Capítulo 7
Um grupo de infectados começou a correr para fora do grande buraco que se formou no chão, puxei Henry pela mão até as crianças, o grupo de infectados era a distração perfeita para fugir.
Avistei Ellie correndo na direção em que pedi, Henry alcançou Sam enquanto lhe dava cover, tomei investida de um infectado fazendo-me bater contra um carro, Ellie o acertou.
— Entra porra! Entra no carro! — Abri a porta e a empurrei rapidamente, outro infectado me pegou, fechei a porta rapidamente.
— Lorie! — Ellie bateu contra o vidro.
Joel o acertou da torre, parei para recuperar o fôlego mas haviam muitos, comecei a atirar e correr para longe daquele carro.
— Vem porra! — Gritei atirando neles, Laura me puxou para fora da estrada, corremos até uma casa onde ela fechou a porta. — O que você...
— Você o viu? — Ela apontou sua arma para mim, quando notei, a garota estava com uma mordida no pescoço, o sangue escorrendo rapidamente. — Foi você que o matou?
— Ele devia estar morto. — Levantei as mãos em rendição, ela começou a lacrimejar.
— Tudo que construíram, como pode fazer isso? — Apontou sua arma, engoli em seco.
— Eu não sei o que vocês passaram por todo esse tempo, mas eu não fazia parte disso. Danny e eu... acabou, na verdade nunca existiu.
— Continue acreditando nisso pra se redimir por si só, ele morreu por sua culpa! Nada vai mudar isso! — Ela engatilhou a arma e apontou para mim sem hesito, fechei os olhos deixando uma lágrima escorrer pelo meu rosto quente.
— Eu não sei o que aconteceu com vocês depois que os deixei, mas eu sinto muito por deixá-la pra trás. — Senti Laura hesitar, ela parecia tão triste quanto eu, seu coração estava quebrado.
— Cacete. — Laura baixou a arma e começou a bater os pés, não sabia o que fazer.
— Tudo bem, você não precisa fazer isso.
— Eu preciso. Eu preciso fazer isso. — Puxou a arma outra vez e apontou para mim, suas mãos tremiam, ela definitivamente poderia me acertar por acidente.
— Laura. Você não vai fazer isso. — Me aproximei e consegui pegar sua arma, ela baixou os braços outra vez e começou a chorar.
— Eu vou morrer logo, então espero que saiba o que está fazendo. — Ela se sentou no chão e encostou-se contra a parede, fiz o mesmo.
— Eu não. Não sei o que estou fazendo. — Respondi, minhas mãos envolveram minhas pernas.
— Eu queria não odiar você agora. — Ela me disse, mesmo erradiando ódio.
— Tudo bem.
Laura segurou minha mão e fechou os olhos entregando-se a infecção, deixei um beijo na sua cabeça e a acertei com meu canivete. Limpei as lágrimas e levantei implorando para que Ellie estivesse com Joel agora. Quando saí da casa, avistei aquela mesma mulher que nos confrontou mais cedo, apontando a arma para Henry e as crianças.
— Ei! — Chamei sua atenção e acertei um tiro na sua cabeça, o corpo da mulher caiu morto no chão.
Ellie correu até mim e me abraçou com força, estava tão aliviada em me ver. Joel nos encontrou também aliviado em nos ver à salvo, ouvi um monstro gritar no meio da multidão, estavam todos mortos... os soltados se foram.
— Vamos! — Joel pediu, puxei Ellie comigo.
Caminhamos até a ponte, em meia-hora já estávamos longe o suficiente do fogo e do grupo de infectados. Meu olhar estava distante, todos pareciam assustados mas eu estava em choque, Laura, a garotinha que salvei no início de tudo estava tão grande e bem viva.
— Você está bem? — Henry me perguntou, assenti deixando meus pensamentos de lado, Joel me encarou preocupado.
Caminhamos até chegar em um hotel de estrada, já estávamos longe o suficiente da cidade e dos monstros, após averiguar o local entramos e ficamos com um quarto só com duas camas onde as crianças podiam descansar.
— Nós conseguimos, foi difícil, por um segundo pensei que não ia sair daquele lugar com meu irmão. — Henry dizia, estiquei os lábios em alívio.
Observei as crianças rindo e se divertindo no quarto, parte de mim também sentiu alívio em sair viva e poder garantir a segurança de Ellie de algum modo, mas também sentia culpa pelo destino das únicas pessoas que conheci e que ficaram do meu lado durante todo esse tempo.
— Vou dar uma volta. — Levantei, peguei minha arma e saí da sala.
— Aquela garota, elas pareciam se conhecer. Fico pensando o que aconteceu com ela depois da explosão dos infectados. — Henry dizia para Joel, ele olhou para as crianças. — Ela parecia ser nova, devia ter uns vinte e quatro anos.
