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Capítulo 5

Rosa deixou o hospital e caminhou pelas ruas, a cabeça a mil. A saúde da irmã estava garantida, mas o aperto no estômago pelo casamento com Claude não passava e a ideia de ter que sorrir para ele todos os dias a deixava mal.

A cafeteria era seu refúgio. Escolheu uma mesa no canto, perto da janela, e pediu um café forte. Mas nem o cheiro do café parecia aliviar a sensação de afogamento.

— Rosa? — A voz do Sérgio a tirou dos pensamentos. Ela sorriu, um pouco sem jeito.

— Sérgio, que surpresa! Quem diria que a fama não te mudou! — brincou, mas a voz saiu meio tremida enquanto abraçava o amigo.

Depois do abraço, Sérgio se sentou e a observou com curiosidade. Rosa tentou parecer tranquila, mas a mão que segurava a xícara tremia um pouco.

— Sempre ligo, mas ando sem tempo — disse Sérgio. — Você parece diferente hoje. Algo tá acontecendo?

Rosa soltou uma risadinha curta, quase forçada. A tensão era visível e ela tentava manter a calma. Um nó na garganta dificultava as palavras.

— Só um dia normal, sabe? Vim tomar um café antes do trabalho. — Tentou soar casual, mas a voz saiu um pouco aguda.

Sérgio se inclinou um pouco mais perto, preocupado.

— Trabalhar? Com esse vestido? — Ele brincou, mas a preocupação era clara.

Rosa mordeu o lábio, as mãos tremendo levemente enquanto tentava controlar a inquietação. Se inclinou para Sérgio, buscando apoio na presença reconfortante dele.

— Você me conhece, Sérgio. Sempre enfrentando desafios — disse ela, tentando soar confiante, mas o olhar denunciava o peso que carregava. Sérgio era quase como um irmão para ela, e a tensão entre eles era palpável.

Sérgio franziu o cenho, a preocupação aumentando.

— Você não é boa em esconder coisas, principalmente de mim que sou seu melhor amigo. Parece que tem algo grande acontecendo, não é?

O suspiro de Rosa foi um misto de alívio e cansaço. Deixou a xícara de café sobre a mesa e olhou pela janela, procurando as palavras certas.

— É só que... tenho uma grande mudança chegando. Algo que eu não esperava.

Sérgio a observou com atenção, o olhar gentil a encorajando a continuar.

— Grande mudança? Do que você está falando?

Rosa procurou no olhar de Sérgio um pouco de conforto, e suas palavras saíram carregadas de emoção.

— Eu... vou me casar com Claude — confessou, a voz trêmula. — Ele é meu chefe.

Sérgio ficou visivelmente surpreso.

— Casar com Claude? — Ele perguntou, incrédulo.

Rosa desviou o olhar, mordendo o lábio enquanto pegava a xícara novamente e tomava um gole para tentar acalmar os nervos.

— Não é o que parece. É um casamento de fachada. Só me prometa que guardará segredo. É mais complicado do que parece.

A expressão de Sérgio se tornou ainda mais séria.

— Sei que é difícil, mas por que fazer isso?

A pergunta fez Rosa refletir sobre os desafios que a levaram a essa decisão. Ela se recostou na cadeira, passando a mão pelos cabelos enquanto a dor em sua voz ficava clara.

— É para proteger minha família — explicou, com emoção. — Os últimos tempos têm sido difíceis e eu me sinto sobrecarregada.

Sérgio franziu o cenho, respeitando o silêncio dela. Ele sabia que Rosa estava passando por um momento desafiador e seu apoio era genuíno.

— E quem vai cuidar de você? — Perguntou, com preocupação.

Rosa tentou sorrir, mas o gesto não aliviou completamente a tensão. Pegou um guardanapo e começou a amassá-lo entre os dedos, um gesto inconsciente de ansiedade.

— Eu me cuido, Sérgio. Já passei por coisas piores.

Sérgio a observou com compreensão e suspirou, aceitando a falta de respostas naquele momento.

— Se precisar de mim, não hesite. Estou aqui para o que precisar.

— Eu sei — Rosa sorriu, um pouco mais aliviada ao perceber que Sérgio ainda estava ao seu lado. — Obrigada.

Eles se despediram com um abraço apertado, e Rosa seguiu para o escritório, com a mente ainda inquieta. A presença de Sérgio era reconfortante, mas a incerteza sobre o futuro permanecia.

Ao chegar no escritório, Rosa sentiu-se desconfortável com os olhares que recebia. Seu vestido, que normalmente passaria despercebido, agora parecia chamativo. Tentou ignorar a sensação e seguir em frente.

Janete a recebeu na área de trabalho.

— Meu Deus, Rosa! — exclamou Janete, os olhos brilhando. — Você está linda! Olha só para você! — Ela se aproximou e a observou com admiração. — Dá uma volta, deixa eu ver isso melhor!

Rosa sorriu, um pouco envergonhada, e fez uma pequena volta. Janete bateu palmas, empolgada.

— Uau, você está parecendo uma modelo! Está assim pra alguém especial hoje? — brincou Janete.

Rosa riu, um pouco sem graça, e balançou a cabeça.

Nesse momento, Frazão apareceu com seu sorriso característico. Parou ao lado delas e avaliou Rosa com um olhar admirado.

— Rosa, você está de parabéns! — disse Frazão, com tom brincalhão. — Não sei como vou me concentrar no trabalho com você por perto. Talvez eu tenha que te levar para o meu escritório, só para evitar o tumulto aqui.

Rosa corou, mas tentou manter a compostura.

— Não exagera, Frazão — respondeu, tentando parecer casual.

— Exagerar? Eu? — Frazão fingiu surpresa. — Só estou reconhecendo o óbvio. Não é todo dia que temos uma musa inspiradora entre nós.

Janete riu e deu um leve empurrão em Frazão.

— Para de provocar, Frazão! A Rosa já está vermelha de tanto você falar.

Claude apareceu no corredor e notou o grupo, mas manteve um olhar neutro ao observar Frazão e Rosa. Ele apenas acenou discretamente e entrou em seu escritório, fechando a porta atrás de si.

Rosa sentiu um desconforto ao ver a reação fria de Claude. Sua indiferença parecia ignorar o esforço que ela havia feito para se destacar. Tentando não mostrar sua frustração, forçou um sorriso para Janete, enquanto seu coração acelerava com a sensação de desapontamento.

Enquanto observava Claude, Rosa sentiu uma pontada de decepção. Ele passou por ela sem um olhar de aprovação ou um elogio, e isso a deixou com um aperto no peito. Sua tentativa de se destacar parecia ter sido em vão. Tentava não mostrar sua frustração para Janete.

— Ele nem te elogiou? — Janete sussurrou, observando a direção do escritório de Claude.

Rosa forçou um sorriso, tentando esconder a decepção.

— Deixa pra lá, Janete — respondeu Rosa, com um tom cansado. — Ele está sempre ocupado, você sabe como ele é.

O que Janete não sabia, e nem mesmo os outros ao redor, era que Rosa estava completamente apaixonada por Claude, e o desprezo dele, mesmo que sutil, amplificava suas inseguranças e a dor que sentia. Sua tentativa de manter a compostura era um esforço consciente para não revelar a intensidade de suas emoções e o impacto que a indiferença dele tinha sobre ela.

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