Capítulo 35
O coração de JJ disparava feito o de um coelho, ele precisava seguir cautelosamente todos os pedidos de Ellie para que nada desse errado.
— Vamos entrar pelos fundos. — Ellie o puxou pela mão, parou quando estava perto da entrada. — Você precisa me seguir e fazer tudo que eu pedir. Está bem? Consegue fazer isso?
— Sim.
— JJ eu falo sério, não podemos errar depois de entrar lá. — Ellie segurou seus ombros, o garoto assentiu. — Fique atrás de mim.
A garota então respirou fundo e se aproximou da porta dos fundos, quando entrou não havia ninguém nos corredores. Pessoas passavam no final do corredor de um lado para o outro sem notar sua presença, então, ela guiou JJ pelo braço de forma cautelosa verificando se haviam câmeras ou quaisquer coisas que pudessem alarmar sua presença.
JJ estava nervoso, sua vontade era de correr procurando por seus pais em qualquer lugar, mas sabia que devia obedecer Ellie agora mais do que em qualquer outra situação. O garoto então analisou o ambiente com cuidado, Ellie o puxou para a primeira porta que viu dando visão de uma sala qualquer de depósito, era pequena, escura e cheia de caixas, não parecia ser visitada com muita frequência.
— Tudo bem, preciso que fique aqui. Eu vou atrás do Joel, da Lorie e da Laura.
— Mas eu posso ajudar. — Pediu, Ellie franziu o cenho e então tocou o rosto do garoto.
— Não posso arriscar que se machuque está bem? Joel e Lorie iam me matar se isso acontecesse. Também não sei quem está armado lá fora, preciso fazer tudo com muita agilidade para que ninguém se machuque. Então por favor fique aqui, eu volto pra te buscar. — Ela o abraçou com firmeza, JJ concordou mesmo decepcionado. — Não importa o que aconteça, por favor espere por mim está bem?
— Ta bem. — Ele segurou a manga da sua camiseta, Ellie deixou um beijo em sua testa com preocupação.
— Preciso que cubra os ouvidos e conte até cem, pode fazer isso? — Pediu, ele não entendeu porque um pedido tão específico, mas apenas obedeceu.
Ellie saiu da sala fechando logo atrás, segurou sua arma com firmeza e então seguiu o corredor até desaparecer. JJ ficou em silêncio no completo breu por alguns segundos, sem entender o porquê da contagem. Até que começou a ouvir os tiros, ele cobriu os ouvidos rapidamente e começou.
— 1, 2... 3, 4... — Suas mãos começaram a tremer sobre sua orelha, ele nunca havia sentido tanta angústia em estar sozinho no escuro, apenas ouvindo os gritos dos saqueadores por trás da porta.
O terceiro homem que Ellie atingira com um tiro na perna, cambaleou até o alarme de incêndio e o apertou antes de tomar outro tiro na cabeça, o sangue esguichou na parede deixando gotas avermelhadas como em um quadro de tinta. Ellie seguiu em frente, um dos homens no chão segurou seu pé, ela o chutou e então o puxou pela gola da camiseta.
— Joel, Malorie. Onde estão? — Perguntou, o homem cuspiu sangue ao seu lado para limpar a garganta, e então rangiu os dentes. — Vai se foder.
— Escuta aqui filho da puta, eu vou matar todos aqui até encontrá-los. Então é melhor que você me diga agora pra adiantar o processo. — Foi direta, o homem riu com dificuldade, Ellie tirou um canivete do bolso e acertou a perna do homem que gritou sentindo uma dor latejante. — O próxima será no seu olho. Anda logo seu merda!
— Você vai morrer igual aquela vadia! — Ele disse deixando-a em choque, Ellie acertou a faca em seu peito tirando sua vida.
Vistoriou os bolsos e pegou a pistola do homem agora morto. Outros saqueadores apareceram todos armados, ela entrou na primeira sala que viu desviando das rajadas. De repente fumaça começou a entrar pela fresta por baixo da porta, eram granadas de fumaça. Ellie rasgou parte da sua camiseta e fez uma máscara improvisada e fez a contagem de três segundos antes de sair atirando. Acertou o primeiro, o segundo, e o terceiro com facilidade, o quarto homem acertou sua perna de raspão fazendo-a perder o equilíbrio, mas logo conseguiu aniquilar ele.
— Cacete. — A garota disse tocando o ferimento, por sorte fez apenas um corte superficial em sua pele.