— É difícil deixar as coisas para trás, desapegar, só para proteger os outros. — Ele se referiu à Ellie, Henry olhou para o seu irmão. — Fico aliviado de não terem que se preocupar com isso como nós.
— É. Eles não tem. — Henry concordou, o mais novo enfiou a mão dentro da mochila e jogou um rolo de curativos para Joel. — Mas as vezes precisamos proteger quem nos protege.
Joel entendeu o recado, levantou, e saiu para me procurar. Estava dentro de um dos carros abandonados, as lágrimas escorrendo pelo rosto quente enquanto memorizava nossas lembranças. Laura, Daniel, eles já significaram muito pra mim, me perguntava o que havia acontecido nesse meio tempo pra me esquecer da sensação de sentir algo por alguém. Talvez sua falsa morte fazia me sentir traída, como uma mentira, ou uma omissão. Joel entrou no carro, desviei o olhar rapidamente tentando esconder minhas lágrimas.
— Suas mãos. — Ele mostrou o curativo, estiquei as mãos mostrando as faixas sujas de sangue e terra. — É melhor manter limpo.
— Como consegue? Continuar, mesmo depois de tudo? — Sussurrei, Joel trocou meus curativos com seriadade e apenas ignorou a pergunta. — A Laura era só uma criança quando a resgatamos, ela estava tão grande, tão adulta.
— É um mundo difícil de viver, não deve se culpar pelo que aconteceu. Seu único objetivo agora é a Ellie.
— Ainda estamos procurando o eu irmão. — Olhei para a estrada bem na nossa frente, Joel assentiu. — O Henry e o Sam?
— Não são nossa responsabilidade.
— Então amanhã eles realmente vão seguir sozinhos? — Perguntei, a resposta era óbvia, Joel apenas assentiu.
— Ellie não vai gostar nada disso.
— Ela não tem que gostar. — Ele foi direto, mesmo depois de quase morrermos, Joel não parecia aflito, assustado ou preocupado. Invés disso, ele parecia agir com normalidade.
— Vai esfriar esta noite, devia entrar.
— Tudo bem, vai na frente eu já vou. — Concordei, Joel saiu do carro e caminhou até o quarto em que estavam. Fechei os olhos e joguei a cabeça pra trás, apaguei completamente na noite.
Quando acordei ouvi gritos, estava coberta por um casaco velho, peguei minha arma e corri até o quarto. Ellie estava sendo atacada por Sam, o garotinho mais novo, irmão de Henry.
— Não! Não faz nada! — Henry apontou a arma para mim, levantei as mãos em choque.
— Que merda é essa Henry! — Gritei, minha vontade era de pular em Sam e arrancá-lo de cima da garota.
— Alguém me ajuda! — Ellie gritava desesperada, meu coração disparou, Joel tentou intervir e Henry atirou no próprio irmão.
O som do tiro entrou na minha cabeça fazendo um zunido estranho, puxei Ellie e a abracei com firmeza. Meu olhos estavam quase pulando para fora do rosto, Henry estava em choque, havia acabado de atirar no irmão.
— O que? O que eu fiz... o que eu fiz. — Ele olhou em volta, a adrenalina batendo rapidamente.
Henry atirou em si mesmo e se matou bem na nossa frente, senti meu estômago embrulhar, Ellie estava tão em choque quanto eu.
— Puta merda. — Olhei para Joel surpresa com a reviravolta, Henry foi corajoso em atirar no irmão infectado para salvar Ellie, mas a coragem logo se foi quando percebeu o que havia feito e então se matou por isso.
— Ellie vai pro quarto. — Joel pediu, a garota foi até o quarto e bateu a porta. — Malorie me ajuda aqui.
Assenti, mesmo sentindo meu estômago revirar, fui até Joel e o ajudei com os corpos. Enterramos os dois enquanto Ellie arrumava nossas poucas coisas, o silêncio entre nós era quase insuportável.
— Ela não devia ter visto isso. — Sussurrei, Joel continuou em silêncio. — Ela é só uma criança Joel, o irmão matou o outro pra salvá-la e depois se matou.
— Eu sei.
— Por que não fez nada? Ficou parado apenas olhando a situação! — O confrontei, ele continuou calado, sem resposta. — Ela podia ter morrido!
Ellie jogou a mochila no chão chamando nossa atenção, soltei um ar de irritação, peguei minha arma e saí. As palavras "resistir e sobreviver" nunca fizeram tanto sentido, agora este era o nosso maior desafio juntos.
— Ellie vamos. — Chamei, a garota olhou para Joel, ele se manteve encarando o túmulo dos irmãos.
