Capítulo 31
Correr. Foi o que JJ fez pelos últimos quarenta e cinco minutos, fazendo paradas para recuperar o fôlego. Não podia arriscar, o som dos cachorros latindo e as luzes logo atrás, tinham uma diferença de cinco minutos. Quando o garoto finalmente chegou em uma descida, tropeçou na neve e rolou algumas vezes até bater em uma árvore grande, sua cabeça tonteou e os olhos piscaram algumas vezes. Estava muito frio, o vento quase congelava os seus membros.
— Mais um pouco. Só mais. Um pouco. — Ele levantou e continuou a correr, as pernas curtas estavam começando a falhar, foi quando ouviu gritos vindos do meio da mata, não eram gritos normais.
O garoto olhou em volta e então se enfiou dentro do primeiro tronco de árvore oco que viu, por sorte era pequeno o suficiente para se esconder, o corpo não parava de tremer pela adrenalina.
— Vamos! Por aqui! — Um dos homens passou por ele, as lanternas brilhando através da fresta no chão.
JJ cobriu a boca com suas mãozinhas e tentou conter a respiração ofegante, de repente um dos cão de caça enfiou a cabeça dentro do tronco e o puxou pelo pé.
— Não! Socorro! — Ele tentou se soltar enquanto chutava o rosto do cão, o animal insistiu, seus dentes entraram na pele do garotinho fazendo-o gritar.
O cão o puxou para fora do tronco, um dos homens o afastou com a coleira e apontou uma arma para o garoto.
— Eu encontrei! — Ele gritou antes de um infectado pular no seu pescoço, o cachorro fugiu assustado, o homem disparou a arma tao perto de JJ que ele acabou ficando confuso. — Porra!
JJ aproveitou para correr, um grupo de infectados encontrou cada perseguidor e começou a atacá-los fazendo ele ganhar um bom tempo. O garoto continuou correndo, as árvores pareciam todas iguais, era difícil lembrar o caminho certo. Foi quando ele avistou as luzes bem distantes, lá estava a cidade. Com o tornozelo machucado, ele continuou seguindo em passos rápidos, mal conseguia sentir a dor graças a dormência que a neve havia lhe dado.
Ele continuou, assim como a mãe havia lhe pedido, ouvindo aquela mesma frase se repetindo na sua cabeça. Até que seus olhos começaram a cansar, e o corpo a amolecer, estava tão frio, ele não podia dormir ali... foi quando avistou uma toca, ele correu e se enfiou no meio das folhas secas sentindo uma dor latejante no tornozelo, estava sangrando.
— E-eu não consigo mamãe... me desculpa. Me desculpa. — Disse antes de adormecer ali mesmo, no escuro, ouvindo apenas os gritos dos infectados correndo pela mata.
Seu coração foi desacelerando aos poucos, até que ele finalmente pôde descansar. Silêncio. Num piscar de olhos um raio de Sol invadiu uma brecha na sua toca mal elaborada, JJ se arrastou para fora sentindo dificuldade em mover um dos pés. Ele resmungou e tocou o ferimento, estava feio, e agora pela manhã era mais fácil de notar a trilha de sangue que havia deixado na neve.
Ele levantou e seguiu caminho até a cidade, era bem melhor de ver na luz do dia. Felizmente não havia sinais de infectados ou perseguidores por perto, então ele continuou num ritmo desacelerado. Seu corpo estava pesado, cansado de tanto correr na noite anterior, e o seu peito doía ao respirar.
— Ruivinha! É melhor se apressar, vamos pra casa do tio Tommy. — Ellie disse enquanto Amanda tentava tirar o esquilo da armadilha, a garota ouviu um estalar na mata e virou para olhar, segurou seu arco com firmeza.
— O que foi? — Amanda perguntou logo atrás, Ellie não avistou nada.
— Se concentra, já estamos atrasadas. — A garota avisou, a ruiva continuou retirando as partes do esquilo.
Num reflexo Ellie puxou uma flecha e colocou em seu arco, quando o levantou na direção do barulho, a sua postura se desfez.
— Puta merda. — Ela disse boquiaberta, JJ saiu de trás das árvores mancando. — JJ!
A garota correu na direção do mais novo, ele caiu em seus braços exausto, Ellie sem sequer imaginar o que havia acontecido com seus pais e irmã.
— JJ fala comigo! Garoto! — Ela tocou seu rosto, ele estava gelado, os lábios azulados.
— Vamos levar ele pra dentro, vou acender a lareira. — Amanda disse, Ellie colocou o arco nas costas e levantou JJ em seus braços.
Felizmente ele era pequeno e leve o suficiente para ser carregado, a garota correu logo atrás da namorada até sua casa há uns três minutos daquele mesmo lugar. Assim que chegaram, Ellie largou tudo que carregava e levou JJ até a lareira na sala, ele estava frio e tremendo feito um animal assustado.
