Capítulo 2
— Ellie, anda logo porra.
Puxei a garota pelo braço, sua demora estava começando a me irritar. Tess fez sinal para diminuirmos o tom de voz, engoli em seco.
— Para de me apressar caralho! — Ellie sussurrou quase que em seu tom de voz normal, olhei em volta, meu coração estava começando a palpitar alto.
— Por aqui. — Tess apontou, passamos por um portão velho e seguimos caminhando.
Senti um alívio repentino até um guarda meter a lanterna em nossos rostos, todos levantaram as mãos.
— Você? O que estão fazendo aqui?! — Ele apontou para Joel, olhei para os dois confusa.
— Conhece esse cara?
— Escuta, a gente precisa sair. Eu te arranjo mais uns pacotes. — Ele dizia, sugeri que estivessem falando de drogas só pelas olheiras escuras e a forma como o soldado segurava a arma, trêmulo.
— Alguns? Vou querer todos. — Ele virou Joel e tirou um medidor do bolso, mirou direto na nuca dele, verde.
— Qual é, somos nós. — Tess tentou aliviar, Ellie estava começando a ficar inquieta.
— Vocês vão pra forca! Esperem só até descobrirem! — Ele passou o medidor na Tess, verde.
— É só nos deixar ir, não queremos problemas. — Tentei argumentar, ele me virou com agressividade, verde.
— Vocês já estão com problemas. — Dizia indo até Ellie, quando colocou o medidor na sua nuca, a garota tirou seu canivete e acertou direto na sua perna.
Joel o empurrou para longe surpreso, puxei meu rifle e apontei direto para ele. Ellie levantou do chão, o soldado apontou a arma para nós, Joel se colocou na nossa frente tentando nos defender.
— Vocês estão mortos agora! — O soldado gritou, segurei a arma com firmeza. — Vou acabar com todos!
No calor do momento Joel pulou no soldado e o derrubou no chão, ele começou a distribuir socos seguidos em seu rosto deixando-o imobilizado. Ellie assistiu tudo com fascinação, era satisfatório assistir alguém brigar pela sua vida bem diante dos seus olhos.
Baixei a arma sentindo meu estômago embrulhar, Joel estava tão focado que nem percebeu quando o soldado havia apagado. Assim que parou olhou para nós, levantou-se do chão e se afastou. Fui até o soldado procurar por coisas úteis, tirei o canivete de Ellie da sua coxa e arremessei para a mesma.
— Parabéns meu velho, fez um estrago e tanto. — Dei dois tapinhas no seu ombro antes de passar por ele, de repente o medidor apitou em vermelho.
— Que droga. Joel! Ela ta infectada! — Tess gritou, arregalei os olhos e encarei Ellie.
— Mas que merda.
— Não não! Olhem! Eu não to infectada! — Ela levantou a manga da camiseta dando visão de uma cicatriz feia, puxei seu braço para analisar melhor. — Isso aconteceu algumas semanas, eu não sobreviveria tanto tempo!
— Ta mentindo! — Tess a confrontou, fiquei entre as duas.
— Se afasta, agora. — Segurei minha arma, Tess recuou sentindo-se intimidada.
— Joel. — Ela chamou, Joel verificou o guarda outra vez e então passou por nós levando Ellie junto.
— Não temos tempo, estão vindo. — Avisou, segui logo atrás dele.
Passamos por um buraco estreito e então seguimos direto para a cidade grande, a cidade desprotegida na qual não tínhamos nenhuma informação. Joel nos guiou até uma antiga loja de conveniência vazia, e para a nossa sorte, segura.
— Pode ir se explicando. — Tess pediu assim que fechou a porta, ainda estava entre Ellie e os dois velhos irritantes.
Virei-me para Ellie implorando por ajuda apenas com um olhar, ela sabia que nos devia uma explicação mas não fazia ideia de por onde começar. Virei-me para os dois bem na minha frente com as mãos para cima, ainda tentando defender ela.
