Capítulo 12
Apontei a arma pronta para atirar, aquele rosto, aqueles olhos... eu estava pronta pra acabar com sua vida e o trauma que me causou por anos.
— Não vai atirar em mim. — Ele levantou as mãos tentando se aproximar.
— Quer apostar? — Engatilhei a bala, um de seus capangas acabou me acertando pelas costas, a arma deslizou até os seus pés.
— Não acho que atiraria no seu próprio pai. — Ele pegou a arma e guardou no cinto, seu capanga partiu para cima de mim tentando me imobilizar.
Acertei suas bolas deixando-o paralisado, ele caiu ao lado se contorcendo em dor.
— Sua vadia! — Ele gritou, me levantei e tentei correr, mais homens entraram no corredor cercando-me.
— O que quer de mim? — Perguntei ao meu pai.
— Eu não, você matou o colega deles. Como conseguiu quebrar o pescoço de um homem forte daqueles só com as suas mãos?
— Quer que eu te mostre? — Ameacei, ele riu.
— Perdeu o medo do seu pai? — Perguntou, cuspi no seu pé, só de ouvir a palavra "pai" sentia meu estômago revirar. Roy se aproximou e puxou-me pelos cabelos jogando minha cabeça para trás, segurei em hesito.
— Eu sei que não foi você que fez aquilo, então nos diga onde está o seu amigo e vai viver pra se despedir dele. — Ele aproximou nossos rostos, mostrei os dentes.
— Você não vai ter nada de mim. — Disse entredentes, ele me empurrou para trás, um dos homens me abraçou pelas costas. — Me solta porra! Solta agora!
— Nos deem privacidade. — Ele sugeriu, os homens me levaram até uma das salas de laboratório e me amarraram em uma cadeira deixando-me sozinha com Roy. — Por que está protegendo desconhecidos? Nem mesmo conseguiu proteger aquele seu namorado.
Continuei em silêncio, ele tirou a arma e colocou em cima da bancada, a encarei como se fosse uma ponta solta... uma saída.
— Te matar seria a melhor das opções levando em conta o que pensam em fazer com você. — Ele puxou uma cadeira e sentou-se na minha frente, me encarou da cabeça aos pés deixando-me enjoada.
— Vai se fuder você, e aqueles filhos da puta. — Apontei, Roy sorriu, parecia adorar a situação.
— Olha só pra você, as porradas que levou até que serviram pra alguma coisa.
— Que merda você ta falando? — Apertei as amarras com força, estava irritada, tinha que usar isso ao meu favor.
— Que você tem mais bolas que aqueles caras graças à mim. — Ele levantou confiante e se apoiou em seus joelhos para igualar a altura nos nossos olhos. — Mas aí está você, presa, que merda Lorie.
Cuspi no seu rosto, ele limpou a saliva com raiva e segurou meu pescoço com tanta força que pensei que fosse quebrar. Os seus olhos raivosos, a agressividade, nada mudou mesmo depois de vinte anos.
— Eu vou acabar com você, não tem lei que me impeça agora. — Ele ergueu a mão e me acertou bem no meu da cara, gemi de dor.
Ele levantou outra vez e me acertou, de novo, outra e outra vez, repetidas vezes até o sangue escorrer pelo meu nariz. Até meu rosto sangrar, até sua mão ficar dormente. Apaguei, a dor no meu rosto era latejante, nada comparado ao que senti nos últimos meses com pequenos cortes e ferimentos.
Só conseguia pensar em aguentar, por mim, pela Ellie, pelo Joel... eles estavam bem, ele ia ficar bem, Ellie ia dar um jeito. Quando acordei minha visão estava turva, senti meu rosto inchado e tão dolorido que mal conseguia abrir os olhos.
— Porra. — Resmunguei, Roy estava conversando com seus homens dentro da sala, um deles apontou para mim e saiu irritado.
Ele veio até mim, e se sentou novamente na cadeira, sorri mesmo com dificuldade era bom ver seus homens irritados consigo por minha causa.
— Pronta pra dizer onde estão? — Ele perguntou, confiante de que eu ia responder desta vez. — Escuta, você ta fudida. Se não me dizer vou ter que deixá-los tentar.
— Vai se foder.
— Entendi. — Ele encarou o chão decepcionado, a cada passo que dava na minha direção meu corpo estremecia, Roy seguroume pelos cabelos e me deu outro tapa fazendo todo o meu rosto arder.
— Seu merda! — Gritei, ele levantou a mão outra vez. — Norte.
— O que?
— Foram para o norte. — Tentei confundi-lo, felizmente aceitar o meu blefe era sua única opção.