— Aqui. — Amanda o envolveu em um cobertor, Ellie tentou esquenta-lo com o atrito de suas mãos. — Vou pegar uma bebida quente.
— Ei amigão, pode me contar o que aconteceu? Onde estão Lorie e Joel? E a Laura? — Ela foi direta, JJ estava calado, mas ainda sim inquieto, havia visto muitas coisas neste meio tempo.
— El, o tornozelo. — Amanda apontou, Ellie tocou no tornozelo, JJ gemeu de dor.
— Vai chamar o Tommy, agora!
A garota disparou para fora da casa, Ellie pegou o kit de primeiros socorros e fez um curativo no tornozelo de JJ.
— Ei amigão, eu sei que está assustado, mas pode falar comigo... — Ellie segurou a mão do garotinho, ele engoliu em seco, soltou um ar curto e abafado.
— E-eles. A mamãe me mandou correr, e-eu não fiquei. Eles vieram atrás de mim, m-me desculpa. — Disse o garoto gaguejando, era quase impossível falar enquanto chorava.
— JJ, eu preciso saber quem veio? Quem estava atrás de vocês?
— E-eu não sei. Eles estavam com máscaras e tinha um cachorro, ele mordeu minha perna. — Ele dizia, de repente Tommy entrou pela porta, os olhos arregalados.
— Onde estão? Joel, Lorie? Onde? — Perguntou, JJ se encolheu no lugar, Ellie levantou.
— Temos que ir, eles precisam de nós.
— Ellie. Não sabemos a gravidade da situação ainda. — Tommy respondeu, Ellie levantou.
— Os seus sobrinhos foram feridos por seja lá quem esteja atrás deles. Temos pessoas, temos armas, vamos até lá! — A garoto repetiu, Tommy sequer desviou o olhar, seus olhos diziam muito.
— El.
— Vai ficar do lado dele? — A garota perguntou, Amanda cruzou os braços sem jeito.
— E-eu não. Só que... nem sabemos se estão lá.
JJ levantou e me abraçou, ainda mancando. Tommy não se aguentou e jogou o cabelo pra trás nervoso.
— Tem um rádio comunicador que eu usava pra falar com Joel. — Disse se aproximando, ele se abaixou e encarou JJ. — Garoto eu preciso que me conte o que viu ou ouviu, qualquer coisa.
— Nos escondemos no quarto, eles estavam com armas, atiraram. A mamãe me disse pra pular na neve e correr.
— Puta merda, tiros. — Ellie andou de um lado para o outro, Tommy tocou os ombros do pequeno.
— O que mais?
— Tinham cães, e estavam usando máscaras. E-eles vieram atrás de mim e-e infectados apareceram.
— Espera, tem infectados nas montanhas? Pensei que estava limpo. — Amanda disse, agora ela parecia mais nervosa que o normal.
— Você foi mordido por algum? — Tommy foi direto, JJ negou rapidamente. Ele levantou e deu uma volta. — Eles se movem rapidamente, podem estar vindo pra cá. Tenho que ficar.
— Tudo bem. — Ellie disse, Amanda franziu o cenho, afinal Ellie não costumava concordar tão facilmente. — Eu vou. Vou encontrar Joel e Lorie nem que seja a última coisa que eu faça.
— El.
— Você fica, vai pra cidade, ficará segura lá. JJ tem que ficar em segurança, ele não pode ser visto na cidade.
— Ele vai ficar na minha casa, afinal é da família e Maria não vai se importar. — Tommy disse, Ellie afirmou e deixou o cômodo.
Amanda verificou o ferimento de JJ, enquanto ele observava Ellie andar de um lado para o outro, arrumando suas coisas para deixar a fazenda. A ruiva estava aflita em deixar Ellie ir sozinha, mas não havia muito que pudesse fazer, afinal Ellie era imune e ela não. JJ começou a choramingar novamente, Amanda tocou sua bochecha.
— Você tem sido muito forte sabia? Continue assim, Ellie vai encontrá-los. Vai ficar tudo bem.
— Você acha? — Ele perguntou, a garota sequer hesitou.
— É claro. Ellie é a mulher mais forte que você vai conhecer. Logo depois da sua mãe e da sua irmãzinha.
Ele engoliu em seco, Ellie parou no corredor e os encarou, Amanda foi até a garota e beijou seus lábios. Um beijo sincero de despedida.
— Volta logo. — Ela pediu, Ellie concordou.
JJ foi até a garota e a abraçou escondendo o rosto na sua cintura, ela esticou os lábios entristecida.
— Vou trazer eles pra casa, pro lugar de que não deviam ter saído. — Ela disse, JJ concordou.
