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6 Meu mundo também desmoronou

Nadine chegou à Galeria das Quatro Estações quinze minutos depois do horário combinado. A Galeria era uma estrutura em forma de túnel, toda construída em aço e vidro. Ficava logo atrás da estufa principal que era cartão postal da cidade, fornecendo uma visão panorâmica das três cúpulas ornamentadas que brilhavam, brancas e delicadas, sob o sol da manhã.

Havia uma cafeteria logo na entrada da Galeria, onde era possível comer enquanto se apreciava a vista da estufa. Ao lado do lugar, havia uma lojinha que vendia xícaras, plantas ornamentais e produtos com gravuras fiéis de botânica. Tudo aquilo agradava os turistas, mas também era rotineiro ver alunos do Colégio Sagrado de Atenas ali.

Murilo já estava sentado numa das mesas e bebendo café, o que era ótimo, porque a cafeteria era movimentada e conseguir mesa era um tanto difícil. Muitas vezes o lugar estava lotado, então era preciso colocar o nome na fila de espera. Nadine respirou fundo e passou pelo segurança da entrada, que liberou sua passagem pelos pedestais que delimitavam o lugar com fita.

Nadine sabia que estava agindo como uma adolescente birrenta e satisfazendo o próprio ego ferido ao dificultar as coisas para Murilo, mas não queria dar o braço a torcer tão rápido, nem quebrar a cara confiando em Murilo novamente. Ele teria um mínimo de trabalho a fazer se quisesse sua confiança.

— Uma das minhas alunas me entregou isso, acho que pode ajudar com a investigação — disse Nadine, antes mesmo de cumprimentá-lo. Colocou os papéis impressos em cima da mesa para que ele lesse.

— Quem é Fernanda? — perguntou Murilo, quando Nadine se sentou.

Sentar-se era sempre uma tarefa incômoda por causa da barriga, era difícil equilibrar o peso. Nadine também notou que a bebê estava bem agitada naquele dia, mas parou com os chutes assim que Murilo começou a falar.

— Uma ex-aluna. Ela saiu da escola por causa de boatos que Úrsula inventou, as duas não se davam bem — disse Nadine, com um suspiro. Mais uma vez aquele bolo na garganta, aquela sensação de que fora incompetente e poderia ter impedido isso. — A teoria é que o assassino escolheu vítimas que foram responsáveis pela morte de alguém. Com certeza você se lembra do incidente com Gaia, e eu tenho quase certeza de que o suicídio de Fernanda teve a influência dos acontecimentos com Úrsula.

— Isso é... nossa, isso pode mudar todo o curso da investigação. Acha que pode responder algumas perguntas sobre Fernanda e Úrsula? — Murilo perguntou, os olhos levemente arregalados.

Aqueles malditos olhos verdes brilhantes que, caso nunca tivessem sorrido para ela quando se conheceram, talvez Nadine não estivesse prestes a ter um bebê.

Nadine concordou com a cabeça, então Murilo pegou uma caderneta do bolso da calça e começou a fazer perguntas. Nadine deu todos os detalhes que conseguia se lembrar, fazia mais de um ano que tudo aquilo havia acontecido, então teve de revirar as memórias e indicar outros professores que conheceram melhor Fernanda. Assim que terminou de anotar o nome da pedagoga que conversou com Úrsula e Fernanda após uma briga das duas, Murilo fechou a caderneta e devolveu-a para o bolso de onde havia tirado.

— Então — ele disse, levantando os olhos para encarar Nadine. Ela teve de admitir que achou o gesto corajoso. Depois de sumir por sete meses, ele ainda conseguia encará-la nos olhos. — Eu meio que percebi que você estava me evitando.

— Jura? Achei que havia sido sutil — retrucou Nadine, sorrindo com o canto dos lábios. É claro que Murilo percebeu a acidez.