Ellie notou que haviam placas nos corredores, refeitório, enfermaria, dormitórios. Não conseguia pensar em onde Joel, Lorie e Laura poderiam estar, talvez o tivessem dividido, levado Lorie e Laura para algum quarto. Mais homens surgiram no corredor, Ellie começou a atirar, logo notou que suas balas estavam chegando no fim e teria que pensar em algum jeito de conseguir mais armas. O único jeito seria eliminando mais saqueadores e usando suas armas contra eles mesmos, depois de se livrar de mais três homens, deixando o terceiro em um péssimo estado. A garota pressionou o cano da arma em seu ferimento no abdômen fazendo-o gemer.
— Joel, Malorie. — Foi direta, ele parecia trêmulo, a dor era angustiante. — Onde estão porra! Fala logo!
— Me mata. — Pediu, Ellie insistiu pressionando o ferimento.
— Vai sentir mais dor se não me contar.
— N-no. Está no. Laboratório. — Disse com dificuldade, Ellie tirou sua faca e cortou a garganta do homem sem sequer hesitar.
A garota seguiu o corredor até a enfermaria, onde provavelmente ficava o laboratório. Haviam pelo menos cinco pessoas usando jaleco branco e máscara. Assim que entrou a garota apontou a arma para o primeiro enfermeiro que viu.
— Ninguém se mexe caralho! — Gritou e atirou pra cima, algumas pessoas gritaram, outras permaneceram paralisadas com as mãos pra cima.
Ellie piscou algumas vezes em choque, e dando conta de que Malorie estava deitada sobre uma maca bem na sua frente usando roupa de hospital e uma mascara de oxigênio.
— Lorie! — Ela correu e segurou o rosto da mulher, dois dos enfermeiros presentes aproveitaram a situação para sair correndo. — Acordar ela porra! Acorda agora se não quiser morrer!
Um dos enfermeiros se aproximou e começou a mexer no soro e nos tubos de silicone ligados a veia de Malorie, Ellie ficou estática, os olhos fixados na mais bela diante.
— Lorie sou eu, acorda por favor... — Tocou seu rosto outra vez, levaram longos minutos para que Malorie finalmente pudesse abrir os olhos, a garota respirou aliviada e então tocou seu rosto outra vez. — Sou eu. É a Ellie.
— Ellie. — Sussurrou abrindo os olhos com dificuldade, Ellie virou-se para os enfermeiros.
— Que merda vocês fizeram com ela?! Machucaram ela? Respondam! — Gritou mexendo a arma para dar medo, um dos enfermeiros respondeu rapidamente.
— Estava apenas anestesiada, fizemos alguns exames, só isso. — Explicou.
— Joel, Laura, onde estão?! — Ellie notou a ausência e ameaçou atirar.
— T-tem uma cela no porão, estão lá. — Avisou, Ellie envolveu o braço de Malorie em volta do seu ombro e a ajudou a levantar.
— Vamos Lorie, temos que buscar os dois. — Pediu, Malorie concordou recuperando suas forças aos poucos.
Ellie atirou nos enfermeiros e carregou Malorie para fora, ela arregalou os olhos ao ver todos os corpos no caminho, e o sangue nas roupas de Ellie.
— N-não devia estar aqui. — Ela disse, Ellie apenas ignorou a sugestão.
Assim que viu a placa de escadaria acima de uma das portas, ela abriu com o ombro. Malorie se soltou apoiando-se no corrimão.
— Temos que ir, temos que salvar eles. — Ellie apontou, Malorie parou analisando a situação e então desceu com dificuldade.
Seu corpo estava pesado e o rosto com uma expressão de cansaço, Ellie sequer conseguia imaginar tudo pelo qual ela havia passado ali. Quando chegou ao porão, desceu mais escadas e então se deparou com duas celas, uma delas aberta e com sangue espalhado pelo chão. Joel estava na outra, suas mãos algemadas e uma das pernas enfaixada.
— Joel! — Malorie correu e pegou a primeira chave que viu pendurada ao lado, Joel também parecia exausto, desacordado encostado na parede úmida do cômodo mal iluminado. — Joel. Por favor.
Malorie tocou seu rosto, ele abriu os olhos surpreso e levemente confuso, e então avistou Ellie.
— Amor. — Ele disse e tossiu com dificuldade, Malorie analisou seu ferimento, parecia estar mal cuidado.
— Eu to aqui meu bem, tudo bem, Ellie veio nos resgatar. — Ela dizia, o rosto de Joel estava inchado e o olho esquerdo roxeado. Provavelmente por ser questionado e torturado algumas boas vezes neste meio tempo preso.
— Lorie. — Ellie chamou, Malorie se virou, a garota estava parada dentro da outra cela.
Havia sangue no chão e arranhões feitos nas paredes, seja lá o que estivesse lá, não era humano.
— Ela não está aqui. — Avisou, Malorie olhou para Joel. Ele estava tão confuso quanto ambas, já que provavelmente havia passado a maior parte do tempo desacordado.