Ellie deixou a casa e foi encontrar Tommy, ele estava segurando as rédeas do cavalo que a garota ia usar. Os dois conversaram por breves segundos, antes dela subir e seguir estrada à fora. JJ, parado na varanda, apenas a encarou implorando para que Ellie os encontrasse vivos e em segurança, mas ele sabia que isso não ia acontecer. Não depois do que passou.
Com o cavalo andando lentamente, e com a neve dificultando o percurso. Ellie não tinha outra opção a não ser ficar atenta a qualquer sinal de perigo, afinal JJ havia lhe dito que haviam infectados na área. A garota seguiu calmamente, já estava começando a escurecer quando ela avistou uma trilha de sangue em contraste com a neve.
— Porra. — Disse para si, seu corpo se encolheu em tensão. Ellie seguiu a trilha até alguns corpos dilacerados, de repente infectados pularam das árvores, o cavalo se assustou e ficou de pé. — Calma! Calma garoto!
Ellie tentou acalmar, mas o animal a jogou para trás e disparou para o meio das árvores. Outros infectados correram atrás do animal enquanto outros dois correram para cima dela, Ellie levantou e escapou dos monstros. Apesar de terem o dobro da sua velocidade, ela não ia desistir tão fácil, correu por entre as árvores sem olhar pra trás.
Assim que cruzou outra árvore dando visão de uma trilha onde a neve estava menor, um carro surgiu e atingiu os infectados indo direto contra uma árvore. A garota caiu no chão num reflexo, o coração disparado como nunca.
— Puta merda. — Ela disse puxando uma arma do coldre em sua cintura, Ellie carregou a arma e se aproximou do carro dando uma boa olhada nos infectados esmagados contra a árvore. Havia um som constante alertando que a porta estava meio aberta e a luz do carro estava acesa. — Quem ta aí?
Quando abriu a porta por completo, a garota desfez a postura e guardou a arma.
— JJ. Porra garoto você me assustou! — Ela disse puxando a criança para fora. — Que merda você ta fazendo aqui? De quem é esse carro? Como conseguiu dirigir?!
— Eu peguei emprestado do tio Tommy, pra te ajudar. — Ele disse na maior inocência, Ellie coçou a nuca. — O papai me ensinou algumas coisas, e-eu só não aprendi a parar... nem voltar, nem a virar, nem a-
— Eu já entendi. — Ela disse indo até o carro, JJ se inclinou para visualizar. — Ele não tão fudido, entra aí.
O garoto correu até o outro lado e entrou no carro, Ellie jogou sua mochila no banco de trás. Ela segurou o volante e parou para refletir por alguns segundos.
— Olha, esse é o freio de mão, você puxa quando tudo estiver uma merda e você perder o controle. — JJ se inclinou para perto, concordando com cada palavra. — Esse é o acelerador, aqui fica a marcha, tem o ponto morto, a primeira, a segunda...
Ellie explicou rapidamente cada estágio, imaginando que JJ fosse gravar cada palavra. Ao concluir, ela ligou o carro e tentou dar a ré.
— Porra. Ta preso. — Disse assim que notou, quando saiu do carro, notou que uma das rodas traseiras estava debilitada. E o amasso no capô indicava algum problema no motor. — Mas que merda.
— O que vamos fazer?
— Vou te levar de volta. — Ellie respondeu preocupada, JJ pulou no lugar.
— O que? Não! Eu não vou voltar! Vim até aqui! — Protestou, Ellie passou a mão nos cabelos.
— É perigoso demais, Joel ia me matar se soubesse que está aqui.
— Eu quero ajudar a encontrar os meus pais. E a minha irmã. — Ele foi direto, Ellie encarou o chão reflexiva.
— Você vai me obedecer, e quando eu pedir pra fugir, você vai fugir. — Ellie explicou enquanto JJ concordava com cada palavra. — Temos que achar o cavalo, ele estava assustado mas não deve ter ido muito longe.
Era difícil de se mover na neve, mas Ellie estava determinada a encontrá-lo. JJ tinha ainda mais dificuldade, e com o cair da noite, seus membros começavam a ficar dormentes. Ellie o viu passando frio e retirou suas luvas.
— Aqui. Usa isso. — JJ estendeu as mãozinhas, Ellie colocou as luvas.
— Mas e você?
— Você é pequeno, precisa se aquecer. Meu corpo é grande, pode se aquecer sozinho. — Ela inventou qualquer coisa para enganá-lo, ele apenas concordou como se fosse óbvio. — Vem, por aqui.
Os dois seguiram estrada acima na montanha, em meio a noite e a ventania fria. Os pequenos flocos de neve brotavam feito isopor, não chegavam a ser gelados de tão pequenos.
— Vamos encontrá-los.
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