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Capítulo 24

   O metal cedeu fazendo-me cair com tudo no chão, senti uma contração forte e minhas costas doeram como se quebrassem em mil pedaços. O homem apontou a arma para a minha cara, de repente uma a tubulação explodiu bem acima dos homen dispensando-os. Corri até a porta, desviei de um tiro e caí do outro lado do cômodo. Os guardas de vigia começaram a chegar armados, assim que me viram me ajudaram a levantar e passaram na frente com suas armas.

— Puta merda Lorie! — Tony me encontrou e me ajudou a sair em segurança, Joel e Tommy surgiram armados e assustados.

— Você está bem amor? — Joel segurou meu rosto preocupado, assenti fechando os olhos, ele deixou um beijo na minha testa e me guiou para trás. — Vamos entrar.

— Está bem, Lorie é melhor ir para um lugar seguro. — Tommy respondeu, assenti e segui a rua até encontrar Ellie.

— Vamos. Vamos pra casa. — Segurei seu braço, a garota parecia assustada com o rastro de fumaça vindo do fim da rua.

— Está tudo bem? Você está bem?

— Eu estou. Maria me pediu pra investigar a explosão na enfermaria, os homens responsáveis acabaram me encontrando e incendiaram o escritório do conselho onde ocorrem as reuniões. — Enquanto explicava Ellie ficava cada vez mais surpresa.

— Mas o que aconteceu lá? Eles te machucaram?

— Não. — Acariciei a barriga sentindo alívio, voltei-me para Ellie. — Mencionaram alguém, disseram algo se referindo à ele. Talvez a pessoa por trás disso tudo... seja o que for parece ser muito maior do que uma explosão isolada.

— Então é melhor você ficar fora disso, não é? Quero dizer, Joel ainda está procurando um médico e sua barriga está cada vez maior. 

— Eu sei, é que. Moramos aqui agora, pensar que algo está se formando sem sabermos o mínimo de informações me deixa insegura. — Cruzei os braços, Ellie engoliu em seco, sabia que estava certa.

Joel voltou para casa naquele mesmo dia sujo de fumaça, fiquei preocupada, ele já era velho e tinha mais chances de adquirir problemas com o pulmão.

— Você está bem? Pegaram eles? — Perguntei ao Joel enquanto o via trocar de roupa no banheiro, ele entrou embaixo do chuveiro.

— Vamos interrogar amanhã. — Dizia lavando seu rosto, me encarou por alguns segundos. — E você? Está bem?

Assenti, fiquei parada por um tempo na batente da porta, Joel olhou-me da cabeça aos pés.

— Vem, a água está quente. — Disse deixando a água cair em suas costas, desabotoei minha camiseta e a deixei deslizar pela minha pele até o chão.

Fiz o mesmo com o resto das roupas e caminhei até a banheira, Joel me ajudou a entrar e me segurou para não escorregar. Ele colocou o shampoo em meus cabelos e começou a esfregar, assim que a espuma escorreu junto com a sujeira senti seus lábios quentes no meu pescoço. Senti-lo me abraçando embaixo de toda aquela água quente era a sensação mais prazerosa que poderia ter.

Virei-me e segurei seu rosto, o encarei nos olhos por minutos inteiros, selei nossos lábios com um beijo molhado. Joel subiu suas mãos pela minha cintura até os meus seios e os sentiu, puxei seu rosto e uni nossos lábios com outro beijo, vibrei ao sentir sua língua tocar a minha.

— Você está cada dia mais linda. — Ele me disse, estiquei os lábios e toquei seu rosto, ele segurou minha mão e a beijou.

*

A noite estava esfriando cada vez mais, me encolhi num canto da cama coberta. Depois de conferir as trancas da casa pela segunda vez, Joel se deitou do meu lado e me abraçou tentando me aquecer.

— Você está congelando, quer ficar perto da lareira? — Sussurrou perto do meu ouvido, neguei.

Ele me envolveu em seus braços com firmeza, queria me aquecer a todo custo. Fechei os olhos e adormeci em questão de segundos, não vi nada além de um completo breu até o outro dia. Quando acordei Joel já não estava mais do meu lado, o Sol estava quente pela janela fazendo-me hesitar ao levantar da cama. Mesmo com dificuldade me troquei e desci as escadas para tomar o café-da-manhã, Ellie estava sentada na mesa escrevendo em um caderno, era uma cena engraçada de se ver.

— Estudando?

— Eu não entendo porque tenho que estudar matemática, não vamos usar pra nada. — Dizia, visivelmente estressada com o conteúdo, sorri e sentei-me perto da mesa.

— Precisa saber disso pra ser astronauta. — Peguei uma faria de pão e comecei a passar manteiga, enquanto Ellie falava me servia um copo com suco de laranja.

— Eu vou pilotar a porra de um foguete, não vou usar o seno, cosseno ou tangente.

— Tem razão, é uma merda. — Sorri e dei uma mordida generosa no pedaço de trigo, a garota revirou os olhos. — Sabe o que eu sinto falta da escola?