— É melhor estar certa. — Ele soltou meu cabelo e se afastou, recuperei o fôlego aliviada. — Nós vamos procurar por eles, e você vai ficar aqui com dois dos meus homens.
— Vai me deixar aqui? Com pessoas que você mal conhece?! — Perguntei, ele deu de ombros e foi até a porta. — Filho da puta!
O ouvi pedindo pra ficarem de guarda, encarei o chão, o tempo passou devagar não conseguia definir se eram horas ou minutos. Comecei a me debater na cadeira tentando me soltar, a corda era bem apertada mas a cadeira tinha um metal tão afiado que poderia cortá-la, levaria muito tempo e para minha sorte havia mandado Roy para longe por algum tempo. Comecei a serrar a corda, um de seus homens entrou com um rifle em mãos, ele me encarou com desprezo.
— Ele te deu uma surra e tanto. — Ele se aproximou, engoli em seco sem nem piscar. O homem foi para trás de mim onde não conseguia vê-lo, e chegou ainda mais perto. — Como uma mulher pequena conseguiu fazer um estrago tão grande?
— Chega mais perto e eu te mostro. — Ameacei, ele sorriu e mordeu os lábios.
O homem cobriu minha boca com sua mão enquanto enfiava a outra dentro da minha camiseta, comecei a me debater com raiva.
— Me solta! Filho da puta! — Tentei falar, mas a voz saiu abafada.
— Fica quietinha, faz tempo que não sentia isso. — Ele dizia fazendo meu estômago embrulhar em nojo, balancei a cabeça e consegui pegar o seu dedo, o mordi com toda força arrancando-o. — Sua vadia do caralho!
Cuspi o membro no chão sentindo seu sangue escorrer pela minha boca, o homem parecia incrédulo, a mão esguichando sangue. Seu parceiro veio até mim e me acertou com o cano da arma, apaguei completamente. Quando acordei pela segunda vez, meu corpo estava dormente, senti uma brisa fria bater no meu rosto.
— Cacete. — Resmunguei entredentes, eu estava apenas de sutiã, calça e botas, com minhas mãos amarradas para cima, o meu corpo estava pendurado para fora do prédio.
Gemi de dor tentando recuperar os sentidos, meu corpo devia ter ficado há um tempo ali. Quando me virei com dificuldade, bati o rosto no vidro do andar de baixo, avistei um infectado na parede ao lado da porta.
— Porra. — Estremeci, envolvi as mãos em volta da corda e usei a força para tentar subir.
O infectado correu em direção ao vidro quebrando-o completamente, ele se jogou no ar agarrando-se em minhas pernas, tentei chutar mas estava ficando acada vez mais pesado.
— Que merda. — Um dos homens me viu e puxou seu rifle, ele mirou no infectado tentando acertalo mas estava me movimentando para tentar não ser mordida. — Fica parada!
O homem atirou uma rajada acertando o infectado e quase a mim mesma, ele me puxou para dentro da sala, o acertei com um chute no meio das pernas derrubando-o no chão, usei a corda em minhas mãos para enrolar em volta do seu pescoço e usei meus pés para fazer pressão.
— Me... solta! — Ele tentava falar, insisti.
— Isso é por encostar em mim seu filho da puta. — Puxei com força, não importa se não sentia meus dedos, nada importava agora.
— Mas o que... porra! — Seu parceiro entrou na sala e apontou a arma, usei a arma do outro homem, agora morto, para acertá-lo rapidamente.
Ele caiu e disparou uma rajada na minha direção, as balas passaram rapidamente, uma cortou meu braço de raspão. Assim que o silêncio tomou conta do cômodo, busquei algo afiado no corpo do homem para cortar a corda, ele estava com o meu canivete no bolso direito, alcancei e cortei tudo rapidamente.
Enquanto massageava meus pulsos encarei o homem morto, tirei sua camiseta e seu casaco para vestir, usei parte do tecido para improvisar uma faixa para o meu ombro e então peguei sua arma, guardei o canivete outra vez e deixei o prédio. Por sorte Roy e seus outros três parceiros ainda não haviam voltado. Meu receio agora era encontrar Ellie e Joel, sabia para onde estavam indo, mas da última vez... espero que Ellie tenha dado um jeito de cuidar dele.
Enquanto caminhava encontrei meu cavalo outra vez, ele havia escapado mas não para muito longe. Levantei as mãos demonstrando ser indefesa, ele parou e me encarou, havia me reconhecido.
— Bom garoto. — Fiz carinho no seu rosto, olhei em volta. — Como me encontrou?
— Eu o encontrei. — Ouvi uma voz feminina vindo da floresta, a garota do rio que havia roubado meus esquilos. — Pelos esquilos, agora você me deve.