— Joel, onde ela está? — Malorie perguntou, Joel estava até então sem resposta. — O que aconteceu? O que aconteceu com a minha filha?!
Ele não respondeu, Malorie levou as mãos até a cabeça sentindo uma tensão angustiante. Ellie só conseguiu pensar em JJ, a garota disparou escada acima. Malorie envolveu a mão de Joel em volta da sua nuca e o ajudou a levantar, felizmente ele conseguia ficar de pé mas ainda tinha dificuldade em andar.
Já fazia um tempo que Ellie havia deixado JJ naquela sala escura, meia hora depois e o garoto estava começando a suar frio. Não ouvia nada além de um silêncio perturbador, a sensação de que alguém entraria a qualquer momento era constante.
— Olá? — Disse quebrando o silêncio, ninguém respondeu. — Ellie?
Ele levantou, abriu a porta, mesmo hesitando e pensando com frequência nas palavras de aviso que Ellie lhe dissera antes de deixá-lo. Quando a abriu, se deparou com sangue, uma trilha avermelhada que levava até o fim do corredor. Sua boca estava seca, a respiração desregulada. JJ logo puxou a arma e tentou controlar o ar em seus pulmões, se fosse necessário usar a arma, sabia que não poderia perder o controle.
O garoto seguiu o sangue até virar o corredor, haviam alguns corpos pelo caminho, ele engoliu em seco. Ao se aproximar e passar lentamente por eles, se deparou com um dos homens se afogando em seu próprio sangue.
— G-garoto. M-me ajuda. — Pediu, ele sentiu seu coração disparar, os olhos quase saltando para fora do rosto em choque diante da situação.
JJ não queria sentir medo, mas não tinha controle do seu corpo, seus olhos começaram a lacrimejar diante do que estava vendo. De repente avistou alguém correr de um lado para o outro, as roupas, o cabelo, aquela silhueta não lhe era estranha. Ele se afastou do homem e correu na direção do movimento, quando virou o corredor, lá estava ela de costas.
— Laura! Eu te encontrei! — Disse animado, enquanto segurava a arma com uma mão, levou a outra até o bolso e segurou o carrinho de brinquedo. — Encontrei uma coisa, preciso te mostrar. Você não vai acreditar...
Seu corpo paralisou por completo, sua irmã virou-se coberta por sangue, as olheiras profundas e o rosto cercado de veias que desapareciam na sombra do pescoço. JJ recuou soltando o brinquedo em uma das mãos, o objeto caiu fazendo um tinido estridente.
— N-não. — Recuou ainda mais, as lágrimas que mal conseguia segurar, escorreram por seus olhos deixando seu rosto quente e molhado. — Não. Não!
Gritou, sua irmã, agora transformada em um infectado. Começou a caminhar na sua direção, JJ apontou a arma, mesmo com o que Ellie havia lhe dito, não conseguia parar de tremer.
— Você n-não podia. — Resmungou para si, ela começou a acelerar os passos, JJ colocou o dedo no gatilho sentindo uma angústia indescritível. — N-não. Para! Por favor para!
Ela continuou, antes de chegar até o garoto, JJ puxou o gatilho acertando sua perna. Ele errou. Laura caiu no chão e começou a se rastejar na direção do garoto com apenas um objetivo, abrir o estômago do irmão para arrancar suas entranhas enquanto ainda estivesse vivo. JJ se afastou mais uma vez, parecia que toda a angústia estava acumulada em seu pescoço, parecia que estava sendo enforcado pela própria culpa.
— Eu disse pra parar! — Gritou, ela continuou se rastejando, os dentes batendo um no outro. — Para!
JJ puxou o gatilho pela segunda vez acertando a cabeça, a irmã caiu e o silêncio se instalou nos corredores. Ele apoiou as mãos nos joelhos, as lágrimas caíram direto no chão. Ele levantou e olhou para a arma pensando que se não tivesse deixado a casa naquela noite... talvez aquilo não tivesse que acontecer, talvez Laura não tivesse que sofrer o destino que ele deveria arcar.
— JJ! — Ellie entrou no corredor e arregalou os olhos, JJ estava parado diante do corpo da irmã apontando a arma para a própria cabeça. — JJ...
— E-ela. — Ele mal conseguia falar, o nariz estava entupido e o rosto úmido e quente. — E-eu.
— Abaixa a arma JJ, por favor. — Ellie implorou, a voz falha, toda aquela situação estava a aterrorizando mais que qualquer situação em toda a sua vida.
— É-é tudo culpa minha. E-ela. E-eles morreram por minha causa. — Disse engasgando no próprio choro, Ellie começou a lacrimejar.