— Se você disser pudim de chocolate eu atiro em você.

— Era a melhor coisa. — Contestei, Ellie riu e jogou a cabeça para trás soltando uma respiração pesada.

— Você precisa superar isso, é sério. — Pediu, sorri e fiz uma arma com as mãos e apontei para a minha boca indicando que Ellie teria que atirar em mim, a garota negou com um sorriso singelo no rosto.

— Viu o Joel sair? — Mudei de assunto, ela deu de ombros. Encarei a porta como se o esperasse entrar a qualquer momento.

— Bom, eu tenho que ir estudar essa merda de matemática. — Ellie levantou e saiu da mesa, terminei meu café-da-manhã sozinha.

  Amarrei o cabelo e fui até os estábulos tratar dos animais, enchi um balde de metal com água fresca pronta. Assim que a água transbordou puxei o balde rapidamente, senti uma dor forte na coluna como se uma faca fincasse na minha ele.

— Porra! — Soltei o balde no chão, a água esguichou na minha roupa.

— Garota, você está bem? — Roy me perguntou, estendi a mão o afastando.

— É só uma dor comum, estou bem. — Respondi fazendo uma careta, ele se aproximou e pegou o balde.

— Eu faço isso, pode ir.

Me sentei em um banco de madeira perto dos animais, apoiei uma das mãos nas costas e fiz massagem. Ele me vigiou o tempo todo enquanto colocava água para as ovelhas.

— Me diz, o que fez você mudar nesse da água pro vinho nesse tempo que ficamos aqui? — Perguntei de olhos fechados tentando aliviar a dor, ele esticou os lábios.

— Não estou tentando ser algo que não sou, mas as pessoas daqui me mostraram que posso recomeçar. Criar algo novo.

— Pra isso você teria que se redimir, se é o que está tentando fazer saiba que eu não dou a mínima. — Me levantei, senti outra pontada, ele me ajudou a continuar de pé.

— Eu sei, eu sei como se sente. — Me disse segurando meu braço, um lapso de memória me veio a cabeça, me afastei rapidamente.

— Não encosta em mim. — Cuspi as palavras com ignorância, ele encarou o chão.

Percebi em seu olhar que com um toque se lembrou de tudo, do mesmo que eu mas em seu ponto de vista. Lembrou-se do álcool, da agressividade, do palavriado sujo e sem educação.

— Você não sabe como me sinto, porque pra isso teria que apanha feito um condenado. Teria que se esconder dentro do armário de comida, teria que dormir dentro do guarda-roupa, teria que esconder as marcas do corpo com roupas longas mesmo no verão. — Expliquei de forma rápida e grosseira, ele encarou o chão outra vez. — Tem que fazer muito mais do que me pedir desculpas, se quiser se redimir terá que morrer por mim, por quem eu amo.

Ele se manteve em silêncio, peguei o balde e deixei o estábulo. Ele me seguiu com os olhos refletindo sobre cada palavra, saí cerrando os punhos em raiva. Estava tão irritada que sentia minha cabeça fervendoz como se estivesse pegando fogo.

— Aquele merda... — Dizia para mim mesma quando notei Joel voltando para casa, me apressei para chegar logo, ele parecia sério e frustrado. — Joel.

— Oi amor. — Ele reparou na minha presença e sorriu, cruzei os braços.

— O que foi?

— Tem um médico em uma zona de quarentena no norte, ele pode acompanhar sua gravidez. — Me olhou da cabeça aos pés, encolhi os ombros sem jeito.

— Zona de quarentena? Joel, sabe como esses lugares são. Uma vez lá e nunca mair poderíamos sair. — Alertei, ele assentiu.

— Eu sei, mas não podemos arriscar sua vida.

— Eu estou bem, só sinto algumas contrações. Não é nada. — Esfreguei a barriga com carinho, Joel levantou e veio até mim.

— Eu não quero arriscar isso. — Tocou minha barriga e então segurou meu rosto. — Entendeu amor?

— Vocês são nojentos. — Ellie entrou no cômodo fazendo careta, sorri e segurei a mão de Joel em meu rosto.

— Nós somos seus pais. — Brinquei, Ellie revirou os olhos e apontou o dedo para a boca indicando azia.

— Vai sonhando. — Ellie retrucou, a segui até a cozinha, quando cruzei o corredor senti outra pontada em minhas costas. Me apoiei na parede e contorci o rosto em uma careta. — Lorie!

Joel e Ellie correram para me segurar, os dois me guiaram até o sofá. Quando me sentei comecei a sentir o dobro da dor.

— Porra! — Gritei, agarrei o braço de Joel com força.

— Nós vamos sair agora, Ellie arruma as coisas.

— O-o que?

— Vamos sair, vamos encontrar o médico. — Joel foi direto, neguei mesmo com os olhos fechados e o rosto comprimido em uma careta. — É para o seu bem amor.

