Capítulo 4
Claude observou Rosa sair do escritório, sentindo um desconforto que não conseguia explicar. A decisão dela de aceitar a proposta tão rapidamente o deixou pensativo. O adiantamento de 150 mil reais era uma quantia considerável, e, embora o casamento de fachada fosse uma solução prática para os problemas de visto e contrato, a maneira como Rosa reagiu o fez refletir. Será que ela estava se casando somente pelo dinheiro?
Pouco depois que Rosa saiu, Frazão entrou e notou que Claude parecia perdido em pensamentos.
— E aí, francês, a Rosa aceitou? — perguntou Frazão, com um sorriso malicioso.
Claude hesitou por um momento antes de responder.
— Aceitou. — Ele passou a mão pelos cabelos, claramente preocupado.
Frazão percebeu a inquietação de Claude e perguntou:
— Mas parece que algo está te incomodando.
Claude soltou um suspiro, incrédulo.
— Acredita que ela pediu um adiantamento de 150 mil reais? — exclamou Claude, surpreso.
Frazão ergueu uma sobrancelha, surpreso com a quantia. Conhecia Rosa há dois anos, desde que ela começou a trabalhar como secretária de Claude, mas parecia que ainda não a conhecia bem. Será que ela estava passando por algum problema sério?
— Nossa, mon ami, é um valor alto. Você acha que ela vai cumprir o acordo? — perguntou Frazão, preocupado.
Claude murmurou:
— Non tenho certeza, Frazão. Mon Dieu, onde fui me meter...
Fora do escritório, Rosa retornou ao jardim, onde Janete a aguardava. A proposta de Claude era um dilema: o dinheiro poderia resolver seus problemas, mas ela se envolvia em algo muito maior.
— Então, o que ele disse? — perguntou Janete, ansiosa, seus olhos brilhando com expectativa.
Rosa suspirou profundamente antes de responder.
— Ele aceitou me ajudar. — disse Rosa, omitindo o detalhe do casamento para não sobrecarregar a amiga com mais preocupações.
Janete parecia preocupada, mas aliviada.
— E agora? — perguntou Janete, com um tom de voz gentil e encorajador.
Rosa sorriu, um pouco mais aliviada.
— Vou pagar o tratamento da minha irmã e tentar resolver a situação do cortiço — explicou Rosa.
Janete soltou um suspiro de alívio e pôs a mão no ombro de Rosa. Apesar da tensão, havia uma leveza em seu olhar, uma faísca de esperança.
— Você é muito corajosa, Rosa. Se precisar de qualquer coisa, pode contar comigo. — disse Janete sinceramente.
Rosa assentiu, tocada pela oferta da amiga. Elas conversaram e Janete fez algumas piadas. Rosa sorriu de verdade pela primeira vez em dias.
De volta ao trabalho, Rosa se sentia um pouco mais leve, apesar das decisões que havia tomado. O acordo com Claude estava fechado, e ela se via dividida entre guardar o segredo e enfrentar os desafios.
No escritório, Claude refletia sobre a conversa com Rosa. O casamento de fachada era um risco necessário, mas também poderia trazer benefícios e Frazão observava de longe, com um sorriso malicioso. Claude estava alheio aos desafios que as próximas semanas trariam.
Ele passou a manhã pensando no acordo com Rosa. O desconforto não vinha apenas do dinheiro, mas também da rapidez com que as coisas estavam acontecendo. Ele sabia que precisava agir com cuidado, mas o tempo estava se esgotando.
No início da tarde, Claude decidiu definir os próximos passos. Ligou para Rosa e pediu que ela fosse ao seu escritório, e quando Rosa entrou, Claude estava de pé, olhando pela janela. Ele se virou para ela com uma expressão séria.
— Rosa, marquei nosso casamento daqui a uma semana. — disse ele, com uma voz firme.
Rosa arregalou os olhos, surpresa. O choque inicial foi logo substituído por uma expressão de determinação. Ela sabia que não podia hesitar.
— Uma semana? — repetiu, tentando absorver a informação, sua voz um pouco trêmula.
— Oui, uma semana. Será realizado no escritório, durante o horário de almoço, quando non tiver ninguém. Assim, evitamos problemas — explicou Claude.
Rosa respirou fundo. Casar-se em uma semana, de forma tão discreta, fez com que ela percebesse a importância do acordo.