— Nadine, me desculpe — ele disse, as palavras soando de prontidão. Nadine levantou as sobrancelhas, prestes a retrucar. Me desculpe não cobria metade da coisa. — Estou aqui para ajudar.

Nadine ficou um tempo em silêncio, bebeu um pouco do suco de laranja que comprou entre uma e outra pergunta do interrogatório sobre Úrsula e Fernanda. Observou a cafeteria lotada, os turistas empolgados entrando na estufa com o celular na mão para fotografar cada estátua e cada flor do lugar.

— Eu completei trinta e três semanas de gravidez ontem. Mais algumas semanas e o bebê não seria mais prematuro, isso mostra quão atrasado você está — disse Nadine, despejando o resto de suco da garrafinha num copo de vidro. — Se você acha que pode aparecer aqui, oferecer ajuda e esperar que eu aceite por puro desespero, ou espera que eu me sinta grata, é melhor tentar outra vez. Eu já tenho as roupinhas de bebê, já tenho o quarto quase pronto, eu tenho uma vida planejada sem você, Murilo. Não preciso de você aqui.

— Eu precisei de um tempo para lidar com tudo, eu... — ele começou a dizer, um pouco inseguro. A voz falhava em alguns pontos, mas pelo menos continuava olhando nos olhos de Nadine.

— Uau, você estava assustado e precisou de um tempo. — Nadine não conseguiu segurar a risada seca. Esperava pelo pedido de desculpas, só não esperava uma justificativa tão previsível e ridícula como essa. Se Murilo fosse um pouco mais inteligente, nem tentaria se justificar. — Pelo menos alguém aqui pôde fugir das responsabilidades. Eu estava assustada pra caralho, mas azar meu que o problema estava crescendo no meu útero, né?

— Sei o que parece, mas... — ele começou a dizer, mas Nadine interrompeu, furiosa. Não deixaria que ele exigisse empatia. Não era justo.

— Não, você não sabe. Não sabe nem metade do que passou pela minha mente depois que me toquei que você não ia responder minhas mensagens e ligações. Eu poderia ter te procurado no seu local de trabalho, Murilo, poderia ter procurado por alguém da sua família nas redes sociais e tentado te encontrar, mas não fiz nada disso — Nadine falou, muito firme e sabendo que a própria expressão estava sombria, os olhos escuros e focados. Tinha muita raiva acumulada nos últimos meses. — Não fiz nada disso porque essa criança não merece crescer desejando o afeto de um homem que não quer ser pai.

Aquilo pareceu atingi-lo com tanta força que Nadine quase se arrependeu das palavras duras. Murilo a olhou por alguns segundos, primeiro um pouco pálido e chocado, os lábios entreabertos, depois a expressão se endureceu num misto do que parecia determinação e raiva, olhando-a como se quisesse provar que Nadine estava completamente errada.

— Eu era casado — disse ele, de uma vez só, sem acrescentar mais nenhuma frase para aliviar aquilo. Nadine ofegou, ficou em silêncio por um tempo. Todo o barulho da cafeteria parecia ter sumido, só conseguia sentir a bebê se mexendo levemente dentro de si.

— Quando transamos, você...

— Não, não foi nada assim. Quando nos conhecemos, eu tinha acabado de dar entrada nos papéis do divórcio, já estávamos separados. Sei lá, ainda estava aprendendo a lidar com a liberdade, com o fato de estar sozinho depois de tanto tempo, então... pode imaginar que me assustei quando você enviou aquelas mensagens — confessou ele, as palavras um pouco rápidas demais, olhos brilhantes fixos em Nadine como se implorasse para que ela entendesse. Nadine mal conseguia respirar com o bolo na garganta. Quando viu que ela não diria nada, ele continuou. — Sei que não justifica, mas demorei para vir falar com você porque precisei de um tempo. Ela ficou com o apartamento, então eu estava me mudando, tentando me... reestabelecer. Quando me contou que estava grávida, eu tinha acabado de assinar os papéis do divórcio, minha ex-esposa estava na casa da mãe, eu estava procurando um apartamento novo. Minha vida estava um completo caos. Não queria trazer todo esse drama para você. Minha intenção nunca foi sumir para sempre, eu só... precisava dar um jeito de segurar as pontas antes de conversarmos.