Ellie correu para me alcançar, seguimos em frente. Estava ficando cada vez mais frio, Joel me deu um de seus casacos na noite anterior mas estava muito irritada para agradecer e envergonhada demais para devolver. O clima ficou estranho depois dos irmãos, seguimos na estrada por mais cinco dias sem encontrar infectados ou bandidos. Joel e eu discutimos pelos cinco dias seguidos para onde ir ou quando parar, Ellie já não aguentava mais o clima tenso.
— Vamos parar. — Sentei-me no chão, não havia nada para frente nem para trás por bons metros.
Meus pés estavam ardendo em dor e os dias pareciam esfriar com o passar do tempo, logo o inverno ia chegar e teríamos que aguentar caminhar na neve ou pior.
— Não podemos parar aqui, temos que ir para a cidade. — Joel sugeriu, fechei os olhos e me levantei com dificuldade.
— Tem um shopping. — Ellie apontou no mapa, me aproximei para ver. — Sei que não podemos passar pelas cidades, mas seria bom roupas novas e casacos.
— É, ela tem razão.
— Você ta com frio? Tem roupas na mochila. — Joel jogou a mochila para Ellie, a garota olhou pra mim esperando uma resposta. — Não podemos arriscar encontrar outro grupo como aquele.
— Faz dias que não vemos ninguém. — Respondi, Joel concordou.
— E é melhor continuar assim.
— Como espera encontrar seu irmão longe de tudo? — Coloquei as mãos na cintura confusa.
— Eu sei onde ele está, quando chegarmos perto vamos saber. Aliás você também é vaga-lume, eles não vão te machucar.
— Esse título não vale de nada se for um grupo novo, eu nem conheço o seu irmão. — Expliquei, ele encarou o chão pensativo.
— Esquece! — Ellie disse alto, chamando nossa atenção. — Vamos continuar.
— Ellie, os cadarços! — Apontei, a garota parou para amarrar.
— Fecha o casaco, vai esfriar. — Joel mandou, fui até ela e fechei seu casaco.
— Vocês são os pais mais irritantes que já tive. — Ellie brincou, a encarei com irritação. — É brincadeira, desculpa.
Puxei a alça da arma e segui, ela correu pra me alcançar, Joel veio logo atrás protegendo nossas costas. Pensei sobre o que Ellie disse mesmo que como brincadeira, Joel definitivamente era um pai rabugento, aquele tipo que bebe cerveja aos domingos emquanto toma Sol na sacada de casa, já eu... nunca sequer me imaginei sendo mãe, talvez uma vez, uma única vez há muito tempo.
— O que ta pensando? — Ellie pulou do meu lado, permaneci séria.
— Não somos seus pais. — Resmunguei, Ellie riu e me empurrou.
— Eu sei, só estou brincando.
— Não Ellie, eu falo sério. — Virei-me pra ela, a garota parou. — Não somos seus pais.
— Ta legal. — Ela levantou as mãos em rendição, voltei a caminhar. — Eu acho que você seria uma boa mãe.
— Eu acho que você não me conhece.
— Você cuidou bem de mim nesse tempo em que estivemos juntas, pra mim é mais que o suficiente. — Parei no mesmo segundo, Ellie passou na minha frente.
Eu não via a situação da mesma forma que ela, já que Ellie era como um objeto precioso que precisava ser entregue aos vaga-lumes. Então de qualquer modo teria que cuidar bem dela, mas não pelo motivo que acha que estava me preocupando.
— Devagar. — Joel passou na minha frente, Ellie diminuiu os passos.
Encarei o chão pensativa, aquilo me fez refletir, eu seria mesmo uma boa mãe? Não tive a chance de descobrir, e nem pensava em tentar outra vez já que perdi essa possibilidade há anos atrás.
— Vamos parar, já está escurecendo, falta muito até a outra cidade. Vamos montar acampamento na floresta fora da estrada. — Joel explicou, descemos uma ponte e montamos acampamento na floresta como ele pediu.
Estava congelando, tentei aquecer minhas mãos perto do fogo quando notei Ellie estremecendo no canto. Levantei e fui até a garota, sentei-me do seu lado e a abracei tentando aquece-la.
— Não precisa.
— Vem aqui. — A envolvi em meus braços, Ellie sorriu mesmo envergonhada.
— Eu falei que seria uma boa mãe. — Ellie sussurrou, encarei o chão.
— Eu não posso ser mãe, Ellie.
— O que? Por que não? — A garota quase pulou de onde estava, a abracei com firmeza e olhei para o fogo.
— Por que esse é o meu destino.
— Você já teve filhos? O que aconteceu? — A garota insistiu, torci os lábios.
— Isso é história pra outro dia, é melhor você dormir.
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