-Sama.

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