— Não. Não é sua culpa, não é sua culpa que esses monstros estão por aí fazendo essas merdas.
— E-eu sou um monstro também. — Pressionou o cano da arma na própria cabeça, Ellie ficou de joelhos, cedendo a dor de ver aquela cena. — Eu não pedi pra nascer.
Ellie começou a pensar em tudo que JJ presenciou até chegar ali, se culpando por cada situação que ele passou até o atual momento.
— Ele disse que todos iam morrer por minha causa. Essa é a dor que eu mereço. — Ele repetiu as palavras que Ellie dissera, a garota colocou as mãos na cabeça decepcionada consigo mesma. — Eu fiz coisas que um monstro faria. Eu m-machuquei ela.
— Não foi você quem a machucou, foram eles, foram aqueles homens. — Ellie tentou explicar, ele negou. — Eu sei que está sentindo como se... como se nada tivesse sentido. Mas você não está sozinho. Eu to aqui, Lorie e Joel estão bem, estão vivos. Nós te amamos JJ, então por favor, abaixa a arma.
— Eu não quero te machucar.
— E não vai. Você é minha família, e eu preciso de você. — Explicou, ele baixou a arma devagar. — Tenho tanta coisa pra te mostrar, o museu lembra? Vamos ver os planetas juntos.
Ele encarou o chão, Ellie se aproximou e pegou a arma com cautela. JJ a abraçou escondendo o rosto, logo Malorie e Joel cruzaram o corredor e os encontraram.
— Não! Deus. Não! — Malorie gritou passando pelos dois e indo direto até o corpo. — Minha garotinha. Minha... não. Não.
Malorie segurou o rosto da filha, as lágrimas caíram direto no pequeno rostinho. JJ olhou para a mãe sem sequer soltar Ellie do abraço, a garota sabia que não podia deixá-lo escapar, não podia deixá-lo sofrer sozinho.
Joel não expressou reação, sabia que algo assim iria acontecer, principalmente depois de tudo que passaram presos naquele lugar. A dor em seu peito de perder outra filha era incomparável, mas não podia se deixar abalar, Malorie precisava dele. Por isso, o mesmo se aproximou e a envolveu em seus braços.
— Joel. Não. — Ela dizia segurando a camiseta do marido com força.
— Eu sei amor, eu sinto muito. Sinto muito. — Joel deixou um beijo no topo da cabeça de Malorie, ela notou a presença de JJ e então se aproximou devagar.
O garoto a encarou ainda agarrado à Ellie, Malorie se aproximou e tocou o rostinho ainda quente do filho.
— Meu amor. — Disse com dificuldade, JJ se soltou e encarou a mãe. — E-eu sinto muito por ver isso, s-sinto muito.
— Mamãe. — JJ resmungou e correu para abraçá-la, Joel se juntou ao abraço. — Eu tentei ser forte. Me desculpe mamãe.
— Você foi meu amor, você foi forte por nós. Obrigada, muito obrigada. — Malorie disse o abraçando com firmeza.
*
Tommy não recebeu mais notícias de Ellie ou JJ depois daquele dia, mas nunca perdera as esperanças, sabia que Ellie era forte e determinada além de ser responsável por JJ. Já para Amanda a namorada era completamente capaz de salvá-los sozinha, mas apesar disso, tinha suas dúvidas sobre os riscos.
O mais velho estava entregando algumas cestas de alimentos para Amanda quando viu, ele congelou, um carro estava vindo direto para a fazenda.
— Não acredito. — Tommy disse, Amanda virou-se e sua expressão mudou de séria para aliviada.
Ellie saiu do carro, logo depois Malorie ajudou Joel, e então JJ saiu por último. Tommy notou a ausência da sobrinha e franziu o cenho, apesar da sensação angustiante, estava aliviado por quase todos terem voltado. Ele seguiu diretamente até o irmão e o abraçou com firmeza, Amanda fez o mesmo com a namorada e recebeu JJ com um abraço.
— Fugiu da gente garoto. — Disse para o mais novo, Ellie segurou seu ombro.
— Não conseguiria sem ele. — Acrescentou, a sensação de não pertencer aquele lugar era persistente. Mas talvez lá no fundo Ellie estivesse certa, e toda a culpa acumulada fazia parte apenas do que ele havia pensado consigo mesmo. — Não é amigão?
— Acho que sim. — Ele disse, Ellie tocou seu queixo.
— Vamos entrar, eu to faminta.
— Vou fazer algo pra vocês. — Amanda disse guiando os dois até a casa, Tommy se aproximou da garota e tocou seu ombro. O olhar esperançoso e aliviado novamente, Ellie entendeu assim que trocou olhares com o mais velho.
— Bem-vindos de volta.
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