— Escutem, por que não descansamos hoje? Eu prometo que ela dará uma explicação à vocês. — Tentei argumentar, Joel parecia convencido e exausto. Assim que Tess o encarou esperando uma resposta, o mesmo assentiu e sentou-se em uma cadeira.
— Você vem comigo. — Puxei Ellie pelo braço até o outro cômodo, o senti me seguindo com os olhos. — Que porra é essa Ellie? Você foi mordida?
— Você viu. — Ela foi direta, cruzei os braços segurando a paciência com firmeza entre minhas mãos.
— Não achou que seria melhor ter me contado antes de sairmos com dois estranhos?! — Quase gritei, mantive o tom levemente alterado.
— A Marlene disse pra manter em segredo, disse que era só seguir o plano.
— A Marlene não ta aqui. — Retruquei, Ellie desviou o olhar tentando pensar em uma resposta.
— Eu sei ta legal? Mas isso é importante. Precisa confiar em mim.
— Eu não preciso saber de nada, não me importa se você foi mordida, se sobreviveu ou se vai se transformar em dias, horas, talvez meses. — Tentei alertar, Ellie bufou. — Mas aqueles dois se importam, ta me entendendo?
— O que você quer que eu faça? A merda já ta feita.
— Garotas. — Tess chamou nossa atenção, fiquei na frente de Ellie outra vez. — Falem mais baixo.
Ellie passou por mim e foi até o outro cômodo, virei-me para o outro lado e usei as prateleiras como apoio, levei a cabeça para baixo tentando aliviar a tensão. Joel entrou e começou a buscar por suprimentos, notei que sua roupa e mãos estavam sujas de sangue, ele havia acertado em cheio aquele soldado.
— Estão ali. — Apontei, ele olhou para mim com seriedade. — Ataduras.
Ele alcançou o rolo de tecido na prateleira e encostou-se no balcão, começou a enrolar a faixa sem limpar os ferimentos.
— Isso aí pode infeccionar. — Apontei, ele continuou enrolando apertando cada vez mais, notei sua mão trêmula.
— Está bom assim.
— Eu faço. Para. — Puxei sua mão, Joel desviou o olhar, molhei a gaze e comecei a limpar sua mão suja de sangue. — Você arrebentou feio aquele soldado.
Ele continuou em silêncio, assim que terminei puxou sua mão com ignorância.
— Obrigado. — Resmungou, ri de sua dificuldade em pedir desculpas.
— Escuta. Você é velho então sua mão vai ficar com esses espasmos até se acostumar outra vez. — Tentei explicar, ele parecia entretido com a explicação. — Quando sentir que perdeu o controle, feche a mão com força por dez segundos.
— Como sabe dessas coisas?
— Remendei algumas pessoas nesses anos. — Coloquei as mãos nos bolsos, ele apenas assentiu mantendo sua seriedade costumeira. — Escuta Joel, aquela garota é minha responsabilidade. Eu asseguro que ela não vai causar problemas.
— Ela já causou problemas. — Afirmou, desviei o olhar irritada por sua arrogância.
— Vai fazer o que? Matar uma garotinha de quatorze anos? — O confrontei, Joel passou por mim levemente irritado.
— Ela não é uma criança, é um monstro. — Joel insistiu, cerrei os punhos com força e então desisti de tentar convencer ele.
— Tem tanto medo assim dela? Ellie é saudável, e humana. Não consegue ver com seus próprios olhos?
— Aí vocês dois, disse que íamos deixar a explicação para a manhã. Então podem por favor calar a boca? — Tess nos interrompeu, fui para o outro cômodo com Ellie.
A garota parecia exausta, dormiu feito uma pedra na cama de grama fofinha no meio da loja. Sentei-me em um canto escuro e fiquei afiando meu canivete, uma lembrança de que poderia usá-lo a qualquer momento sobre qualquer sinal de hostilidade.