— Aqui. — Joguei o canivete para ela, a garota o alcancou no ar. — Pronto.
— O que? Não, não é uma troca justa!
— Eu disse pra não me seguir. — Segui em direção à floresta, a garota veio logo atrás.
— Me leva com você!
— Caso você não tenha visto, eu matei mais dois homens o que vai deixar o chefe deles irritado, então não vai querer andar comigo. — Expliquei, a garota colocou as mãos no bolso, subi no cavalo me preparando para ir.
— Então nunca vai achar seus amigos. — Me disse, parei e virei-me para ela.
— Sabe onde estão?
— Talvez. — Deu de ombros, fechei os olhos tentando conter a raiva.
— Sobe. — Pedi, a garota correu na minha direção e subiu no cavalo. — Pra onde?
— Por ali, foram em direção dos trens.
Guiei o cavalo até trilhos, não havia sinal de Ellie e Joel por perto, apenas silêncio.
— Qual é o seu nome? Eu sou a Jessica, mas se formos amigas pode me chamar de Jessy.
— Malorie, e não somos amigas. — Desci do cavalo para procurar pistas, a garota encarou o chão decepcionada com a irritação.
— Aí, o que é aquilo? — Apontou para o chão, me aproximei, era sangue... uma trilha com manchas de sangue dando contraste na neve. — Alguém perdeu muito sangue.
— Joel. — Voltei para o cavalo e o guiei pela trilha direto para a floresta, a trilha não era tão longa Ellie não podia carregá-lo no estado em que estava.
— Ali! — A garota apontou para uma cabana velha bem na nossa frente, desci do cavalo e corri até a casa, entrei tão rápido que sequer cogitei em bater.
— Ellie. — Avistei a garota sentada em um banco no corredor, ela levantou supresa em me ver, o rosto vermelho e os olhos quase lacrimejando.
— Porra Lorie. — A garota correu até mim e me abraçou com força, retribuí com muito alívio, assim que se afastou notou a presença da minha mais nova aliada. — Quem é ela?
— Agora não, onde ele ta? — Olhei em volta, fui até o corredor e entrei na sala, Joel estava levantando do sofá com dificuldade. — Graças à Deus.
Corri e levantei sua camiseta, o ferimento estava costurado mas ainda recente. Joel segurou meu rosto e olhou diretamente para os meus ferimentos, pisquei algumas vezes, seu olhar de chateação mudou rapidamente para raiva.
— Eu vou matar todos eles. — Ameaçou, o sentei no sofá preocupada com o ferimento.
— Você devia ficar sentado, vai abrir o ferimento. Aliás, como conseguiu costurar? Deve ter doído.
— Eu não. Foi a Ellie. — Apontou ainda pressionando, olhei para o corredor.
— Tem uma coisa que eu preciso contar.
— Por que ela ta com seu canivete? Ela roubou de você? — Ellie entrou na sala segurando meu canivete, com Jessica logo atrás.
— Me devolte! Ela me deu!
— Tudo bem Ellie, pode devolver. — Assenti, Ellie jogou o canivete no chão.
— Lembra do arco? — Olhei para Joel, ele entendeu no mesmo segundo. — Ela quer ir com a gente.
— Não. — Ele negou sem nem perguntar, segurei seu braço.
— Vamos voltar pra Jackson, você precisa de antibióticos, curativos, podemos deixar ela com eles. É mais seguro.
— Isso só vai atrasar mais.
— Em dois dias estamos de volta, podemos pegar suprimentos, é mais seguro. — Tentei convence-lo, Joel me encarou nos olhos e então finalmente concordou.
— Onde é Jackson? — Jessica perguntou chamando a atenção de todos.
— É um lugar seguro, uma cidade onde você pode ficar, tem geradores, comida. — Sugeri, a garota cruzou os braços e assentiu.
— Tem até um cinema. — Ellie acrescentou, ela a encarou boquiaberta.
— Sério?!
— É sério, eu fui quando estava lá. — A garota dizia indo até o outro cômodo.
— Como conseguiu sair? — Joel perguntou baixo o suficiente para apenas nós dois ouvirmos.
— Eu mandei metade deles atrás de vocês, disse que foram para o norte, ainda devem estar procurando. — Expliquei, Joel concordou. — Ele deixou dois homens lá, eu... consegui sair.
— Eles te machucaram? Fizeram alguma coisa com você?
— Eu saí viva, é tudo que importa. — Me levantei, Joel permaneceu sentado no sofá, saí do cômodo.
Ele não parecia convencido com a resposta que lhe dei, seu único objetivo agora era encontrar os homens que me machucaram e acabar com cada um, ele só não sabia que um deles era o meu pai... e eu não pretendia contar isso à ele.
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