Nadine respirou fundo para não chorar. Não sabia o que estava sentido. Não sabia se era raiva, ou se aquele sentimento vazio e estranho tomando seu peito era alívio, quem sabe vontade de gritar e chacoalhá-lo pelos ombros.

— Mas eu não sabia disso — Nadine murmurou depois de um tempo, a voz baixa.

— Nadine...

Nadine balançou a cabeça e levantou a mão para que ele parasse de falar. Murilo pareceu entender, porque ficou em silêncio e esperou que ela interpretasse e internalizasse tudo aquilo. Nadine tomou um gole do suco, mexeu os canudinhos e ouviu o gelo tilintando. Quando voltou a falar, sentia-se mais calma. Havia recuperado aquele estado de raiva e mágoa de quando havia se sentado ali em primeiro lugar.

— Você poderia ter me dito algo, e eu respeitaria seu espaço, eu não me importaria. Mas eu me importei demais quando achei que estava nessa sozinha, quando passei madrugadas inteiras sentindo essa criança crescendo dentro de mim e achando que ela não teria mais ninguém no mundo. Então me desculpe se eu não consigo ser empática no momento, meu mundo também desmoronou nos últimos meses

Nadine entendia a necessidade de espaço dele. Também apreciava o fato de ele ter resolvido todos os problemas sozinho em vez de incluí-la naquele drama. Só que isso não tornava todo o processo da gravidez mais fácil. Nem um pouco. Ainda estivera sozinha no final de cada noite pelos últimos sete meses desde que descobrira a gravidez.

— E o que você quer? Que eu suma de novo e desapareça da sua vida? Desculpa, isso não vai acontecer — disse Murilo. A voz dele soou firme, olhos no dela e um tom calmo que transmitia tranquilidade para ela também. Nadine se esforçou para não se sentir esperançosa com aquela firmeza, com a determinação que via nos olhos dele. Com a promessa de que ele estaria ali, presente.

— Eu não sei, realmente não sei. Foram sete meses difíceis, eu mal consegui me adaptar e você reapareceu como uma bomba prestes a destruir a pouca estabilidade que levei muito tempo para conseguir.

Foram meses que duraram anos. Nadine demorou muito tempo até conseguir assimilar a ideia de que teria um bebê. Mais algum tempo até começar a transformar o escritório num quarto de criança. No início, estava completamente perdida e convencida de que não conseguiria ter um bebê, de que não tinha como encaixar uma criança na própria vida, de que era simplesmente impossível passar pela gravidez.

Ficou feliz ao perceber que era possível se estabilizar aos poucos e se preparar para ter a criança. Nadine tinha algum dinheiro guardado para emergências. Sempre achou que uma emergência seria bater o carro, pagar uma cirurgia inesperada, algo do gênero. Nunca achou que a emergência seria uma gravidez. Aos poucos, foi adaptando o próprio apartamento para a bebê, percebeu que tinha apoio de pessoas próximas, que não estaria sozinha. Tinha a ajuda de Ricardo, de Dafne, que era sua vizinha e também sua melhor amiga desde a infância. Aos poucos, Nadine conseguiu encontrar o caminho para sair do olho do furacão e ver a luz no final do túnel.

E agora Murilo estava ali, um novo furacão e um novo túnel escuro para atravessar.

— Sinto muito, sei que a gravidez não era algo que você queria — disse ele, depois de um tempo em silêncio. Parecia sincero, os olhos verdes se suavizaram, cheios de compreensão.

Nadine sentiu o nó na garganta, aquele mesmo nó de quando viu o resultado do exame de sangue.

— Estou bem, eu acho — respondeu, dando de ombros.