Foi uma noite longa, me senti cansada por alguns períodos mas não desisti minha vigia continuou persistente até amanhecer. Ellie acordou agitada, Joel e Tess não tiraram os olhos dela nem por um segundo.
— Qual é gente. Eu sou humana. — Ellie protestou, Joel e Tess continuaram sentados encarando.
— Como sabe? — Tess perguntou.
— É sério? Eu como, eu ando, eu durmo, eu sinto frio, sinto sede e fome. — Respondeu rapidamente, os dois trocaram olhares.
— E por que a Marlene estava com você? Por que ela quer que te levemos com tanta segurança? — Tess perguntou, Ellie olhou para mim esperando uma intervenção mas estava tão curiosa quanto eles.
— Porra ela disse pra eu não contar. — Ellie encarou o chão, Joel levantou entendiado, como se já soubesse o rumo que a conversa estava tomando. — Ela acha que podem descobrir uma cura, que está em mim.
— Besteira. — Joel cuspiu, o encarei incomodada com a mudança de postura tão rápido. — Não existe cura milagrosa, já ouvi essa história antes.
— Talvez exista Joel, talvez agora funcione. — Tess tentou convencer ele.
— Ela até tem razão, quero dizer, por que outro motivo Tess ia proteger a Ellie? Olha pra ela, está bem e viva semanas depois de ser mordida. — Apontei, Ellie levantou com uma expressão de tédio no rosto.
— Se ela começar a tremer eu atiro. — Joel levantou perdendo a paciência, Ellie fingiu estar virando um infectado, a empurrei.
— Que foi? Sem graça. — Riu, Joel abriu a porta e a luz do Sol bateu direto nos meus olhos.
— Podemos ir. — Avisou, saí da loja tendo a vista da cidade grande completamente destruída e ainda sim verde, a natureza tomou conta dos prédios, carros e construções.
— Puta merda. — Ellie disse boquiaberta, e então correu para os alcançar, permaneci bem atrás apenas vistoriando nossas costas. — Para onde vamos?
— Temos dois caminhos, o mais curto e perigoso. E o demorado e menos mortal. — Tess explicou, Ellie engoliu em seco.
— Vamos pelo curto. — Sugeri, Tess franziu o cenho confusa.
— Vamos pelo seguro. — Joel sugeriu, Tess concordou.
— Escuta, quanto mais rápido chegarmos no outro lado, melhor.
— É, mas não vai importar se chegarmos mortos. — Ellie retrucou, estava preocupada.
— Estamos em quatro, três armados, damos conta de seja lá o que vamos encontrar no caminho.
— Já viu um? Já lutou com um? Eles não são pessoas. — Tess tentou explicar, puxei minha arma.
— Os dois morrem com uma bala na cabeça.
— A diferença é que tem que gastar um pente pra matar apenas um deles. — Joel disse com seriedade, engoli em seco, seus olhos pareciam ver até a minha alma.
Revirei os olhos e segui até o prédio seguro, Ellie correu para me alcançar na frente. Joel e Tess vieram logo atrás vigiando nossas costas.
— Ela te incomoda não é? — Tess puxou assunto com Joel, e quanto ele seguia nos vigiando.
— Ela é burra e age como criança por isso se dão tão bem, as duas tem a mesma idade. — Sugeriu, Tess riu e encarou os pés.
— Você gostou dela.
— Não começa. — Resmungou de volta, ela riu. — Eu só quero cumprir com o plano e pegar o maldito carro.
— Não acredita nela? Na garota?
— Vinte anos. Vinte anos prometendo essa maldita cura.
— Olha pra ela Joel, não parece saudável pra você? — Tess apontou, Ellie estava imitando um infectado, a empurrei.
— Que droga! Eu pisei na lama! — A garota gritou, a empurrei outra vez. — É melhor você parar!
— Eu admiro muito essa expressão de raiva na sua cara. — Brinquei, ela me encarou com ódio.
— Eu vou colocar a expressão de dor na sua! — Ellie puxou seu canivete, fiz o mesmo com um sorriso malicioso.