— Tudo bem, doutor Claude. Estarei pronta. — respondeu, com uma calma que nem ela sabia que possuía.
Claude a observou, reconhecendo a força dela. Sabia que Rosa era diferente, e agora estava certo de que subestimara sua capacidade de lidar com a situação.
— Ótimo. Non podemos falhar com issi. — disse ele, tentando esconder qualquer dúvida.
Rosa assentiu, esboçando um leve sorriso antes de se virar e sair do escritório dele, e Claude sentiu uma mistura estranha de alívio e desconforto. Ela parecia mexer com algo dentro dele.
Quando a porta se fechou, Claude respirou fundo. Sabia que as próximas semanas seriam cruciais. Apesar de tudo parecer sob controle, ele tinha a sensação de que esse casamento de fachada seria mais complicado do que imaginava.
[...]
Uma semana se passou, e Rosa estava cheia de preocupações e ansiedades. O dia do "casamento" com Claude finalmente chegara, e ela precisava ir ao hospital informar ao médico sobre o dinheiro para a cirurgia de sua irmã.
Naquela manhã, Rosa se preparou com cuidado. Deixou o cabelo solto e a maquiagem discreta, realçando sua beleza natural. Vestia um elegante vestido rosa, que se ajustava perfeitamente ao seu corpo.
Ao sair, Rosa atraiu olhares curiosos dos moradores do cortiço. Pepa, a fofoqueira do bairro, apareceu imediatamente.
— Olha só, a Rosa está diferente hoje! Que vestido é esse? — perguntou Pepa, intrigada.
Rosa, tentando manter a calma, respondeu com um sorriso.
— Só queria me sentir bonita. Às vezes, precisamos fazer algo para nos sentirmos especiais.
Antes que Pepa pudesse insistir, Afrânio, um garçom conhecido por seu interesse não correspondido por Serafina, se aproximou.
— Bom dia, Rosa. Você está... bem diferente hoje. Muito bonita — comentou Afrânio, tentando disfarçar seu interesse.
Rosa notou o desconforto de Afrânio, mas não gostava de ser o centro das atenções.
— Obrigada, Afrânio. — Ela respondeu educadamente. — Resolvi mudar um pouco o visual, afinal, sou secretária de Claude Gerardy e preciso estar mais apresentável.
Com isso, Rosa se despediu e seguiu para o hospital, enfrentando o nervosismo do dia cheio de expectativas.
Ao se aproximar do médico, disse:
— Doutor, posso falar com o senhor um momento?
O médico olhou para ela, surpreso. Ele a conhecia há algum tempo, mas nunca a tinha visto tão bonita.
— Claro, Serafina. O que aconteceu? — perguntou ele, conduzindo-a a uma área mais reservada do hospital.
Rosa respirou fundo. Sabia que precisava ser clara e direta.
— Já disse para me chamar de Rosa. — Ela diz, envergonhada pelo olhar que o doutor lançava em sua direção. — Só vim aqui para te avisar que consegui o dinheiro para a cirurgia — disse ela, entregando um comprovante de depósito.
O doutor desviou o olhar, pegou os papéis e os examinou por alguns minutos antes de falar:
— Que boa notícia, Rosa. Posso começar a preparar a cirurgia imediatamente. Vamos garantir que sua irmã receba o tratamento necessário — respondeu o médico.
Rosa assentiu, aliviada, mas consciente de que ainda havia muito a fazer.
— Entendo. E quanto tempo minha irmã terá que esperar? — perguntou ela.
— Se tudo correr bem, podemos agendar a cirurgia para a próxima semana — respondeu o médico.
Rosa agradeceu e se despediu, prometendo voltar. Em seguida, dirigiu-se ao quarto da irmã. Apesar da tensão, a esperança renovou suas forças e, ao entrar no local, viu a irmã pálida e fraca, mas agora com um brilho de esperança. Rosa se aproximou e segurou a mão dela.
— Tudo vai ficar bem, eu prometo. — disse Rosa.
A irmã de Rosa sorriu, com um novo brilho nos olhos, e Rosa se sentou ao lado da cama. Sabia que ainda havia muito a fazer, mas, por agora, a batalha mais difícil havia sido vencida. Ela esperava que este fosse o primeiro passo para uma recuperação completa e um futuro mais promissor.
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