Ter um bebê aos vinte e oito anos não estava nos planos de Nadine. Nem aos vinte oito, nem nunca. Nunca quis ser mãe. Seus planos envolviam ser especialista em poções e bruxaria medicinal, talvez trabalhar em laboratório dali a alguns anos. Pausar a própria carreira por causa de uma gravidez não estava nos planos. Ter uma criança nos braços enquanto escrevia um projeto de pesquisa para se candidatar ao doutorado também não estava em sua mente. Por ironia do destino, Nadine descobriu que estava grávida três dias depois de receber o certificado de conclusão do mestrado em Química na UFPR. Foi como ver o doutorado e a própria carreira escorrendo pelo ralo.

— Do que você precisa? Juro estou aqui para ajudar — falou Murilo, e os olhos voltaram a brilhar, crescendo como os de uma criança. — Sério, se você precisar de, sei lá, fraldas, um berço, roupas para o bebê, alguém para te acompanhar nos exames, para ficar com você durante a noite...

Murilo parecia tão sincero que Nadine sentiu o bolo na garganta aumentar.

Um bebê já era muito, mas lidar com o pai do bebê, alguém cuja convivência consistia em três ou quatro dias de conversas superficiais e sexo, era demais.

— Você não entendeu, não é? — Nadine riu um pouco, rouca e sem energia. — Você se ausentou por tempo demais, Murilo. Acha mesmo que eu estava esperando você chegar para comprar um pacote de fraldas, roupinhas e planejar a minha vida?

Aquilo pareceu atingi-lo como um soco, Murilo nem respondeu. Nadine suspirou e massageou a têmpora esquerda com o polegar.

— Eu sei lá, só preciso de um tempo para digerir tudo isso. Ainda não montei o berço. Eu ia pedir ajuda para o Ricardo, mas acho que você pode fazer isso — disse Nadine, dando-se por vencida. Heloísa estava realmente quieta, o que era estranho. Ela costumava ficar agitada quando Nadine estava no meio de muita gente, como se pudesse ouvir as vozes.

— Claro. — Murilo assentiu no mesmo momento, depois prometeu que passaria na casa de Nadine à noite, quando os dois saíssem do trabalho.

Finalmente Nadine pôde se despedir dele, ansiosa para terminar aquela conversa. Desviou da multidão de pessoas, acostumada àquela agitação usual, ao barulho das conversas e do trânsito, aos ônibus turísticos parando de hora em hora. Havia se habituado à natureza surgindo de forma ordenada em meio ao perímetro urbano e mesclando-se aos prédios gigantescos.

Nadine ouvia de bruxos de cidades menores que a natureza daquela cidade era muito artificial e que tudo ali era um jardim ornamental, mas ela não concordava. Bruxos de metrópoles maiores tinham a impressão contrária: de que Curitiba era uma cidade muito bem urbanizada e bem integrada à natureza, até porque Curitiba ostentava o título de ser uma cidade sustentável e verde, tinha diversos parques ecológicos espalhados. Nadine também achava que havia algo forte e poderoso em cidades antigas como Curitiba, nas praças históricas que exalavam o ar romântico do século XIX, nos parques planejados e bem cuidados, nas construções centenárias, na grandiosidade do Jardim Botânico.

Quando seguiu para fora da Galeria das Estações, Heloísa se agitou, e Nadine sentiu uma série de chutinhos impacientes se espalhando pelo canto esquerdo da barriga. Ela fez uma careta, colocando a mão sobre o ponto que a bebê chutava. Nadine olhou para trás. Já havia atravessado boa parte do gramado, estava quase na entrada do Colégio e relativamente longe de Murilo.

— Sabe, é muito cedo para tomar partido. Você deveria esperar até ter uns dois anos para tomar o lado dele — sussurrou Nadine, com um riso baixo.

Fazia meses que Nadine não conseguia dormir à noite por causa da agitação da bebê, não sabia que bastava a presença de Murilo para que ela se acalmasse.

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