— Já chega, estão falando alto demais. — Tess repreendeu, guardei o canivete e revirei os olhos, Ellie notou.
— Nunca me disse onde você é. — Ellie puxou assunto, continuei andando.
— Por que precisa saber? Nós estamos aqui agora.
— Só tô jogando conversa fora, eu não me importo. — Ela deu de ombros, puxei um sorriso em meus lábios olhando para bem distante do que tinha na minha frente. — Como foi pra você? Quando tudo começou? Você tem pais? Nós nunca chegamos a conversar direito naquela prisão.
— Nós não vamos fazer isso. — Virei-me para ela de forma séria, Ellie arqueou as sobrancelhas surpresa. — Apesar das brincadeiras não nos conhecemos, e eu prefiro continuar assim.
— Por quê? Do que você tem medo? — Engoli em seco, a pergunta me pegou desprevenida.
— Fica atrás. — A empurrei, Ellie não entendeu a mudança de humor repentina, um lapso de memória me atingiu em cheio durante a conversa cortando completamente quaisquer vínculos que poderia se formar. Não. Uma lembrança do que eu não faria de novo.
— O que foi? — Tess a alcançou, Ellie deu de ombros e apenas seguiu em frente.
— Lorie espera! — Joel gritou com sua voz grossa, o tipo de tom em que poderia facilmente utilizar para repreender sua filha rebelde.
— Malorie. — O corrigi no mesmo tom de seriedade, ele passou por mim com o rifle em mãos.
Paramos em frente à um cômodo submerso por água suja, a forma como a natureza dominou os prédios e construções pensava ser a única parte positiva do vírus.
— Que merda, eu não sei nadar. — Ellie resmungou, pulei direto na água e caminhei com naturalidade diante de todo o lodo e sujeira. — Ou podemos só andar.
— Vou verificar. — Os avisei e passei na frente, Tess fez sinal para Joel me seguir. — Virou meu guarda-costas agora?
— Não to aqui pra ser babá.
— Eu não pedi sua ajuda com isso, você se ofereceu. — Apontei, ele continuou com o olhar distante.
— Não estou falando dela.
— Vai se ferrar Joel. — Virei-me para ele surpresa com a resposta, paramos em frente aos escombros bloqueando a passagem, a porta do cômodo ao lado estava trancada. — Porra. Eu vou subir, me ajuda.
— Não sabemos o que tem do outro lado.
— Só me ajuda, eu abro a porta quando passar. — Apontei para a porta trancada, Joel ficou de costas para os escombros e juntou as mãos.
Pisei com firmeza e ele me impulsionou para cima, me esgueirei através da pequena passagem direto para o outro lado. Ellie e Tess chegaram logo depois, conseguia ouvi-los conversando enquanto pulava para a sala ao lado.
— Se dando bem com sua colega de trabalho? — Tess brincou, Joel parecia irritado.
— Ela não é ruim. — Ellie acrescentou. — Só é babaca as vezes.
— Aí. — Abri a porta assustando-os, Joel apontou o rifle para mim. — Ta livre.
Abri a porta o quanto pude, os três passaram. Subimos até o último andar para ter uma visão mais ampla do prédio e da região, a área logo na frente estava cheia de infectados.
— Puta merda. — Ellie disse boquiaberta, na medida em que o Sol passava pelos corpos fazia com que se movessem feito plantas. — Existem outros?
— Não sabemos. — Joel respondeu, meus olhos estavam fixados neles, apreciando a forma esquisita como se comportavam.
— São conectados pelo fungo, se matarmos um, os outros vem atrás. — Tess explicou.
— Então nada de Espreitadores ou aqueles que enxergam no escuro? — Joel e Tess trocaram olhares, sabiam de algo.
— Não se preocupe com isso. — Chamei a atenção de todos, apontei com a cabeça. — Esses dois sabem de tudo.
— Então o que vamos fazer agora? — Ellie virou-se para Joel e Tess.
— Vamos pelo caminho curto.
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