— N-não Joel. E-eu não quero. — Disse entredentes, ele deixou um beijo em minha testa e saiu.

Em minutos a dor diminuiu, avistei Ellie descendo as escadas com duas mochilas, ela olhou em volta procurando por Joel.

— Mas que merda. Lorie! Você está bem? — Correu até mim, assenti mesmo com o suor quente escorrendo pela minha testa.

— Escuta Ellie, nós não podemos. Não podemos sair de Jackson. — Segurei seu braço, a garota o encolheu sentindo um leve incômodo.

— Amor estamos prontos, Tommy conseguiu um carro. Vamos. Temos que ir. — Joel entrou segurei seu braço e o apertei indicando que queria ficar.

Joel me levantou e levantou-me para fora da casa, Ellie veio logo atrás com as mochilas. Ele me colocou no banco de trás e deixou um beijo em minha testa como quem diz que iria tentar me ajudar de qualquer jeito. 

— Merda. — Rugi entredentes, a dor ia e voltava, encostei-me no acolchoado implorando para passar.

— Ellie vai atrás com ela. — Joel pediu entrando no lugar do motorista, Tommy olhou pela janela preocupado.

— Sabe pra onde ir, vá com cuidado e não parem. — Apontou, Joel acelerou para fora da cidade.

— Lorie? Malorie. — Ellie segurou meu rosto suado, havia apagado de cansaço e dor.

Quando acordei já não estava mais em Jackson, avistei Joel atento no volante e Ellie estava lendo algo. Me levantei com dificuldade, a garota pulou e escondeu os quadrinhos na mochila.

— Joel! — Chamou, estendi a mão avisando que estava bem.

— Como você está? — Joel perguntou me olhando do espelho retrovisor, acariciei as costas.

— Vamos voltar.

— Precisa de um médico. — Ele foi direto e voltou a olhar para a estrada.

— Está cavando nossa cova. — Apertei o banco, Joel olhou outra vez. — Para o carro.

— Joel. — Ellie disse, desta vez em um tom mais calmo.

— Para a porra do carro Joel. — Pedi com irritação, ele segurou o volante com firmeza.

— Não vamos parar, você precisa de um médico. — Me disse, soltei o ar que estava preso em meu peito.

— O que vamos fazer? Entrar em uma área de quarentena e morrer?

— Vou dar um jeito. — Ele assentiu com certeza do que estava falando.

Me encostei no banco irritada, Ellie me olhou e então voltou a ler sua história em quadrinhos. Passei uma hora inteira sem falar ou encara-lo, Joel não sabia o que estava fazendo, tinha medo de algo acontecer e estava agindo por impulso outra vez.

Entramos em uma estrada que passava por dentro de uma cidade abandonada, haviam carros e corpos para todos os lados, corpos queimados, destroços... conseguíamos perceber o que havia acontecido com um olhar.

— Que merda. — Ellie sussurrou, estava tarde e era perigoso fazer barulho em um ambiente novo.

— Alguns sofreram mais que outros. — Acrescentei, ela engoliu em seco. — Falta muito?

— Chegamos em alguns dias, tem gasolina pra chegar lá. — Joel acrescentou, cruzei os braços.

— O que vamos fazer?

— Ainda não sei, eu vou entrar primeiro e ver como é lá. — O plano parecia péssimo e com certeza eu era contra, Joel queria arriscar sua própria vida para me ajudar e isso era loucura.

— Vai entrar lá sozinho? — Ellie perguntou, Joel não parecia ter uma resposta.

— Tommy tem contatos lá dentro, eu vou entrar com ajuda. — Ele me olhou através do espelho, era mentira, por sorte Ellie não percebeu.

— Está bem. — A garota concordou, soltei um ar frouxo de deboche, Ellie não entendeu.

— Se você se ferir lá dentro eu nunca vou te perdoar. — Alertei, Joel assentiu com dificuldade. — Eu te odeio.

— Eu sei.

*

  Senti sua mão tocar meu ombro e logo percebi que havia apagado, Joel sorriu, me levantei e olhei em volta. Alguns dias se resumiram a semanas, demorou o dobro dos dias para chegar ao destino final, minha barriga estava começando a pesar e as dores aumentavam cada dia que se passava. 

— Onde estamos?

— Não muito longe da cidade. — Ele anunciou, indicando uma possível despedida.

— Joel.

— Vamos fazer isso dar certo, eu te amo. — Deixou um beijo no topo da minha cabeça, engoli em seco, fez o mesmo com Ellie e jogou o rifle para trás.

Segurei a manga da sua camiseta, ele parou e tocou meus cabelos. O encarei nos olhos, ele tirou o mapa do bolso e apontou.

— Fiquem por aqui, tem comida e água pra alguns dias. Eu vou voltar. — Avisou, encarei o mapa sentindo meus lábios secos, em parte por nervosismo.

— E se não voltar? — Ellie perguntou, a encarei com receio de estar certa. Joel torceu os lábios.

— Eu vou voltar.

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